11 de Março de 2016 - 06:55min

— Eu disse que conseguiria. – Itachi vangloriou-se enquanto girava as chaves do carro de Sasuke no dedo indicador. – Foi tudo questão de um pouquinho de persuasão e obviamente, do meu charme.

— Você chantageou os nossos pais? – Sasuke questionou tentando arrancar as chaves das mãos do irmão. – Não vou deixar você dirigir meu carro! Devolva.

— Sua carteira de motorista é muito recente para que você dirija pela rodovia. – Itachi decretou afastando a mão de Sasuke com um tapa. – É isso ou vamos todos espremidos no banco traseiro do carro do nosso pai.

— A ideia é melhor do que deixar você dirigir meu carro.

Sasuke olhou de Itachi para mim (que estava acomodada confortavelmente no sofá da casa dos Uchihas, aguardando Mikoto e Fugaku terminarem de tomar café). Ele bufou e se jogou ao meu lado, xingando Itachi como uma criança mimada.

Após as bagagens estarem devidamente guardadas no porta-malas, Mikoto ainda tentou protestar sobre nós irmos em outro carro. Ela trajava um vestido verde solto e seu cabelo negro estava preso em uma trança; os lábios tinham um brilho labial rosado.

— Mikoto, deixe-os. – O senhor Uchiha a interrompeu quando ela fez menção de dizer algo a mais. – Itachi conhece o caminho tão bem quanto eu e existe GPS, eles não vão se perder.

— Qual a necessidade de dois carros, Fugaku? – Dona Mikoto disse olhando para o marido com as sobrancelhas arqueadas. – Mebuki deixou Sakura sobre a nossa responsabilidade e esses três sozinhos dentro do mesmo carro, Fugaku...

— Não se preocupe, tia. – Garanti enlaçando meus braços aos de Sasuke e Itachi. – Nós vamos ficar bem.

Ela nos encarou desconfiada e cedeu, mesmo que relutante.

11 de Março de 2016 -  09:48min

— Abaixa essa porcaria! – Itachi gritou enfurecido e olhou para Sasuke que gritava a letra de uma música desconhecida por nós. – ABAIXA!

— Itachi, presta atenção no transito! – Falei apoiando minhas mãos no banco do motorista e do passageiro. – E você, abaixa isso. – Cutuquei Sasuke que contrariado, baixou o volume da música.  – Qual vai ser a programação do fim de semana? – Questionei tentando fazer com que os dois conversassem.

— Nós vamos para a casa dos meus avós. – Sasuke respondeu-me após um tempo. – Eu te disse, vai ser uma daquelas reuniões chatas de família. Meu vô disse algo sobre uma festa da empresa, mas não sei se nós vamos ser obrigados a comparecer.

— Você sabe que nós sempre somos obrigados. – Itachi resmungou antes de buzinar. – E ele quer te apresentar aquela garota chamada Guren. – Disse antes de trocar para a faixa do meio. O carro de Fugaku e Mikoto estava logo à frente.  – É impressão minha ou a nossa mãe fica olhando pra trás toda hora? – Comentou distraído.

— Então você a conhece?

— Não. – Respondeu o Uchiha mais velho. – Só sei como ela se chama.

— Quem te disse? – Sasuke virou-se para o irmão com os olhos estreitos. – Não me diga que...

— Sim, foi Izumi que me contou. – Itachi o interrompeu antes que ele pudesse continuar. – Por que está sorrindo?

— Nada, nada. – Sasuke respondeu virando-se para observar o trânsito através de sua janela. – Só acho engraçado você continuar mantendo contato com Izumi depois de tanto tempo.

— Ela é uma amiga minha.

— Quem é Izumi? – Perguntei revezando meu olhar entre os dois Uchihas. Pelo retrovisor, eu conseguia ver que a atenção de Itachi era dividida entre não bater o carro e coagir Sasuke com o olhar. – Ótimo, adoro quando vocês não me respondem. – Ironizei esperando que os dois voltassem suas atenções para mim.

Eles me ignoraram e eu fiz de tudo para manter minha dignidade.

— Qual o seu problema com música? – Itachi questionou subitamente ao ouvir a nova música que Sasuke tinha escolhido. Uma música da Sia, que eu particularmente gostava muito. – Na próxima parada, você vai pra trás. – Ameaçou ele trocando de música, para a Pumped up Kicks.

— O carro continua sendo meu. – Sasuke disse aumentando o volume da música. Muito boa, aliás. – Posso decidir que você vai ficar impossibilitado de dirigir por um tempo.

— E como é que você pretende fazer isso? – O Uchiha mais velho trocou a marcha e olhou para Sasuke presunçosamente.

— Não vai conseguir dirigir se estiver com um olho roxo, Doninha. – Sasuke falou desinteressadamente, abaixando o vidro da janela. O vento sacudiu meu cabelo e eu tive que prendê-lo para evitar que um ninho fosse formado em minha cabeça.

— Eu me esqueci de como vocês são amáveis.

Puxei meu celular que estava jogado no banco ao meu lado e não me surpreendi ao ver que das 23 mensagens que haviam, 13 eram de Ino.

Ino-Porca:

Você mata todas as deusas da moda quando usa aquela blusa ridícula!

A M A R E L O

Sakura, Por favor!

Amarelo até que é uma cor bonita, mas nessa blusa, definitiamente NÃO

Definitivamente*

Fiquei nervousa heheheh

Aliás, tente ser o mais delicada possível perto dos Uchihas. Eles não estão acostumados com seu jeito bruto.

Mensagem de voz (1:37)

Ouça isso longe do Sasuke, se você não quiser morrer de vergonha.

É super sério.

Aliás, vamos no shopping quando você voltar?

Eu, você e as garotas precisamos de um dia juntas pra fazer compras!

Pode deixar que eu organizo tudo, xoxo.

Pensei em ouvir o áudio de qualquer maneira, mas o simples fato de que Ino não costumava me avisar quando iria me fazer passar vergonha fez com que eu desistisse da ideia.

Sasuke e Itachi estavam entretidos em uma conversa sobre um carro que nos ultrapassou e eu fiquei tentada a dormir o restante do caminho.

O primeiro passo foi me aconchegar no banco e encostar minha cabeça no vidro. Tentei me manter acordada, fazendo poucos comentários relevantes e logo meus olhos estavam fechando sem meu consentimento.

— Sakura, está dormindo? – Sasuke perguntou e eu abri os olhos por um momento, reprimindo um bocejo.

— Não, estou só descansando os olhos. – Respondi preguiçosamente. – Estou bem acordada.

— Esse é o mesmo tipo de desculpa que Sasuke usava quando pequeno. – Itachi comentou debochado. – Deixe-a, vamos voltar a falar sobre o jogo.

X-X-X

Itachi aumentou o volume do som que tocava uma música com batida estridente, enquanto Sasuke gravava minha reação exagerada.

Ao menos tiveram a decência de me acordar minutos antes de chegarmos.

O vídeo e algumas fotos minhas dormindo, tinham ido parar no facebook e eu jurei vingança contra os Uchihas com todas as minhas forças.

Tico e Teco só riram.

Tentei arrumar meu cabelo, ao mesmo tempo em que dava um jeito em minha cara amassada.

— Você pode ser um pouco mais delicado? – Perguntei quando Itachi passou por uma lombada bruscamente. O batom que eu tentava passar nos lábios, tinha batido em meus dentes e agora, eu usava meu dedo indicador para limpa-los. – Preciso passar uma boa impressão. – Retruquei ao ver que Sasuke começara a rir do meu estado.

— Não vai conseguir fazer isso com batom no nariz. – O Uchiha mais novo disse e em seguida, voltou sua atenção para Itachi. – Tenha cuidado, Itachi.

— Não foi intencional. – Foi tudo o que o outro disse. 

Quando saímos da avenida e passamos a andar pelas ruas de um bairro luxuoso, meu coração disparou. Uma daquelas casas era a dos Uchiha e céus, eu estaria mentindo se dissesse que estava tranquila e serena com toda a situação.

Eu teria que fingir que Sasuke era meu namorado.

Que era apaixonada por ele.

E ele, o dito cujo, no entanto, não parecia tão nervoso como eu.

— Eles não são bichos de sete cabeças, Sakura. – Sasuke me disse pouco antes de eu ver o carro de Fugaku estacionando. – Relaxe e aja naturalmente.

Sasuke deve ter esquecido que agir naturalmente, não se encaixava com a este tipo de situação.

Agir naturalmente, era ser desbocada, colocar os pés sobre a mesinha de centro e entrar em competições infantis que, bem no fundo, eu sabia que iria perder. 

Respirei fundo e senti que minhas pernas estavam bambas, antes mesmo de Sasuke abrir a porta do carro para mim. Ele estendeu a mão em minha direção e me lançou um olhar encorajador.

— Eu odeio você. – Resmunguei segurando sua mão e ele me puxou para fora do carro. – Como estou?

— Não é este tipo de coisa que você deve dizer, amor. – Sasuke deu um sorrisinho e tirou uma mecha de cabelo de trás da minha orelha. Estreitei os olhos ao ouvir o apelido "carinhoso". – Está linda. – Sua mão acariciou minha bochecha levemente e logo ele se afastou de mim para ajudar Itachi com as bagagens.

Eu só tinha trazido uma mochila com roupas suficientes para o fim de semana, mas Mikoto se preveniu para qualquer tipo de situação que pudesse ocorrer durante os próximos três dias.

— Obrigada mais uma vez, querida. – Ela agradeceu me dando um abraço rápido e eu a respondi com um sorriso rápido. – Vamos. – Murmurou para si mesma, antes de enlaçar seu braço ao de Fugaku e os dois começaram a nos guiar para a casa.

Apesar de ser uma moradia no interior da capital, a casa dos Uchihas era bem semelhante às mansões da capital. Admito que esperava uma espécie de fazenda, com cavalos e outros animais, já que Sasuke tinha dito que nós poderíamos andar à cavalo, mas não consegui ver nada além de um jardim gigantesco repleto de flores e com uma fonte que tinha um pequeno anjo com um jarro em suas mãos.

— Está é a casa onde os meus avós vivem. – Sasuke explicou antes de entregar as chaves do carro para um motorista que tinha nos recebido há pouco tempo. – A casa de campo fica afastada do movimento da cidade.

Antes que eu pudesse fazer mais alguma pergunta, uma mulher surgiu na porta de entrada. Não consegui ver sua expressão, mas ela correu para abraçar Fugaku e beijou-lhe o rosto, antes de cumprimentar Mikoto, mas não com tanta animação.

— Itachi, você se tornou um belo rapaz. – Ela disse abraçando-o apertadamente. – Devia cortar um pouco do cabelo, querido. – Disse ela segurando levemente os cabelos de Itachi, que estavam presos em seu costumeiro rabo de cavalo.  Os olhos dela pousaram sobre nós por um momento e baixaram para minha mão que estava entrelaçada à de Sasuke. – Sasuke, meu neto! – E então puxou Sasuke para abraça-lo, deixando-me de canto como tinha feito com Mikoto inicialmente. – Vocês estão tão grandes e lindos, não parecem com os garotinhos que viviam correndo pelo meu jardim. – Disse maravilhada e eles riram, parecendo envergonhados.

E então, ela olhou para mim e eu desejei me enfiar dentro do buraco mais próximo.

O cabelo dela era platinado e caia pelas laterais de seu rosto como uma moldura, os olhos eram castanho-acinzentados (nenhum dos Uchiha tinha tido a sorte de herdá-los, pelo que percebi), os lábios pintados com um batom nude curvaram-se num sorriso breve, enquanto ela me analisava da cabeça aos pés. Ela soltou Sasuke e deu um passo em minha direção, mexendo numa correntinha dourada que havia em seu pescoço por um momento.

— E esta quem é? – Ela perguntou ainda mantendo seus olhos em mim. – Não a reconheço...

— Sakura Haruno, senhora. – Estendi minha mão em sua direção e ela apenas observou o gesto, lançando-me mais um sorriso. – É um prazer conhece-la. – Baixei minha mão e olhei para Sasuke, esperando que ele viesse ao meu socorro.

E ele veio.

— Vovó, está é Sakura. – Sasuke repetiu meu nome, enquanto vinha para o meu lado. Passou seu braço direito por meus ombros e com a mão esquerda, segurou a minha mão e a apertou. Não que eu fosse admitir, mas me senti muito melhor com ele ao meu lado. – Minha namorada. – Anunciou e eu vi um pequeno vinco surgir entre as sobrancelhas bem feitas dela. A maneira com que Sasuke tinha dito, era tão convincente que eu acharia que era verdade.

— A namorada. – Ela murmurou me analisando novamente. Eu quis ver a expressão de Sasuke, mas temi que ela gritasse que eu era mal educada por desviar o olhar. – Sou Kaguya Uchiha, prazer em conhecê-la, Sakura. – A senhora Uchiha não me abraçou como fez com todos os outros, apenas estendeu a mão em minha direção e com um breve aperto de mãos, deu as costas para nós, enlaçando o braço ao de Itachi e começou a puxá-lo para dentro de casa. – Seu pai está em uma reunião, Fugaku, mas em breve chegará. O almoço será servido daqui a pouco.

Mikoto lançou um olhar para nós antes de entrar dentro da casa, como Fugaku e Itachi.

Olhei para Sasuke, que não tinha a melhor das expressões. Ele fechou os olhos e respirou fundo, soltando-me em seguida.

— O que foi? – Questionei confusa. – Sasuke?

— Ela está fazendo de novo. – Murmurou ele em resposta. – A mesma coisa que fez com minha mãe. Eu não acredito que...

— Relaxe. – Falei colocando minha mão em seu ombro e ele me olhou com seriedade. – Ela não precisa gostar de mim. Isso é só para que eles não te empurrem aquela garota. – Pisquei e ele revirou os olhos, embora esboçasse um pequeno sorriso.

— O problema, é que ela precisa, Sakura. – Sasuke disse encarando-me como se quisesse dizer algo mais. – Vem, vamos entrar. – Sua expressão se suavizou e ele segurou minha mão novamente, enlaçando seus dedos aos meus e me puxou em direção à casa.