A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 24
Jeff Nilman e Wally Meyers


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos!
Estamos definitivamente entrando na reta final desse conto western de vingança, amor e ódio. Dando continuidade ao massacre iniciado no capítulo anterior, Enrico e Davis enfrentam a legião de pistoleiros de Herrera posicionados nas ruas de Brave City para impedi-los de cumprir sua missão. Meyers e Nilman ainda respiram, e isso é algo que Enrico com certeza não vai mais tolerar. Será que nossos cowboys dão conta do recado? Vamos ver agora como saíram dessa.

Meu agradecimento especial a todos os meus amigos que me acompanharam até aqui, aqueles que sempre opinam, comentam, sofrem e riem junto comigo e com o Enrico. E meu forte abraço a você que talvez chegou até aqui sem deixar nenhum review. Ainda tenho esperança de que até o fim da história você se manifeste.
Bem, chega de papo, né?
Nos vemos nas notas finais.
Boa leitura!!!



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Enrico concentrou-se nesses dois. No meio da luta, procurou Meyers, mas não o viu. No entanto, divisou Nilman escondendo-se em um beco escuro, recarregando o revólver. Reconheceu-o porque vira seu rosto estampado em um cartaz de Procurado em Denver, assim como o de Meyers. Precisava conhecer a cara de seus alvos.

Acima deles, o céu negro era riscado por relâmpagos constantes.

Em Brave City, os homens estavam tão preocupados em matar uns aos outros naquela noite, que nem se deram conta de que as estrelas tinham desaparecido, encobertas por escuras e densas nuvens. Os trovões tinham sido abafados pela barulheira do sino repicando, do tiroteio e dos gritos de dor e morte. A chuva não tardou a chegar. Nuvens pesadas derramaram grossos e copiosos pingos d’água sobre Brave City.

Sem se importar com o aguaceiro, Enrico se esgueirou pelas sombras, andando meio abaixado. A vinda da chuva determinava o fim de um longo período de seca na região, muito embora ninguém parecesse feliz com isso naquele momento. O perigo ainda existia em Brave City. A morte ainda pairava no ar.

Enrico chegou ao saloon, o local mais próximo de onde Nilman se achava entrincheirado. Curiosamente o lugar estava praticamente deserto, talvez por ser ainda muito cedo, talvez porque ninguém quisesse levar um tiro enquanto tomava um trago. O estabelecimento era um dos poucos prédios da cidade onde havia luz.

Logo adiante, os homens corriam na chuva recém-chegada e trocavam tiros com um inimigo que lhes parecia invisível.

Subitamente De La Cruz guardou seus Colts e assobiou alto. Nilman voltou a cabeça e o viu. Seus olhos se apertaram ao focalizar aquele rapaz moreno parado à porta do saloon, os braços musculosos cruzados diante do peito, indiferente, tão frio e imponente quanto um chefe apache.

Nilman compreendeu que aquilo era um chamado e resolveu atender, porque estava cansado de fugir. Correu para a porta do saloon, mas Enrico já desaparecera dali, seguindo para o interior do estabelecimento. O criminoso corajosamente empurrou a dupla portinhola vai-vém e entrou.

Algum tempo antes, Enrico não pudera ver Wally Meyers porque ele se achava no telhado da casa vizinha à prefeitura, próximo da escola, escondido atrás de uma grande caixa d’água feita de madeira e ferro. Dali, ele tinha uma visão melhor dos acontecimentos. Sua vista estava um pouco turva devido à chuva copiosa, porém, ainda assim conseguiu enxergar De La Cruz de pé na porta do saloon. Sem perda de tempo, alcançou a espingarda que trazia consigo, apontou-a para o rapaz e apertou o gatilho.

No entanto, o disparo não ocorreu.

Soltando uma sonora praga e amaldiçoando-se pelo erro digno de um amador, Meyers então notou haver se esquecido de municiar a arma. Rapidamente meteu duas balas na câmara e ergueu a poderosa espingarda. Entretanto, Enrico entrara no saloon e desaparecera de seu campo de visão.

Estalando a língua num muxoxo de irritação, Wally Meyers passou a mão pelos cabelos encharcados e estreitou os olhos. Em seguida, avistou lá embaixo, na rua, o seu parceiro Nilman. Viu-o entrar no saloon e se preocupou, falando para si mesmo:

— O que esse imbecil está fazendo? De La Cruz vai pegá-lo!

Apesar de o telhado da casa estar escorregadio, o criminoso arriscou se deslocar um pouco para a direita, a fim de obter melhor visibilidade já que não sabia o que se passava dentro do saloon. Seu ponto de observação distava uns cinqüenta metros do estabelecimento.

À espera, ouviu tiros e se angustiou. Os disparos soaram no interior do saloon.  Uma cadeira veio voando lá de dentro, estilhaçou a janela e caiu girando na rua empoçada. Depois, mais nada. Apenas silêncio. Longo silêncio.

Quase cinco minutos se passaram e nada acontecia. Meyers se moveu, inquieto. A demora o irritava. Já se dispunha a descer para investigar o que acontecera, quando a dupla portinhola de vai-vém do saloon se abriu com um rangido. Uma sombra masculina e imponente surgiu na varada.

O homem tinha os Colts em coldres cruzados diante do peito, à moda dos melhores atiradores mexicanos. Meyers franziu as sobrancelhas e apertou os olhos. Apesar de a chuva abundante impedi-lo de enxergar com nitidez, percebeu que aquele homem de pé na porta do saloon era Enrico De La Cruz. Provavelmente acabara de matar Nilman e saíra à rua para caçar a ele, Meyers.

Wally Meyers sentiu um ódio intenso e ergueu a espingarda. Tinha o fator surpresa a seu favor, Enrico não sabia onde ele estava. Mandaria aquele jovem mexicano para o Inferno de uma vez por todas e, assim, vingaria seus companheiros mortos. Quase sorrindo, apontou a arma para, em seguida, puxar com vontade o par de gatilhos, porque sua poderosa espingarda tinha cano duplo.

Tiro certeiro.

Observou De La Cruz dar um salto e seu corpo descrever uma curva no ar, antes de cair pesadamente de bruços no meio da rua, tornando-se imóvel. Depois disso, ouviu apenas o som da chuva caindo. Mesmo o sino da igreja interrompera seu ecoar solitário e monótono.

Exultante, Meyers deixou de lado a arma e a cautela. Abandonando seu posto, desceu rapidamente para a rua. O cenário era bizarro: cadáveres espalhados pelas ruas, as casas e lojas marcadas por balas, as luzes quase todas apagadas, porta e janelas trancadas por medo, a chuva caindo copiosamente.

O assassino contratado por Herrera caminhou até o saloon e estacou diante dele. A seus pés jazia o ensanguentado corpo inerte de Enrico. Estava tombado de barriga para baixo. Agressivamente Meyers usou o pé para virá-lo. Porém, quando olhou para o morto, empalideceu. Entrou em pânico. Sentiu o coração falhar uma batida dentro do peito.

Aquele rosto sem vida não era o de Enrico De La Cruz, mas sim, o de seu melhor amigo, Jeff Nilman.

Nilman estava usando as roupas de De La Cruz; servira como chamariz numa cilada. E ele, Wally Meyers, mordera a isca direitinho, atirando contra seu próprio amigo. Cometera um erro imperdoável, irreparável. Não teria tempo de sequer tentar corrigir seu engano fatal, porque logo depois ouviu uma voz rascante e repleta de ironia soar às suas costas:

— Vejo que atirou no homem errado, camarada.  

Voltando-se, divisou Enrico na varanda do saloon, tranqüilo. Meyers fuzilou-o com o olhar e rangeu os dentes.

Todos haviam subestimado aquele garoto mexicano.

No entanto, a despeito de sua pouca idade, Enrico provara mais uma vez sua astúcia com aquela manobra. Sabia que Meyers estava escondido em algum lugar, provavelmente no telhado de alguma casa. Por isso, atraiu a atenção de Nilman e o levou para o saloon. Lutou com ele lá. Nilman tentou trapacear e sacou a arma. Enrico desarmou-o, desviando a mão armada de si, apontando-a para cima. O bandido apertara o gatilho diversas vezes, e as balas cravaram-se no teto. Esses foram os disparos que Meyers escutara quando ainda estava no topo da casa, sob a chuva. Lançando longe a arma de Nilman, Enrico arremessou contra ele uma cadeira. Ela atingiu violentamente a cabeça do bandido e saiu voando, despedaçando o vidro da janela antes de cair na rua.

Vendo o inimigo desacordado, Enrico teve a grande idéia de usá-lo como isca para tirar Meyers de seu esconderijo. Para isso, trocou de roupas com o patife e o fez recobrar a consciência dando-lhe alguns tapas no rosto. O tempo que gastou fazendo tudo isso foi a causa da demora que angustiou Meyers. Então, Enrico obrigou Nilman a sair vestido como ele, para que Meyers atirasse, acreditando que havia matado seu inimigo.

Ainda meio grogue pela pancada na cabeça, Nilman chegou à varanda e Enrico espiou por uma fresta da janela estilhaçada pouco antes. Um som parecido com o de um trovão rasgou a noite chuvosa. Momentos depois, Nilman tombava, morto instantaneamente por um par de balas de grosso calibre no peito. Exatamente como Enrico previra. Esperou que Meyers viesse verificar a morte e apareceu. Agora, ambos se encaravam friamente.

— Entendo como se sente, Meyers. Já experimentei uma dor semelhante. A dor de perder alguém muito querido por culpa de terceiros.

— Maldito garoto! Que está esperando? Acabe com isso de uma vez!

— Eu vou mesmo. Antes, quero ensinar algo a você.

— Ensinar? A mim? – Meyers arregalou os olhos, estupefato – Está louco?

— Há aproximadamente sete anos, eu era só um garotinho e você já era um verme assassino. Recebendo uma boa quantia, você e seus amigos desprezíveis resolveram passar lá em casa para nos fazer uma visitinha inesquecível. Foi Herrera quem os pagou, certo?

— Ainda tem alguma dúvida, garoto tolo? – a risada fria daquele homem era semelhante ao som de uma hiena carniceira. – Quem você acha também que nos pagou para liquidar com você essa noite?

— Francisco Herrera, eu sei. Queria apenas ouvir da sua boca a confirmação. Como dizia, naquela tarde vocês atiraram em minha mãe e viram-na morrer bem diante dos seus olhos. A seguir, acharam divertido me perseguir antes de atirar em mim também. Mas eu me escondi, e vocês não viram meu cadáver. Julgaram minha morte como certa e partiram. Esse foi o erro de vocês, e aí está o que quero ensinar a você, Wally Meyers: jamais devia ter dado alguém como morto apenas porque atirou nele, mesmo que esse alguém fosse apenas um garotinho mexicano assustado. Poderia aparecer alguém de bom coração e cuidar dele, até que esse garotinho se tornasse um homem sedento por vingança e viesse atrás de você, para fazê-lo pagar pelo sofrimento que lhe causou.

Enrico se calou e notou que o rosto de Meyers transformara-se em uma máscara desfigurada pelo ódio.  Empunhando o Colt 45 que pegara de Nilman, o jovem pistoleiro sorriu antes de prosseguir:

— Por que está tão bravo? Devia mostrar alegria e gratidão, aprendeu uma coisa importante essa noite. É um homem de sorte, com um ensinamento tão valioso consigo. Muitos morrem sem ter entendido a lição. Kirk Ortiz, Paul Blake, Jeff Nilman... Nenhum deles dispôs de tempo para isso. Daqui a pouco, quando partir, você pode ir pensando a respeito no caminho, Meyers. Talvez, quando chegar ao Inferno, possa ensinar isso aos seus companheiros que estão lá, esperando por você. Já que não aprenderam nada nessa vida, quem sabe na outra?

Nesse ponto Enrico parou de sorrir. E simplesmente apertou o gatilho.

Wally Meyers deu um urro medonho de ódio e dor quando a bala fervente se encravou em seu tórax, a dois milímetros do coração. Girou cambaleante e, enquanto caía lentamente, dançando sobre as próprias pernas, ainda conseguiu mirar precariamente para disparar a espingarda.

Enrico deixou-se cair de lado e o tiro passou sobre ele, a duplicada carga de chumbo indo estraçalhar as portinholas de madeira do saloon. Antes de tocar o chão, amortecendo a queda com o ombro direito, o jovem pistoleiro ainda mandou mais uma bala. Ela abriu um buraco considerável entre as grossas sobrancelhas de Wally Meyers.

Quando o rapaz mexicano se levantou, deixando o Colt 45 fumegante junto do cadáver de Nilman, tratou de apanhar de volta seu cinturão, juntamente com seu poderoso par de Colts 38.

Erguendo os olhos negros, se deparou com Davis, que acabava de chegar junto dele. Viera chapinhando nas poças d’água da rua. Ainda chovia bastante. Um trovão distante reboou.

— Agora falta apenas encontrar Herrera. – comentou Enrico.

— Vá na frente. Vou caçar dois ou três bandidos que ainda estão escondidos pela cidade e depois sigo você, te dando cobertura. Não devemos deixar nenhum desses crápulas vivos, podem nos armar uma cilada ou chamar ajuda.

Enrico concordou meneando a cabeça e, sem dizer palavra, abandonou o alpendre do saloon, se afastando. Desceu a rua correndo, em direção à iluminada mansão de Francisco Herrera. A chuva torrencial encharcava seu corpo. Olhou para trás e não mais enxergou Peter Davis no alpendre do saloon. De repente, escutou tiros espocando num e noutro canto da cidade. Sorriu de modo sombrio ao entender que seu amigo estava realmente lhe dando cobertura ao terminar de “limpar” Brave City, livrando-a definitivamente dos homens de Herrera.

Correndo sob a chuva intensa, Enrico venceu mais dois quarteirões e estacou diante da mansão do bandido a quem viera de tão longe para matar.

Chegara enfim o grande momento pelo qual esperara e para o qual se preparara durante toda uma vida.


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Notas finais do capítulo

E aí, gente? Não me odeiem pelos ganchos finais, por favor!
Garanto a vocês que a espera valerá a pena! kkkk
Quais as impressões de vocês sobre o capítulo?
Aguardo seus comentários.
Até semana que vem!
Forte abraço!!!



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