Olho as fotografias á minha frente tentando encontrar foco, são duas da manhã e eu ainda estou acordada analisando cada pista nova que consegui.  

— São recentes? - Pergunto para Kira. 

— Ele foi visto essa semana. - Ela informa. - A polícia ainda não tem essas pistas então você tem uma vantagem.    

 Ela é o mais perto que tenho de uma família e eu tenho sorte que ela seja uma boa hacker porque ela é a única que tenho para me ajudar com essa busca.  

— Como conseguiu? - Questiono.  

— Eu posso ser bem convincente. - Kira zomba encarando sua katana sob a mesa. - Me prometa que vai esperar até amanhã antes de fazer qualquer idiotice.  

— Não posso. - Retruco. - Se eu tiver sorte ainda posso encontra-lo por perto, ele não ficaria em um lugar por muito tempo.  

— Então vamos lá.  

— Não é uma boa ideia, não quero que você vá até lá. - Digo. - Da última vez não havia nada. Você tem faculdade e emprego, eu...  

— Você não está por conta própria há muito tempo, Malia, você é a minha família, é parte de mim.  

Desde que eu voltei a ser... Apenas eu, não me senti completa muitas vezes mas as poucas vezes que aconteceu sempre envolveram Kira.  

— Eu dirijo. - Ela diz tirando as chaves da minha mão.  

Chegamos ao Bronx às quatro da manhã, eu estou cansada e quando me olho no retrovisor quase quero quebra-lo por me assustar com essas olheiras enormes, Kira não parece muito melhor mesmo com seus pequenos olhos asiáticos.  

— A última vez que o número de celular teve sinal foi aqui. - Ela boceja.  

É uma igreja, me parece um esconderijo inteligente.  

— Eu não acho que ele seria tão burro de continuar com o celular por tanto tempo. - Digo.  

— Ele passou décadas isolado do mundo real, eu acho que ele seria sim. - Kira rebate.  

— Vamos entrar? - Pergunto.  

— Precisamos tentar, certo?  

Concordo com a cabeça e a sigo para fora do carro.  

— Tome cuidado. - Ela pede com a katana em mãos.  

— Não sou eu a vulnerável aqui. - Zombo.  

Meu coração está agora mesmo ameaçando rasgar a pele enquanto dou passo por passo cuidadoso em direção a catedral. Se tudo sair como planejado eu vou vê-lo pessoalmente pela primeira vez e talvez captura-lo, eu preciso disso para seguir em frente. De alguma forma eu sinto que essa pista é real, sinto como se tudo isso estivesse prestes a acabar e isso me pertuba de certa forma porque não faço ideia do que vou fazer com a minha vida quando terminar a missão de toda a minha vida.  

Concordo com Kira e empurro com um chute as portas da catedral no mesmo instante que ela invade com a espada em mãos. Ouço uma série de "oh" e gritos de fiéis que parecem participar de alguma missa particular então eu recuo constrangida e Kira se atrapalha com as desculpas.  

— Isso foi... - Ela começa mas paro de ouvir e meus pés involuntariamente me levam para a corrida pela avenida. - Ei, Malia!  

Ele está engajado em uma fuga o que torna minhas suspeitas reais, seu cabelo está escondido por um boné mas ainda posso ver que é comprido como nas fotografias. Minha condição me torna muito mais rápida que ele e quando eu o alcanço agarro seu ombro, forçando-o a me olhar, sua boa  aparência me choca mas não consigo raciocinar porque sou jogada contra o chão quando uma série de balas voam em nossa direção.  

Policia.  

Ele me salva mas eu o perco no mesmo instante porque ele desliza pela avenida como se fosse imune á tiros.  

Lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto.  

Eu o perdi de novo. 

—Você está bem? -Kira pergunta me ajudando a levantar mas não consigo responder, minha cabeça ainda está focada no que houve aqui. - Qual é o seu problema?  

— Eu nunca cheguei tão perto de pega-lo como hoje e eu o perdi de novo. -Lamento.  

— A interpol vai captura-lo, deixe isso com eles, está no fim para ele.  

— Ele não assassinou os pais da interpol, Kira, foram os meus! - Retruco empurrando seus braços para longe de mim.  

Passo o resto do dia isolada de Kira, eu sei o que ela vai dizer, ela está cansada de se meter em missões suicidas que nunca nos levam a lugar algum mas eu não consigo, não posso deixa-los no esquecimento, agora mais do que nunca eu preciso ir até o fim com isso. Olhar em seus olhos, na intensidade daqueles olhos me fez reviver toda a cena outra vez: o freio brusco que quase me lançou pela janela, os gritos dela, os pedidos dele para que não nos machucasse.  

Impeço as lagrimas que tentam escapar quando penso que eu cheguei tão perto mas ele escapou, eu o deixei ir. A única coisa que não entra na minha cabeça é porque ele me salvaria quando eu tentei mata-lo, eu teria levado um tiro caso ele não tivesse me jogado contra o chão.  

Vilões não salvam garotas em perigo, vilões não salvam nada além da própria pele.  

Salto da cama desperta, lembrando-me porque eu ainda estou viva, pronta para sair outra vez mas assim que abro a porta dou de cara com Kira.  

— Você não vai...  

— Você quer mesmo uma resposta? - Questionou enfiando o maximo de roupas que consigo em uma pequena mochila.  

— Eu não posso mais me distrair com isso e você fez o que podia, Malia. Você acha que eles não se orgulham? - Ela tenta.  

— Não, Kira, porque eles estão mortos.Ele os matou, não me peça para esquecer.  

Há lágrimas em seus olhos e eu quero levar minha mão ao seu rosto e enxuga-las mas não o faço, não quero tornar a situação pior.  

— Eu não posso mais. - Ela sussurra.  

— Eu sei, é por isso que eu preciso partir.  

— Onde você vai dormir, o que vai comer? - Seu choro se eleva.  

Coloco uma mecha do cabelo da minha amiga atrás da sua orelha e a garanto que tudo vai ficar bem.  

— Eu vou sobreviver, prometo.  

— Sinto muito. - Ela me envolve num abraço. - Eu não posso...  

— E nem deve. - Digo. - Família é a única coisa pela qual vale a pena lutar, se lembra?  

Não posso fazer uma longa despedida com Kira e ela simplesmente me deixa ir, ela sabe que não pertenço á esse lugar.  

A partir de agora começa a minha verdadeira busca pelo soldado invernal.