— Bill? — Dipper chamava o loiro, que se virou para encontrar com um par de olhos castanhos.
— Ah, Pinheirinho! O que foi? — Bill perguntou tentando manter sua voz entusiástica, mas era claro que ele estava cansado.
— Você não ia dormir?
Dipper se sentou do lado dele na cama, com um olhar curioso.
— É... Acho que eu não consigo mais dormir sem você. — brincou, mas aquilo era a mais pura verdade. Já era praticamente hora do almoço e o Bill não conseguia descansar de forma alguma.
— Oh. Você vem pro almoço?
— Nah, não estou com fome agora.
Bill deu de ombros, fazendo com que o outro erguesse uma sobrancelha.
— Você... tá bem?
— Voltou a me interrogar nas manhãs, Pinheirinho? — abriu aquele velho sorriso de sempre, que naquele ponto já estava se tornando uma máscara para esconder como realmente se sentia.
— Eu diria que sim. — brincou, com um sorriso pequeno que logo se transformou em uma expressão preocupada — Mas se algo estiver errado, sabe que pode me contar, certo? Eu tava falando com o Tivô Ford agora e... Bill?
Dipper viu o rosto do outro perder a cor em poucos segundos, aqueles olhos claros — só agora percebeu que Bill não estava cobrindo seu outro olho — se arregalando.
— V-Você não contou pra ele, certo..? — o loiro o encarava cheio de nervosismo, assustado como Dipper nunca o vira — Sobre as marcas, e seus sonhos, e...
— N-Não! Claro que não! — interrompeu o outro, usando ambas mãos para levantar o rosto dele e encontrar seu olhar — Eu te prometi que não contaria. E teria feito isso mesmo se não tivesse prometido, ok? Você sabe que pode contar comigo!
O loiro concordou com a cabeça e abraçou Dipper, que ficou um tanto confuso com a ação. Dipper não conseguia entender como Bill estava se sentindo, mas assumiu que aquilo era o medo ingênuo dele de perder a forma física de novo ou algo assim, então apenas retribuiu o abraço em silêncio. Bill Cipher nunca admitiria ter medo, e Dipper Pines não questionaria isso — afinal, isso é parte da personalidade dele,  e forçá-lo a admitir num momento desses seria pura crueldade.
— Então... O que você disse pra ele? — o loiro se soltou do abraço, olhando nos olhos do outro.
— Eu só disse que você não fez nada de errado até agora e que você prometeu que iria nos deixar em paz depois que- Ah... Você não vai realmente deixar Gravity Falls, né?
— Esse foi nosso acordo, garoto! Quer dizer, não foi realmente um contrato, mas...
— Isso significa que você pode ficar?
— Acho que sim. Meus poderes ainda não voltaram completamente, então não posso te dizer com certeza... Mas olha isso!
Bill fez seus olhos piscarem em amarelo novamente, exatamente como fez algumas horas atrás ao se encontrar com Stanford.
— Isso é um bom sinal?
— Claro que é! Isso significa que meus poderes estão voltando. Lentamente, mas estão! Eu fiquei treinando na frente do espelho pra te mostrar!
Dipper quase riu com essa última frase, Bill era muito fofo quando animado. Pff, quem ele queria enganar, Bill é sempre fofo.
— Por isso você tá sem seu tapa-olho! E também por isso parece tão cansado.
Bill deu de ombros, levantando da cama em uma fração de segundo e se virando para seu namorado.
— Vamos, não temos tempo a perder! Preciso ver se mais algum dos meus poderes voltou!
— E-Espera, Bill, o Tivô Ford tá lá embaixo e...
— Quem liga! Nós vamos pela janela, mesmo.
— O quê?!
Bill abriu a janela sem hesitação e pulou para o galho de uma árvore com facilidade, se virando para Dipper com um sorriso largo.
— Vem, Pinheirinho!
— Uh... Eu prefiro usar a porta.
— Aww, mas aí não tem graça. Ei, olha o que eu consigo fazer! — se pendurou no tronco com as pernas, como se fosse um morcego — Wow, esse corpinho humano é mais flexível do que parece!
Dipper tinha que admitir que aquilo era adorável, mas não deixava de ser perigoso.
— B-Bill! Você vai se machucar!
— Pff, Pinheirinho, está tudo sobre controle! Você vem?
— ...Vou usar a porta mesmo. — falou, correndo para descer as escadas e sair da Cabana do Mistério, se posicionando de baixo da árvore, pronto para segurar o outro caso um acidente acontecesse.
— Desce daí logo, eu não quero ter que cuidar de você caso algo aconteça.
— Rude. — Bill murmurou, agarrando no galho com ambas mãos e se pendurando. Quando soltou, em vez de cair direto no chão percebeu que estava flutuando, assim como fazia em sua antiga forma — PINHEIRINHO! Pinheirinho, Pinheirinho, Pinheirinho! Você tá vendo isso? Eu consigo flutuar!
O rosto do loiro se encheu de felicidade enquanto ele se aproximava de Dipper, que não aguentou e sorriu de volta. Os olhos de Bill estavam amarelados novamente, o que o deixava um pouco assustador, mas para o moreno aquilo não fazia tanta diferença desde que ele estivesse feliz.
— Eu senti tanta falta disso! Será que eu consigo... — Ele olhou para suas mãos, e conseguiu fazê-las se envolverem em chamas azuis por alguns segundos — Eu consigo!
Ele parecia tão entusiasmado, flutuando por aí e com as chamas nas mãos, mudando sua roupa atual para uma que realmente lembrava Bill Cipher, com gravata borboleta e tudo. Então seus poderes estavam de volta, huh?
— Eu estou tão feliz, Pinheirinho! — o abraçou super forte.
Dipper estava prestes a responder, a dizer que estava feliz por ele, mas algo estava errado. Do nada, Bill ficou em silêncio, seus braços ao redor da cintura do moreno se soltando.
— Bill? — afastou o outro pelos ombros, apenas para o ver com os olhos fechados firmemente, com o rosto avermelhado, se apoiando em Dipper para se manter de pé.
— Eu... Eu tô bem... — murmurou, após cair inconsciente nos braços do outro.
— Bill, sua definição de "bem" é horrível.
Encarou o outro sem saber o que fazer, e ao colocar uma mão no rosto dele percebeu que estava mais quente que o normal. Mas aquilo não fazia sentido, do nada ele consegue seus poderes de volta e em seguida desmaia.
Dipper começou a entrar em pânico. Queria levá-lo para a Cabana mas Stanford Pines estava lá, e já sabia que ele e Bill juntos não daria certo. Apesar de que, pensando bem, talvez o Tivô Ford pudesse o ajudar nessa situação... Afinal, ele conviveu por muito mais tempo com Bill Cipher e, de acordo com o mesmo, já tinha visto a forma humana dele antes.
Suspirou, levantando o garoto em seus braços e chamando por Stanford.