The Death of The King escrita por Kim Jin Hee


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

História para o desafio da página Semana Temática. Espero que gostem.



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O barulho do vento era assustador àquela hora da noite. Assobiava alto e entrava pela fresta das casas, fazendo as chamas da lareira sibilarem e os ossos de Amelie doerem. A jovem tentava se sentar o mais perto possível da lareira, tentando se aquecer com o calor que a mesma provia, mas não adiantava muito. Depois que tomou sua sopa quente — a única refeição que tivera em dias — sentia seu corpo um tanto mais aquecido, porém o calor da sopa e da lareira eram mais fracos que o vento gelado do lado de fora. A neve estava mais rigorosa naquele ano. Talvez soubesse dos acontecimentos.

O irmão mais novo de Amelie, Caleb, dormia tranquilamente à sua frente, com a barriga devidamente cheia e o corpo quente com as mantas da casa e todos os casacos que tinha. Não eram muitos, mas era o que aquecia o menino de apenas quatro anos durante os dias e noites de inverno.

Não era normal que passassem tantas dificuldades, mas depois que “A Fera” — como estavam chamando o monstro que vivia nas noites — atacara seu pai matando-o sem dó, a comida havia ficado escassa e as moedas para trocar ao menos por pão, inexistentes.

Amelie não havia se dado conta de que caíra no sono, até que acordou ouvindo os últimos troncos fazerem barulho ao queimarem no fogo da lareira acesa.

Tomando o cuidado de não acordar seu irmão — que ainda dormia a sono solto, sem ser afetado com as dores do lado de fora —, e nem sua mãe — que provavelmente dormia cansada de tanto chorar no quarto, sentindo frio e fome —, a jovem levantou-se, ajeitou a capa sobre o vestido e saiu porta à fora, sentindo o vento gélido cortar-lhe a pele.

O dia começava a clarear, cinzento e sem vida. Os aldeões já saíam de suas casas, prontos para irem as minas ou qualquer outro lugar que pudessem encontrar algo para trocar por comida. Todos estavam passando por dificuldades, com excessão das pessoas que residiam no castelo, é claro. Os Reais e seus guardas nunca saberiam o que era dividir uma panela de sopa de legumes achados na floresta, nem o que era dormir com fome por deixar seus filhos comerem mais do que você.

O Rei, Rainha e seus filhos nunca saberiam como é ser um simples aldeão. Como eram sortudos.

Amelie cumprimentava os que passavam enquanto se dirigia a floresta. Primeiro, procuraria qualquer coisa que servisse de comida ou que pudesse trocar por tal, depois se concentraria em arrastar as madeiras mais secas que encontrasse para se aquecer a noite. Durante todos os dias após a morte de seu pai, essa era a rotina. Sua mãe não tinha forças para sair de casa e fazer essa tarefa, então ela assumira a posição de levar comida a mesa.

Prestava tanta atenção ao caminho, que uma coisa lhe chamou a atenção. Uma mancha vermelha, bem pequena manchando a neve. Sangue.

Conforme foi seguindo os rastros, Amelie encontrou algo que nunca esperava.

Caída, com uma espada cravada em seu peito atravessando-o e saindo pelas costas, estava A Fera. Era um monstro gigantesco, de pelos e olhos tão negros quanto a noite. Mas nos olhos, Amelie não encontrou a escuridão que esperava. Os olhos d’A Fera não eram frios como os dias que passaram, eram olhos suplicantes, quase humanos. Eles a fitavam como se pedissem perdão.

Como se desse seu último suspiro, A Fera a olhou por uma última vez e piscou. Seu corpo amoleceu e o sofrimento acabara. Conforme a morte a acolhia, seu corpo mudava de forma. Onde antes havia um monstro de pelos negros e olhos escuros, agora havia um rapaz sem vida, de cabelos tão negros quanto a noite e a pele clara. Nu, arranhado e com uma espada atravessando o peito, jazia o príncipe.

Amelie engoliu em seco, entendendo o que acabara de acontecer. Ele havia se suicidado.

Dentro do príncipe, havia um monstro que precisava se libertar para a noite. E dentro do monstro, havia um príncipe que precisava se libertar para a eternidade.


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