Of Resentment And Desire escrita por Araimi


Capítulo 1
Capítulo 1




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As palavras de Lili ainda martelavam em sua cabeça.

           

Ela iria lhe dar uma chance de recomeçar. Uma chance com a Bastille.

           

Um sorriso vitorioso tomava conta de seu rosto quando ela lembrava sua conversa com a mulher. Mas era mais que isso, mais que simples vitória. Carol sentia-se realmente agradecida a ela.

           

E também arrependida por ter tentado seduzir o marido de Lili.

           

Ela queria se redimir, provar para Lili que ela não era a mulher ambiciosa que a outra achava. Carol podia ser boa, podia ser generosa.

           

Com esse pensamento em mente, ela deixou seu quarto e se dirigiu até o quarto que o casal Bocaíuva Monteiro dividia. Bateu na porta com firmeza. Lili abriu a porta e suas feições mudaram em um segundo quando viu que era Carol. Um misto de emoções que Carol não sabia decifrar.

           

— Está procurando meu marido?

           

Carol reprimiu a vontade de revirar os olhos. Ela não era mais uma adolescente e Lili provavelmente não aceitaria bem o gesto. Conhecia a mulher há pouco tempo, mas já sabia que ela não deixava passar coisas que a desagradavam.

           

Carol deu um sorriso forçado; forçando-se também a lembrar de que essa mulher de língua afiada a sua frente estava lhe proporcionando o que talvez fosse o maior sonho de sua vida. Seja gentil, ela disse a si mesma, seja educada.

           

— Lili. – Ela disse, fingindo alegria, deixando a alfinetada passar. – Eu estava procurando por você mesma.

           

Lili arqueou uma sobrancelha, um sorriso amarelo nos lábios.

           

— Procurando por mim? – Carol assentiu. Os olhos de Lili varreram o corredor rapidamente, ela suspirou e abriu a porta do apartamento. – Entra.

           

Sua voz era baixa e calma, mas Carol já sabia que não podia se deixar enganar pelo timbre de sua voz. Lili sentou-se em uma poltrona, gesticulando para que Carol sentasse de frente a ela. Sempre educada, sempre a anfitriã perfeita.

           

— Obrigada. – Carol agradeceu enquanto sentava. Lili tinha seus olhos nela, esperando com tranquilidade. – A verdade é que eu gostaria de agradecer mais uma vez pela oportunidade que você está dando. A mim e a Totalmente Demais.

           

Lili sorriu, olhando para os próprios pés como quem vai acabar a conversa em uma frase.

           

— Não precisa me agradecer, Carolina. Você precisa fazer com que eu não me arrependa.

           

As palavras da mulher loira a atingiram em cheio, uma hábito ridículo e desagradável, na opinião de Carolina.

           

— Você não vai se arrepender. – Sua voz tomou um tom perigoso, quase esquecendo sua fachada de boa mulher. –Eu prometo.

           

Lili assentiu, olhando-a, esperando que Carol dissesse algo que fosse valer a pena.

           

— Lili, nós passamos por alguns desentendimentos...

           

— Não houve desentendimentos. Até agora eu entendi muito bem o que você estava fazendo.

           

Carol tentou ignorar a interrupção. Lili fazia com que ela se sentisse uma garota em início de carreira novamente, onde sua opinião e palavra poderiam ser facilmente ignoradas. Agarrou-se ao fato de que Lili não entendia sua atitude naquele momento.

           

— Eu vim propor uma trégua. Uma trégua de verdade. Eu gostaria de te convidar para sair.

           

Uma sombra passou por seu olhar rapidamente e, por um instante, Carol não viu uma rival. Viu apenas uma mulher quebrada, perdida nas garras da depressão.

           

— Já não saímos o suficiente? – Lili perguntou, recuperando a postura.

           

— Só nós duas, eu quis dizer. Só as garotas. – Carol riu, tentando brincar, mas Lili não a acompanhou. A risada sumiu tão rápido quanto apareceu. – Eu realmente gostaria que nós nos déssemos bem. E o que aconteceu... Vamos deixar isso no passado. Não vai se repetir. E pode ser divertido. Para você.

           

Carol podia dizer e achar o que quisesse de Lili de Bocaiúva Monteiro, mas não podia negar que ela era uma mulher extremamente interessante. Enquanto Lili ponderava seu convite, ela foi de animal encurralado, para predador demarcando território até chegar a uma pose indiferente que dizia “Por que não? Você não é melhor que eu”.

           

— Tudo bem. – Ela disse por fim. – Vou precisar de um tempo.

           

Carol sorriu.

           

— Claro, tudo bem. Eu passo mais tarde.

           

Carol saiu do quarto com um sorriso vitorioso.

 

—***-***-***-

           

Ela estava de preto.

           

Claro que ela estava de preto.

           

Carol não fazia a menor ideia de porque esperar algo diferente. Lili estava de luto. Esteva de luto nos últimos dois anos.

           

Elas foram para um restaurante diferente dos que já tinham ido; Carol queria impressioná-la, queria tirar seu ar. Queria que Lili lhe desse uma oportunidade. Quase como a Carol do bairro de Fátima.

           

Lili foi educada, cordial, serena, mas debaixo da atitude suave, estavam os contornos pontiagudos da rispidez, do rancor, da desconfiança.  Carol conseguia entende-la até certo ponto. Mas será que Lili não via que ela era mais do que aquela primeira impressão desagradável?

           

Elas conversaram sobre trivialidades, sobre a Bastille, sobre a Totalmente Demais. Carol foi a que mais falou. E foi como pisar em ovos. Não queria entediar Lili com os mesmos assuntos de sempre, mas também sabia que ela não estava disposta a escutar sua história de vida e falar sobre a vida privada de Lili, Carol podia sentir, estava completamente fora dos limites.

           

Arthur não estava ali para fazer Lili sorrir, nem Pietro para puxar conversa e fazer uma ponte entre as duas. Nem ao menos Germano, que dividia suas atenções entre as duas.

           

Estavam apenas Carolina Castilho e Liliane de Bocaiúva Monteiro.

           

E tão certo quanto Lili usar preto, o jantar foi um desastre.

           

Não um desastre completo. Poderia ter sido infinitamente pior, verdade seja dita. Mas poderia ter sido infinitamente melhor.

           

Lili não se abriu, não deu espaço para que Carol tentasse conquista-la. Carol não sabia o que fazer; se sentia uma menina insegura. Seu charme fácil não funcionava com Lili. Sua conversa parecia entrar por um ouvido e sair pelo outro, vez ou outra ganhando uma pequena observação.

           

Foi um jantar desconfortável, cheio de silêncios constrangedores – para Carol ao menos -, e ao final dele, nenhuma das duas se sentia mais próxima da outra.

           

Carolina pagou a conta e elas deixaram o restaurante. Lili tinha um sorriso no rosto. Não um sorriso feliz, talvez uma versão dela de sorriso vitorioso. Por que ela sabia o que Carol estava tentando fazer, e como ela havia falhado miseravelmente.

           

Carol olhou para as ruas passando pela janela do carro, respirando fundo. Ela não se daria por vencida tão fácil assim. Carolina Castilho era uma péssima perdedora. Não, ela não era uma péssima perdedora porque ela nunca perdia.

           

Eu quero. Eu posso. Eu consigo.

           

Ela repetiu seu mantra. Ela conseguia. Lili era apenas uma mulher teimosa. Carol já havia conseguido conquistar pessoas mais difíceis. Ela não precisava nem queria que as duas virassem melhores amigas. Só precisava que Lili confiasse um pouco mais nela.

           

Talvez Carol estivesse subestimando Lili. Ela já havia cometido esse erro antes. Mas era tudo ou nada. Era naquela noite ou nunca mais.

           

Decidida, pediu que o motorista levasse as duas para outro lugar.

           

Lili olhou para ela confusa, levemente irritada.

           

— Aonde vamos? – Ela perguntou.

           

Carol sorriu. De volta no jogo.

           

— Uma surpresa. A noite não pode acabar ainda.

           

Você não vai fugir de mim assim tão fácil.

 

—***-***-***-

           

Lili estancou, olhando o nome do local como quem olha para um predador.

           

— Eu não gosto muito de boates.

           

Carol parou ao ouvir aquilo, olhando-a como se tivesse crescido uma segunda cabeça em Lili. Suspirou e caminhou para perto dela.

           

— Você vai gostar. Não demoramos, se você quiser. Entramos, bebemos, saímos. Que tal?

           

Lili não parecia muito convencida e Carol estava certa de que ela iria dizer não. Por isso pegou sua mão e a puxou para dentro da boate.

           

Lá dentro as luzes baixas piscavam em tons de vermelho, as pessoas dançavam, bebiam, riam. Carol parou quando elas já estavam há uma distância segura da saída. Lili puxou sua mão, entrelaçando-a na outra para que Carol não pudesse pegá-la novamente. Carol riu.

           

Ela levou Lili até um lugar onde pudesse sentar e foi buscar bebidas para as duas. Lili fez uma careta quando provou a sua.

           

— É forte. – Ela disse, colocando o copo na mesinha em frente a ela.

           

Mas cinco minutos depois tomou outro gole e depois outro, até se acostumar.

           

No início, a boate não estava sendo muito diferente do restaurante, ambas caladas, deixando a música alta preencher o silêncio entre elas. Até que um homem se aproximou de Carol. Ela negou o convite de ir dançar e negou a bebida que ele lhe oferecia.

           

— Estou acompanhada. – Ela disse, indicando Lili com a cabeça.

           

Ela não quis dizer do modo que o homem entendeu, mas ele sorriu e perguntou, apontando para Lili.

           

— Sua namorada?

           

Lili tomou um gole de sua bebida, encarando o rapaz sem demonstrar muita emoção, um pequeno sorriso nos lábios. Carol não conseguiu esconder sua surpresa, mas quando Lili a olhou, quase com diversão, ela tomou uma decisão e assentiu para o rapaz.

           

— É sim.

           

O rapaz deu de ombros, deixou as duas bebidas para elas.

           

— Aproveitem. – Ele disse.

           

E se retirou.

           

Carol gostaria que aquele tipo de educação fosse mais comum.

           

Quando ele se afastou o suficiente, Lili riu. Não era uma gargalhada, mas era mais do que ela havia rido durante a viagem inteira. Parou, se recompôs e riu novamente. Carol a acompanhou. Pelo ocorrido e pela risada dela.

           

Foi a abertura na armadura de Lili que Carol precisava.

           

No terceiro drink, Carol e Lili já se aventuravam em tópicos que não envolvessem Bastille ou a revista ou o concurso que estava por vir.

           

No quinto drink, Carol falava sobre sua vida no bairro de Fátima. Lili ria.

           

No sexto drink, Lili, já meio alterada, falava sobre sua época de faculdade. Carol ria.

           

No nono drink, Carol convidou Lili para dançar. O álcool a deixava leve demais para manter muita resistência na negação. Acabou aceitando.

           

Lili não dançava há um bom tempo, como ela mesma havia dito alguns instantes antes, então era normal que ela estivesse meio perdida. Carol chegou mais perto dela, pedindo que ela se soltasse. Ela até mesmo reprimiu suas habilidades – Carol dançava muito bem, era um fato conhecido-, para que Lili se sentisse mais a vontade.

           

O álcool ainda estava bombeando em seu sistema e Lili logo se soltou.

           

Elas dançaram como amigas, brincando, se divertindo, sem uma preocupação no mundo. Carol sabia que naquele momento Lili não estava pensando em Germano e no seu casamento quase falido, ou em sua filha morta, ou no filho problemático. Sentiu-se genuinamente feliz de poder ajudar.

           

Carol poderia dizer o momento exato que tudo mudou.

           

Lili reclamou do calor, jogando o cabelo para trás. Seu vestido tinha alguns botões na frente e ela não pensou duas vezes em abrir um e depois o outro. Carol soube que ela estava mais alta do que aparentava, porque Liliane de Bocaiúva Monteiro não abre botões de sua roupa simplesmente porque está com calor.

           

Não foi uma abertura muito grande, não deixava nada de fora. Ainda era comportado e não estava fora dos padrões do local. A tirar pelo fato de que agora o topo de seus seios estava visível, deixando à mostra a curva delicada, a pele clara.

           

Carol desviou o olhar, procurando os olhos de Lili, mas eles estavam fechados. Ela mexeu o corpo de modo que os olhos de Carol voltassem para a pele recentemente exposta.

           

Carol sempre foi uma admiradora da figura feminina. Desde menina, gostava de olhar as revistas de moda com Dorinha e, silenciosamente, admirava os cabelos, os sorrisos, as curvas. Quando cresceu, passou a admirar as mulheres de outra maneira. Sua sexualidade não era de conhecimento geral e, não que ela estivesse tentando esconder, mas também não era toda mulher que chamava sua atenção daquela maneira.

           

A própria Lili não havia despertado seu interesse até aquele momento, até aquele abrir de botões. Simples assim, Lili havia se transformado em uma mulher completamente diferente aos olhos de Carolina.

           

Alguém tombou com Lili, empurrando-a para frente. Carol a segurou, as mãos em sua cintura, sustentando-a de pé e falando algo desagradável para quem a havia empurrado. Lili sorriu, dizendo que não foi nada.

           

Ela voltou a dançar, como se nada tivesse acontecido, e Carol sentiu seu corpo se movendo em suas mãos. Soltou-a como se estivesse pegando fogo, mas Lili não foi muito longe, preferindo dançar por ali mesmo, perto dela. Perto demais para o autocontrole abalado pela bebida de Carol.

           

Então ela voltou a dançar também, aproveitando a proximidade. Colocou uma mão tentativa na cintura de Lili e, como não foi afastada, relaxou, aproximando-se ainda mais.

           

A bebida borrava sua visão, a música nublava seus sentidos. Talvez fosse tudo Lili. Ela estava próxima demais.

           

Carol a olhava, as luzes pintando-a em tons de vermelho, um sorriso nos lábios. Lili era linda. Germano era um idiota. Um simples idiota total.

           

Ela não conseguia mais pensar em parceria, em concurso, em futuro, em sonhos. Sua mente estava presa ao agora, àquele momento, àquela pessoa. Tudo o que sabia, tudo o que sentia, era que queria aquela mulher. Precisava daquela mulher.

           

Eu quero. Eu posso. Eu consigo.

           

Se Germano não sabia valorizar a mulher que tinha, outra pessoa poderia muito bem fazer isso. Carol poderia fazer isso. E era tudo ou nada. Era aquela noite ou nunca mais.

           

As mãos que estavam na cintura de Lili subiram para seu pescoço, acariciando-a ali. Lili abriu os olhos, confusa e embriagada. Ela abriu a boca para dizer qualquer coisa e foi nesse momento que Carol a beijou.

           

Lili ficou rígida e Carol temeu que ela se afastasse, mas isso não aconteceu. Carol insistiu mais um pouco e, surpreendentemente, Lili respondeu.

           

Elas se beijaram. Beijaram-se como se fossem duas adolescentes, como se estivessem sozinhas, como se nenhuma das duas estivesse em outro relacionamento. Beijaram-se até ficar sem ar e um pouco após isso. Beijaram-se até o calor tomar conta das duas e se tornar insuportável.

           

Lili se afastou, mas não o suficiente, seus rostos ainda estavam próximos o bastante para Carol sentir sua respiração descompassada. A outra a olhou e novamente Carol não sabia decifrar aquele olhar. Lili deu uma risada nervosa, agora se afastando de verdade, colocando espaço entre as duas.

           

Carol deixou seus braços caíram ao seu lado.

           

— Nós deveríamos ir. – Lili declarou.

           

Ela assentiu.

           

— Vamos.

 

—***-***-***-

           

Quando elas chegaram ao hotel, Lili tinha voltado a trata-la como antes. Agindo como se nada tivesse acontecido entre elas.

           

Dessa vez, Carol realmente revirou os olhos. Quando Lili estava de costas, claro.

           

Carol parou em frente à porta do seu quarto, mas Lili não parou, continuou andando, olhando para frente, em direção à porta do quarto que ela estava dividindo com Germano.

           

— Boa noite, Carolina. – Ela disse, sem nem ao menos olhá-la nos olhos.

           

Carol bufou. Ela não estava disposta a aceitar esse tipo de atitude. Segurou Lili pelo braço, fazendo-a ficar de frente para ela. Lili tropeçou nos próprios pés, mas logo recuperou a compostura, como a mulher fina que era.

           

— Tem certeza que não quer entrar um pouco? – Carol perguntou, olhando-a nos olhos, puxando-a para mais perto até estarem coladas uma contra a outra.

           

— Tenho. – Mas sua voz vacilou e Carol soube que ela não tinha certeza de nada.

           

Carol sorriu e abaixou-se levemente para capturar os lábios de Lili. A mulher em seus braços suspirou e ela sorriu, dando um selinho e se afastando para olhá-la nos olhos.

           

— Eu acho que você quer ficar.

           

Lili não respondeu, não se moveu, e Carol abriu a porta do quarto rapidamente, entrando a puxando a outra consigo. Lili logo foi prensada contra a parede, os lábios de Carol a atacando vorazmente, na boca, no pescoço, no peito; as mãos viajando por seu corpo, apertando sua cintura, desalinhando seu cabelo, passeando por suas pernas.

           

Até que Lili a afastou, quase a empurrou; Carol pensou que ela sairia do quarto, mas ela avançou em sua direção, tomando seus lábios e guiando-a em direção a cama. Lili parecia outra pessoa, sugando, mordendo, mexendo-se em cima de Carol de uma maneira que a estava deixando louca. Esse era um lado de Liliane de Bocaiúva Monteiro que ela não conhecia, mas estava mais que feliz de poder descobrir.

           

As roupas foram retiradas com pressa e então foi pele com pele, olho no olho. Nada entre elas.

           

Novamente se pegou pensando no que Germano tinha na cabeça para querer outra mulher quando tinha a ela. A própria Carol não sabia se seria capaz de seguir em frente depois disso sem fazer comparações.

           

Lili era ativa, era mandona, mas era delicada aos lábios de Carol, suave aos seus toques. Ela era angelical, era majestosa. Dormir com a dona da Bastille era realmente uma experiência e tanto. E se fosse acontecer apenas uma vez, então que fosse muito bem aproveitado.

           

Ambas se deixaram perder naquela confusão de braços e pernas, no toque das peles, na cacofonia de suspiros e gemidos e sussurros.

 

—***-***-***-

           

Lili já tinha ido embora quando Carol acordou.

           

Ela quase pensou que talvez tudo não tivesse passado de um sonho. Mas ela estava nua e seu corpo todo ainda vibrava ao lembrar a noite passada.

           

Carol riu sozinha.

           

Foi tomar café com Pietro e Arthur com um sorriso farto, estava com um bom humor tremendo.

           

Lili apareceu um tempo depois, a mão de Germano sobre seu ombro, guiando-a. Ela não parecia particularmente feliz, parecia a mesma Lili de sempre. O casal os cumprimentou, mas Lili se retirou para olhar o mar, se despedindo da Austrália. Arthur logo se juntou a ela e os dois conversaram brevemente.

           

Germano se aproximou de Carol, com seu sorriso cafajeste cheio de segundas intenções. Carol o dispensou. Germano não tinha nada que a interessasse. Sua esposa, por outro lado...

           

Lili não lhe deu atenção quando Carol parou ao seu lado, observando o mar azul.

           

— Bom dia, Lili. – Ela desejou.

           

A mulher loira a olhou, mas não disse nada, preferiu apenas um aceno de cabeça. Carol sorriu, aproximando-se dela e baixando o tom de voz de maneira conspiratória:

           

— Você não precisa ficar com vergonha, ou se preocupar, com o que aconteceu ontem à noite. Eu não vou falar nada pra ninguém.

           

— Eu não estou preocupada. Ou com vergonha. – Ela fez uma pausa, olhando Carol da cabeça aos pés. – Eu estou um pouco assustada, na verdade.

           

Carol ergueu uma sobrancelha.

           

— Assustada?

           

— Sim. Ontem à noite eu vi em primeira mão o que você é capaz de fazer para conseguir o que quer. – A voz de Lili era baixa, calma, desprovida de emoções. O que fazia tudo ainda pior. O sorriso de Carol morreu e ela apenas foi capaz de ficar ali e escutar. – E é assustador ver até onde você está disposta a ir. - Lili sorriu aquele sorriso que não chegava a alcançar seus olhos. Ela deu um passo em sua direção, perigosamente perto. Não uma proximidade boa, uma proximidade calculada, intimidadora. – Você pode manipular meu marido, o Arthur, até mesmo o Pietro. Mas você não pode me manipular. Não pense que o que aconteceu ontem muda qualquer coisa entre nós duas. Isso não muda nada. – Seus olhos estavam fixos nos de Carol, como se esperasse que ela a desafiasse. Como não veio retaliação, Lili pareceu relaxar um pouco. – Com licença.

           

Lili caminhou até Germano, tomando seu braço e os dois saíram de lá sem lançar um olhar em sua direção.

           

Carol estava sem chão, sem ar. Sentia-se a Carol do bairro de Fátima, lutando para subir na vida, querendo agradar alguém impossível de ser agradado. Sentia-se humilhada, derrotada.

           

Sentia-se uma tonta de ter acreditado que ela poderia conquistar Lili. De ter acreditado que conseguiria mudar qualquer coisa.

           

Lembrou-se de Lili em sua cama, seu cabelo formando um halo ao redor de sua cabeça, seus gemidos preenchendo seus ouvidos, desfazendo-se ao redor dos seus dedos. Não poderia ter sido tudo fingimento.

           

Havia subestimado Lili mais uma vez e, mais uma vez, pagou caro por isso. Caro demais, dessa vez. Naquele momento decidiu que não cometeria mais aquele erro e começou a pensar que talvez essa mulher, ainda que deprimida, ainda que quebrada, era mais forte do que Carol jamais poderia ser.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deixem comentários.