Flor da meia-noite escrita por Tha


Capítulo 43
XLIII – Me abrace, me emocione, me beije, me mate


Notas iniciais do capítulo

FAAALA CAMBADA, TUDO BOM? Hoje o capítulo tá meio feels, então me perdoe desde já.
Ps: A fic já tá quase acabando mas tô pensando em escrever uma segunda, me digam se tudo bem a ideia. Acho que mais dois capítulos e depois The end (FINALMENTE né non?



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Eu não dormi
Entre a execução de algo temeroso
E o primeiro ato, todo o ínterim é
Como um fantasma, ou um sonho terrível:
O gênio e os instrumentos mortais
Estão então em concílio; e o estado do homem,
Como para um pequeno reino, sofre então
A natureza de uma insurreição.

William Shakespeare, Julio César.

Da última vez que deixei meus pais, não houve qualquer aviso. De algum modo, acabou ficando mais fácil. Me despedir só da minha mãe agora é tão difícil que quase coro para a segurança (ou não) da moto de Jason. Mas me forço a abraça-la, tentando oferecer algum conforto, ainda que quase inexistente, ainda que falso.

O problema é que às vezes minha mãe me conhece até mais que eu mesma me conheço, e sabe quando estou tramando alguma coisa, ela disse que nunca consigo olhar nos olhos dela quando algo está pra acontecer.

— Eu vou voltar – Sussurro, aninhando a cabeça na curva do ombro de minha mãe, preciso me abaixar um pouco, mas ainda assim é bom. Os dedos dela correm pelo meu cabelo e fazem tranças rapidamente, com habilidade. As pontas loiras já cresceram e estão quase na metade das costas.

— Prometa Ally – Ela sussurra de volta – Não posso perder você também.

Faço que sim, ainda com a cabeça apoiada nela. Não quero me mexer, mas me afasto e seguro a mão de Jason estendida pra mim. Saio da casa jogando um último olhar de complacência para a mulher parada perto do sofá. Preciso voltar por ela.

♕♕

— Olha só, parece que alguém conseguiu chegar aos dezenove – A voz inconfundível de Hazel ressoa atrás de mim e eu me viro pronta para um abraço de urso – Feliz aniversário, Hale.

— Ah, obrigada, Parker – Sorrio de volta e nos soltamos, mas mantenho os braços esticados no ombro dela – O que houve com a sua cicatriz?

— A... Kaleesa decidiu que era mais fácil fazer um feitiço de ocultação geral, ao invés de só com algumas pessoas – Ela parece nervosa, mas decidi não perguntar.

— Hm, você parece diferente – Sorrio e Hazel tenta disfarçar, olhando para todos os lados menos para mim, até finalmente suspirar.

— Me sinto diferente.

— Você precisa ver isso, Ka está ensinando Miriel a beber tequila – Aponto para outra mesa de bebidas onde a bruxa, o nephilim milenar e Kyla se divertem.

— Vou lá cumprimentar eles – Ela começa a sair, mas volta e me abraça de novo – Eu te amo, ok?

— Eu sei – Aperto sua mão. Sei que ela quer me proteger do que pode acontecer hoje, do que contei a ela, e me sinto infinitamente melhor quando ela, de fato, não tenta me impedir – Eu também.

Um minúsculo botão de felicidade desabrocha no meu peito, uma sensação estranha depois de tantos dias de desespero. Protejo-a como a chama de uma vela, tentando mantê-la viva.

Jason estava do outro lado do armazém, conversava com Jake enquanto checava o DJ fazer os últimos reparos no som. Daqui a pouco o pessoal chegaria e não teríamos mais nem um minuto calmo a sós. Sou pega o encarando e ele sorri torto. Olhei no rosto dele e pensei: Merda, eu o amo.

Me virei para arrumar a mesa das bebidas pela milésima vez quando senti aquela respiração quente no meu pescoço.

— E aí – Jason sorri.

— Vem sempre aqui?

— Só quando você vem – Rio e envolvo seu pescoço com os braços – Como se sente?

— Fora meu coração terrivelmente cansado? Tudo certo.

— Ahn... Flor, a Hazel me contou que planeja algo grande pra hoje a noite, será que pode... conversar comigo sobre isso?

— Bom, o plano, no caso, precisa de um bote expiatório, sabe o cara da bomba?

— Sei, tá legal. Espera, você?

— É, pode se dizer que sim.

— Não! De jeito nenhum – Jason me puxa para um canto mais afastado e segura meus braços – Esperei mais de mil anos para finalmente ficarmos juntos, você só pode estar louca.

— Hm, siga sua intuição, Ally — Digo para mim mesma – Agora aprendi.

— Não, Allyson, olha pra mim – Ele segura meu rosto e tento desviar – Você vê um futuro comigo?

— Eu vi desde a primeira vez que pus os olhos em você.

— Então não vá nessa missão suicida. Por isso todo aquele papo de jurar pelo Anjo, não é? Toda a insistência na reunião.

— Tecnicamente, é só meio suicida, porque....

— E se alguma coisa der errado? Eu não posso mais te proteger.

— Não quero reviver essa antiga briga, mas é a minha escolha, e eu quero que pelo menos dessa vez, como presente de aniversário, a respeite.

— Sabe que é golpe baixo.

— Eu vou voltar, eu prometo, vou voltar pra você – Jason me beija com tanta intensidade que quase acho que ele realmente pensa que não vou ficar com ele, que tudo isso vai acabar quando o plano começar a andar, quase como um beijo de despedida.

As luzes são ligadas e somos tomados por brilho neon e sombras dançantes na pista ao nosso lado. Rimos e eu o abraço.

— Me promete que isso é pra sempre.

— Pelo Anjo – Ele responde.

As pessoas não paravam de chegar, era tanta gente que eu ficava perdida com os cumprimentos e abraços. Tinha me esquecido totalmente do quanto meu nome influenciava essa cidade pequena. Todas as meninas do time apareceram e isso bastou para deixar minha noite completa.

Não vi mais o Jason e tenho a leve impressão que ele foi em casa trocar de roupa quando percebeu que a festa seria tudo, menos formal. Ri comigo mesmo e enchi o terceiro copo de bebida. Ou seria o quarto?

Dei uma volta no geral para vigiar os nephilins que a Convenção tinha mandado especialmente para mim e minha proteção. Pareciam estar se divertindo, então resolvi me despreocupar e dançar um pouco com as meninas.

Finalmente conheci o Elliot! Ele é um cara completamente encantador e fazia Clove feliz, ela merecia isso mais do que qualquer pessoa aqui. Fiz mais uma nota mental: deixar ela bem longe quando o meu convidado de honra chegasse.

— Você sempre deu as melhores festas – David se aproxima com as mãos no bolso. Hazel e Clove assobiam e saem rindo da minha cara, nos deixando sozinhos – Sabe, eu estava me sentindo um pouco estranho, com furos na memória e meio que constantemente atraído por você mesmo sabendo que éramos apenas amigos. Então perguntei a Kaleesa o que estava acontecendo, e ela me disse que alguém poderia ter usado Persuasão em mim.

— David.

— Aí ela tirou o feitiço, e adivinha quem tinha posto ele? Atualização, ainda estou tentando entender o porquê.

— Era o caminho mais fácil, para nós dois.

— Sei, o papo das linhas. Você mudou, Ally – David começa, e quando abro a boca para contestar, ele levanta a mão – Não estou chateado por isso. Depois do que você passou, seria impossível para você não mudar. Eu só estou chateado porque não quero ver a pessoa que conheci no baile de máscaras, aquela pessoa boa, sempre disposta ajudar no fim das contas... não quero vê-la perder-se em tudo isso.

Eu o abraço com toda a força humana que consigo.

— Eu nunca te agradeci.

— Pelo que?

— Por tudo. Por me ajudar com tudo que ajudou na minha vida, por ajudar aqueles que amo.

— Allyson...

— Ainda não acabei. Eu ainda quero agradecer por você ter me dado tudo que eu sempre quis, essa paixão que me consumiu como fogo, as aventuras, os momentos, os presentes. Eu não podia querer mais nada além de que durasse pra sempre, mas eu amo o Jason, e acabou que a Elise estava certa em alguns pontos, de algum jeito, sempre nos encontramos. É esse amor que vira meu mundo de cabeça pra baixo. Sempre serei apaixonada por você, David, lá no fundo do meu coração, mas eu preciso deixar você ir, preciso deixar você ser feliz.

— Então você escolheu. É um adeus?

— Não é um adeus, não vou deixar você sair da minha vida – O abraço de novo – Mas não vou te hipnotizar dessa vez.

— Tá tudo bem, Ally, de verdade, eu entendo agora.

— Eu queria te pedir um favor – David faz que sim com a cabeça e cruza os braços – Fica de olho no Jason pra mim? Não deixa ele ir lá fora, não sai de perto dele, preciso resolver umas coisas e não quero nenhum dos dois envolvidos, entendeu?

— Resolver umas coisas – Ele desenha e arqueia as sobrancelhas. Junto as mãos em sinal de súplica – Tudo bem, vou ver o que posso fazer.

David sai andando e aproveito a deixa para abrir a bolsa e checar com cuidado o frasco com líquido verde lá dentro. Tudo em perfeita ordem.

Holland apareceu na porta de correr do armazém abandonado. Nossos olhares se encontraram e soube bem o que ele quis dizer: Estava na hora. Peguei o frasco da bolsa, respirei fundo e andei a passos decididos em direção à saída.

Parei no meio do caminho e olhei para trás. Eu deixaria mesmo todos aqueles que amo aqui? Sem saberem o que aconteceu para eu ter sumido. David estava com Jason, o amor da minha vida parecia entediado, mas não deixava de sorrir e acenar com a cabeça.

Algo me deteve mais a frente, o olhar gelado de Holland me fez olhar para o lado e descobrir Ava parando as pessoas, perguntando por mim.

— Allyson Hale – Ela segurava o braço de quem passava – Estou procurando por Allyson Hale – Mas como estavam todos bêbados, mal notaram sua presença. Até que ela parou a Kate – Oi, recebi informações de que Allyson Hale estaria nessa festa.

— Hey, a festa é aniversário dela, deve estar por aí.

— Você pode...

— Vem – Pego o braço de Ava com força e a conduzo até saída, onde Holland espera impaciente e suando de nervosismo. Quando passo por Hazel, deposito em sua mão o frasco mais poderoso da noite – O que tá fazendo aqui?

— Azul! – Ela exclama e me abraça, não deixo de me sentir um pouco mais protegida com o gesto – É seu aniversário? Como ainda está viva?

— Eu sou a Filha da Profecia, agora me responda, o que faz aqui? – Sei que devo parecer um pouco rude, mas com esse contratempo, temo que meu plano não corra como o esperado.

— Você está tão bonita, e tão diferente com essas roupas caras – Faço careta – Tudo bem, o acampamento corre perigo, os Caídos estão ultrapassando as barreiras, conseguimos deter a maioria, mas pode ser que mais cheguem. Quase pegaram a Pryia, Azul, fiquei com tanto medo, então pensei que você e sua bruxa pudessem nos ajudar.

— A Pryia está bem? – Arregalo os olhos, preocupada com a situação, e com Pryia, aquela pirralhinha animada – Holland, chame Kaleesa, seja discreto a Kaleesa.

— Claro.

— Os Caídos... estão sendo modificados, estão mais fortes, Darko está criando uma super raça. Ultrapassar as barreiras deve ser um dos efeitos – Explico andando de um lado para o outro – Estou indo mata-lo agora mesmo. Ou melhor, ele vem ao meu encontro.

— Azul...

— Não, é o meu destino.

— Não consegui ser discreto – Holland anuncia, trazendo consigo Kaleesa, Jake, os gêmeos e Miriel – Desculpa.

— O que está acontecendo? – Jake pergunta por cima do barulho da música lá de dentro.

— Que bom que estão todos reunidos! – Ouço uma voz grave e pelo menos dez caídos nos cercam na praia. O mais alto deles se aproxima de mim e sorri – Fiquei sabendo de uma festa.

— Cujo não foi convidado – Desdenho dando um passo para trás e cerrando os punhos. Eu poderia acabar com cada um deles, mas ainda não é a hora – Onde Darko está?

— Darko está em todo lugar.

— Ora, então chame seu Deus – Abro os braços e sorrio.

— Azul – Ava diz em tom de aviso, como fazia conosco na Grécia. Bom, não estamos mais no acampamento, e com certeza não preciso mais de sua proteção.

— Apareça! – Grito para o nada e me viro esperando ver o corpo do meu melhor amigo surgir na multidão. Sei que ele está aqui em algum lugar, não é tão covarde.

Tudo acontece rápido demais. Miriel parte pra cima de um dos caídos, mas seu fogo não basta para detê-lo, e como consequência, é jogado para longe e arrastado pela areia. O Caído o pega pelo colarinho e ele se debate, tentando se soltar.

O outro Caído que estava conversando comigo faz um discurso sobre como está impressionado com a burrice dos Nephilins hoje em dia e faz algo impensável: se vira e com um gesto simples, rápido e mortal, enfia quase metade do braço no peito de Apolo, arranca seu coração e lambe o sangue do mesmo.

Estou parada e sem reação, tento fazer com que meu poder emane de mim, mas algo me impede. Magia. Estão começando a silenciar dons também. Kaleesa está no chão, assim como Holland e Ava. Nick grita e abre a boca, expondo as presas, seu olho ganha um tom vívido de azul, mas logo é detida também.

Jake ganha pelos pelo rosto e seus olhos, por sua vez, ficam dourados. Está quase se transformando, mas uma nova onda de Caídos aparece e rende a todos. Enquanto isso cá estou eu, sem saber o que fazer, sem saber como um plano impecável acabou se tornando isso.

— Chega.

A voz zoa como um relâmpago. Solto a garganta do Caído que tentou pegar, levanto com um pulo e tento correr para salvar os outros. Antes de conseguir chegar a Jake, o mais alto me puxa. Tropeço e caio de joelhos de encontro a areia molhada. Alguém chuta o meu rosto e me lança com tudo para a água salgada. Consigo disparar um “raio” na sua direção, mas estou tonta e o agressor é rápido, então atinjo uma árvore ao longe.

O joelho do Caído atinge minhas costas com tanta força que perco o fôlego que me restou. Dedos calejados se fecham ao redor da minha garganta. Aranho para tentar me soltar, mas nada funciona. De algum modo estou cada vez mais fraca. Ele me levanta sem dificuldade e me força a esticar os pés até o chão para evitar uma asfixia, a essa altura já estou sem os saltos. O pânico atravessa meu corpo como uma lâmina, e meus olhos arregalam a procura de alguma saída. Mas vejo apenas meus amigos, ainda rendidos no chão pelos parceiros deste, forçando uma liberdade, em vão.

— Pare! – Consigo, enfim, fazer alguma palavra sair. Forço meus músculos exauridos, tentando me desvencilhar do gigante a moda antiga, sem poderes, sem nada. Nada mais inútil – Pare!

— Ah, Ally, você não está em posição de negociar nada.

Adam ainda consegue ser discreto, se mantém na escuridão por um tempo. Observo a silhueta surgir das sombras. Seu rosto não combina com suas palavras, ainda parece o menino doce que conheço desde criança. Mas há círculos roxos sob os olhos, e uma camada de suor se espalha pela testa. Todo esse trabalho com sua cobaias monstruosas teve seu preço.

As mãos na minha garganta afrouxam um pouco, o que me permite falar. Mas ainda estou pendurada, e preciso continuar me apoiando com os dedos dos pés na areia fria. Droga, Hazel, cadê você?

Nada de acordos. Nada de trocas. Não dessa vez. Ele sempre me quis.

— Sei que ainda está aí dentro, Adam, seja um pouco mais forte, se liberte disso.

— Você jura? – Ele pergunta, arqueando a sobrancelha.

Meus amigos ainda estão lutando para se soltarem, menos Nick, ela se deixa levar pela dor de perder seu irmão e suas lágrimas se misturam na areia, onde seu rosto é prensado. Não tenho nenhum tempo a perder. Eu daria qualquer coisa para mantê-los vivos. Qualquer coisa. E pensar que Jason, David e Hazel estão seguros lá dentro me dá uma pontada repentina de alívio, mesmo que passageira.

Mas minha visão se turva, não sei se são lágrimas, e uma pulsação lenta soa em meus ouvidos. Ele vai me estrangular, pegar meu sangue e renascer, com o resto, vai formar um exército gigante que nenhum nephilim na Terra poderá deter. E os outros morreram comigo.

Farei qualquer coisa para mantê-lo vivo. Para mantê-lo comigo. Para não ficar sozinha. Ele prometeu que seria para sempre.

— Tenho algo para oferecer em troca – Murmuro, ríspida.

— Ah é? – Adam dá mais um passo. A presença dele faz minha pele arrepiar – Então me diga, e quem sabe a gente não entra em um acordo.

De novo, minha garganta parece mais livre. Mas o Caído, com a boca toda suja de sangue, pressiona o polegar contra a minha veia, numa ameaça bem clara.

— Vou lutar com você até não ter mais forças – Digo – Todos nós vamos, nem que eu morra essa noite. E eu juro que levarei você comigo.

Adam pisca e seu sorriso some. Ele sabe muito bem do que sou capaz.

— Não vou te matar, vou te torturar todos os dias, de todas as formas diferentes, Allyson, guarde bem minhas palavras.

O polegar no meu pescoço também reage, pressionando com mais força, provavelmente deixando um hematoma espetacular. De repente sinto uma vontade histérica de rir.

Mas o que Darko me reserva, na verdade, é muito, muito pior.

Jake grita mais uma vez. Queria poder dizer a ele para ficar quieto, para me deixar fazer o que é necessário. Para me deixar salvá-lo, como ele já me salvou tantas vezes.

Ao lado dele, Kaleesa tenta murmurar algum feitiço, mas é completamente em vão. Ela me conhece há muito tempo e compreende minha expressão imediatamente. Devagar, cerra os dentes e começa a franzir as sobrancelhas.

De repente tudo muda. Um dos capachos dele sai do armazém carregando alguém. É Jason, cansado e com a boca sangrando. Ele me vê e tenta correr até mim, mas é barrado. Me viro para Adam.

— Deixe eles irem. Deixe eles viverem – Grito. Hazel não vai chegar, e David está dançando com a Peyton. É o fim.

As mãos do Caído parecem correntes, e imagino todo o meu corpo coberto por correntes, cada milímetro, torcidas como correntes de metal.

— Ally, não sei se você entende a definição da palavra troca – Adam desdenha – Você tem que me dar alguma coisa.

Não vou voltar para ele por ninguém, disse a mim mesma depois de conseguir escapar da última vez. Mas isso foi antes de mexerem com meus amigos. Antes de pegarem o meu namorado.

Ele estava suplicando para que eu voltasse.

— Não vamos lutar. Eu não vou lutar – Digo. Quando o Caído me solta, de repente fico sem chão. Baixo a cabeça, incapaz de olhar para cima. A sensação é de que estou curvada diante dele. Este é o meu acordo – Deixe o resto ir e serei sua prisioneira. Vou me render. Vou voltar.

Fixo os olhos nas minhas mãos sobre a areia. O frio é familiar. É como meu coração e o buraco que cresce nele. Sinto muito, Jason, prometi que ficaríamos juntos, e agora estou indo embora de novo. A mão de Adam surge sob meu queixo, quente, ardendo com um calor doentio. Arriscar me tocar é uma mensagem bem clara: ele não teme a Filha da Profecia, ou pelo menos quer passar essa impressão. Ele me força a encará-lo, e não vejo nada do garoto que foi um dia. Há apenas escuridão. Vou matar Darko.

— Allyson, não! Não seja idiota! – Mal ouço a súplica de Jason. Sinto muito. O ruído da minha cabeça é tão alto, tão doloroso. Não é a vibração do meu poder, mas outra coisa dentro de mim. Meus próprios nervos gritam em protesto. Mas, ao mesmo tempo, sinto uma espécie de alívio. Muitos sacrifícios foram feitos por mim, por causa das minhas escolhas. É justo que seja minha vez de me sacrificar, de aceitar o castigo que o destino me reservou.

Adam me encara bem, à procura de uma mentira que não existe. E faço o mesmo. Apesar da pose, ele tem medo do que fiz com ele no penhasco, das palavras da Filha da Profecia e do efeito que elas têm. Ele veio aqui para me matar, para me jogar no chão. Agora encontrou um prêmio melhor, que lhe dei de bom agrado. Darko é um traidor por natureza, mas vai manter a palavra dessa vez. Vejo isso em seus olhos. Ele me quer, e fará qualquer coisa para me ter em sua coleira de novo.

Você fez o certo, é o seu destino.

Finalmente a Filha da Profecia se revelou.

É tudo uma questão de sacrifício, Allyson.

Está na hora, querida Meu pai está ali na areia, longe de toda a confusão. Ele estende uma mão pra mim e sorri.

Está na hora.

— Miriel, faça alguma coisa! – Ele berra, batendo e mexendo o corpo – Jake! Não deixa!

Não consigo olhar para ele. Quero que se lembre de mim de um jeito diferente. De pé, no controle. Não assim.

— Temos um acordo? – Me reduzi a uma pedinte, suplicando para que Darko me ponha de novo em sua gaiola dourada – Você é um homem de palavra?

Crescendo sobre mim, na minha frente, o rosto de Adam sorri quando cito suas palavras. Seus dentes brilham.

Os outros estão gritando agora. Balançando-se. Presos. Não ouço nada. Minha mente se fechou a tudo exceto a troca que estou disposta a fazer. As mãos de Adam passam do meu queixo para a minha garganta. Ele aperta mais forte. Não como o Caído, mas de uma maneira bem mais dolorosa.

— Temos um acordo.

Mantenho o olhar fixo à minha frente, mantenho os pés avançando. Fora a dor terrível no peito e no estômago, meu corpo parece entorpecido. Não consigo sentir o chão abaixo de mim ou o vento passando pelas árvores e batendo em meu rosto; não consigo sentir calor.

Quando eu era pequena lembro-me de sair para minha primeira corrida e me perder no final da rua Congresso, onde eu havia passado a vida inteira brincando. Virei uma esquina e me vi na frente de uma lavanderia e, de repente, não conseguia lembrar onde eu estava ou se minha casa ficava à esquerda ou à direita. Nada parecia igual. Tudo parecia uma réplica pintada, frágil e distorcida, como se eu estivesse em um quarto dos espelhos em um parque de diversões, vendo o reflexo de meu mundo normal. Adam me encontrou e a partir desse dia começamos a andar de bicicleta sempre. É assim que me sinto agora, de novo. Perdida, encontrada e perdida novamente, tudo ao mesmo tempo.

Hazel surge das sombras, pula no ombro do Adam e enfia a seringa em seu pescoço. Caio com o puxão e arrasto o rosto na areia. Ele empurra ela pra longe, que cai inconsciente. A cena que vem a seguir me causa repulsa.

Todo o corpo do meu amigo é tomado por espasmos, seu rosto fica verde, uma luz verde, como magia, gira ao seu redor, e de repente, como nunca vi antes, seu corpo começa a se separar, gerando outro.

Nesse momento sou atingida por algo na nuca e desmaio.

Acordo com o céu azul acima de mim. Estou deitada em uma superfície lisa e marrom, parece o deque de um barco chique. Há um homem deitado de frente pra mim, tem olhos azuis. Leva o dedo indicador até minha testa e volta com ele sujo de sangue até a língua.

— O que aconteceu? Estou em casa? Cadê a Hazel?

— É verdade o que dizem sobre sangue nephilim, ainda mais sangue original. Allyson, seu sangue é maravilhoso.

Claro, o ataque, Darko se separando do corpo de Adam depois que Hazel injetou o soro nele.

— Onde estou?

— Em um barco, no meio do pacífico, seguindo as linhas Ley.

— Você... – Tento me sentar e coloco a mão na testa, fechando os olhos com força por conta da dor. O balanço do barco me causa enjoo – Você é Darko?

— Eu? Darko? – O homem ri – Sou muito mais charmoso que ele.

— Tudo bem, Finn, já chega – A voz é grave e me causa arrepios. É o homem do meu sonho, com olhos completamente vermelhos – Oi, filinha, é um prazer finalmente poder falar com você com um corpo adequado. Vamos conhecer sua nova casa.

Fico tonta e desmaio de novo.


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