Accepted escrita por Lola Lovett


Capítulo 1
☛ Único




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A sua barriga queimava, era como se tivesse engolido seu pecado, vomitando em seguida o próprio inferno. E agora, só restava isso, o calor.

Sua pele parecia agitada em uma angustia que Nick sabia ser impossível de passar. Não ia passar, nunca. Alguma coisa rodava em sua boca buscando organização e só após quase um minuto foi que ele percebeu ser sua própria língua.

Estava cansado sem ter feito nada, buscando alívio, prazer, queria uma plenitude que nem mesmo mordendo com toda força o lençol de sua cama, conseguia abafar tal aflição.  Até mesmo para respirar era difícil, e a única coisa que tinha a sua frente eram as paredes do quarto escuro e agora, o som da porta sendo aberta e depois fechada.

— Que insuportável.

A voz de Christopher ecoou e fora capaz de causar um tremor em sua pele que desejava apenas que parasse.

— Foda-se.

Murmurou em inquietação.

Estava ficando, dentro de seus poros, fervendo, doendo, o matando.

Estar naquela casa, presos no bairro após um surto de alguma doença estranha era a sua perdição. Nick não estava conseguindo suprir somente com os remédios que a mãe havia conseguido, o seu fatídico vício.

E agora, como se sua situação não fosse lamentável o bastante, partilhava a casa com a família do namorado de sua mãe, e mais outras pessoas que insistiram em incluir ali.

Para todos os efeitos tinham uma senhora com um machucado infeccionando, seu marido e sua filha desconfiados e impertinentes — mas precisava ressaltar as qualidades do coroa.

Sua mãe se desdobrava para ser esposa de todos, mãe de todos, preocupada com todos. Sua irmã ainda dava a entender que levava luto pelo namorado zumbificado.

E pior, a ex-esposa de Travis e seu filho estavam ali. Era como se ela e sua mãe disputassem silenciosamente o posto de dona do lar. Sem contar que estava claro que tanto ela quanto o filho ainda aspiravam o retorno do pai para seguirem como a família padrão e exemplar.

"Idiotas...".

Isso era apenas a prova de que não existia amor eterno e de quanto o humano era muito trouxa.

Por falar nisso, seus olhos foram para o menino jogado no colchão organizado no canto, ele também estava lendo uma HQ sobre zumbis e até essa ironia era irritante.

— Como é isso?

Nick se assustou ao ouvir a voz dele, até porque estava o encarando e a sensação era de ter sido pego no flagra.

— Como é o que?

Christopher marcou a página, virando os olhos para si. Tinham apenas a altura de sua cama e mais um metro de distância, no entanto, fosse pela diferença de ideias ou de idade entre os dois, transformava essa extensão em algo ainda maior.

— Essa coisa com você. — o mais jovem murmurou.

— Está preocupado comigo?

Perguntou sorrindo, e o encarando.

— Sem chance. Só estou aborrecido, quero distração. — tentou parecer superficial, mas a curiosidade estava nítida em suas palavras.

— Hahahaha quando tinha a sua idade, minha distração era outra. — rebateu.

— Quando tinha minha idade você já era um drogado fodido.

Nick não era capaz de sequer se revoltar, apesar do tom irônico, era a verdade afinal.

— Yeah. É prazeroso. No começo algo diferente e interessante. O barato das drogas leves, alguns complementos com sacanagens. Mas quando entramos em algo mais forte, o deleite é pleno. Não tem nada que substitua, nada que complete.

— Você já se vendeu? É inútil essa pergunta né? Provavelmente já deve ter feito de tudo...

— Por aí... Está chegando ao ponto, moleque.

Nicholas respirou fundo sentindo o estômago girar em desgosto. Era melhor e mais fácil quando podia resolver sua abstinência com roubos ou até seu corpo.

Daria tudo para uma viagem agora mesmo. Só que o mundo tinha virado um caos e não encontrava suprimento para seu vício.

— E... O prazer... É como orgasmos?

Foi inevitável não abrir um sorriso sem humor nenhum, Chris estava bastante curioso hoje. Era atípico.

— Acho que facilitando para você entender: sim, como um orgasmo, mas em um grau enorme e arrasador. É uma loucura.

— Sexo não é capaz de controlar a crise de abstinência?

Nick enfiou a cabeça no travesseiro, gargalhando alto.

— Está se voluntariado?

Fora apenas uma piada de momento, porém surpreendeu-se quando escutou a resposta.

— E se estiver?! — fora um sussurro baixo, e tão natural que Nicholas ficou quase um minuto sem responder.

Quando essa réplica veio, foi apenas em ação. Já que saltou para fora da cama, ajoelhando no colchão ao lado de seu leito, puxando o mais jovem pela camisa.

— Você não sabe de nada, é um pirralho certinho. Não venha se achando corajoso porque estamos em meio ao caos.

A voz de Nick era um sussurro, mas carregando sua forte tentativa ameaçadora.

No entanto, Chris era uma confusão e a brincadeira acabou fundindo-se a uma realidade alternativa de sua própria mente quando seus dedos foram urgentes para os ombros de Nicholas, agarrando-se a ele e a última tentativa de obter atenção daquele viciado de merda.

Nick apenas conseguiu quebrar qualquer distancia quando seus lábios massacraram os de Christopher, mergulhando naquela oferta até a última gota.

Nunca em sua vida idealizou isso, ao menos não com ele, seus envolvimentos com outros caras eram limitados a favores e interesses.

Ambos ali e agora possuíam toda uma vida oposta, ele era aplicado, utópico, familiar, certo, adolescente. Enquanto Nick era um saco de pedras afundado no mar, sem futuro ou esperança.

Até mesmo estando assim, sem saber o que esperar do próximo dia, a certeza de serem tão distintos e errados era enorme.

Entretanto sua boca mergulhava na dele, sugando sua língua inexperiente em um beijo molhado e desajeitado. Deixando com isso a nítida a falta de prática do mais jovem. E era uma merda, porque cada segundo naquela boca, fazia Nick desejar ensiná-lo a beijar e ainda muito mais.

— Você fez... — Nick resmungou, afastando-se dele para retomar a ordem de seus atos. Jogando-se novamente em sua cama.

— E você correspondeu. — o outro retrucou, voltando a recostar-se no colchão e abrindo a revista que lia.

— Hm, e você sabe que isso não está certo. — bastava levar em conta que os pais estavam em uma relação para o transformar em uma espécie de meio-irmão, e ainda havia outra lista de oposições.

— E você sabe que vai acabar repetindo...

Nicholas soltou um xingamento antes de fechar os olhos e respirar fundo, abrindo um sorriso dentre o mal-estar de sua crise de abstinência.

Esse pirralho estava certo, para o inferno, todo mundo poderia acabar morto logo, não custava aproveitar os últimos dias.

— Yeah.

Eles não tocaram novamente no assunto desse beijo durante aquele dia. Na verdade, os dois não falaram momento algum mais sobre isso. No entanto, o ato fora repetido desde então.

Para ambos, era uma forma de ajudar Nick a desviar o foco de sua recuperação difícil. Sabendo internamente que a verdade era mais, adornando e permitindo que cada um estivesse adquirindo uma importância diferenciada para o outro.

Se continuassem vivos nessa, então talvez pudesse existir no futuro, alguma chance para eles...


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Notas finais do capítulo

Se chegaram até aqui, muito obrigada ❣

E por favor, comentem sobre o que acharam, ficarei muito feliz, até mais ✌



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