— Castle, desfaz essa cara por favor. – Ela diz revirando os olhos enquanto arrasta a mala para fora do quarto.

Era difícil para ela entender, mas eu estava me sentindo perdido com ela indo embora. Era como se algo estivesse faltando aqui em casa. Foi quase dois meses com ela aqui. Dois meses com ela dormindo e acordando ao meu lado. Dois meses vendo o seu sorriso lindo antes de dormir e ao acordar. É muito tempo! Kate não entendia isso? Eu vou sentir falta dela. Até dos seus roncos eu vou sentir saudade.

Sim, é difícil de acreditar, mas Kate ronca. Ela ronca quando está muito cansada, principalmente depois de uma maratona de sexo quando estamos a sós em casa. Acho que ela nem sabe que ronca, e não serei eu que direi isso a ela. É como um segredo da nossa relação. Um segredo que só eu sei e que, particularmente, amo. Ela não ronca alto. É um ronco baixinho, quase imperceptível. É adorável. Sentirei falta disso.

Kate nem foi e eu já estou sentindo saudade. Como vai ser quando ela realmente for embora? Hoje será seu último dia tomando café da manhã aqui comigo. Bom, não o último, pois ela vai vir dormir aqui outras vezes, mas ainda assim, o último.

— Você não quer mesmo ficar mais alguns dias? – Ela nem se dá ao trabalho de responder. Ela já vem me respondendo isso a dias. – Se eu soubesse que a ajuda que você pediu para arrumar o seu apartamento era para você se mudar, eu não teria ido. Você sabe, né? – Ela rir.

— Eu sei, e esse é um dos motivos para eu não ter contado. – Kate para, larga a mala e se vira para mim. – Você sabe que eu moro aqui perto, é? E que mesmo eu indo embora eu não vou parar de vir aqui ou você de ir lá em casa, certo?

— Eu sei. Mas não é a mesma coisa. – Abraço ela pela cintura e faço minha melhor cara de emburrado. – Você estando aqui é tudo tão melhor. Estamos sempre juntos, dormimos juntos, acordamos juntos.... Eu vou sentir falta do seu cheiro, de você me acordando pronta para...

— Castle! – Ela cora e meu coração se derrete. Eu adoro deixa-la assim.

— Eu só estou dizendo que vou sentir sua falta. Dói em mim, não dói em você? – Ela rir.

— Para de drama, Castle. Você vai viver muito bem sem mim aqui, viveu assim até agora, porque não pode se acostumar de novo?

— Eram tempos difíceis, Kate. Muito difíceis.

— Olha só... – ela se solta do meu abraço e pega o celular que apitava. – Eu tenho que estar na delegacia daqui a uma hora, quer aproveitar esse tempo e fazer um café de despedida do jeito que só você faz? – Ela levanta as sobrancelhas e morde o lábio. Como dizer não?

— Só se você prometer que não vai embora.

— Isso eu não posso prometer, mas... – ela se aproxima sussurrando em meu ouvido. A mesma vez que ela faz quando chama meu nome enquanto fazemos amor. – Se você fizer, eu prometo que vou te recompensar mais tarde. Do jeito que você quiser...

— Do... do jeito que eu quiser? – Pergunto já imaginando nas loucuras que podemos fazer a noite.

— O que você quiser...

— Com creme? – Pergunto me distanciando dela. Mais um segundo ali e nós faríamos tudo agora. Ouço uma risada de Kate ao fundo enquanto começo a preparar seu café.

Ela se aproxima em silencio e para na bancada, se acomodando enquanto me observa com cuidado. Confesso que gosto quando ela me observa assim, ela aprece sorrir com os olhos, e isso mostra o quanto somos felizes juntos agora.

Desde que encontramos meu pai e ele disse que nós estávamos, finalmente, livres das possíveis ameaças a Kate, nós estamos bem. Nós combinamos que esqueceríamos isso por um longo tempo, para que possamos viver nossas vidas de uma forma diferente. Kate parece estar mais leve, mais solta. Nosso relacionamento mudou da agua para o vinho. Nós estamos saindo mais, namorando mais, nos curtindo mais. Estamos vivendo essa fase do namoro que, mesmo sem querermos, nós pulamos. Kate era incrível. Todos os dias eu descobria algo novo sobre ela, e isso só me fazia querer descobrir mais. Eu sabia muito sobre a excelente detetive que ela era, mas não sobre a Kate. E esses dias aqui comigo foram mágicos. Nunca pensei que iria gostar tanto de cuidar alguém como eu cuidei dela. Eu me apaixonei ainda mais por Katherine Beckett.

— Eu estava pensando... – começo, respirando fundo para poder continuar.

A última vez que toquei nesse assunto foi quando ela me disse que iria voltar para casa, na semana passada. Depois de sua resposta negativa eu deixei para lá, mas eu preciso tentar de novo. Muita coisa pode ter mudado. Ela pode aceitar dessa vez!

— O que...? – Ela me encoraja, chegando por trás de mim e envolvendo seus braços em minha cintura.

Kate beija o meu ombro nu e deixa a cabeça ali. Com certeza eu não queria perder isso todas as manhãs. Eu tenho que tentar de novo.

— Que você não precisa ir mesmo embora. – Digo num tom baixo. Ela escuta e sorrir contra a minha pele.

— Mas eu não estou indo embora. Estou indo para a minha casa. E vire sempre que você me convidar. – Me viro para ela.

— Mas você não precisa ir para sua casa. Se quiser....

— Não preciso? – Ela me interrompe, rodeando meu pescoço com seus braços. – Porque?

— Porque eu quero que você fique. – Ela sorrir e eu a abraço pela cintura, colando ainda mais nossos corpos. – Para sempre.

Eu nunca falei tão sério. Essa era a coisa mais importante para mim no momento. Eu não quero que ela vá e venha apenas duas vezes na semana. Eu quero ela aqui todos os dias. Kate sabia desse meu desejo a muito tempo, assim como eu sei que ela não está preparada para isso. Eu sei que ela quer deixar o nosso relacionamento ir mais devagar. Mas eu já perdi tempo demais esperando o momento certo para dizer que eu a amo, não quero mais perder tempo.

Seu olhar fixo no meu. Seu corpo rígido. Seu rosto imparcial. O silencio perturbador. Kate não se mexe e nem diz nada. A cafeteira apita, dando sinal de que o café já está pronto, mas nós não nos mexemos. Sua pupila se dilata e eu sinto seus braços deixando o meu pescoço. A seguro mais firme para que ela não saia de meus braços. Kate respira fundo e apoia suas mãos em meus ombros.

— Você quer mesmo que eu fique? – Ela sussurra. Sinto seu hálito quente contra meu rosto. Nós estamos tão próximos que eu tento controlar a vontade de beija-la.

— Quero. – Digo e vejo ela abrir um sorriso quase imperceptível.

— Quer mesmo?  Mesmo sabendo que eu não sei nada sobre morar junto, sobre ser uma esposa.... Sobre ser a esposa do Richard Castle.

— Primeiro, não é ser esposa. Nós só estamos morando juntos. Segundo, o que tem demais ser a minha esposa? Terceiro e mais importante, você sabe sobre morar junto sim. Nós moramos juntos até hoje.

— Não, eu não sei. Eu me hospedei na sua casa por dois meses. Eu apenas me adaptei aos seus horários e costumes. Como seria se eu me mudasse hoje e quisesse colocar algumas coisas minhas aqui?

— Mas aqui já tem tudo. Você não precisa trazer nada!

— E meus quadros? Meus livros? As coisas por qual eu tenho um sentimento? Isso não conta?

— Você pode trazer tudo, Kate. A gente dá um jeito.

— Eu tenho costumes. Manias. Coisas que você não sabe sobre mim.

— Mas que eu adoraria saber. – Ela abre um sorriso maior.

— Castle você já foi casado. Você sabe como lhe dar com essas coisas do dia a dia. Você sabe como se adaptar a outra pessoa, mas eu não.

— Kate eu fui casado, mas isso não significa que eu saiba de tudo. Eu sei tanto quanto você. Não sei se vai dar certo ou se não vai. O que eu sei é que eu quero ter você todos os dias comigo, dividindo a cama, o chuveiro, a minha casa, a minha vida. É isso que eu quero.

— Não vamos dar um passo tão grande agora. Eu não sei se estou preparada para isso, e você também não. Você só está acostumado a me ter aqui vinte e quatro horas por dia. – desvio nossos olhares um segundo. Kate seguro meu rosto com as mãos e me força a olha-la. – Mas eu gosto de saber que você pensa num futuro para nós.

— Parece que sou só eu, né? – Penso alto.

— Não. Não é só você. Eu também penso. – A encaro surpreso. – Sabe o que me fez aceitar vir passar esse tempo com você? – Faço que não com a cabeça. – Foi que isso seria uma experiência boa sobre como é morar com você.

— Pena que você não gostou tanto assim.

— Eu amei. – Ela responde rápido. – Amei cada segundo. Só não me sinto preparada para dar esse passo definitivamente. – Ela envolve seus braços no meu pescoço de novo. – Mas é claro que eu me vejo morando com você, transformando sua casa em nossa casa, casando...

— E tendo um monte de castelinhos correndo pela casa. – Ela enruga a testa e me olha estranho. Não tem como não rir dela.

— Ok, nisso eu não tinha pensando ainda. Mas é algo bonito de se imaginar. – Ela sorrir.

— Uns cinco, talvez? – Ela arregala os olhos.

— Não. Definitivamente não. – Eu rio e ela tenta se soltar de meus braços de novo, mas eu não deixo.

— Quatro.

— Não, Castle! Eu não vou ter quatro filhos e ficar louca sem saber cuidar. Dois e não se fala mais nisso.

— Três.

— Não. Dois e está de bom tamanho. Eu ainda tenho que aprender a lhe dar com bebês.

— Não tem o que aprender. E apara todo caso você me tem, eu sou o encantador de bebês.

— Ótimo. Então eu tenho os três filhos e você fica em casa cuidando deles enquanto em trabalho.

— Ei! – Eu a encaro feio. – Desde quando eu virei a mulher da relação?!

— Não parece não interessante agora, né? – Ela rir.

— Não. Mas eu tenho a solução.

— Qual?

— Minha mãe. Ela me ajudou com Alexis, vai me ajudar com os nossos também.

— Falando de mim? – Minha mãe surge na cozinha e Kate se afasta.

Não como se minha mãe nunca nos tivesse visto assim, agarrados no meio da cozinha. Mas Kate tinha vergonha, e em parte, foi isso que fez eu me apaixonar por ela.

— Não.

— Sim. – Falamos juntos.

— Não ou sim?

— Bom, sim. Mas eram só planos. – Kate explica sem jeito.

— Café, mãe? – Digo já servindo uma xicara para mim e outra para Kate.

— Não querido, eu estou de saída. Tenho um teste para fazer. – Ela diz e sai pela sala cantarolando e fazendo uma cara dramática.

— Boa sorte, Martha. – Kate diz antes de minha mãe sair.

— Então, vai fazer o que mais tarde? – Entrego seu café.

— Meu pai quer jantar comigo. Quer vir junto?

— Não vai ser uma coisa de pai e filha. – Pergunto já sabendo da ligação forte entre eles.

— Não. Ele disse que queria me contar algo.

— Bom nesse caso eu vou. E depois a gente pode vir para cá e você pode cumprir sua promessa. – Digo sentando ao seu lado e me inclinando sobre ela, pronto para beija-la.

— É uma ótima ideia. – Ela sussurra.

Quando nossas bocas estão quase se encontrando escuto Alexis descendo da escada correndo. Me viro a tempo de ver ela jogar a bolsa no sofá e vir até nós com um sorriso lindo que ela herdou de mim.

 — Bom dia pai. Bom dia Kate. – Ela vem e nos cumprimenta com um beijo no rosto.

— Filha, mas que pressa é essa? – Alexis corre na cozinha. Ela pega uma fruta, um copo de suco e sai correndo.

— Estou atrasa. Tenho prova. – Ela manda um beijo antes de fechar a porta ao sair.

— Todo mundo está com tanta pressa hoje. – Volto para o meu café e vejo Kate olhando no celular.

— Amor, eu também tenho que ir. A Gates este me esperando na delegacia. – Ela levanta e beija meu rosto. – Até a noite.

— Até. – Ela sorrir e começa a andar, mas eu a puxo de volta contra mim e a beijo profundamente.

Esse era um beijo de despedida de verdade. E não aquele beijinho no rosto.

— Agora pode ir. – Ela sorrir e se vai.

Eu ainda não estava indo a delegacia. A nova capitã me expulsou de lá, e eu não via sentia ficar lá sem a Kate. Mas agora com ela voltando a ativa eu vou mexer meus pauzinhos para conseguir voltar a acompanha-la. Mas hoje não. Hoje é dia de autografar livros.