A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 14
Sangue no Deserto


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Apesar dos avisos de Tortura e Violência contidos nessa história, é sempre bom reforçar. Esse capítulo que leremos agora contém cenas fortes e explícitas de violência.
A Sombra do Pistoleiro é uma narrativa bastante inspirada no cinema de faroeste, sobretudo nos filmes italianos classificados como "Spaghetti Western". Teremos a seguir um capítulo com um tiroteio surreal e bastante exagerado (visto que esses elementos são a essência dos contos de faroeste muitas vezes) bem ao estilo Tarantino.
Então, se você tem estômago fraco, cuidado! rsrs
Dedico esse capítulo aos meus amigos Matheus Braga e Jessica, mas "Sangue no Deserto" vai com uma dedicatória especial para minha amiga ArveeneNymeria, que me cobrou mais tiroteios detalhados. Arveene, espero que goste!
Forte abraço também a você que sempre lê mas nunca comenta.

Dito isto, chega de papo.

Bora descobrir o que Enrico aprontou no caminho para Denver.
Boa leitura!



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O sol, que despontava no horizonte, estendeu preguiçosamente seus primeiros braços de luz sobre o deserto.  Esse mesmo astro rei sonolento encontrou um homem obstinado sobre seu cavalo veloz, ambos cruzando a aridez do deserto do Novo México.

Isso acontecia sob as primeiras cores da manhã de 18 de dezembro de 1875.  Ironicamente, naquele dia Enrico De La Cruz completava vinte anos de idade.  Era seu aniversário e ele se achava em pleno deserto, em companhia apenas de seu cavalo e seus planos de vingança.

Seguia firme sobre seu animal, que parecia voar através daquele mar de areia vermelha e esturricada pelo sol abrasador, causticante. Enrico estava absorto em seus pensamentos. Mesmo assim, seus olhos atentos captaram ao longe a silhueta majestosa dos Montes Sangre de Cristo, a subcordilheira mais meridional das Montanhas Rochosas, que recortavam a paisagem, erguendo-se imponentes contra o horizonte longínquo. Situados entre o sul do Colorado e o norte do Novo México, os Montes Sangre de Cristo foram assim chamados por sua coloração escarlate ao nascer e ao por do sol, sobretudo quando seus picos estavam cobertos de neve. Também eram considerados o ponto mais conhecido do deserto do Novo México.  

Algum tempo se passou.

Faltava meia hora para o sol estar a pino no céu quando o jovem alcançou as encostas dos Montes Sangre de Cristo. Olhou para o alto e percebeu que o sol se refletia em alguma coisa no alto das colinas mais baixas da subcordilheira, algo o qual produzia um brilho metálico e ofuscante.  

Instintivamente Enrico saltou da sela, quase ao mesmo tempo em que o som de uma arma potente sendo disparada rasgava o ar quente e até então silencioso. O rapaz rolou algumas vezes pelo chão escaldante. Inúmeros tiros foram desfechados em sua direção. A série de detonações trovejantes reverberou nos paredões rochosos, amplificando o som deserto adentro ao longo de quilômetros, o que debandou uma família de chacais famintos que marchavam pelas imediações e dispersou em revoada um bando asqueroso de abutres o qual se regalava com a carcaça de uma pobre mula desgarrada, morta pelo calor há dias.

Enquanto rolava para salvar a própria pele, Enrico sentia as cargas de chumbo passando perigosamente rente o seu corpo.  Seus ouvidos treinados captaram o som de quatro armas de longo alcance disparando consecutivamente. Quatro rifles vomitavam fogo contra ele de modo contínuo.  Uma emboscada lhe tinha sido preparada nos Montes Sangre de Cristo. Um belo e sarcástico presente de aniversário, por sinal.  

Correndo meio agachado, o jovem pistoleiro achou um débil esconderijo atrás de um grande cacto. Seu cérebro trabalhava com vertiginosa rapidez. O suor escorria de suas têmporas devido ao calor e a tensão. Sua respiração era forte e seu coração martelava em seu peito. Nesses momentos, a adrenalina em excesso sempre o desnorteava a princípio, de modo que ele precisava lutar para se controlar e usá-la em seu favor.  

Fechou os olhos por um instante e, ouvindo os estampidos dos disparos, tentou calcular mentalmente a distância que o separava de seus quatro inimigos. Abriu os olhos, respirou fundo e arriscou uma rápida olhada. O tiro seguinte quase lhe arrancou um olho; a sorte é que ele se abrigou depressa. Ao menos o risco serviu para mostrar que a distância era demasiada, as balas de seus Colts não atingiriam os adversários emboscados.  Precisava de seu Winchester 73, que se achava no estojo preso na sela de Muchacho. Depois de tanto tempo, chegara o momento de finalmente estrear o poderoso rifle que seu amigo Peter Davis lhe dera.  Percebeu que devia mudar de abrigo, pois as balas estavam destruindo o cacto que o protegia. Pondo-se de pé, o mexicano assobiou com força.

Muchacho, que corria em círculos, ouviu o chamado e veio prontamente em seu socorro. Quando o cavalo passou perto do cacto, Enrico deu um grande salto e agarrou-se às rédeas.  Já não era sem tempo, pois a próxima saraivada de balas partiu ao meio o imponente cacto o qual o havia protegido.

A fuzilaria infernal prosseguia insistentemente, e uma perigosa chuva fervente de chumbo procedia do cume de um dos montes mais baixos e menos íngremes. Muchacho seguia num galope veloz, deslocando-se paralelamente à subcordilheira.  Com assombrosa agilidade, estando pendurado nas rédeas, Enrico moveu o corpo e alcançou o Winchester atravessado na sela, guardado no estojo de couro. Com o talento de um malabarista, o jovem mexicano pendurou a pesada e comprida arma às costas pela bandoleira, uma espécie de alça própria para carregar a arma a tiracolo. Seu corpo ágil balançou-se e ele passou para o outro lado do animal, pendurado no pescoço do mesmo.

Essa era uma manobra evasiva, um velho truque indígena para usar o cavalo como escudo, aprendida por Enrico com os colegas de trabalho na época de vaqueiro. Assim, pendurado à montaria do lado oposto de onde vinham os tiros, Enrico estava protegido.

É bem verdade que, por outro lado, Muchacho se achava exposto à fuzilaria intensa, mas Enrico tinha certeza de que seu belíssimo alazão era rápido demais para ser tão facilmente alvejado por aqueles bandidos.

Não se enganou.

Passaram por um por um amontoado de rochas no meio do deserto e o jovem De La Cruz, soltando o corpo, deixou-se cair de lado na terra vermelha e quente.  Muchacho afastou-se velozmente, ileso.

Enrico se ergueu e, colando-se às rochas, encontrou nelas a proteção necessária. Empunhou o Winchester, destravou-o com um golpe seco e verificou a carga. Feito isso, apoiando o longo e pesado cano da arma nas rochas, o rapaz se posicionou. Seu potente rifle estava apontado para os Montes Sangre de Cristo. 

Auxiliado pela excelente mira do Winchester, seu olhar perspicaz varria o topo dos montes, local de origem dos tiros os quais, em dado momento, tinham cessado.  Devido sua manobra, os homens ocupando o cume das elevações viram-se obrigados a mudar de posição para atingir seu alvo, e estavam fazendo exatamente isso no momento em que Enrico os viu.

Sua visão de águia localizou os atiradores se movendo rapidamente, procurando um ângulo melhor. Os olhos do rapaz apertaram-se atrás da lente da mira. Fez pontaria no bandido do meio e apertou decididamente o gatilho. O forte estrondo ecoou pelo deserto.  O projétil partiu veloz e com arrepiante precisão apesar da lufada repentina de vento que podia ter prejudicado o tiro, mas não prejudicou.

Ouviu-se um tétrico grito de morte.

O sangue imediatamente encharcou o deserto. 

Lá nos topos dos montes Sangre de Cristo, a cabeça do homem alvejado explodiu como se fosse uma abóbora madura. Em seguida, Enrico divisou o cadáver descer a colina rolando tragicamente.

Ao se dar conta do perigo, os outros três homens se abaixaram ligeiramente, desaparecendo parcialmente de seu campo de visão. O jovem pistoleiro se aproveitou disso para apanhar os inimigos de surpresa. Correndo abaixado para não ser visto, ele audaciosamente abandonou a segurança do rochedo atrás do qual estava, e seguiu velozmente em campo aberto, rumando diretamente para a base dos Montes Sangre de Cristo.

A elevação em cujo topo os bandoleiros se achavam entrincheirados, apesar de se tratar de uma das menores da subcordilheira, ainda era alta o bastante para que lá de cima não vissem o avanço do inimigo, que estava agora bem embaixo deles, oculto pelas saliências e irregularidades do morro. O rapaz também foi acobertado pelas intermitentes e providenciais rajadas de poeira vermelha que o vento impetuoso teimava em atirar contra os olhos dos assassinos, comprometendo constantemente seu campo visual.

Com as costas coladas à base do monte, Enrico enfiou a mão no bolso e procurou um novo cartucho. Recarregou o Winchester e rapidamente rodeou o monte, alcançando o lado menos íngreme, por onde seria menos difícil a subida, visto que ele não poderia usar as mãos como apoio caso se desequilibrasse, já que carregava o pesado e longo rifle, obrigatoriamente segurando-o ambas as mãos, pronto para uso. Subiu agilmente e chegou ao topo em seguida, surgindo bem atrás dos oponentes.

Estavam os três facínoras apalermados, confusos, olhando para baixo e procurando por ele, sem imaginar onde o mexicano pudesse ter ido. Também contemplavam espantados o corpo de seu companheiro estirado lá embaixo.

 Enrico os avistou e seus olhos negros se apertaram expressivamente. Uma sombra passou por seu rosto moreno.

Seu coração não se apiedou.

Ergueu o Winchester de modo determinado e fitou com desprezo seus quase-assassinos. Sabia que logo adiante havia um traiçoeiro trio de coiotes carniceiros, que não hesitariam um único segundo em liquidá-lo. Na certa, ainda ririam de seu cadáver depois de cuspir sobre ele.

Não, eles não eram dignos da menor compaixão. Não tinham comiseração por ninguém. Não possuíam mais alma. Mesmo assim, a educação recebida de padre Emanuel falou mais alto, de modo que não agradava a Enrico a idéia de matá-los pelas costas. Se o fizesse, se igualaria àqueles tipos. Por isso, gritou:

— Estou bem aqui, seus covardes!!!

Tudo aconteceu da forma que o rapaz imaginou.

Dando a impressão de que tinham recebido uma descarga elétrica, os homens estremeceram ao ouvir o brado de alerta inimigo. Como se o movimento seguinte fosse ensaiado, sem nem mesmo se entreolharem, os três malfeitores se voltaram velozmente, os dedos apertando com ferocidade os gatilhos de seus rifles. Porém, os bandidos se decepcionaram e suas balas, zunindo, se perderam no vazio. Sua presa não se achava mais onde imaginaram.

Enrico obviamente se precavera. Ligeiro como o vento, dera um salto para o lado e agora sua arma estava direcionada para o trio.

— Boa viagem, amigos! – foi só o que disse antes de lançar uma verdadeira tempestade de chumbo fervente.

Seu Winchester rugiu furiosamente.

Mais sangue quente lavou o chão árido do deserto. Mais sangue em Sangre de Cristo.

O primeiro disparo abriu um rombo do tamanho de um panetone no peito de um dos bandidos, que teve tempo apenas de gritar. Seu tórax explodiu em uma nuvem vermelha de sangue e ossos. O homem ficou dramaticamente estendido sobre uma rocha, como uma marionete abandonada ao sol. Morto. Esvaindo-se em sangue.  

O segundo bandido recebeu sua merecida carga de chumbo bem no meio do estômago. A bala o atravessou como se seu corpo fosse uma folha de papel, ou um pedaço de madeira.  Ela entrou pela frente e saiu pelas costas, destruindo a coluna e levando consigo as vísceras, que se espalharam ao vento dançante. Novamente o sangue esguichou. O morto voou pelos ares, indo cair lá embaixo.

O último patife vivo estava aterrorizado de tal maneira que inicialmente não foi capaz de esboçar qualquer reação. Seu dedo estava paralisado, não conseguiu sequer apertar o gatilho.

Já o de Enrico, sim.

O bandido restante, apesar de ainda se mover e tentar evitar o tiro, girava instintivamente o quadril quando sentiu uma fisgada brutal roçando o abdômen, se desequilibrou e desceu o monte rolando pesadamente.

Depois da luta, os sensíveis ouvidos de Enrico tentaram captar algum som que representasse perigo. Não escutou nada. Os olhos do jovem se deslocaram atentamente de um lado a outro.

Foi então que se lembrou de seu cavalo.

Apoiando o Winchester sobre um dos ombros despreocupadamente, ao estilo militar, Enrico se aproximou com passos rápidos da borda do precipício e olhou para baixo. Viu algo simplesmente inacreditável. A surpresa o imobilizou por alguns instantes.

 Seus olhos pretos e arregalados de espanto focalizaram o último inimigo, o que fora alvejado de raspão no ventre, pendurado obstinadamente na sela, tentando montar Muchacho. Com o tiroteio, as montarias dos bandidos se assustaram e fugiram. Por isso, o homem ferido tentava usar o cavalo de Enrico para escapar.

Sem demora o jovem mexicano começou a fazer pontaria. Lá embaixo, Muchacho relinchava e girava escoiceando o ar, mas algo prendia o homem sobre a sela, firme, inabalável. Era um excelente cavaleiro, talvez melhor até do que o próprio Enrico. Esporeou o cavalo e gritou de modo autoritário, se impondo sobre o animal bravio. O pistoleiro percebeu num relance a sombra de Enrico de pé sobre o monte; sua intuição era diabólica.

Conforme sua mão esquerda segurava a sela com força, a direita, como se tivesse vida própria, sacou um revólver e enviou quatro balas com enlouquecedora velocidade. Por uma fração de segundo Enrico não foi alcançado pelos tiros. Deu um mergulho para o lado e buscou proteção. 

Meteu algumas balas na câmara do Winchester e rastejou até a borda do rochedo.  O bandido estava escapando, Muchacho se afastava num galope veloz. Enrico disparou três vezes. Entretanto, não conseguiu acertar o inimigo.

Muchacho era muito rápido e o bandoleiro estava deitado sobre a sela. De repente, o alazão e seu indesejável cavaleiro desapareceram numa curva do caminho. O facínora escapara e Enrico não pudera detê-lo.

Sentindo-se frustrado, o rapaz se ergueu, bateu a poeira das roupas e olhou ao redor. Recarregou seu rifle e pendurou-o às costas pela alça. Seu par de Colts dormia dentro dos coldres cruzados diante de seu peito largo, que arfava. Usou o dorso da mão esquerda para enxugar as têmporas banhadas de suor.  O sol era inclemente àquela hora, e o ar quente do deserto o estava sufocando. Massageou distraidamente o braço esquerdo, curado recentemente da bala de Bob Indian. A última bala de sua vida, por sinal.

Enrico já estava livre da tipóia, das ataduras e da atenção médica, mas o ferimento não cicatrizara de todo, e latejava, um pouco dolorido.

O jovem pistoleiro revistou um a um os corpos dos homens que acabara de matar. Não parecia sentir remorso. Não parecia ter sentimentos naquele momento. Seus olhos escuros e negros como uma noite sem lua estavam nublados. Seu corpo era uma máquina de matar. Seus movimentos, ágeis, precisos e mortais, como uma fera. Encontrou duzentos dólares nos bolsos dos cadáveres, além de um telegrama interessante, de um tal F.H, que dizia:

Não falhem. De La Cruz não pode sair do deserto sem os meus cumprimentos.”

Enrico sorriu sombriamente. Estava na pista certa apesar de quase receber realmente os “cumprimentos” nada amistosos desse remetente, o tal F.H. Era bem provável que essas iniciais fossem de Francisco Herrera. Enrico estudou mais uma vez os rostos dos mortos; isto é, daqueles que ainda possuíam um.

De repente, seu olhar perscrutador se deteve na face do homem que morrera com um balaço em pleno peito. Enrico o trouxera do topo do monte e o atirara ao chão, como um fardo qualquer, que ficou estatelado junto aos dois outros cadáveres. Um dos pistoleiros não tinha mais cabeça, estava irreconhecível. Examinando os outros dois, Enrico viu que uma das feições ali não era lhe estranha.

Puxando pela memória, reconheceu Ambrósio, o homem que tentara matá-lo em Monterrey algum tempo antes, e que Enrico deixara sem sentidos com um murro poderoso em um saloon. O gordo e simpático barman chamado Eusébio lhe prevenira sobre o provável ataque por parte do daquele bandido.  Isso significava que Ambrósio vinha seguindo seus passos desde Monterrey, não meramente para se vingar de uma surra; mas a mando do tal F.H, conforme comprovava aquele telegrama.  Ambrósio era um pistoleiro de aluguel contratado para matar De La Cruz a qualquer custo, impedindo-o assim de chegar a Denver, e depois a Utah. Entretanto, apesar de seu talento indiscutível para liquidar pessoas, falhara em sua macabra missão.

Enrico ergueu os olhos e divisou no céu uma nuvem de asas negras e repugnantes que voava em círculos bem acima dele.

— E o grande Ambrósio termina assim, num deserto, tendo sua carcaça infame servindo de alimento para os abutres. – anunciou o rapaz mexicano sinistramente, em voz alta, como se o morto ainda pudesse ouvi-lo.

Afastou-se dos três defuntos e caminhou até o local onde estava tombado o imenso cacto despedaçado, que o havia protegido durante a perigosa troca de tiros. Agachou-se ali e usou as mãos para cavar a terra vermelha e escaldante, onde tinha se firmado o bendito cacto tempos antes. Instantes depois, seus dedos pararam de sentir a quente secura da terra para experimentar umidade e o frescor precioso da água.  Certa vez Enrico aprendera com Peter Davis que se pode matar a sede no mais terrível deserto, simplesmente cavando junto à raiz de um cacto. Essas plantas fantásticas são capazes de resistir às secas mais rigorosas, armazenando em sua raiz a valiosa água das chuvas escassas. Enrico se lembrara disso ao sentir a garganta seca e a língua áspera. Seu conhecimento iria lhe salvar a vida, já que seus cantis tinham ido embora na sela de Muchacho.

Com as mãos em concha ele matou a sede, lavou o rosto, as mãos e a nuca. Depois, se ergueu, sentindo-se um pouco melhor. Seus olhos negros e cansados nada mais focalizavam do que um infinito e solitário mar de terra vermelha e quente, independentemente da direção em que o jovem olhasse.

Esses mesmos olhos negros como azeviche refletiam a imensidão do deserto do Novo México, que se estendia como um tapete marrom avermelhado diante da base dos Montes Sangre de Cristo.

Havia os Montes.

Havia o deserto.  

E nada mais, num raio de muitos quilômetros.

Olhou uma vez para trás e notou que os primeiros abutres famintos já pousavam sobre os três cadáveres.

Esquecendo por um instante os bons modos aprendidos com padre Emanuel, Enrico deixou escapar uma sonora praga, antes de resmungar para si mesmo:

— Preciso ir andando se não quiser acabar como aqueles três.

  Baixou um pouco a aba do chapéu, respirou fundo e iniciou com passos decididos a longa e desgastante jornada de inúmeros quilômetros que teria de cumprir seguindo a marca dos cascos de Muchacho.

Coincidentemente os rastros seguiam para Dever, seu próximo destino. Não podia retornar, era morte certa.

Tinha de avançar, e assim o fez. Parou de pensar e limitou-se a caminhar. Ignorou o sol. Ignorou o calor. A sede. O cansaço. A morte.

Nada o impediria.

Iria se vingar. Ou morreria tentando.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Deixar um homem a pé e sozinho no meio do deserto era condená-lo a uma morte certa.
Será que o Enrico escapa dessa?
Deixa seu review por favor destacando os pontos negativos e positivos.
Até a próxima, cowboys e cowgirls!!!



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