Flor da meia-noite escrita por Tha


Capítulo 19
IXX – Ache os Arcanjos. Mate Jason Benacci.


Notas iniciais do capítulo

OPA, TUDO BOM? Voltei rápido dessa vez, me amem.



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 Corro.

Os punhos das ondas rasgam a areia enquanto forço pesadamente um pé à frente do outro. Escalo, escorrego, repito o processo. Mais rápido. Olhos fixos nas dunas à minha frente. Não olhe para trás. Não devo olhar. Respiração ofegante; inspira, expira; inspira, expira. Ainda assim eu corro.

Quando os pulmões estão prestes a entrar em combustão e o coração a explodir, uma estrela carmesim surge na areia, tropeço.

Um homem retorna. Ergue-me e apressa-me.

Está chegando mais perto.

Não posso aguentar, e caio novamente. Não consigo mais correr.

Ele se ajoelha para me pegar e olha em meus olhos.

— Está na hora. Rápido, agora!

Está perto.

Sem chance de resgate.

— Jamais esqueça quem você é! – Ele grita, segura meus ombros com firmeza e me sacode com força.

Um manto de terror suprime o mar. A areia. Suas palavras, as contusões em meus braços, a dor em meu peito e pernas.

É aqui.

Acordo sem saber onde estou. Está chovendo e mal percebo quando meus pés começam a se mover.

Minha mão treme no instante em que me apoio no muro de tijolos. A chuva fria cai com força na minha pele, vinda de um céu que não reconheço. É difícil respirar, difícil entender onde estou. Tudo que sei é esse desejo voraz de caçar Hazel Parker e Jason Benacci.

Não há tempo. Não sei se tenho minutos, segundos ou até menos que isso. Desesperada, começo a vasculhar estas roupas desconhecidas: Um vestido curto e uma jaqueta brilhante sem bolsos, entro no quarto no qual acordei, de novo. Não consigo achar uma caneta ou um papel, mas há batons em uma gaveta de maquiagem. Com os dedos trêmulos, tiro a tampa e começo a rabiscar o espelho na parede. É a mensagem que preciso guardar, o único objetivo do qual tenho que me lembrar depois que tudo o mais que me faz ser quem eu sou desapareceu. 

Ache os Arcanjos. Mate Jason Benacci.

Depois disso, posso apenas esperar pelo pior.

Encarei meu reflexo no espelho, meus olhos tinham um tom estranho de azul, quase verde, brilhavam como duas esmeraldas azuladas. Porque eles ainda não tinham ficado totalmente verdes? Raiva era só o que eu conseguia sentir e os fechei com força. Não queria ver isso de novo. Minha cabeça estava chiando como uma tv com defeito. 

— Allyson – Ouço Adam chamar meu nome e me viro assustada.  

— Sim?

— Minha nossa, andou dançando na chuva?

— Gosto da chuva. Acordei sem me lembrar de muita coisa, me sentindo estranha, precisava me purificar. 

— A Allyson e a Adina que conheço não são moles assim. Podemos ir? Tenho uma surpresa pra você.

— Onde estou?

— Nos túneis da antiga usina hidroelétrica.

— E o que eu estou fazendo aqui?

— O meu trabalho sujo. Vamos, espero que o treinamento no galpão tenha sido suficiente. 

— Pra que? - Juntei as sobrancelhas enquanto ele pegou minha mão e me levou pelo corredor estreito. 

— Para a guerra, Allyson.

— Tem um caído aqui – Digo ficando nervosa sentindo a escuridão me cercar.

Odeio anjos caídos, vou matar todos eles. Tenho que matar todos eles. Matar todos eles.

Chego em uma sala suja, cheia de correntes, canos e entulho, duas janelas grandes empoeiradas. Em uma cadeira no centro vejo um homem atado a ela. Ele está de cabeça baixa e respira com dificuldade. Os cabelos são negros como a noite e os músculos saltam da camiseta regata. É Jason. Jason Benacci.
Começo a correr pra cima dele, a raiva bem evidente em meu rosto. Não se pode deixar nenhum caído passar. Puxo seus cabelos pra cima e o faço encarar meus olhos. 

— Oi Flor – Ele tem a ousadia de dizer com a voz cansada. E ainda sorrir pra mim. 

— Não sou sua Flor.

Com a mão esquerda eu seguro seu cabelo, e com a direita acerto seu queixo com força. Jason cai no chão com cadeira e tudo e chuto suas costelas.

— Seu maldito caído! Escória! – Continuo batendo sentindo a fúria se apoderar de todo o meu corpo.

— Tudo bem, Ally, já chega.

— Não se pode deixar nenhum caído passar. Ache os Arcanjos. Mate Jason Benacci.

— Hoje não – Ele diz com a mão em meu ombro – Vá para o seu quarto, já me diverti.

— Como quiser – Aceno com a cabeça e sigo meu caminho. Mas alguma coisa dentro de mim diz que tenho que parar e ouvir.

— O que fez com ela? Porque fez isso?

— Eu a transformei na assassina perfeita. O soro separa o bem do mal. O que você viu aqui foi o pior de Adina, e o pior de Allyson. Você não tem ideia do que está por vir, Jason.

— E porque fez isso?

— Você precisa saber as histórias verdadeiras, para só então reconhecer as falsas.

— O que isso quer dizer?

— Vai descobrir.

Ouço passos e corro pelos túneis até o meu quarto. Meu desconhecido quarto.

— Você vai pra casa – Adam diz entrando – Quero que aja como sempre agiu. Clove e David não são seus inimigos – Ele olha bem no fundo dos meus olhos – Mandarei minha bruxa pra você, e uma outra nephilim, não vai ficar sozinha.

— Não vou ficar sozinha.

— Eu sou seu melhor amigo, Ally, você precisa de mim.

— Preciso de você.

— Bom. Agora vai se secar e se trocar. Te encontrarei aqui dois dias por semana, esse será seu quarto.

— Entendi.

— Não mate Jason até segunda ordem.

— Tudo bem.

— Vou te levar – Adam pega minha mão e saímos da hidroelétrica.

P.O.V. Jason

Fui jogado do lado de fora do prédio. Ferido e sujo. A noite ja começa a chegar e me ajoelho sentindo minhas forças deixarem meu corpo.

Aquela não é a minha Adina. Tentei colocar isso na cabeça enquanto era torturado pelo meu próprio amor. Aquela não era a minha Adina. Seus olhos não estavam verdes, não como os da Clove ou do David. Ainda tinha um pouco de azul ali, quase imperceptível, mas tinha, o que me deu um pingo de esperança e forças pra me levantar e seguir meu caminho.

Eu precisava avisar a Hazel que em algum lugar, Allyson ainda estava lá tentando fugir.

Encontrei meu celular jogado na beira da estrada, junto com a chave da moto. Tinha três chamadas perdidas da Hazel, então eu retornei.

— Jason... – Ela disse com a voz embargada – Estou na escola, vem me buscar. Eve me atacou e... pelo Anjo, acho que perdi minhas asas.

Logo estávamos os dois na minha casa. Machucados e sem saber o que fazer. Adam pensou em absoluto tudo e agora o grupo estava separado, sem poderes e sem dignidade.

Eve usou as garras de um lobo de Wyckoff, enfiando-as em suas costas, para tirar os dons da Hazel, sua energia vital foi drenada e agora Allyson não tem mais anjo de luz ou anjo da guarda. Nada. Ela está sozinha nas mãos daquele insano e não podíamos fazer nada. Toda a conexão foi perdida e a alma da Allyson vaga sem um guia, era um desastre total. E até bolamos algum plano sem falhas, a coisa mais sensata a se fazer era esperar as feridas se curarem com o tempo, tanto as físicas quanto as emocionais, porque sem a Allyson não tínhamos um plano, uma saída, ou qualquer coisa que nos tire desse buraco.

— Jake tá vivo – Digo enquanto Hazel passa um algodão com alguma das misturas dela em mim – Adam me disse. Ele também disse que ela vai ganhar uma bruxa, então tá como um escudo.

— Praticamente impenetrável.

— Exatamente.

— O que vamos fazer?

— O que sempre fizemos, vamos achar ela dentro daquele mar de confusão.

P.O.V. Allyson

Ao chegarmos ao topo da colina, os dois um pouco ofegantes por causa da subida, a baía se desdobra à nossa direita como um mapa gigante, um mundo brilhante e luminoso de tons azuis e verdes. Eu inspiro ligeiramente. É de fato uma paisagem linda: desobstruída e perfeita. O céu está cheio de nuvens brancas e fofas, que me fazem pensar em travesseiros de pena, e gaivotas desenham preguiçosos arcos sobre a água, formando e desfazendo desenhos no céu.

Adam avança alguns passos.

— É incrível. Lindo, não é? Independentemente de quanto tempo eu passe aqui, nunca me acostumo – Ele se vira e olha para mim – Acho que é minha maneira preferida de ver o oceano. No fim da tarde, com o céu ensolarado e brilhante. É como uma fotografia. Não acha, Ally?

Estou tão relaxada aproveitando o vento no alto da colina, que passa por meus braços e pernas e me refresca e me faz sentir cheia de vida, aproveitando a vista da baía e a claridade alta do sol que quase não escutei o que Adam perguntou.

— Essa é sem dúvida a minha cor preferida. Qual é a sua mesmo?

— Cinza – Respondo automaticamente.

— Cinza?

— Não cinza, exatamente. Logo antes de o sol nascer há um momento em que o céu ganha uma cor pálida, inexistente, não é bem cinza, mas um pouco branca, de que sempre gostei porque me faz lembrar de esperar que alguma coisa boa aconteça.

— Você é igualzinha a sua mãe.

— O que?

— Foi daqui que ela caiu. Me lembro do seu olhar de desespero.

Ele se lembra. Ele estava lá. O chão parece estar se dissolvendo sob meus pés do mesmo jeito que acontece no sonho com minha mãe. Tudo o que consigo ver são os olhos dele, as transições de sombra e de luz se movendo ali.

— Você mentiu – Consigo dizer – Por que você mentiu?

Ele não responde. Recua alguns centímetros e diz:

— Eu era o preferido dela, até o dia que você você fez dezesseis anos e a maldição começou a se dissolver, e ela queria te pegar de volta. Tive que fazer isso.

— Você matou a minha mãe, eu estava lá também, agora me lembro. Você matou a Marie.

— Sabe que tive meus motivos. Olha pra mim – Adam chega tão perto que consigo contar os seus cílios. Me sinto hipnotizada – Tive meus motivos.

—Você teve seus motivos - E de alguma forma, acredito nele.

♕♕

Uma canção não sai da minha cabeça quando a pouso no travesseiro pra dormir.

Mamãe, mamãe, ajude-me a chegar em casa, estou na floresta, estou sozinha. Encontrei um lobisomem, um pateta maldoso. Ele me mostrou os dentes e atacou meu torso. Mamãe, mamãe, ajude-me a chegar em casa, estou na floresta, estou sozinha. Fui abordada por um vampiro, um podre sacripanta. Ele me mostrou os dentes e atacou minha garganta. Mamãe, mamãe, ponha-me para dormir, Não chegarei em casa, já estou semimorta. Encontrei um Inválido e me encantei por sua sedução. Ele me mostrou seu sorriso e atacou meu coração.

É como se algumas lembranças invadissem minha mente de tempos em tempos. Há uma mulher cantando pra mim e me ensinando sobre como deveria lidar com os perigos do nosso mundo. A mulher tinha olhos azuis e dizia que tudo ia ficar bem.


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