Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 53
Testes




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UMA SEMANA DEPOIS
—É bom ser importante de verdade, Raymond. –Avisei, me aproximando. Ele estava tomando café. –Por sua causa vou me atrasar pro trabalho.
—Calma aí, Dangerous. Sente-se. –Me sentei, cruzando os braços. Red pegou uma cesta e aproximou de mim. –Pãezinhos?
—O que?-Me afastei, cobrindo a boca com a mão. –Que coisa horrível é essa? Que nojo.
—É de morango com creme.
—Sério? Tem um cheiro péssimo. –Franziu a testa.
—Não, não tem.
—Só se for pra você. Eca. Afasta essa coisa de mim. –Colocou a cestinha na mesa de novo.
—Está estranha faz umas semanas, já. Está tudo bem?
—Sim. É o estresse.
—Tem certeza?-Me olhou de cima abaixo. –Ganhou alguns quilos, já percebeu?
—Me chamou de gorda?
—Diria “fofinha”.
—Vai pro inferno. –Revirei os olhos. –Me chamou aqui pra me insultar?
—Não. Acho que tem algo errado com você.
—Ah, é? E o que?-Cruzei os braços de novo.
—Está grávida, Mhoritz. –Ri.
—Grávida? Ah, certo.
—Demetri!-O russo apareceu. –Vá até aquela farmácia no fim da rua e compre alguns testes de gravidez.
—Isso é ridículo!
—Testes de gravidez?-Demetri repetiu. –Pra quem?
—Nossa querida e doce Jenna. –Red respondeu.
—Não estou grávida!-Gritei. –Não viaja, Raymond. –Pegou a cesta com os pães e a aproximou de novo de mim. Uma onda de enjoo passou por mim. Corri para o banheiro, sentindo que ia vomitar.

—É, compre os testes.
***
—Quando Demetri chegar, vai fazer aqueles testes. –Red avisou, assim que abri a porta.
—Não. Estou. Grávida. –Passei por ele e fui até a sala, me jogando no sofá. –Ressler e eu sempre tomamos cuidado, não estamos planejando ter um filho.
—Nem tudo pode ser planejado.
—Red!-Demetri voltou, com uma sacola grande e cheia. –O que...?
—Que é isso tudo, Kozlosky?
—Testes de gravidez. –Respondeu. –Tinha de vários tipos, aí comprei um de cada. Como essas coisas funcionam?-Red pegou uma das caixas da sacola.
—Acho que ela tem que fazer xixi aí. –Deu de ombros. Comecei a rir.
—Ai, meu Deus. –Murmurei. –Não estou vendo Raymond Reddington ler instruções num teste de gravidez.
—Está rindo de que? Você vai fazer todos esses testes. –A graça da situação sumiu de repente.
—Não vou, não.
—Vai, nem que eu tenha que amarrar você, mas vai fazer esses testes. –Suspirei.
—Me dá a sacola.
***
—E então?-Demetri perguntou, me ajeitei melhor no sofá, morrendo de sono. Red pegou o primeiro teste.
—Primeiro: positivo.
—Esses testes não são cem por cento confiáveis!-Gritei. –Não podemos...
—Segundo: positivo. –Revirei os olhos. –Terceiro: positivo. –E assim foi, com todos dando positivo. Demetri parecia chocado. –Vigésimo: positivo. –Red sorriu. –É oficial, Mhoritz, você está grávida.
—Está olhando certo pra isso aí? Talvez signifique negativo. –Jogou uma das caixinhas na minha direção.
—Verifique. –Suspirei. Vinte testes. Todos positivos.
—Tem alguma coisa errada. E esses testes são vagabundos...
—São os mais caros. –Demetri disse. –A atendente disse que eram os melhores.
—Noventa e nove por cento não parece bom o suficiente pra mim.
—Posso te levar no hospital para fazer um exame de sangue. –Red disse.
—Obrigada, mas não. Tem um erro aí...
—Jenna, você ficou enjoada, tonta, está cansada, e engordou...
—Não estou gorda!
—Engordou um pouco. Está grávida, admita.
—Deixa de ser ridículo!-Me levantei, furiosa. –Essas... Porcarias aí estão erradas.
—Mudança de humor, anote isso também.
—Vai se ferrar!-E saí, batendo a porta com força.
***
—Você está bem?-Ressler perguntou, me vendo deitada no sofá. –Por que não foi ao trabalho hoje?
—Passei mal, mas já estou bem.
—Tem certeza?-Assenti, me levantando. –Jenna...
—Tá, tá. Red me tirou do sério, foi isso. Acho que isso me deixou nervosa e eu passei mal.
—O que Reddington fez agora?-Fui pra cozinha, o apartamento de Ressler tinha comida, diferente do meu.
—Me obrigou a fazer vinte testes de gravidez. Disse que estou grávida.
—E que resultado teve?
—Positivo.
—O que?-Se aproximou, sorrindo. –Você está grávida?
—Claro que não, Ressler.
—Mas os testes...
—Testes de farmácia não são cem por cento confiáveis. Eu não estou grávida. Sempre tomamos cuidado e...
—Nem sempre. Mês passado nós acabamos...
—Sim, esquecemos, mas eu tomo pílula desde que começamos a namorar. E tenho certeza de que não esqueci. –Ok, não era uma certeza tipo cem por cento, mas era uma certeza. –Não estou grávida, Ress, acredite em mim.
—E os sintomas? Há semanas você está cansada, enjoada, e...
—Isso pode ser uma virose ou algo assim, não significa que estou grávida. Esqueça isso.
—Gostaria se tivéssemos um filho. –Suspirei.
—Ressler, eu não seria boa mãe. Sério. Eu... Vou ensinar o que pra essa criança? A atirar? Matar com as mãos vazias? Seria uma mãe horrível.
—Claro que não.
—Acredite, eu seria.
***
—Posso te fazer uma pergunta?-Abri a porta do carro, mas não entrei, olhando para Demetri.
—Estou muito atrasada, seja rápido.
—Acha... Que... Bom, lembra quando nós...
—Ah, sim. E...?-Olhei as horas no celular. Meera ia me esganar. Eu estava super atrasada.
—Acha que... Posso ser o pai?-Apontou pra minha barriga.
—O pai? Não estou grávida! Que droga!
—Jen...
—Para com essa história. –Bufei. –Tenho que ir.
—Jenna...
—Nos falamos outra hora. –Entrei no carro, batendo a porta e cortando qualquer tentativa de conversa.
Estacionei, minutos mais tarde, no estacionamento do esconderijo, e passei pelas longas construções de pedra que obstruíam a vista da rua. Os homens na porta, armados até os dentes, acenaram quando me viram.
Assim que saí do elevador, fui parada por Lizzy na frente da mesa de Aram.
—Que?
—Você está grávida. –Ela disse. –Parabéns.
—Eu não estou grávida, droga.
—Ressler disse que...
—Ressler? Eu matá-lo. Já disse que...
—Os testes, Jenna.
—Testes de farmácia não são cem por cento confiáveis. –Aram disse.
—Obrigada, Aram. –Agradeci. –Pelo menos alguém aqui sabe das coisas.
—Ainda assim... –Elizabeth tentou.
—Mhoritz. –Ergui o olhar. Meera estava no topo das escadas. –Posso falar com você?
—O que fez agora?-Aram perguntou.
—Não faço ideia. –Murmurei. Segui até a sala de Malik, me sentando na frente dela.
—O agente Ressler veio falar comigo. –Ela disse. –Jenna, se você está grávida, não pode sair em missão.
—O que?
—Pode continuar trabalhando, até certo ponto, depois pode tirar licença.
—Tá brincando.
—Não.
—Meera, eu não posso...
—Pode. E se não aceitar esses termos, terei que suspendê-la.
—Me suspender?
—Não sairá em missão, a partir de hoje. Quando o bebê nascer...
—Eu não estou grávida!-Por que ninguém entendia?
—Jenna, tenho dois filhos, entendo sobre o assunto. Sabe quantas vezes passou mal trabalhando aqui dentro? Reconheci os sintomas.
—Pode ser uma virose!
—Os sintomas, mais os testes... Está grávida. É melhor aceitar de uma vez. –Suspirei. –A partir de hoje auxilia os casos daqui. Não sairá mais em campo.
—Mas Meera...
—Não quero ter que suspendê-la por mais de nove meses, Jenna.
—Tudo bem.
—Ótimo. Pode ir. –Me levantei e fui pra porta. –Jenna.
—Sim?-Olhei pra ela.
—Se precisar de alguma coisa, pode pedir.
—Obrigada.
***
—Você disse à Meera que eu estou grávida! Por que fez isso?
—Por que você está. –Ressler respondeu. –E enquanto estiver grávida, não sairá em campo.
—Donald!
—Ou é isso, ou suspensão. Pode decidir.
—Você... Isso não vai ficar assim, Donald Ressler. Saiba disso.
—Jen, se você está grávida, tem que pensar na vida que está evoluindo aí dentro. Como pode colocar um bebê em risco?
—Não estou grávida.
—Só porque não se acha pronta, não significa que não é verdade. –Me de um beijo na testa. –Tenho que ir.
—Que? Aonde vai?
—Estamos atrás de um suspeito.
—Mas eu...
—Vai colaborar com o caso, aqui da base.
—Mas...
—Jen, por favor. As coisas estão difíceis aqui. Meera não sabe se vai poder substituir Cooper por muito tempo.
—Ela está fazendo um bom trabalho.
—Algumas pessoas não acham.
—Se Meera não ficar no cargo, quem fica?
—Nem queira saber.
***
—Sim, sim. Vou verificar agora mesmo. –Aram disse, ajeitando o fone e começando a digitar algo no computador. Eu estava andando de lá pra cá atrás dele, pensando em como ser útil sem poder sair dali. –Reforços?-Parei de andar, atenta. –Meera, Keen disse que precisam de reforços. –Malik assentiu e se afastou.
Escapei silenciosamente para o elevador, tentando não esquecer do endereço para onde Ressler e Keen haviam ido. Se eles precisavam de reforços, eu bem que podia ajudar!
Estacionei longe da construção abandonada, saí do carro e saquei a arma, atenta. Podia ouvir tiros sendo disparados. Ressler e Lizzy estavam ali perto, precisando de ajuda.
Um dos disparos foi muito mais alto que os outros. Alguma coisa me acertou pouco acima do umbigo. Coloquei a mão na área que doía, manchando-a de sangue. Havia levado um tiro.
A arma escorregou da minha mão. Os tiros continuaram. Cambaleei até o carro e entrei, demorando demais para conseguir ligá-lo. Tinha um hospital ali perto, eu podia ir até lá. O problema era manter o carro em linha reta.
—Só mais um pouco. –Murmurei. –Por favor, aguente só mais um pouco...
Perdi o controle. O carro atravessou a pista, quase batendo num outro carro e atropelando um casal, então acertou um poste com tudo. Sem cinto, eu fui pra frente e atingi o rosto no volante. Vidro caiu em mim.
O mundo escureceu.
***
—Jenna? Preciso que acorde agora. Não pode dormir para sempre.
Meus olhos abriram rapidamente. A voz havia sumido. Talvez tivesse a imaginado. Claramente estava num quarto de hospital. Demorei, mas lembrei do que tinha acontecido. Eu tinha sido baleada, então perdi o controle do carro e bati num poste.
—Jen. –Virei a cabeça devagar. Não tinha imaginado. Red estava ao meu lado.
—Por que está aqui?-Sussurrei. Limpei a garganta. Quanto tempo havia dormido?
—Achei que gostaria de companhia. E Donald não consegue dar a notícia a você.
—Que... Que notícia?
—Você estava grávida. Dois meses. Com certeza o agente Ressler é o pai.
—Grávida?-Minha mão automaticamente pousou na minha barriga. –Eu... Estou grávida mesmo?
—Não me ouviu, Jenna? Você estava. O tiro que levou... –Fez uma longa pausa, o suficiente para inspirar e expirar algumas vezes. –Atingiu em cheio o bebê.
—Matei o meu filho. –Murmurei. –Se tivesse... Se tivesse ouvido...
—Não pense no que teria acontecido se tivesse tomado outra atitude. Você foi avisada e não ouviu. Agora é tarde demais.
—Ressler deve me odiar.
—Não. Ele está... Desolado. Mas não a odeia. Está preocupado com você. –Se levantou. –Devo avisá-lo que acordou?-Assenti. –Jen, você terá outras chances de...
—Não, por favor. Não continue. –Saiu.
Olhei pra parede. Como fui tão burra? Por que não ouvi Meera e Ressler? Eu sequer me acostumei com a ideia de ser mãe, mesmo sabendo que era errado... Não sentia nada pela criança que por minha culpa, estava morta. Mas Donald... Ele se apegou a ideia de ser pai. Ele queria aquele filho, e eu o tirei dele.
—Jen, como está?-Perguntou, sentando ao meu lado e me abraçando com força. –Sinto muito...
—Ress... Me perdoa. Me perdoa, eu devia ter te ouvido. Devia ter escutado você, mas fui até lá... Me desculpa...
—A culpa não foi sua...
—Eu não te ouvi. Eu... Fui, mesmo depois do que você e Meera disseram. A culpa foi toda minha.
—Não é, Jen, não é.
Achei melhor não insistir. Mas sabia que era minha culpa. Eu matei aquela criança. A culpa era minha.


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