A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 6
Muchacho


Notas iniciais do capítulo

Olá, galera!

Nesse capítulo introduziremos um dos maiores aliados de Enrico em sua jornada. É um personagem do qual gosto muito, e tenho certeza que também vai cativar vocês.

Boa leitura!!!



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 Os dias transcorriam normalmente, sem maiores novidades. Então, numa certa tarde, o capataz do rancho apareceu e pediu que os vaqueiros o seguissem.

Em determinado ponto ele estacou e apontou para o cercado onde ficavam os cavalos indomáveis. No alambrado só havia um animal naquele dia; um belíssimo alazão, de pelo lustroso, garupa larga, crina longa e esvoaçante, patas musculosas.

Era um animal grande e saudável, adulto, mas muito jovem ainda, forte, inteligente, arisco, veloz e violento. Os olhos de Enrico brilharam. Era o cavalo mais belo que já vira.

— O patrão adquiriu esse alazão hoje de manhã. – explicou o capataz, chamado David – Comprou-o e propôs um desafio: Esse bicho é uma fera. Aquele entre vocês que conseguir domá-lo, ficará com ele como recompensa.

Entre os inúmeros vaqueiros, apenas meia dúzia de corajosos se dispusera a tentar a proeza.

Bob Indian, confiante, se ofereceu para ser o primeiro. Entrou no cercado dizendo em voz alta que aquele animal já era seu, que seria muito fácil porque ele, Bob, era descendente de uma tribo de índios acostumada a domesticar os cavalos mais selvagens do Oeste.

Deu alguns passos e parou perto do animal, que relinchou, mirando-o com seus olhos ferozes e atentos. Bob hesitou por um segundo quando o alazão bufou batendo com as patas dianteiras ameaçadoramente no chão.

Recompondo-se do susto, o índio deu um grito estridente e, com grande agilidade, saltou para o lombo do animal. O alazão não estava encilhado; ninguém, até ali, se atrevera a tentar selá-lo. Todavia Bob, como bom índio que era, estava acostumado a montar em pelo.

Furioso pela presença do homem sobre si, o cavalo se pôs a saltar, girando furiosamente e disparando coices no vento. Parecia um furacão indomável. Bob Indian não durou mais que alguns segundos sobre o alazão e, após um terrível solavanco, o índio viu-se projetado para o alto. Passou voando por cima da cerca para aterrissar de barriga numa grande poça de lama.

Levantou-se ileso, mas imundo e, mal-humorado, teve que agüentar as piadas e o riso geral. Outros rapazes tentaram, tendo um destino bem parecido com o de Bob Indian.

Chegou a vez de Peter Davis. O americano entrou no cercado e manteve uma distância prudente do perigoso alazão. Segurava uma corda. Sem tirar os olhos do cavalo, o rapaz usou as duas mãos e uma grande habilidade para trançar um laço com espantosa rapidez. Mantendo-se de pé no centro do cercado de madeira, que tinha formato circular, com grande firmeza e maestria Peter Davis começou a girar o laço bem acima de sua cabeça, ao mesmo tempo em que calculava mentalmente a distância que o separava do arisco animal.

No momento que julgou ser o ideal, Peter Davis jogou o laço. Com perfeição, a corda atravessou o ar e foi cair exatamente sobre a cabeça do animal.

Dando um puxão vigoroso na corda, Davis viu o nó se fechar ao redor do longo pescoço da fera, que relinchou de modo indignado.

O cavalo balançou a cabeça com violência, tentando se livrar. Davis ficou firme, segurando a corda.

A luta teve início.

A fera desatou a correr rente a cerca de madeira e Davis a seguia com os olhos.

Quando o animal passava girando, o homem acompanhava movendo o corpo, segurando a ponta do laço. Todos que assistiam à cena prenderam a respiração. O clima no ar era de pura tensão.

Após dar muitas voltas no lugar, sacudindo-se sem sucesso na luta para desvencilhar-se, o belo alazão resfolegou, suado, dando os primeiros sinais de cansaço. Ali no espaço do cercado era propositalmente fofa a terra, para que os cascos dos cavalos se afundassem nela e assim, os animais tivessem que fazer maior esforço para se deslocar. Isso fatalmente os cansaria, e o cansaço era o primeiro passo para que um cavalo se amansasse.

A sombra de um sorriso apareceu nos lábios crispados de Peter Davis ao ver o bicho fraquejar por um instante.

O rosto vermelho do homem estava coberto de suor. Um brilho de vitória começou a surgir no fundo de seus olhos azuis. Entretanto, Peter Davis estava enganado.

O alazão podia estar cansado, mas não se daria por vencido tão cedo.

De modo veloz e inesperado, o alazão parou de correr em círculos e se lançou diretamente para o lugar onde estava parado o americano.

A situação se inverteu totalmente.

A surpresa foi geral e esmagadora.

Ora, Peter Davis fez o que qualquer um em sã consciência faria: impulsionado por seus reflexos, tratou de se jogar para o lado e escapou da investida feroz do cavalo, que o teria fulminado, sem sombra de dúvidas. Caído no chão, o homem teimosamente segurava a corda e, por causa disso, se viu arrastado por alguns metros, de modo brutal, até seu corpo se chocar com violência contra a cerca. Ouviu o relinchar furioso do animal e, um pouco desnorteado, decidiu soltar a corda. Rolou para o lado e escapou milagrosamente de ser pisoteado.

Mal conseguiu se pôr de pé, Davis teve de dar um salto para o lado, a fim de escapar da mordida que o cavalo tentava lhe dar. Como o cercado não estava longe, Davis correu para ele e ouviu o tropel da fera que o seguia de perto. Com extrema agilidade, usando o impulso de seu corpo em desabalada carreira, Peter Davis apoiou a mão esquerda na cerca e saltou-a.

Atrás dele, enlouquecido, o alazão escoiceava o ar e suas patas traseiras passaram varrendo o cercado, perigosamente próximas aos rostos dos que assistiam à cena. Davis foi fortemente aplaudido por todos por haver escapado ileso da aventura.

Finalmente chegou a vez de Enrico. Todos o olharam, entre curiosos e temerosos. O rapaz demonstrava calma.

— Se quiser desistir agora, nós vamos entender, garoto. – afirmou o capataz.

— Não, obrigado, senhor David. Também quero tentar. – Enrico disse, quase sorrindo.

— Tome cuidado, Enrico. Esse cavalo parece um demônio! – alertou Davis, arquejante.

Em resposta, Enrico De La Cruz entrou no cercado. Segurava algo na mão esquerda fechada, algo que não era possível ver do que se tratava. Na mão direita ele carregava uma sela.

Um sorriso cruel e irônico apareceu no rosto enlameado de Bob Indian.

— Não sei se esse moleque é burro, doido ou ingênuo. – rugiu o índio, divertido – O cavalo irá estraçalhá-lo.

Enrico estava surdo aos comentários ao seu redor, só aquele cavalo o interessava naquela hora. Parecia hipnotizado ao caminhar para perto do animal.

O rapaz parou e fitou o alazão.

Os olhos ferozes do animal encontraram os olhos tristes de Enrico. O cavalo se sentiu incomodado com aquele olhar. Por alguns instantes, se contemplaram apenas.

E então, pareceram chegar a um acordo silencioso. O silêncio ao redor era denso e a expectativa, imensa.

Até Bob Indian suspendera a sua respiração.

Algo incrível estava acontecendo ali, bem diante de seus olhos.

O alazão entendeu que viera ao mundo para servir àquele rapaz. Aquele era o cavaleiro por quem sempre esperara, o único homem merecedor de montá-lo.

Por sua vez, Enrico percebeu que aquela era a montaria que o destino lhe reservara, capaz de auxiliá-lo e de acompanhá-lo em sua missão. Era, para ele, o único cavalo que valia a pena montar. Homem e animal se olharam, com grande admiração e respeito. Enrico saiu de seu transe. Começou a falar carinhosamente com o animal, abrindo os braços em sinal de paz, sem fazer movimentos bruscos.

Peter Davis se admirou da maneira como Enrico se impunha diante do cavalo. O mexicano se aproximou.

O cavalo ficou imóvel, olhando-o com imponência. Sempre conversando com o alazão, Enrico afagou-lhe a crina, o focinho e depois deu uns tapinhas amistosos no seu pescoço.

O animal soprou tremendo os beiços.

Enrico estendeu e abriu a mão esquerda, e o cavalo viu ali os torrões de açúcar.

A platéia mal pode acreditar em seus olhos ao ver a fera, comendo docilmente o açúcar na palma da mão do jovem mexicano.

Muy bien, muchacho! – dizia Enrico em seu próprio idioma, rindo – Muy bien!

Quando o alazão acabou de comer o açúcar e lambeu a mão do rapaz, Enrico sentiu-se seguro para colocar a sela.

Era o momento decisivo.

O rapaz agia devagar, conversando com seu novo amigo. O cavalo não ofereceu resistência, apenas ergueu as orelhas e observou, atento. A sela foi posta. Enrico se preparou.

Coçou a cabeça da montaria, pôs o pé no estribo e voou para o alto da sela. O cavalo relinchou baixo e deu alguns passos para trás, inquieto. Não estava habituado a ser montado.

Tranquilo, muchacho. — acalmava-o Enrico. —Tranquilo, compañero.

Domado, por fim o alazão amansou.

— Ainda não estou acreditando que o garoto o domou! – gritou Bob Indian despeitado, antes de acrescentar:

— Abram a porteira do cercado!

Assim foi feito. O pessoal se afastou, temendo uma investida do alazão.

Enrico apenas balançou as rédeas e seu cavalo rumou calmamente para fora do cercado. Trotando, passou no meio dos rapazes, sem causar mal a ninguém. Aplausos explodiram.

— Parabéns Enrico. O cavalo é seu. – disse o capataz David, verdadeiramente impressionado – Já sabe que nome vai dar a ele?

— Sim. – respondeu o rapaz, todo satisfeito. – Vou chamá-lo de “Muchacho”.

O rapaz desmontou e, levando Muchacho pelas rédeas, recebeu os cumprimentos dos vaqueiros.

Todos foram saudá-lo, com exceção de Bob Indian, é claro.

Naquele dia, o ódio e a inveja que o índio sentia por Enrico aumentaram muito, levando-o a finalmente cometer uma loucura.

 


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Notas finais do capítulo

E aí, que acharam do Muchacho? ^^


Espero que tenham curtido o capítulo.

Até breve, amigos!!!



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