O Homem do Fim do Universo escrita por Vlk Moura


Capítulo 8
Capítulo 8 - A remota lembrança




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— Doctor! - ele soltou um grunhido que percebi ser um sinal para que eu continuasse falando - Você conhece o Capitão Jack? - ele parou e me olhou, me analisou.

— O quanto destruiram sua memória? - dei de ombros, eu não sabia se isso era com ou ruim.

— Eu e ele, nós realmente fomos amigos?

— Carla, minha cara, vocês foram mais do que amigos - eu o observei, ele tinha um porte engraçado, eu sentia vontade de rir só de olhar para ele. 

Ficamos em silêncio novamente. 

Por dentro do bolso eu alisava um relógio, ele tinha um horário fixo e eu sabia que significava algo e era importante, mas eu não consigo me lembrar o que. Escorei na parede quando minha cabeça voltou a doer, estavamos longe de chegar na área de cobertura de rastreamento da River e da Tosh, eu não aguentava mais andar enquanto mais e mais memórias invadiam minha mente.

— Você não pode me deixar! - meu pai gritava conforme eu saia carregando minha mala para o carro da minha avó - Eu sou sua única família.

— Eu preciso conhecê-la, pai.

— Não, Carla, você viveu até agora sem ela, você não precisa.

— Tchau - eu bati a porta do carro. Meu pai chorava, não era diferente de mim. Minha avó dirigia calma, ela me ajudara a juntar toda a papelada.

Abri os olhos de súbito quando mãos geladas apertaram meu pescoço, comecei a me debater com falta de ar, eu tentava acertar o alienigena, mas ele era muito maior, meus golpes sequer chegavam até seu corpo, olhei em volta buscando pelo Doctor, ele não parecia estar ali.

— Carla! - eu conhecia aquela voz.

O ser fora abatido, eu caí e rolei pelo chão, o ar queimava conforme chegava até meus pulmões.

— Eu vou te acer... tar... Ué, cadê o grandão? - olhei o Doctor e depois quem me ajudou a ficar livre do ser.

— Khunnie - ele me abraçou, eu o abracei com força, as correntes ainda estavam em sua mão.

— Nós ficamos preocupados - ele sussurrou.

— Eu também - me afastei, ele me ajudou a levantar - Precisamos achar os outros. Temos que pegar meu celular.

— Nós marcamos um ponto de encontro, posso te levar até lá - ele encarou o Doctor.

— Ele é o Doctor - Khunnie me olhou confuso - Longa história, vamos chegar até os outros depois dou um jeito de explicar... se eu descobrir como explicar.

Doctor e eu seguimos Khunnie, mas minhas memórias não paravam de invadir minha mente como um enchente. 

Eu descia do avião e lia as primeiras linhas de um endereço que eu não fazia ideia de como chegar. Entrei em um táxi, pedi, com meu inglês enrolado, para que me levasse até aquele lugar, o taxista o fez, cobrou cara e me deixou lá, eu estava de fora a uma casa pequena, mas organizada. Um família terminava de se arrumar e entrar em um carro, eu não sabia o que fazer. Eu tinha um endereço e uma foto na mão, a estiquei, aquela era a casa, as cores da fachada tinham mudado, mas aquele era o lugar. Observei a família que se movimentava apressada, pareciam atrasados para algo, observei a mulher ali descobri que meu coração sabia bater acelerado por algo, minha mãe estava ali na minha frente, eu senti meu estomago revirar e a bile subir pela minhas garganta azeda. Eu dei as costas e desci a rua, eu não podia fazer nada.

JunHo me abraçou bem forte, eu retribui o abraço preocupada. Ele observou o homem comigo, todos observaram.

— Jun K, preciso do celular - ele me entregou o aparelho de tela quebrada - O que aconteceu?

 - Fomos perseguidos - Woo falou - Mas conseguimos escapar graças ao Taec.

Observei o Doctor usando a caneta engraçada, ele me olhou e sorriu traquinas, eu apenas o censurei com a cabeça ele pareceu confuso, algo me dizia que tinham de manter aquele Taec, precisavamos dele.

— Ele é um Ganger, também - o Doctor sussurrou.

— Eu sei - falei buscando por um número na agenda - Mas precisamos dele. Alô?

— Carla! - Tosh atendera, ela gritou pelos outros, dizia ter retomado a comunicação - O que aconteceu?

— Preciso que saiam todos da sala de comando - eu ouvi uma confusão, mas eu não tinha muita certeza do que acontecia - Preciso que vocês tirem todos os Doctors daí, agora!

— O que você está dizendo? - era a voz da River.

— É uma armadilha, eles querem...

Um apito e uma confusão começou as pessoas corriam e eu era ignorada. Olhei o Doctor ele estava preocupado.

— Precisamos ir! - falei e olhei os outros. - Jun K, vocês conseguem continuar buscando pelo ChanSung?

— Claro! - ele olhou os outros-  Quem vem comigo?

— Eu preciso do Nichkhun e do Taec - falei olhando o Ganger que mantinha o rosto sério. 

— Se cuida - JunHo falou e eu mandei o mesmo para ele. 

Nós quatro começamos a andar pelos corredores, era tudo muito confuso, mas o Doctor e a caneta estranha pareciam saber para onde iam. Pararam ao lado de uma parede, ele começou a buscar um teclado, eu dei um soco na parede, minha mão ainda estava dolorida dos golpes que apliquei em mim mesma. Khunnie também começou a usar as correntes para golpear, até que um teclado surgiu, o Doctor apontou a caneta e a parede se abriu indicando a porta.

— Tem certeza que é por aqui? - Taec falou preocupado, eu e o Doctor nos olhamos, seguiamos pelo caminho certo. 

Chegamos em uma encruzilhada.

— E agora? - olhei o Doctor. Ele analisava algo.

— Você e o grandão vão por ali, eu e o da corrente por aqui.

— Certo...

Começamos a andar.

Taec ficava em um continuo silêncio, eu ia a frente tentando enxergar por onde estavamos andando. 

— Você não me disse coisas muito legais quando partiu - eu o olhei.

— Ah, é? - falei indiferente - Gostaria de poder me desculpar, mas eu não faço ideia do que você está falando.

— Mesmo? Você não se lembra de nada?

Ele segurou minha mão, me rodou e me prendeu entre ele e a parede. Mesmo com o casaco eu sabia que aquela parede era fria. Olhei bem fundo nos olhos do artista que pelo que entendi em algum momento eu fui fã. Seus olhos eram tão reais, sua pele tinha uma textura tão familiar, até seu cheiro era reconfortante, fechei meu olhos.

— Tem certeza que quer fazer isso? - eu perguntava do alto de uma plataforma.

— Está com medo? - ele ria a minha frente.

— Não é medo, eu só...

Ele começou a imitar uma galinha. Aceitei o desafio saí correndo e pulei, era muito alto, eu gritei e logo prendi a respiração, senti a água me agredir. Saí do outro lado da piscina, me virei a tempo de ver Taec saltando gracioso, ele até sorria. Nadou até mim e saiu da água como uma seria faria, ele era gracioso e sedutor, mesmo sem querer ser. Eu ri para ele quando a ponta de nossos narizes encostaram, ele sorriu e me deu um beijo, segurou minha nuca com força e me puxou para a água. Abri os olhos, o Ganger me observava curioso, dei um tapa em seu braço o afastando de mim.

— Precisamos ser rápidos - falei - Não quero que ninguém morra.

Ele me seguiu voltando ao seu silêncio.

Depois de muito tempo saímos em uma área que parecia aberta, as pardes eram muito altas, varios corredores acabavam ali, olhei em volta sem ter muita ideia de para onde seguir, quando gritos começaram a prender minha atenção, eu conhecia aquelas vozes, mas eu não sabia dizer de qual dos túneis surgia.

Era como um labirinto de espelhos só que ao invés dos reflexos eram os sons.

— Doctor! - gritei - Khunnie! - eles ainda gritavam, olhei meu parceiro Taec não parecia ligar para aquilo, era como se não estivesse ali. 

— Tem certeza de que é assim que se segura essa arma? - eu perguntei e olhei meu instrutor, Capitão.

— Claro que tenho - ele veio até mim, era muito mais alto, era até uma cena engraçada.  - No três - confirmei. Um... Dois... - eu atirei desastrada, ele me olhou assustado - O que aconteceu com o três?

— Desculpa, é que... Eu não sei - eu ri - Acho que fiquei nervosa e apertei o gatilho sem perceber.

— Certo - ele respirou paciente - mas tome mais cuidado, vocês precisa manter o braço esticado, firme, ou o recuo pode te acertar em cheio - ele ajeitava meu posicionamento e senti sua respiração contra minha pele era estranho. Prendi minha respiração - Mais uma vez - ele falou - E no três!

Eu ri e confirmei, ele riu para mim.

Atirei!

Abri os olhos. Taec ainda estava parado e os gritos tinham parado.

— Por aqui.

Falei seguindo para um dos corredores que meu instinto me dizia para seguir. Entramos ali e percebemos que ele era mais claro que o anterior, conseguia ver as paredes com clareza e até algumas emendas. Taec apenas me seguir, vez e outra me desviava de algum cadáver espalhado pelo chão. Um rugido! Eu e ele paramos, nos olhamos e para o fundo para onde seguiamos, não dava para ver muita coisa, apenas que os gritos voltaram.

— Doctor! Khunnie! - Taec pegou minha mão - Ei, o que você pensa estar fazendo?

— Corre!

— Quê? - olhei para o fundo do tunel novamente, Khunnie e o Doctor corriam, dei as costas para eles e comecei a correr atrás de Taec. - Que coisa é aquela? - perguntei ofegante quando saímos na área segura onde a criatura não nos pegaria.

— Um dos seguranças - o Doctor parecia cansado. Ele olhou em volta, apontou a caneta estranha em volta e foi para um corredor - Por aqui.

— Devemos confiar nele? - Khunnie me perguntou.

— Meus instintos dizem que sim, mas minha mente responde dizendo que é loucura.

— Eu costumo causar isso nas pessoas - o Doctor respondeu - Agora vamos logo, estamos perdendo a grande chance de acharmos uma forma de sair daqui.

O seguimos apenas confiando em suas ordens. 

— Doctor... - ele me olhou - Você e eu somos amigos, certo? - ele confirmou - Você sabe qual é a lembrança de que mais quero me lembrar, mas não consigo? - ele me observou.

 - Sei.

— Você poderia me contar? Acho que se você me contar eu irei lembrar e saberei como nos tirar daqui.

— Infelizmente não posso - eu o observei - A lembrança é sua, você deve lembrar.

— Ela é boa, pelo menos? - ele me olhou mais uma vez - A maioria das coisas que têm surgido são ruins, as boas envolvem o Capitão, o Taec e até você. - ele sorriu.

— Talvez a sua melhor lembrança tenha todos nós, o que você acha?

— Estranho - não fora eu quem dissera, fora Nichkhun, o olhamos - Taec está derretendo. O que é isso?

— Não, não, não! - eu fui até o Ganger do artista - Não agora, não agora que chegamos tão longe...

O Doctor começou a vasculhar todos os cantos.

— O que está acontecendo com ele? - Khunnie perguntou assustado enquanto um dos lados do rosto do amigo derretia.

— Ele passou da data de validade - falei respirando - Doctor, precisamos ser ainda mais rápidos.

— Estou tentando.

— O que o Taec é? - Khunnie se afastava do corpo do companheiro.

— Esse não é o Taec, é um Ganger - falei - Lembro vagamente deles, são seres criados através de pele, os humanos reais ficam presos e eles utilizam sua memória para as cópias.

— Então o verdadeiro Taec está perdido por ai?

— Perdido não, preso - Doctor o corrigiu - Achei!

Ele apertou algo que iluminou todo o corredor, a poça que um segundo atrás fora Taec começava a se espalhar pelo chão. E por vários cantos corpos descansavam.

— Ela deve estar por aqui... - o Doctor apertou algo na caneta engraçada.

— Ela? - olhei curiosa.

— Sim, a TARDIS - eu o olhei confusa - Maior por dentro do que por fora... não se lembra? - neguei. - Isso é um problema.

— Não, não é... Aquilo sim é. - Khunnie começou a nos puxar enquanto corria, eu não entendia a razão, olhei para trás e vi homens vestidos de robôs.

— Cybermen - falei sentindo medo crescer, e se tem um instinto que nunca vou ignorar é o de fuga.

— Terei de voltar aqui mais tarde. - o Doctor falou conforme corri ainda mais rápido.


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