Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 61
Lobo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690458/chapter/61

Lizzy, na cama ao lado, estava vomitando mais uma vez. O marido correu para buscar alguma coisa, e voltou com um balde.
Estávamos morrendo. Ambas. Eu sabia disso. Nós duas havíamos sido infectadas por Alexandra, e agora nosso tempo estava se esgotando. Reddington estava acompanhando nós duas, mas para todos os efeitos ele estava comigo, já que Ressler estava na caça à Alexandra. Tom se recusou a sair do lado de Lizzy, mesmo que ela tenha insistido para ele ir pra casa.
Uma onde de enjôo me atingiu, e logo eu estava colocando todo o conteúdo do meu estômago pra fora.
—Jenna, se acalme. –Red pediu. Estava sem fôlego e nervosa. Mais uma onda de enjôo, e eu ia desmaiar. Não havia mais nada para sair. –Respire fundo. –Deitei de novo, fechando os olhos.
—Estou tonta.
—Vou atrás do seu médico. –O ouvi sair. Tom estava tentando acalmar Lizzy.
A tontura ficou mais forte. Tentei me concentrar em alguma coisa e não ficar nervosa. Parei, ouvindo os sons do hospital. Médicos e enfermeiras correndo pelos corredores, pacientes chamando alguém, máquinas fazendo seus sons, uma criança berrando não muito longe dali, Tom falando.
—Vai ficar tudo bem, querida, eu prometo. Vão encontrar uma cura para você.
—E Jenna. –Lizzy sussurrou. –Jenna também.
—Claro. Claro. –Franzi a testa, sem abrir os olhos. A sensação de conhecer Tom Keen só crescia. Mas de onde?
Uma lembrança veio, e me sufocou.
“-Levanta daí, Mhoritz, ainda não acabou! Levanta!-Meu nariz estava sangrando, assim como meu lábio. Eu não conseguia levantar. Tinha acabado. Não pra ele. –Levanta! Eu mandei levantar!
Tentei me forçar a obedecer, meu corpo não respondia. Estava machucada demais, acho que quebrei uma costela, doía muito. Ele havia pegado pesado no treino. Daniel e os outros assistiam de longe, loucos para interferir. Se o fizessem, ficariam de castigo por muito tempo.
—Levanta!-Gritou de novo. Me levantei, cambaleante. Outro soco. Fui pro chão mais uma vez. –Levanta!
Engolindo a raiva e o choro, eu me arrastei até ficar sentada, longe do alcance dele. Alguma coisa envolveu meu pescoço. Eu não conseguia mais respirar.
—Jen, reage!-Daniel gritou. Os garotos o seguraram, ou ele viria me ajudar. –Jen! Pare, você vai matá-la!
Arranhei o braço que me envolvia e me empurrei pra longe, lutando comigo mesma para respirar.
—Você é um fracasso.”
Abri os olhos, estava sem ar, como na lembrança. Red apareceu na minha linha de visão, preocupado.
—Jen, calma. Jenna. –Agarrei o braço dele com força, desesperada. –Jenna, o que foi?
—Eu sei. –Sussurrei. –Eu... Eu sei.
—O que você sabe?
Desmaiei.
***
“-Suba! Suba!
Chovia muito. Isso fazia as pedras do paredão ficarem escorregadias. Lobo não me deixou colocar uma corda, o que significava que se eu não conseguisse me segurar, ia pro chão. Uma das pedras era áspera e cortou minha mão. A dor me fez perder o equilíbrio e eu caí, perdendo o ar.
—Levante-se e suba naquele paredão, ou não vai querer saber o castigo!-Gritou.
Quis me encolher no chão e chorar. Lobo estava pegando pesado demais nos últimos dias. O que eu fiz? Por que ele me odiava tanto?
—Levante-se!
Me levantei e voltei a escalar o paredão, tentando ignorar a dor e o sangue na minha palma direita. Os gritos do homem pareciam ficar mais altos e me desconcentravam. Ele estava furioso. Como sempre.”
***
“O bastão acertou a parte de trás dos meus joelhos e eu caí. Não demorou muito até Lobo começar a gritar comigo de novo. Ele era meu instrutor, apenas meu, e ficava muito irritado quando eu não conseguia acompanhá-lo nos treinos. Dizia que eu não devia estar no Projeto Dangerous.
—Levante-se e lute, Mhoritz, ou a farei andar descalço num caminho de fogo.
Me levantei, usando o bastão como apoio. Lobo atacou. Parei o ataque dele e o obriguei a se afastar. Ele deu um sorriso estranho, quase divertido.
—Isso. Lute. Ou a matarei nesse treino. Juro que farei isso.
O bastão agora acertou meu rosto. Recuei, ignorando a dor, e ataquei. Pra ele, parecia algo fácil, comum. Ele quase não parecia estar se esforçando. Eu estava perdendo o fôlego, tentando me defender e atacar. Eu jamais iria vencê-lo.”
***
“Abri a geladeira e procurei por uma garrafa de água, até encontrá-la. Quando fechei a porta, levei um susto. Lobo estava na entrada. Ele sempre se aproximava silenciosamente, como se fosse um fantasma.
—Te assustei?-Perguntou.
—Um pouco. Estava distraída. –Me virei, enchendo um copo e devolvendo a garrafa para a geladeira. Queria sair dali o mais rápido possível. Os machucados do treino daquele dia ainda doíam. Meu joelho estava me incomodando, e eu andava mancando por aí. Lobo parecia gostar quando eu me machucava.
—Está sempre distraída, Mhoritz. –Ignorei, passando por ele com o copo na mão. –Espera. –Parei, me virando para olhá-lo. Só queria sair dali. E longe dele.
—Sim?-Me olhou de cima abaixo.
—Não deveria andar assim pela base.
—Assim como?-Olhei pra mim mesma. Shorts de tecido e uma regata branca. Recuei. Os garotos não viam problema. Isso só podia significar uma coisa. –Tudo bem. Eu... Boa noite. –E saí, sem olhar para trás.
Lobo era o único homem de quem eu recuava.”
***
Passei algum tempo apagada. Quando acordei, Tom já tinha ido, e Keen estava dormindo. Red estava sentado ao meu lado, conversando em voz baixa com Dembe.
—Como está se sentindo?-Perguntou, ao me ver acordada.
—Estranha. E enjoada. Não encontraram Alexandra?
—Encontraram. Mas fazê-la falar é o problema. –Levantou. –Eu preciso ir. Jen, precisa me contar alguma coisa?-Olhei na direção de Keen.
—Não. Por quê?
—Nada. Se precisar, diga para ligarem pra mim.
—Certo. –Acenou com a cabeça e saiu com Dembe. Suspirei.
Não havia nada a fazer. Apenas esperar. Alexandra tinha a cura. Mas ela falaria?
Olhei na direção de Lizzy de novo. Ela acordou e olhou em volta, parecendo procurar alguma coisa.
—Onde Tom está?-Perguntou.
—Não sei. Não estava aqui quando acordei. Red disse que encontraram Alexandra.
—E ela falou alguma coisa?
—Nada. Mas vão fazê-la falar. Sei que... Vão encontrar um jeito de salvar a gente.
—Espero que tenha razão. Ah, droga. Nem falei com você sobre... Bem, soube o que Alexandra fez com você. Como está sobre isso?
—Inabalada. Esse é o problema. Eu tenho algum problema?
—Não, Jen. Não tem.
—Eu não posso ter filhos. Estou estéril. E isso sequer me preocupa. Ressler, por outro lado... Ele queria ter filhos, entende? E agora... Tiraram isso dele. E então, não terminamos aquela conversa. Você e Tom queriam adotar, mas... O que houve?-Ela desviou o olhar.
—Tivemos alguns problemas.
—Quer falar sobre isso?-Fez que não. Então voltou a olhar pra mim.
—Fico feliz que tenha entrado para essa loucura toda. Me refiro à Red e tudo isso. Sinto uma... Felicidade ruim ao saber que não sou a única nesse caos. Ele também bagunçou toda sua vida.
—Isso é verdade. Mas meus mistérios com Raymond Reddington foram resolvidos. Ele é meu padrinho. Cuidou de mim por quatro anos. Mas você? Qual sua ligação com ele?-Silêncio. –Tom sabe que ele é o criminoso mais procurado do mundo?
—Não. Ele não sabe.
—O que acha que ele faria se soubesse?
—Provavelmente entraria em desespero e ligaria pra polícia. –Rimos. Tom voltou e sentou perto da esposa, pegando a mão dela. –Oi, onde esteve?
—Fazendo umas ligações. –Respondeu. –Está melhor?
—Um pouco. –Tirei os olhos do casal, encarando o teto. –Ai. –Olhei pro lado, Lizzy se debruçou pra fora da cama, outra crise de enjôo. E tudo o que tínhamos no estômago era sopa.
—Liz, calma. –Tirou os cabelos dela do caminho. Dois médicos entraram. Ambos estavam cuidando do caso de Lizzy e eu. –E então? Conseguiram uma cura?
***
—Acredita nisso?-Perguntei, revoltada. –Me afastaram, por que não sigo regras!-Me sentei na frente de Red, que parecia entretido com um jornal. Olhou pra mim.
—O que foi agora?
—Martin, aquele filho de uma... –Respirei fundo. –Ele convenceu o diretor a me afastar. Cooper até tentou interferir, mas... Desgraçado. Quatro meses. Quatro meses fora. Pode uma coisa dessas?
—Vou te mandar para algum lugar calmo e tranquilo.
—Viajar?
—O que vai ficar fazendo aqui? Armando planos para torturar Martin?
—Como sabia que eu... Esquece. –Olhei pela janela. –Preciso te contar uma coisa.
—Que coisa?
—É sobre Tom Keen. –Red largou o jornal, atento. Nenhum traço de diversão no rosto.
—O que tem ele?
—Lembra quando Lúcinder nos sequestrou pra brincar de Roleta Russa?
—Sim.
—Eu fui até a casa de Lizzy, ao saber que Meera também havia sido pega. Encontrei Tom lá, e senti que ele era familiar. Não tirei isso da cabeça, por que sabia que Elizabeth nunca havia me mostrado uma foto dele e tal. Então tentei me lembrar. E consegui.
—E então...?
—Tom, sem dúvida nenhuma, não é Tom Keen. Não sei o nome dele, não me lembro. Mas...
—De onde o conhece, Jenna?
—Ele era meu instrutor, na Dangerous. Ele era Lobo. O cara que quase me matou. –Olhei para Red. –Precisamos tirar Lizzy de perto dele. O mais rápido possível.
***
QUATRO MESES DEPOIS...
—Olha só, até ficou mais bronzeada. –Sorri, tirando os óculos. Dembe saiu do aeroporto, pegando a estrada rapidamente. –Como foram as férias?
—Boas, Red, boas. Mas não consegui descansar sabendo que Lobo está vivo, e está casado com minha amiga. Aquele cara é maluco. Ele quebrou minha costela.
—Jenna...
—Sério. Precisamos fazer alguma coisa. Ele... Ele era cruel. Aquilo não era treino, era tortura. Ele me feria de propósito. E agora, quem vê Tom Keen acha que ele é gentil e tal... Red, ele é um psicopata. Me diz que matou esse cara e enterrou em algum lugar longe.
—Não. Mas muita coisa aconteceu enquanto esteve fora. Lizzy sabe que não pode confiar em Tom. Sabe que ele não é quem diz ser. Mas não que ele foi seu instrutor. Ela não sabe que você o conhece.
—Isso é ótimo. E ele está preso ou...
—Não. Ele não sabe que ela sabe quem ele é.
—Ai, merda. É um plano seu, né? É perigoso...
—Lizzy é quem está armando tudo. Ela vai adiante nisso, mesmo depois de eu dizer pra não fazer.
—Uau. As coisas mudaram mesmo nesses quatro meses.
—Nem faz ideia.
Olhei para fora, Tom Keen, ou Lobo, ia receber minha visita.
***
—Oi, a Lizzy está?-Perguntei, assim que Tom abriu a porta.
—Não. Ela ainda está no trabalho. –Ajeitou os óculos. –Achei que trabalhassem juntas.
—Sim, mas... Eu fui suspensa, então... –Dei de ombros. –Será que eu posso esperar? Não posso aparecer na base, e é urgente.
—Claro. –Passei por ele, entrando na casa. Dessa vez tudo estava no lugar. Olhei em volta. Esperava que o celular ainda estivesse gravando.
—Acha que ela vai demorar?
—Não tenho certeza. –Ok. Nada de enrolar. Seja rápida.
—Ela disse que você é professor.
—Sim, é.
—E sabe que você foi instrutor no Projeto Dangerous?
Eu não esperava pelo ataque. Em segundos estava no chão, com Tom me imobilizando.
—Então você lembra.
—Lembro. –Garanti. –Lembro muito bem de você, desgraçado. –Consegui soltar meu braço e acertá-o no rosto. Isso não o tirou de cima de mim, que me acertou um soco. Iam ficar marcas. Tentei alcançar minha arma, mas ele foi mais rápido, puxando-a e apontando-a para minha testa.
—Não deveria ter vindo aqui, Mhoritz. Mas nunca foi muito prudente.
—Vai fazer o que? Hum? Atirar em mim? O que Lizzy vai dizer quando me ver sangrando no seu tapete? Ela vai adorar a decoração, aposto.
—Posso me livrar de você antes.
—Vá em frente, Lobo.
Houve um som de disparo e Tom caiu, largando a arma. O empurrei, tirando-o de cima de mim. Red estava na porta, uma arma em mãos.
—Ai, droga, você o matou!-Gritei. Pegando a minha arma e levantando.
—Não, não o matei. Ele vai apenas dormir. Tire a agulha do pescoço dele, por favor. –Fiz o que ele pediu. –Vamos.
—Mas...
—Vamos. Não quero estar aqui quando Lizzy chegar.
O segui pra fora da casa, me arrependendo por não chutar Tom Keen antes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dangerous" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.