4 histórias que a Syndel não contou para o Legolas escrita por Andy


Capítulo 2
O monstro de olhos verdes (pt 2)


Notas iniciais do capítulo

Nossa, como 15 dias demoram a passar, não é??
Bom, pessoal, aqui está a parte 2 da primeira das 5 histórias. Espero que vocês gostem!
Obrigada a todos que começaram a acompanhar a fanfic nas últimas duas semanas. Significa muito para mim! E desculpem mesmo por eu não estar respondendo os comentários. Assim que o estágio da faculdade der um tempo, eu vou fazer uma maratona e responder a todos, um por um. Obrigada pelo apoio!

Xoxo

P.S.: Olhem as notas finais! ♫



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O sol parecia se tornar mais quente a cada dia, elevando os ânimos de todos na floresta. Thranduil e Syndel caminhavam lado a lado. Ela murmurava uma canção suavemente, mas ele estava muito quieto e evitava olhar para os elfos que o cumprimentavam. Se Syndel estivesse prestando atenção, teria reparado em como ele andava fechado nos últimos dias. Mas as cores e os perfumes da primavera a distraíam. Com a proximidade do Baile da Estrela, eles estavam por toda a parte.

— Thranduil, veja! — Ela puxou o cotovelo dele, e ele olhou para onde ela apontava.

Annainas*! — Nem mesmo ele pôde evitar sorrir, diante de uma das flores mais amadas dos elfos.

As flores desabrochavam nos ramos mais finos dos galhos mais altos da árvore de mesmo nome. Suas pétalas refletiam a luz dos astros e tornavam-se douradas com o sol e prateadas com a lua. Quando havia um arco-íris no céu, elas refletiam todas as suas sete cores. As annainas são consideradas um presente de Yavanna** aos elfos, uma lembrança da importância da contemplação, e também uma metáfora do amor ideal. Isso porque as flores podem ser vistas e doam sua beleza aos olhos de todos, mas são poucos os que chegam a tocá-las, devido a seu difícil acesso. Assim, dizem, a beleza deve ser contemplada, deve-se meditar nela, e não a tocar. Sobre o amor, dizem os sábios que o amor ideal é aquele que contempla a beleza sem o desejo de possui-la, deixando-a viver. Isso porque as annainas duram a primavera e o verão inteiros quando deixadas para brilhar, mas morrem em poucas horas, se retiradas da árvore.

Thranduil sorriu levemente, prestes a comentar isso, quando notou que Syndel sorria olhando para a frente. Quando ele olhou, viu Damian vindo em sua direção. O elfo se curvou:

— Boa tarde, Alteza. Boa tarde, Syndel. — Ele olhou para Thranduil. — Que bons ventos o trazem, meu senhor! Eu estava a vossa procura!

— A que devo essa honra? — O sarcasmo transbordava na voz dele. Syndel lhe deu uma cotovelada discreta, irritada. Havia dias que Thranduil vinha se comportando daquele jeito com o convidado.

— Eu vinha informá-lo de que os preparativos no salão para o Baile da Estrela estão acabados. Restam agora apenas os detalhes do resto do festival.

— Eu pensei que você estivesse dispensado de seus serviços. Por que atua como mensageiro agora?

Damian arregalou os olhos levemente e fez uma breve reverência.

— Espero não tê-lo ofendido, meu senhor. Faço isso em nome de Lady Arwen, que acaba de chegar. Ela me pediu que o buscasse e que trouxesse a boa nova.

— Arwen está aqui? — Syndel sorriu, animada.

— Sim. — Damian retribuiu o sorriso. — E está ansiosa para vê-la.

Syndel se virou para o Thranduil:

— Eu acho que podemos deixar o treino de lado por hoje, não é? Quero dizer... Você pode aproveitar para finalizar os preparativos, e eu posso conversar melhor com a Arwen...

Thranduil resmungou algo ininteligível, depois respondeu:

— É claro que sim. Mande meus cumprimentos a Arwen. Diga-lhe que eu a cumprimentarei adequadamente no jantar. O Baile da Estrela é amanhã, e ainda há muito que fazer.

— Pode deixar! — Syndel sorriu.

Os dois se viraram para falar com Damian, e só então notaram que ele preparava uma flecha. Ele havia amarrado uma corda muito fina a ela e fazia mira, olhando para a árvore de annainas.

— O que você está fazendo? — Thranduil perguntou, num tom arrogante.

— Shh... Observe, Alteza.

Dizendo isso, Damian disparou a flecha, que passou diretamente entre os galhos da árvore. Por alguns instantes, nada aconteceu, e a flecha parecia ter-se perdido na distância. Logo, porém, eles ouviram um leve zunido, e outra flecha (ou assim eles julgaram) veio voando na direção do elfo, que a segurou em pleno ar, com um movimento rápido e ágil. Thranduil e Syndel olhavam perplexos, e alguns outros elfos que passavam pararam para observar, boquiabertos. Os galhos da árvore se agitaram com o movimento, mas nada parecia ter acontecido. Até que Damian sorriu levemente e estendeu a outra mão. Uma flor se desprendeu e caiu suavemente sobre sua palma. Ele puxou a flecha, rompendo a fina corda que (agora eles viam) ainda estava presa a ela. Os galhos da árvore se agitaram brevemente de novo, e então todo o movimento cessou. Damian estendeu a flor para a Syndel.

— Um presente sutil. Uma flor delicada que nem de longe se aproxima de ser digna de você, Syndel.

Syndel corou intensamente e aceitou o presente, tomando a flor com delicadeza em seus dedos.

— Isto é... Ela é... Eu não... Obrigada, Damian. Ela é perfeita!

Damian sorriu. Thranduil fechou a cara, e puxou Syndel para seus braços. Ela se desvencilhou dele para prender a flor aos cabelos, sorrindo.

— Como você fez isso?

— É aquilo que eu lhe ensinei... O princípio da retração. É tudo uma questão de equilíbrio de forças... E de ter uma boa corda. — Damian sorriu amigavelmente.

— Você precisa me ensinar isso!

— Que tal amanhã? Pela manhã, digo. Antes de você ir se arrumar para o baile.

— É claro, amanhã seria ótimo!

— Estamos de acordo, então.

— Mas pratiquem com outra árvore. — Thranduil interrompeu rispidamente. — Há outros que querem apreciar a beleza das annainas.

— Thranduil!

— Não, Vossa Alteza tem razão. — Damian se curvou. — Mil perdões, meu senhor. Eu lhe garanto que mais nem uma flor sequer será derrubada em vosso reino por capricho ou arte minha.

— Que assim seja. — Thranduil se virou na outra direção, sem se despedir de nenhum dos dois.

Damian se voltou para Syndel.

— Posso acompanhá-la até Lady Arwen? — Ele estendeu o braço para ela.

Syndel, que ainda olhava com ar preocupado as costas de Thranduil se afastando, forçou um sorriso para ele e aceitou:

— Obrigada.

~~ ♥ ~~

Syndel observava enquanto os outros casais rodopiavam alegremente ao som da música. Thranduil estava sentado em seu trono, ao lado dela. Ela continuava esperando que ele a convidasse para dançar, mas ele não parecia sequer estar pensando em fazê-lo. Estava completamente mergulhado em pensamentos, apoiando a cabeça em uma das mãos.

— Não vai me convidar para dançar? — Ela perguntou, por fim. Já haviam se passado duas danças desde que Oropher e a rainha haviam inaugurado a noite.

Thranduil olhou para ela com o rosto um tanto sem expressão, e lhe deu um sorriso de desculpas sem entusiasmo:

— Eu... Me desculpe, eu estou cansado, Syndel. Não estou com vontade.

— Só uma dança? Por favor?

— Por favor. — Ele repetiu, em tom de súplica.

As sobrancelhas dela se uniram, e ele viu a decepção em seus olhos. O coração dele se apertou, e ele estendeu a mão para segurar a mão dela. Ela não entrelaçou os dedos aos dele de imediato, como geralmente fazia, mas também não puxou a mão. Ele não a culpou. Ele sabia como ela gostava de dançar e como o Baile da Estrela era importante para ela. Mas ele simplesmente não podia mover sua vontade o suficiente naquele momento.

Os dois permaneceram ali, sentados, observando os demais dançarem e bebericando em suas taças de vinho. Ocasionalmente, Syndel suspirava, desejando mais do que tudo que aquela noite terminasse.

E então ele se aproximou, sorrindo suavemente, e estendeu a mão para Syndel:

— Lady Syndel! O que fazes sentada aqui? Uma dama como a senhorita não pode ficar sentada a noite inteira, numa noite tão encantadora quanto esta! A senhorita me daria a honra de dançar comigo? — Ele se virou para olhar para Thranduil e fez uma breve reverência. — Se Vossa Alteza permitir, é claro.

— Damian... — Syndel sorriu alegremente e olhou para o namorado, suplicante.

Thranduil agarrou com força o braço de seu trono, tentando conter a raiva que sentia fluir dentro de si. Ele respirou profundamente e encarou Syndel. Ele se surpreendeu ao ver lágrimas dançando em seus olhos, e aquilo o desarmou. Ele olhou para Damian:

— Por favor, cuide bem dela.

Syndel deu um pequeno gritinho e o abraçou, dando-lhe um beijo no rosto:

— Obrigada!

Ela se levantou, ajeitando rapidamente a barra de seu vestido verde com as duas mãos. O tecido de seda de sua manga comprida roçou o chão quando ela pousou a mão suavemente na mão de Damian. O elfo sorriu, conduzindo-a ao centro do salão. E então os dois começaram a dançar.

Thranduil sentia como se cada giro que eles davam corroesse ainda mais seu coração. A coisa que ele mais amava no mundo era o sorriso de Syndel, mas ver como ela parecia feliz agora lhe doía. Ele sentia um ódio profundo de Damian, quase ao ponto de partir para cima dele ali mesmo. Mas ele se detinha, vendo o brilho nos olhos de Syndel, a forma como ela parecia brilhar para ele. Para Damian, não para ele, ele. Algo se contorceu no interior dele, e ele percebeu que queria chorar.

Damian era um dançarino excepcional, tanto que em poucos minutos os elfos tinham abandonado o centro do salão, e agora observavam a sincronia perfeita dele com Syndel. Seus movimentos tinham tanta graça que nem mesmo os cisnes de Lórien se comparavam a eles. E Syndel ria, divertindo-se com os passos que ele inventava, e que ela parecia milagrosamente conseguir acompanhar. Havia muito tempo que ela não se sentia tão alegre e tão livre.

Àquela dança se seguiu outra, e então outra. Syndel não fez menção de querer voltar a se sentar com ele, e Thranduil não conseguiu reunir a coragem para chamá-la, vendo o quanto ela parecia não querer sair dali... Dos braços de Damian. Ele se concentrava em lutar contra os fantasmas em sua mente. Todas as memórias que ele acumulara nos últimos dias, e que tinha tentado reprimir. Todos os pequenos detalhes. O sorriso de Syndel para Damian. A forma como ela corava quando ele a elogiava. As piadas internas que os dois tinham criado. O jeito que ela falava dele quando ele não estava perto...

Quando as músicas se tornaram mais lentas, Damian a trouxe de volta. Syndel se sentou ao lado de Thranduil. Ela estava suada, com as faces coradas e respirava aceleradamente. Mas acima de tudo, ela parecia realizada, sorrindo feito boba. Damian se curvou para Thranduil:

— Eu não sei como agradecer-lhe, Alteza. Foi uma honra poder dançar com Lady Syndel. Obrigado. — Dizendo isso, ele se retirou em direção à mesa de vinhos.

Syndel não disse nada. Quando Thranduil olhou para ela, ela apenas sorriu, abanando-se.

~~ ♥ ~~

Três dias e duas noites haviam se passado desde o Baile da Estrela. A primavera havia se instaurado com sucesso na Floresta Verde, e perfumes de todos os tipos se espalhavam no ar. A lua crescente surgia pálida e parecia um sorriso de prata no céu. Misterioso, e estranhamente cálido. O sol se punha rapidamente. Uma brisa morna soprava, agitando os cabelos de Syndel.

— Syndel.

Ela se voltou sorrindo docemente:

— Damian.

Ele se aproximou sério e apontou para o espaço vazio ao lado dela no largo tronco:

— Posso?

— Claro! — Ela se afastou para lhe dar um pouco mais de espaço.

Ele se sentou ao lado dela e suspirou. Ela olhou para ele, esperando.

— A comitiva de Valfenda partirá ao amanhecer.

O rosto dela se entristeceu:

— Eu sei.

— Mas eu não vou com eles.

— O quê?

— Quero dizer... Eu irei com eles até Valfenda se Lady Arwen me pedir por minha escolta, é claro. Mas não pretendo permanecer lá por muito tempo.

Ela franziu as sobrancelhas:

— Como assim? Para onde você vai?

— Para o Norte. Há alguns agrupamentos de numenorianos que ainda vivem lá. Dizem que alguns deles são fantásticos arqueiros... Eu quero aprender com eles.

Você é um arqueiro fantástico.

Ele sorriu suavemente para ela.

— Obrigado. Mas Mestre Elrond me disse que os dúnedain podem me ensinar muito ainda. Então eu vou.

— Bem, se Mestre Elrond disse, então acho que você tem mesmo que ir... Mas será uma perda terrível para Valfenda.

Damian voltou-se para frente. O sol que refletiu em seus olhos era pouco mais que uma linha dourada no horizonte, agora.

— Tão gentil...

— Eu só disse a verdade.

Damian fechou os olhos e respirou fundo. O vento dançava em seus cabelos, que pendiam soltos sobre suas costas. Quando reabriu os olhos, ele olhou para Syndel, encarando-a até que ela correspondeu o olhar. Ele cravou seus olhos negros nos olhos prateados dela:

— Venha comigo, Syndel.

Ela soltou o ar de uma vez, num suspiro surpreso:

— O quê?

— Venha comigo para o Norte. Você é uma arqueira incrível. Mas aqui... Aqui seu talento será desperdiçado. Não há mais nada que este reino possa fazer por você. Se você me seguir até o Norte... Um mundo de possibilidades se abrirá para você. O mundo que você merece.

Thranduil cerrou os dentes e levou a mão ao cabo da espada, agarrando-o com força. Ele estava prestes a desembainhá-la, mas se deteve. Um flash lhe ocorreu subitamente: o sorriso de Syndel olhando nos olhos de Damian enquanto dançava com ele. Uma dor dilacerante tomou conta dele, paralisando-o. Ele sentiu as lágrimas lhe subindo aos olhos, e não fez qualquer esforço para contê-las. Não desejando ficar para ouvir mais uma palavra sequer daquela conversa, ele saiu de seu esconderijo nas sombras e correu cegamente em direção à floresta, desaparecendo em meio às árvores.

~~ ♥ ~~

Thranduil não se virou ao ouvir o som daqueles passos conhecidos se aproximando. Ele fechou os olhos, já secos havia algumas horas, tentando se preparar para o que viria. Seu peito não parara de doer nem mesmo por um segundo, em todo aquele tempo. A luz da lua, vinda do alto, iluminava seus cabelos.

— Graças aos Valar! Thranduil! Eu te procurei em toda a parte!

Ele se virou para olhá-la. Ela vestia suas roupas normais de guarda de Greenwoods, mas parecia a seus olhos mais bela que nunca. Os cabelos que pendiam suavemente em ondas sobre seus ombros pareciam ainda mais sedosos do que ele se lembrava. Até mesmo sua voz parecia mais melódica. E tudo isso só tornava aquilo ainda mais difícil.

— Eu preciso falar com você. — Ela disse, aproximando-se. — O Dam...

Ele ergueu a mão para impedi-la e ela se calou, olhando para ele com curiosidade.

— Não... — Ele olhou para ela, um olhar sem esperanças. Suas sobrancelhas estavam unidas em angústia, e sua voz parecia não sair. Ele engoliu em seco e tentou de novo: — Não precisa dizer nada, eu.... Eu já sei.

Ela franziu as sobrancelhas:

— Sabe?

— Sim, e eu... Eu compreendo. Eu pensei muito e... — Ele desviou o olhar, olhando para o chão. — Eu compreendo. Eu não vou tentar te impedir, não... Eu não vou tentar nada, você... — A dor parecia queimá-lo, mas ele respirou fundo, tomando fôlego, e continuou: — Dói, Syndel. Muito. Mas eu vou ser o primeiro a admitir que... A culpa é minha. Eu não soube... Eu não consegui.... Eu sei que eu errei, eu... — Ele levou uma mão ao coração, cravando as unhas na frente de suas vestes como se quisesse arrancá-lo. Se ele pudesse, ele o faria. Só para acabar com a dor.

— Do que você está falando? — Ela deu um passo na direção dele.

Ele olhou para ela, juntando o que lhe restava de coragem para olhar em seus olhos. Sustentando o olhar, recomeçou:

— O que eu estou tentando dizer é que... Eu... Eu espero que ele continue fazendo você sorrir, Syndel.

— O quê?

— Eu espero que ele treine com você, que te ensine tudo o que ele puder sobre o arco... Eu espero que ele sempre te dê flores e te faça rir todos os dias... Eu espero... — As lágrimas ressurgiram nos olhos dele, e ele deixou que elas transbordassem, na esperança de que elas ajudassem com a dor. — Eu espero... Eu espero que ele dance sempre com você, Syndel... Eu espero... — Ele passou a mão sobre os olhos para expulsar as lágrimas, e depois olhou novamente nos olhos dela: — Eu espero que ele faça tudo o que eu devia ter feito por você.

Ela deu dois passos rápidos e atirou os braços em volta dele, abraçando-o com força. Seus olhos também estavam marejados.

— O que você está dizendo?

Ele ergueu os braços, inseguro, e retribui o abraço, apertando-a contra o peito.

— Eu sinto muito, Syndel.

Ela não sabia o que fazer:

— Pelo quê?

Ele a afastou, mas manteve uma mão em sua cintura. Alguns fios de seu cabelo loiro estavam grudados em seu rosto molhado pelas lágrimas. Ele olhou para ela com uma expressão de dor:

— Por tudo. Eu queria ter sido um namorado melhor para você.

Ela ergueu as mãos para segurar o rosto dele:

— O que você está falando? Você é o melhor namorado do mundo!

Os olhos dele se arregalaram em choque. Ela estava chorando:

— Você está me assustando, Thranduil.

Ele não soube o que responder, e simplesmente a puxou para um beijo apaixonado e desesperado. Ela retribuiu da mesma forma. Ele a puxou para mais perto de si e ela se agarrou a ele com força. Quando seus lábios se separaram, ele encostou a testa à dela.

— Então... — Ele engoliu em seco. — Você... Você não vai com ele...?

— Ele quem?

— Damian. Eu... Eu ouvi quando ele... — Ela o interrompeu, envolvendo seu lábio inferior com os seus, num beijo suave.

— É claro que não!

Thranduil sentiu como se finalmente conseguisse respirar de novo, após quase ter morrido sufocado. Seu coração corria no peito como se estivesse vivo pela primeira vez. Ele não conseguia parar de chorar.

— Você não ficou para ouvir a resposta, não foi?

— Eu não entendo...

— Quer saber o que eu disse a ele? — Ela sorriu levemente, erguendo uma mão para fazer carinho no pescoço dele. — Eu disse “Eu sinto muito, Damian. Mas você está errado sobre este reino não ter nada para mim. Este reino tem meu mundo inteiro nele.”

Thranduil arregalou os olhos para ela.

— “Eu não vou a lugar algum sem o Thranduil. E se o lugar dele é aqui, o meu também é.”

Ele a encarou, e ela sorriu calorosamente para ele, um sorriso que o aqueceu inteiro por dentro.

— Eu te amo, Thranduil. Mais que qualquer coisa neste mundo. Eu não poderia viver sem você.

Ele a abraçou com força, tentando sem conseguir conter um soluço. Ela começou a fazer carinho nos cabelos dele suavemente.

— Diz isso de novo. — Ele pediu, depois de vários minutos.

— Eu te amo. — Ela sussurrou. — Eu te amo, Thranduil Verdefolha. Eu te amo e não vou nunca a lugar algum sem você. Nunca, nunca, nunca.

Ele enterrou o rosto nos cabelos dela.

— Eu não entendo.

Ela o afastou delicadamente para encará-lo e gentilmente afastou os fios de cabelo que ainda estavam grudados em seu rosto:

— Não entende o quê?

— Ele... Ele é perfeito para você. — Syndel notou o medo que ainda dançava nos fundos dos olhos dele. — Ele é um arqueiro como você, ele te faz rir, ele é livre para ir onde quiser e tem todo o tempo do mundo para dedicar a você, ele... Ele não está cansado demais no final do dia para dançar com você... Ele... Ele tem tudo o que eu não tenho.

Syndel sorriu carinhosamente para ele e pôs as mãos em seu pescoço:

— Você se esqueceu de uma coisa.

— Me esqueci?

Ela assentiu:

— Você se esqueceu de um pequeno detalhe... Um detalhezinho que faz com que ele não seja de modo algum “perfeito” para mim.

Thranduil ficou olhando para ela em expectativa. Ela se aproximou para sussurrar no ouvido dele:

— Ele não é você.

Thranduil sentiu um arrepio lhe descendo pela espinha, e sem pensar em nada, puxou Syndel pela cintura e a beijou. Ela sorriu ao retribuir o beijo, entreabrindo os lábios, dando-lhe mais espaço para demonstrar todo seu amor, e ele o fez. A língua dele acariciava cada canto da boca dela, ternamente, e seus lábios eram gentis contra os dela. Quando ele rompeu o beijo, os dois ofegavam.

— Eu te amo tanto... — Ele sussurrou.

— Tanto que ia desistir de mim assim? — Ela brincou.

— Exatamente. — Ele sorriu, roçando o nariz ao dela. — Tudo o que eu mais quero na vida é vê-la feliz... Mesmo que não seja comigo.

— Isso é impossível. Eu jamais seria feliz sem você.

Ele a beijou suavemente de novo e a abraçou. Ela encostou a cabeça ao peito dele.

— Eu pensei que fosse morrer. Doeu tanto... Cada vez que eu a via com ele, sorrindo para ele, falando com ele... Era como se garras geladas perfurassem meu coração. Era uma sensação horrível, paralisante.

— Eu sei. Eu sinto isso o tempo todo.

— Sente?

— A cada vez que vejo você se engraçando com alguma súdita. — O tom dela foi de censura.

— O quê? — Ele se afastou para olhá-la.

— Como você acha que eu me sinto? Quando você sorri para elas, quando afasta o cabelo dos rostos delas do mesmo jeitinho que faz comigo...? — Ela sentia-se aliviada em finalmente dizer aquilo.

— Você se sente assim?

— É claro que sinto!

— Mas eu só estava... Sendo gentil, como um príncipe dev... Por que você nunca me disse isso antes?

— Porque eu sabia que você ia dizer isso. Que só estava sendo um príncipe. Eu não queria... Não queria que parecesse que eu estou interferindo nos seus deveres reais, afinal, quem sou eu para fazer isso? Mas eu acho que você exagera. Você não precisava, por obrigação, fazer a metade do que você faz! — Ela desviou o olhar e mordeu o lábio para evitar que lágrimas que ela nunca chorou na frente dele a vencessem agora.

— Ei... — Ele pôs a mão sob o queixo dela para fazê-la olhar para ele. — Você podia ter me dito isso há muito tempo. — Delicadamente, ele capturou uma lágrima que escapou ao controle dela, com o dedo indicador. — Eu jamais quis magoar você, Syndel.

Ela se aproximou e encostou o rosto ao peito dele.

— Se você soubesse o quanto eu já chorei por isso...

— Você devia ter me dito! Eu não fazia ideia!

— Eu achei que não tinha o direito. Eu tentei ser... Compreensiva.

— É claro que você tinha direito! Todo o direito! Você é minha namorada! — Ele começou a acariciar os cabelos dela. — Mais do que isso. Você é o amor da minha vida.

— Thranduil...

Ele beijou o alto da cabeça dela.

— Nós somos dois idiotas, não somos?

Ela sorriu.

— Totalmente.

— É por isso que nós damos tão certo juntos, eu acho.

— Deve ser.

— Mas vamos combinar uma coisa?

— O quê?

— Da próxima vez que alguma coisa te incomodar... Você me fala imediatamente.

— E vice-versa.

— Feito.

Ela ergueu a cabeça para olhar para ele, e ele a beijou. Ela retribuiu docemente.

— Mas... Espere. Se você não ia me dizer que estava indo embora com o Damian, então o quê...?

Ela riu.

— Eu ia te dizer que o Damian nos convidou para nos juntarmos à comitiva dele e irmos até Valfenda visitar Mestre Elrond. Ele fez o convite em nome da Arwen, é claro. Eu sei que você está cansado... Mas eu pensei que seria uma boa oportunidade de nós passarmos um tempo juntos longe daqui... Você poderia descansar, e aposto como seria divertido!

Os olhos dele sorriam ao encontrar os dela:

— Você quer ir?

— Se voc...

— Não, você quer ir?

— …Sim.

— Nesse caso, nós vamos. — Ele inclinou a cabeça para encostar o nariz ao dela. — Eu não posso prometer, mas vou me esforçar para nunca mais estar cansado demais para você.

Ela sorriu, retribuindo o carinho.

— E por falar nisso... — Ele segurou as mãos dela. — Você ainda quer dançar comigo?

Ela entrelaçou os dedos aos dele.

— Sempre.

Ele sorriu, e os dois começaram a rodopiar na clareira, ao som de uma música que só eles podiam ouvir.


Próximo capítulo: "A primeira vez"


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Notas finais do capítulo

*Sim, eu inventei esse nome, com base nos afixos élficos encontrados no apêndice d“O Silmarillion”. Numa tradução livre, esse nome significaria “presente sagrado”.

**Yavanna é uma Vala, a “Provedora de Frutos”.
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♫ Só para saberem... Essa história foi inspirada na música "When I Was Your Man", do Bruno Mars. Agora, toda vez que escuto, só consigo pensar nesses dois. E me morro de chorar. ^^'