Capítulos da Vida escrita por YinLua


Capítulo 1
One Short


Notas iniciais do capítulo

Oláaa! Sou a Lu, prazer :3
Passei aproximadamente 3 anos sem escrever qualquer tipo de texto, apenas redações para a escola UASHUS, então estou um pouco enferrujada. Quero que cuidem bem de mim e leiam com bastante carinho *--*
Boa leitura, espero que gostem ♥



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Foi com uma sensação de aconchego que olhou ao redor, reconhecendo o ambiente em que tinha acabado de acordar. Ah, como tinha sentido falta disso. O cheiro de café fresco e quentinho, o barulho do chuveiro, o cantarolar daquela pessoa, seu perfume nos lençóis... Era como voltar ao paraíso, de onde nunca deveria ter saído.

As memórias em que ele estava eram as mais doces que tinha: o gosto de seus lábios, o calor de seu abraço, a sensação deliciosa que sentia cada vez que os olhos azuis como o céu encontravam os seus, rubros; até o arrepiar provocado pelo toque na pele macia. E, por sentir falta disso tudo, que Kagami Taiga deu tudo de si para tê-lo de volta.

Kagami já não sabia mais viver sem Kuroko.

— Kagami-kun, que bom lhe ver!

Não soube dizer como começou, eram imperceptíveis os sinais, nenhum batimento acelerado, nenhum suor ou calafrios; nada que indicasse que sentisse algum tipo de atração pelo dono dos cabelos azulados. Porém, o que quer que sentisse tornou-se evidente numa tarde de verão.

— Oi, Kuroko. — respondeu, passando a mão nos cabelos suados. O sol estava forte naquela tarde, mas Kagami não se importava, continuava treinando incansavelmente, sozinho com sua bola de basquete. — Quer jogar? — perguntou, mesmo sabendo a resposta e jogou a bola para o menor.

— Claro.  — Kuroko havia mudado muito desde que entrou na Seirin. De um jovem reservado e de poucas expressões, agora era capaz de mostrar o que sentia, seja com um sorriso pequeno ou com as sobrancelhas levemente franzidas. Não era tão extravagante como Kise, contudo, era uma evolução e tanto para o pequeno fantasma. — Como foram suas férias? Jogou muito basquete? — riu levemente, segurando a bola junto ao corpo.

— Muito! Acho que agora consigo vencer o Ahomine*! — riu também, colocando-se em posição. Viu Kuroko andar até si, dobrar as mangas de sua camisa até cotovelo e imitar sua pose, com seus olhos brilhando pelo desafio.

Quando o menor mostrou-se pronto, Kagami não lhe deu uma brecha: rapidamente avançou e roubou-lhe a bola, não perdendo tempo em correr até a cesta e pular o mais alto que podia, enterrando a bola com toda a força que tinha.

— Vê? — sorriu confiante, passando a mão na testa para tirar um pouco do suor. Porém, ficou cabisbaixo quando viu o rosto sem expressão do colega, como antigamente. Franziu as sobrancelhas para o amigo.

— Não é o suficiente, Kagami-kun. — as palavras deixaram sua boca em um tom neutro. No entanto, logo o canto de seus lábios inclinou-se levemente para cima e ele continuou: — Quer treinar mais?

Aquele pequeno gesto fez o ruivo sorrir também e aceitar a bola que lhe era oferecida. Era sua vez! Colocou-se no mesmo lugar que Kuroko estava antes e olhava atentamente para o adversário.  Sabia muito bem das habilidades do parceiro, e também sabia que ele não era imune a elas. Com esse pensamento, mudou o foco do menor para a bola, tentando manter-se o mais concentrado possível.

Isso não pôde evitar que a bola fosse tomada de si em um movimento rápido de Kuroko, aproveitando um milissegundo de distração; desnorteado, Kagami olhou ao redor e procurou o mesmo, já preparando-se para impedir que a bola atingisse a cesta. Encontrou-o um pouco distante de si, já com os braços inclinados e com a bola entre suas mãos, pronto para realizar o Phantom Shot.

Correu rapidamente até lá e pulou com as mãos para cima. Convicto que acertaria a bola, olhou para Kuroko que lhe sorriu e jogou-a. Não foi com surpresa que Kagami não sentiu nem ela raspar em seus dedos, ouvindo, então, o barulho seco dela atingindo o chão após ter entrado na cesta.

Franziu as sobrancelhas novamente para o amigo, logo suavizando a expressão. Kuroko riu.

— Vê? — repetiu o que o ruivo disse, sorrindo-lhe. Olhou-o e concluiu que este deveria estar treinando há muito tempo: seus cabelos estavam bagunçados, suas roupas amassadas, seu corpo e sua roupa molhados de suor e sua respiração ofegante. — Que tal uma pausa?  Podemos tomar sorvete! — seus olhos brilharam levemente, adorava tomar sorvete depois de jogar basquete.

— Você paga? — riu Kagami, pegando sua bola e andando até Kuroko, cutucando-o na bochecha com o dedo indicador. Kuroko lhe olhou com a cara inexpressiva, sinal de que não tinha gostado do gesto. Ele riu novamente e parou com a implicância.

— Não. Você toma, você paga. — respondeu, de cara feia, mas que logo voltou ao pequeno sorriso de antes. Tinha sentido falta do colega de time.

Aquelas férias eram as últimas de suas vidas escolares. Tinham acabado de terminar o ano letivo e em pouco tempo começariam a faculdade; não sabiam ainda se iriam para a mesma ou se separariam. Kuroko achava que, mesmo se não fossem, eles continuariam a se ver e a manter contato. Eles tinham uma boa amizade, afinal, por que perdê-la?

Kuroko optou por seguir carreira de escritor, mas faria uma faculdade de jornalismo para ajudá-lo caso seus livros não dessem certo. Já Kagami, diferente do que pensava há pouco tempo, não seguiria o basquete. Não, ainda amava o esporte, mas, por amá-lo tanto, achava que deveria jogar por gostar, não por dinheiro. Então, escolheu a carreira de bombeiro. Faria, assim, o vestibular para fazer o curso superior da Polícia Militar para que pudesse começar como oficial.**

Após comprarem seus sorvetes, foram andando até a casa de Kuroko que era mais perto da quadra. Pararam por lá e o mesmo convidou o ruivo para entrar, faria algo para comer. Sabendo que Kuroko era um desastre na cozinha, Kagami se prontificou para fazer no lugar dele.

— Você é visita, Kagami-kun, deixa que eu faço. — reclamou Kuroko, observando o ruivo que já pegava o avental e vestia-o. Direcionou-se a ele, tentando empurrá-lo para fora da cozinha.

— Não, eu quero fazer. — respondeu, escapando das pequenas mãos e procurando o que queria no armário. Já sabia o que faria: macarronada à bolonhesa, já que não tinham almoçado ainda e o sorvete não tinha sido o suficiente.

— Mas... — começou novamente, sendo interrompido pela lata de massa de tomate que voava na sua direção. Arqueou levemente a sobrancelha para o ruivo.

— Segura? — Kagami riu, voltando a procurar o macarrão para então seguir para a geladeira. Gostava muito de cozinhar, aprendeu durante sua estadia nos Estados Unidos e adquiriu profundo gosto por isso. Sabia muitos pratos, americanos, japoneses, até italianos! Era como um hobbie para ele.

— Posso ajudar, pelo menos? — perguntou o dono dos olhos azuis, vencido. Foi até a pia e lavou a lata, tirando a poeira que poderia estar ali. Tinha consciência de que Kagami cozinhava muito melhor que si, mas não achava justo a visita preparar a comida.

Com a afirmação do ruivo, Kuroko passou a procurar e a separar os ingredientes, enquanto Kagami se encarregava de prepará-los. Foi em meio a conversas e risos que fizeram tudo. Distraídos, nem perceberam o tempo passar, completamente intertidos com o assunto e a comida.

Fazia alguns anos que se conheciam, aquela cena não era incomum. Pelo contrário, era sempre bem vinda e foi repetida muitas vezes ao longo desses anos. Costumavam estudar na casa de Kuroko e, sempre que queriam treinar fora dos dias programados por Riko, iam para a quadra que estavam antes. Ela era um pouco escondida e poucos frequentavam o lugar.

Ao término do preparo, Kuroko serviu a mesa enquanto Kagami arrumava o que podia, para que o trabalho deles fosse menor após a refeição, já que teriam que terminar de colocar tudo no lugar.

Contrastando com o tempo de preparo, foi em meio ao silêncio que comeram, saboreando a comida com calma. Não era um silêncio ruim, pelo contrário! Havia um sentimento bom no ar, algo como cumplicidade.

Kuroko levou a colher aos lábios, sentindo o gosto do macarrão e do molho. Mesmo que seus olhos estivessem virados para o prato, sua mente estava em outro lugar, Kagami podia dizer pelos movimentos vagos que este fazia. Indagou-se o que podia ocupar-lhe a mente, mas não aprofundou-se no pensamento, logo voltando para seu prato e comendo com vontade. Ah, como estava com fome!

— Kagami-kun. — quebrou o silêncio, assim que seus hashis tocaram a tigela em que comia.

— Hm? — perguntou, passando a mão na barriga. Tinha comido dois ou três pratos de macarrão e agora encontrava-se satisfeito. Sorte que tinham feito a mais!

— A vida é como livros, não acha? Cada coisa que passamos é um capítulo de nossa história.  — comentou, olhando para longe. Aos poucos seus lábios fizeram um pequeno movimento para cima, mostrando um sorriso.

— O que? — Kagami direcionou seus olhos para ele, confuso. Assistiu Kuroko levantar-se, permanecendo em silêncio por alguns segundo e parar ao seu lado.

— Assim como eu quero escrever livros, quero participar de histórias, fazer parte da vida das pessoas, ser o coadjuvante ou aquele personagem que aparece poucas vezes, mas que, quando o principal precisa, sempre traz a solução. E também... Kagami-kun, eu quero fazer parte da sua história. Não mais como um coadjuvante nem um personagem de poucas falas, e sim como alguém de maior importância, que esteja presente em todos os capítulos, do início ao fim.

Kagami levou alguns segundos para entender o que Kuroko havia dito e o menor aproveitou esse tempo para aproximar-se do maior e, calmamente, encostar seus lábios no dele. O que? Foi o que passou pela mente de Kagami enquanto este se encontrava estático. Não sabia como reagir. Aliás, deveria reagir? O que deveria pensar? O que fazer? Se negasse, perderia a amizade de Kuroko? Era como se uma neblina cobrisse sua mente e não o deixasse ver a luz.

Ele levou algum tempo para reagir, lembrava-se. De início eram só beijos, Kagami não tinha assumido compromisso algum e Kuroko aceitou que assim fosse. Ele se contentava com tão pouco. Afinal, ele não tinha seu coração, tinha apenas seu corpo — ou parte dele. Mas funcionou: Kuroko estava fazendo parte dos capítulos de sua história, muito mais do que antes. A amizade deles continuou, mais forte que antes e com alguns benefícios.

Com um sorriso no rosto, levantou-se da cama sem fazer barulho e silenciosamente dirigiu-se até o banheiro. Era como se tirassem um peso de suas costas, como se o fizessem existir novamente. Ter Kuroko de volta para si era o melhor dos presentes. Se existisse um Deus, Kagami podia agradecer todos os dias a partir daquele. Com Kuroko, ele se sentia...  completo, como um livro preenchido com todos os seus capítulos. Riu da metáfora que pensou, mas aquilo só fazia referência ao — agora sabia — amado.

Abriu a porta com a maior delicadeza possível e pôde visualizar a silhueta do menor de costas para si. Mesmo não podendo vê-lo, sabia que estava com os olhos fechados e um sorriso, porque sempre que cantarolava tinha essa expressão no rosto. Kagami adorava observá-lo nesses momentos, era perfeito. A coisa mais bonita que já tinha visto. Como pude, por um momento, sequer pensar em deixá-lo ir?

Reparou no corpo do namorado, não com segundas intenções, mas para admirá-lo. Kagami sabia o quanto havia mudado nesse tempo em que estavam juntos, como amigos ou companheiros; sabia o quanto tinha crescido, amadurecido, e agora era capaz de admitir coisas simples como sentimentos. Ainda era aquela pessoa teimosa e cabeça-dura, mas tinha um novo olhar sobre as coisas.

Adentrou no banheiro e tirou as roupas lentamente, sem deixar de observá-lo. Kuroko não possuía nenhuma marca na pele, ela parecia extremamente macia e seus cabelos eram bem cuidados. Seus músculos eram poucos, resquícios do basquete, contudo, nada diminuía a beleza que Kuroko tinha.

Abriu o box e, nesse momento, o dono dos cabelos azuis virou-se para trás, ainda com o pequeno sorriso nos lábios e cantarolando. Nunca era a mesma música, mas todas tinham algo em comum: demonstravam seu estado de humor. Naquele momento, ele estava feliz, era uma música alegre.

— Bom dia — sorriu Kagami, entrando no box. Mesmo com o chuveiro aberto, a única coisa que ele fez foi abraçá-lo o mais forte que podia. Enlaçou seus braços e grudou seu corpo molhado ao seu, quente. Nem a diferença de temperatura lhe fez largá-lo. Enterrou seu rosto no pescoço do menor, sentindo ele abraçar-lhe também.

— Bom dia, Kagami-kun — disse Kuroko, de olhos fechados, aproveitando o momento. No tempo que passaram separados, tudo que Kuroko conseguia pensar era ele, mesmo dizendo a si mesmo para seguir em frente.  Tinha sido os piores meses de sua vida! Seus livros já não o distraíam mais. O livro de sua vida tornou-se incompleto; os capítulos, sem sentido. Agora, tudo tinha voltado ao seu lugar.

— Senti sua falta — sussurou o ruivo, beijando seu pescoço em um gesto de carinho. Aspirou levemente o perfume do sabonete, reconhecendo-o como o mesmo que Kuroko usava há anos. Algumas coisas não mudam. Esse tinha um cheiro característico que tinha assimilado como o perfume do outro, ele sempre se lembraria disso. — Você não imagina o quanto, pequeno.

— Eu também senti sua falta, Kagami-kun — respondeu baixinho, lembrando-se rapidamente dos momentos em que se sentiu sozinho, desamparado e tudo o queria era que Kagami estivesse ali com ele, abraçando-o.

A separação não foi algo planejado pelos dois, mas foi um limite imposto. Depois de um ano tendo a relação sem compromisso, Kuroko viu seus amigos e até desconhecidos namorando, felizes, assumindo seus relacionamentos, saindo, trocando carinhos em público e, como qualquer apaixonado, desejou fazer aquilo com Kagami. Aos poucos, aquilo foi deixando triste e pensativo, que o levou a falar com o ruivo.

— Kagami-kun — chamou-o. Estava com a cabeça apoiada no ombro do mesmo enquanto assistiam a um jogo de basquete na televisão do apartamento do mais alto. Kuroko não estava realmente assistindo o jogo, Kagami sabia, ele parecia pensativo. O que Kagami não sabia era que ele estava tomando coragem para: — Tem algo que quero conversar.

— Claro — Kagami tinha sua atenção completamente nele agora. Perderia apenas alguns segundos do jogo, não era nada importante. Remexeu-se no sofá, ajeitando-se para que pudesse olhá-lo diretamente. — Diga.

— Eu queria que pudéssemos ser uma pessoa definitiva no livro da vida do outro. — falou. Quando viu que o outro não entendeu, tornou a explicar: — Quero que sejamos um casal normal, como o Kise-kun e o Aomine-kun. Quero que possamos dizer aos nossos amigos que somos namorados, que estamos felizes juntos.

— Não está bom como está? Por que os outros têm que saber? — questionou, sem entender. Do jeito que estava lhe agradava, não era o bastante para ele? — Não me vejo andando de mãos dadas por aí, esse não sou eu. Não me leve a mal, mas não acho que isso seja necessário. — viu os olhos de Kuroko entristecerem, contudo, não mudou de opinião.

— Mas Kagami-kun, não pensa em assumir nosso relacionamento? Acha que poderá sempre ficar comigo escondido, fingindo na frente dos outros que não me beija, que não gosta de mim? Que eu não gosto de você? — franziu as sobrancelhas, afastando-se do outro e levantando. Não gostava do rumo que aquilo estava tomando... Mas.... Queria tanto... Tentaria mais um pouco, quem sabe ele não entendia?

— Por quê? — quando a pergunta deixou seus lábios, Kagami na mesma hora se arrependeu. No entanto, não voltou atrás, teimoso como era. — Não vejo motivo para que os outros saibam disso. O que mudaria?

— Eu ficaria feliz! — exclamou. Talvez ele entendesse que aquilo era importante para si... não é? — Eu olho para outros casais, vejo o quanto demonstram seu amor pelo outro livremente, como se o mundo não pudesse impedi-los de amar um ao outro... Eu quero isso pra mim, Kagami, eu quero sentir essa liberdade, esse amor tremendo, eu quero ter a certeza de que tenho um relacionamento firme, que não vá se quebrar a qualquer momento. Por que não entende isso?

— Não está feliz agora? — Kagami indagou, olhando-o nos olhos. Não o fazia feliz? Não era o suficiente... Então não era a pessoa certa para Kuroko. — Bem, não temos um relacionamento afinal, somos apenas amigos, não é? — deixou que os pensamentos ruins o deixassem levar. Se não era a pessoa certa para ele, nada melhor que o deixar ir.

— Como? — Kuroko o olhou incrédulo. Engolindo o perto no peito e a mágoa crescente, relaxou o rosto, voltando a face neutra que quase não era vista mais. Decidiu, então, sair daquele lugar. Não queria mais ficar ali, nem mais um segundo. Não queria olhá-lo mais, não queria se lembrar daquele último ano, não queria mais amá-lo. — Entendo. — finalizou e foi até a porta do apartamento, saindo sem olhar para trás.

Kagami agora deixava de fazer parte do livro de sua vida. Na manhã seguinte seria um novo capítulo a se construir.

— Sabe, — começou Kagami, ainda abraçado a Kuroko com sua cabeça apoiada entre o pescoço e o ombro deste. Suas mãos faziam pequenos círculos na cintura dele, um pequeno carinho. Nenhum dos dois teve a ideia de fechar o chuveiro, a água ainda caía livremente atrás de Kuroko. — aquelas coisas de casais, nós podemos fazê-las. Eu ia adorar. — mordeu o pescoço do menor levemente, fazendo-o rir.

— É? — o sorriso não deixava o rosto dos olhos azuis mais bonitos que Kagami já tinha visto, ele sabia. — Eu também, mas agora me deixe terminar o banho — riu, batendo de leve em Kagami para que ele o soltasse.

Kagami, no entanto, não o soltou realmente, apenas afastou-se um pouco. Olhou-o nos olhos e conseguia enxergar um brilho que jamais tinha visto antes, muito mais forte, mais bonito que costumava ter. É esse o brilho do amor? Sorriu e aproximou seus rostos, sem nunca cortar o contato visual. Podia ver-se refletido nos olhos azulados e ele gostou do que viu. Parecia uma pessoa completamente diferente, comparada a como estava há algumas horas atrás.

Nunca se arrependeria de ter ido atrás dele. Kuroko valia a pena.

— Kagamicchi, você tá péssimo! — Kise riu, observando o amigo jogado na cama. Era um fim de semana bonito, o sol estava agradável e o clima fresco, mas parecia que Kagami não via a luz do sol há dias. Ou que penteava o cabelo... ou que saía da cama. Kise podia até imaginar que tinha uma garrafinha com urina em algum lugar perto da cama! Fez uma careca diante do pensamento.

— Obrigado por me dizer o óbvio. Já pode ir embora, tá? — resmungou. Depois que Kuroko deixara seu apartamento naquele dia, ele nunca mais voltou. Não ligou, não atendia a campainha, não respondia suas mensagens... Ele tinha deixado sua vida, da mesma forma que ele queria, certo? Se não estava o fazendo feliz...

— Eu vim te dar uma boa notícia! — Kise empurrou a colcha que parecia estar ali mais de um mês e sentou-se na cama. Cutucou as costelas de Kagami, que lhe olhou com raiva. Sem medo, ele sorriu: — Kurokocchi voltou!

— Hm? E o que eu tenho a ver com isso? — perguntou, sem entender. Sequer sabia o que Kise queria dizer com ‘voltou’.

— É claro que quer ele de volta, tá escrito na sua testa! — o modelo arqueou a sobrancelha loira, como quem diz ‘A quem quer enganar?’.  — Todos nós sabíamos de tudo, Kagamicchi. Mesmo que fossem discretos, não eram tanto assim. — riu, ajeitando-se na cama. — Ele foi na casa dos avós com os país por uns meses. O avô dele estava doente, em estado crítico, aí toda a família foi para dar apoio. Ele chegou até a trancar a matrícula na faculdade. Voltou ontem a noite, parece que o avô dele melhorou bastante.

E, naquele momento, as mensagens, as ligações, a campainha... tudo foi explicado e ele se sentiu um tolo. Talvez ainda tivesse esperança! Um pequeno fio que poderia fazer com que os últimos meses parecessem um pesadelo que logo teria fim. E Kagami se agarrou àquele fio.

Levantou-se no mesmo instante, procurando roupa limpa no guarda-roupa.

— Vai embora, Kise — disse, sem olhar para trás. — Obrigado. — sorriu sem que o outro visse, realmente agradecido. Quando achou uma roupa satisfatória, seguiu para o banheiro rapidamente, ignorando o loiro que lhe sorria.

Kise, sem mais o que fazer ali, dirigiu-se até a porta com um sorriso de ‘missão cumprida’. Poderia, então, ver seus melhores amigos juntos novamente e felizes! Assistiu calado, por meses, a tristeza de Kagami e de Kuroko. Kuroko tinha lhe contado o que houve e, naquela noite, além do que Kuroko ia pedir, ele ia avisar que viajaria no dia seguinte. Mas como houve a discussão... Por todo aquele tempo, não teve como ajudar. Agora ele tinha e não pôde deixar aquela chance escapar.

— Conseguiu? — a voz grossa interrompeu seus pensamentos e fez com que seu sorriso aumentasse. Era Aomine. Ele tinha ido consigo, mas preferiu não se meter e ficar do lado de fora lhe esperando.

— Sucesso! — exclamou o loiro, abraçando Aomine e beijando seus lábios rapidamente. — Vamos, não queria ir naquele jogo de basquete?

Kagami tomou o banho mais rápido de sua vida. Estava extremamente ansioso, queria vê-lo, olhá-lo nos olhos, beijá-lo mais uma vez. Passou todo aquele tempo se arrependendo, remoendo o que poderia ter feito diferente e agora tinha a chance de ter Kuroko mais uma vez para si. Dessa vez, se tudo desse certo, prometia a si mesmo a esforçar-se o máximo para fazê-lo o homem mais feliz do mundo.

O caminho tão conhecido lhe parecia cada vez mais longo, por que ele não estava chegando? Não via a hora de vê-lo! Sua mente parecia uma bagunça, mas uma coisa estava clara: não era ele que era a luz de Kuroko, era Kuroko que era a sua luz; sua única e brilhante luz. O pequeno fantasma era o que o fazia se sentir bem, feliz... vivo. Se antes o basquete e Himuro eram as coisas mais importantes para si, nada se comparava o quão ele precisava de Kuroko naquele exato momento. No quanto ele precisou dele por todos esses meses.

Aquele tempo tinha passado como um borrão. Ia às aulas, fazia as provas, tirava notas razoáveis... Mas não era a mesma coisa. Não sentia aquela motivação, não se sentia a mesma pessoa. Era como se algo tivesse sugado sua alma. Viver, durante aqueles meses, foi horrível. Sua luz não era mais sua. Kuroko não fazia mais parte do livro de sua vida.

Agora, pelo menos, tinha esperança!

Quando chegou na porta, tocou a campainha, reconhecendo o som que tanto ouviu nos últimos meses. Sempre que passava por aquela rua ou que tinha um tempo livre, ia até aquela porta e tocava aquela mesma campainha, desejando que a pessoa de cabelos azuis claros e olhos da cor do céu lhe abrisse a porta e lhe sorrisse novamente. Depois de um tempo, ele se cansou e parou de ir até lá.

Diferentemente das outras vezes, dessa vez, a porta se abriu.

— Kuroko! — exclamou o ruivo. Não reconhecendo a si mesmo, ele não pôde se impedir de ir até o mesmo e o abraçar.  Mesmo quando ele não falou nada, Kagami continuou: — Me desculpe, me desculpe — repetiu, sentindo lágrimas se formarem em seus olhos. Céus! Quem era ele e o que estava fazendo em seu corpo? — Eu sinto sua falta... Arrependo-me seriamente do que disse naquele dia, eu só achei que... se eu não estava te fazendo feliz, então não era o cara certo para você. Mas eu estava engano! Esses meses em que você não esteve aqui, eu não consegui seguir em frente. A cada canto que eu olhava, cada coisa que eu escutava me trazia memórias nossas, nossos momentos, como amigos, como algo mais. Eu quero que me perdoe, por favor. Eu quero fazer parte da sua história, Tetsu.

Aquilo podia não ser nada para alguns, mas Kagami era uma pessoa orgulhosa. Pedir desculpas, voltar atrás não era seu feitio e Kuroko sabia. A noite anterior foi a melhor para ambos. Os pais de Kuroko ainda estavam na casa dos avôs dele, ele tinha voltado antes para arrumar e limpar a casa e seus pais voltariam na semana seguinte. Depois do que Kagami disse, Kuroko não se pronunciou, apenas saiu do abraço e então, quando Kagami perdeu a esperança que tinha, beijou-lhe profundamente. Aquele foi o melhor beijo de sua vida!

— Eu te amo, Kagami-kun — disse, ainda com Kagami lhe encarando. Era visível como estavam felizes. Era como um casal recém-casado! No caso deles, recém-assumido, Kuroko riu levemente com o pensamento, passando a mão pelo rosto do maior. Sorriu-lhe e beijou seus lábios rapidamente — Ande, me solte, o café vai esfriar.

— Eu também te amo, Tetsu — respondeu-lhe suavemente. Soltou-o, mesmo querendo continuar agarradinho com ele para sempre. Sabia que eventualmente teriam brigas e que enfrentariam problemas, mas nunca mais o deixaria ir. Tinha aprendido sua lição.

Afinal, os livros de Kagami Taiga e Kuroko Tetsuya se interligavam e tinham o mesmo final. Um nunca mais deixaria o outro. Seria um o protagonista da história do outro. Sempre.


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Notas finais do capítulo

*Ahomine é, como todos sabemos, a forma que o Kagami trata o Aomine, UASHUSA, mas resolvi explicar pra não acharem que é um erro de digitação. Quanto ao **, eu não sabia que o colocar ali, então pesquisei um pouco e vi que era assim que se entrava no Corpo de Bombeiros de São Paulo. Não tenho a menor ideia de como se faz isso no Japão LOL, mas considerem, por favor y.y
Àqueles que chegaram até aqui, muito obrigada! :3
Espero que tenham gostado da história e queria pedir a ajuda de vocês: quero que me mostrem o que eu preciso melhorar, se a narrativa está boa, se as descrições estão boas, o formato do texto... Qualquer coisa que vocês achem que esteja ruim, por favor, me diga! Quero muito voltar a ativa, tirar as teias de aranha e melhorar cada vez mais minha escrita. :3
Obrigada por ler!
Beijão ♥
Lu :3



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