Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 6
Antoine Lamar




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Bocejei pelo que me parecia a décima vez, e me ajeitei melhor na mesa onde estava sentada.

Todo mundo parecia estar bravo, e não por menos. Reddington disse que daria mais um nome de sua listinha, mas não apareceu. Keen não largava o celular, Ressler parecia pensativo, Meera mexia num tablet e Cooper estava com cara de quem queria atirar em Raymond.

—Se ele não chegar em um minuto eu vou embora. –Avisei.

—Estou aqui, agente Mhoritz, não se preocupe. –Reddington anunciou. Olhei feio pra ele, querendo metralhá-lo.

—Onde você estava?-Keen perguntou.

—Tomando café numa belíssima cafeteria em Londres. Desculpem o atraso. –Londres, é? O cara não parava um segundo.

—Achei que seu jato tinha sido destruído pela Conrad. –Ressler disse.

—E foi. Mas consegui outro.

—Estamos aqui por causa da lista. –Harold lembrou. –Vamos falar do nome de hoje?

—Antoine Lamar. –Meera digitou o nome no tablet e mostrou à Cooper.

—Não temos nada sobre ele, Reddington. Quem é esse?

—Antoine era médico, mas não tem mais licença para trabalhar, depois de um grande escândalo em Dubai em 2003.

—O que aconteceu em 2003?-Perguntei.

—Ele fez, ou melhor, tentou fazer experiências em uma mulher grávida. A mulher o bebê morreram. Lamar foi expulso do país, e quase foi preso, mas digamos que ele tinha um bom advogado e muito dinheiro.

—E...?

—E ele está fazendo mais experiências, dessa vez em solo americano.

—Sabe a exata localização dele?-Keen perguntou.

—Sei onde ele costuma pegar as vítimas. Ele prefere os mais pobres e desamparados, mendigos e gente assim.

—Isso coloca muita gente como vítima.

—É tudo o que sei. –Suspeitei que não era, mas não disse nada. Cooper havia me instruído a não irritar Reddington. –Começaria por mendigos desaparecidos se fosse vocês. Os locais onde mais desapareceram esse tipo de gente. Ou é isso, ou nada.

—Bela dica, Raymond. –Murmurei, saindo de cima da mesa.

Eu não era boa com computadores e essas coisas. Quando Paul tentou me transformar numa hacker fodástica como ele era, eu soquei a tela do computador, com raiva de ele ter travado.

Deixei o pessoal trabalhando com as pesquisas e fui pra uma sala nova, onde havia vários alvos, e armas para atirar neles. Me posicionei e comecei a disparar. Cooper parou na porta, de braços cruzados.

—Você tem que acertar onde está marcado, Jenna.

—A cabeça é um melhor alvo. –Comentei, sem desviar o olhar do que estava fazendo isso.

—Acho que precisa de ajuda.

—Por quê? Por que eu tenho um trauma de infância? Por que só atiro na cabeça? Isso é loucura, Cooper?

—Você sabe que é. - Então saiu. Larguei a arma, fechando os olhos com força.

***

—Como estão se saindo?-Perguntei, me jogando na frente da mesa de Ressler. Ele nem tirou os olhos da tela do computador.

—Se não vai ajudar, não atrapalhe, Jenna. –Bufei.

—Quero ir pras ruas, quero ação, tiroteio... Coisas assim. Trabalhar aqui dentro é um saco.

—Quantos anos você tem mesmo?

—Vinte e oito. Por mais que não pareça.

—Estou saindo. –Keen disse, entrando. –Alguém quer ir?

—Investigação de rua?-Fez que sim. Me levantei num pulo. –Vou com você.

Saímos em silêncio. Keen dirigiu, atenta ao trânsito. Me mantive olhando pra fora. Não fazia ideia do que pensar sobre Elizabeth. Ela e eu não trocávamos mais palavras que o necessário, e ela sempre era focada no trabalho, como se só houvesse isso. Além de tudo, ela tinha a confiança de um criminoso que jurava não conhecer. Eu com certeza não confiava em Raymond, e Keen... Bem, eu ia ter que descobrir se podia confiar na minha estranha colega de trabalho.

—Qual é a sua com Reddington?-Perguntei, me virando para olhá-la.

—Como?

—Vocês estão ficando ou algo assim?-Ela pareceu enjoada com a ideia.

—Não. Claro que não.

—Então é o que?

—Eu não sei. Ele me conta as coisas, só isso.

—E por que justo você, se ele não te conhecia?

—Eu não entendi direito. Ele disse que é por causa do meu pai. –Deu de ombros. –Mas não podemos acreditar cem por cento no que Red diz.

—Não confio nem dez por cento nele.

—Você não confia muito nas pessoas, eu percebi. É algum trauma do passado, não é?

—Leu a minha ficha?

—Eu leio as pessoas.

—E o que lê em mim?-Me mexi, levemente incomodada.

—Alguma coisa aconteceu, envolvendo alguém próximo de você. Isso te deixou marcada. E... Decidiu se afastar das coisas. Foi criada para matar e não se importar com isso, e você não se importa. Tenta fingir que não sente nada, mas sente.

—Acho que podemos parar com o momento psicologia, Keen. Sério. –Desviei o olhar, sentindo o dela sobre mim.

—Eu acertei, não acertei?

—Nós já chegamos?-Ela suspirou.

—Ainda não.

Vinte minutos depois, chegamos numa área um pouco afastada da cidade. Tendas feitas com lonas e papelão eram visíveis à distância. Elizabeth achou melhor não aproximar muito o carro, então descemos e fomos andando.

O pessoal que morava ali relatou coisas bem interessantes, e que podiam ser úteis. Alguns meses atrás um homem apareceu, e tentou comprar algumas crianças. Ninguém ali aceitou, e o homem disse que refaria a proposta algum tempo depois. Ele veio por duas semanas seguidas, com um valor mais alto, mas de novo ninguém aceitou. Desde então, várias crianças, além de homens e mulheres, têm sumido.

—E vocês não fizeram queixa?-Keen perguntou. Me segurei para não revirar os olhos.

—Dona, ninguém se importa com a gente. –Um homem disse. –Pra que íamos fazer queixa? Quem ia fazer alguma coisa? Muitos de nós não têm nem documento.

Pegamos dados dos desaparecidos e voltamos pro carro. Eu estava verificando meu celular quando escutei um grito de Keen. Olhei pra ela, sacando a arma e a vi caída no chão.

—Elizabeth?-Chamei. Alguma coisa acertou meu pescoço e eu caí também, vendo o mundo escurecer.

***

Keen estava gritando. Gritos altos e dolorosos. Fechei os olhos, tentando não me deixar afetar, e ter em mente apenas uma coisa: me soltar.

Quando acordei, estava amarrada numa maca, exatamente como Keen. Estávamos presas pelos pulsos e tornozelos. O quarto à nossa volta parecia uma sala de espera abandonada, suja e escura. A única luz no ambiente vinha de uma lâmpada verde fraca.

Um homem apareceu, se apresentou como Antoine Lamar, então saiu empurrando a maca de Keen para fora dali, enquanto eu gritava mando-o voltar de nos deixar em paz. Desisti segundos depois, e me empenhei em me soltar.

Se aquele cara era aquele de quem Reddington falou, então ele estava fazendo alguma coisa bem ruim com Elizabeth, e eu era a próxima. Me dei conta do que ele queria: cobaias. Ia nos usar para fazer seus experimentos.

Consegui soltar meu pulso direito, então o esquerdo. Quando terminei de me soltar, saí da maca o mais silenciosamente que pude, tentando achar alguma coisa que pudesse usar como arma. Antoine apareceu na porta, acabando com a minha procura.

Sem pensar duas vezes, parti pra cima dele, acertando um soco. Estava lenta, ele tinha injetado alguma coisa na gente antes, então errei o golpe. O derrubei, tentando acerta-lo de novo. Antoine conseguiu rolar, ficando em cima de mim e enfiando alguma coisa no meu braço. Pontos pretos começaram a encher minha visão.

—O que você fez?-Perguntei, lutando para me manter acordada.

—Você tem que dormir, ainda não chegou sua vez.

—Elizabeth...

—Ela ficará bem. Mas ainda não terminei com ela.

Apaguei de novo.

Acordei pela segunda vez na maca, presa como antes, só que agora havia uma corda prendendo minha cintura também. Eu não estava mais de jeans e camiseta, e sim com uma espécie de camisola usada em hospitais. Antoine estava de costas pra mim, mexendo em alguma coisa, e cantarolando baixinho. Olhei em volta, tinha sangue no chão, muito sangue. Se fosse todo de Keen, ela estava morta.

—O que fez com Elizabeth?-Perguntei. Antoine não se virou.

—Uma operação, apenas isso. Agora é sua vez.

—O que vai fazer?

—Prefiro guardar surpresa. Você verá mais tarde. –Tentei me soltar, não consegui. O médico demoníaco se aproximou, puxando uma mesa com rodinhas junto. Nela, vários aparelhos cirúrgicos. Dei um puxão nas amarras, não consegui me soltar.

—É melhor não se mover. Pode ficar pior.

—Pior do que vai fazer? Difícil.

—Não seja tão pessimista. –Ergueu uma espécie de faca pequena e de formato estranho, me debati na maca, começando a me desesperar. –Pare de se mexer.

—Não vai me sedar, doutor?

—Não. Quero ouvi-la gritar. Será que berra mais alto que sua amiga?

Me preparei para dar alguma resposta feia, então dois sons de disparos preencheram o ambiente. Manchas vermelhas apareceram na roupa de Antoine e ele tombou para o lado. Ergui o olhar. Keen, com sangue e ferimentos nos braços, desmoronou de joelhos, largando a arma. Parecia exausta.

—Você está bem?-Perguntei. Ela não respondeu. –Keen? Está me ouvindo? Elizabeth?-Respirei fundo, me inclinando pra trás e fechando os olhos. –Essa foi por muito pouco.

A porta explodiu com um chute. Vários homens entraram, incluindo Ressler. Ele veio direto na minha direção, enquanto outros iam ver Keen.

—Vocês estão atrasados. –Murmurei.

—Está bem?-Perguntou, me soltando.

—Keen está ferida. Precisa de um hospital.

—E você?

—Estou bem. Só um pouco tonta. –Me ajudou a levantar, meus joelhos quase cederam, obrigando-me a me segurar em Ressler. –Acho que aquele filho da mãe nos drogou.

—Vamos.

Saímos dali comigo ainda apoiada nele, não confiava em mim andando sozinha, pois sabia que ia cair em qualquer momento. Keen foi inconsciente para uma ambulância, Reddington foi acompanhá-la, parecendo preocupado.

Ressler me fez sentar, e chamou alguém pra verificar se eu tinha algum machucado, recusei a ajuda, sabendo que estava bem.

—Para de drama, Ressler. –Mandei, assim que o para-médico saiu. –Estou bem. Só com alguma droga no sistema, mas bem.

—Tem certeza?

—Antoine não teve tempo pra fazer nada. Keen atirou nele. –Me encostei na parede atrás de mim.

—Você está pálida.

—Não vou morrer por isso. Uma boa noite de sono vai ser o suficiente. Como nos acharam?

—Rastreamos o celular de Keen.

—Estão ficando espertos. –Ele se abaixou na minha frente, colocando a mão na minha testa. Fiquei surpresa, mas não me afastei.

—Tem certeza de que está bem?

—Estou viva e respirando, não estou? Pode me levar pra casa?

—Posso. –Me ajudou a levantar. –Só tente não ser sequestrada, ou se meter na frente de uma bala, tudo bem?-Olhei pra ele.

—Ressler, querido, vai se ferrar.


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Notas finais do capítulo

Galerinha, o que vcs tão achando da fic? Apareçam que eu não mordo!!! *u*
No próximo cap...
Capítulo 7 – Frustração – Com Keen no hospital, Red se recusa a dar mais nomes de sua lista, o que frustra totalmente o agente Ressler.



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