A Alabarda de Ouro escrita por Untitled blender


Capítulo 6
De como encontro Gisele, que acha graça na minha morte


Notas iniciais do capítulo

esse foi divertido de escrever pra caramba. pena que foi tão curto.
uma pergunta:
quem é o (a) leitor(a) fantasma q já leu todos os caps anteriores?
comenta se gostou!



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Por alguns minutos (ou o que eu acho que foram minutos), apenas flutuei no vaio. Então minhas mãos tocaram algo. Parecia musgo. Pisquei. Uma tênue luz brilhava à minha frente. Senti névoa tocar meu rosto e olhei para cima.
Uma bacia de pedra cheia de água, como uma fonte brilhava, com pequenos filetes prateados descendo sobre a borda irregular. A bacia estava apoiada num pedestal também de pedra, sobre o chão musgoso. Cerca de três metros depois, a paisagem se perdia na névoa.
Apoiada na bacia de pedra estava uma garotinha de uns cinco ou seis anos, encarando a água como se procurasse alguma coisa na superfície do líquido.
— Finalmente você veio sozinho. Temos tempo pra conversar. Pena que é tão pouco. Um universo pra descrever e tão pouco tempo. – ela disse, deslizando a ponta do indicador em um círculo sobre a água.
— Quer uma sugestão? – Eu falei, levantando. Estava um pouco curioso. – Eu pergunto, você responde. Sem enrolação.
— Depende. Se você fizer as perguntas certas. – Ela olhou para mim, e eu vi seus olhos.
A garota usava um vestido branco, simples e leve. Seu cabelo era ruivo e liso. Delicadas sardas pontilhavam suas bochechas. E seus olhos eram idênticos aos de James. Tinham um tom prata-azulado, e giravam lentamente. Não me contive. Perguntei.
— Qual é a desses olhos? Você é algum tipo de parente de James, ou algo assim?
— Perguntas erradas.
— Vai me falar só isso? – Eu ergui tanto as sobrancelhas que tive certeza que minha testa havia sumido – Ainda haverá um dia em que o mocinho consegue a informação facilmente.
A garota ergueu a sobrancelha esquerda meio centímetro. Eu pensei bem.
— Qual é o seu nome?
— Gisele. – A sobrancelha abaixou.
— Quem e... Hum... O quê é você?
— Eu sou tudo à sua volta. Eu sou a terra dos sonhos.
— Uau... Isso é muito pra processar num dia, mas vou me arrepender se desdenhar essa oportunidade. – Eu limpei a garganta. – Geralmente, a garota que sabe de alguma coisa espera a sua deixa pra falar, e o mocinho não deixa. Ou ela não consegue falar por que “é complicado” ou... Esqueça. Eu falo quando estou nervoso. É como um piloto automático.
— Muito bem, Doutor.
Eu sorri.
— Então, Gisele. – tentei fazer minha melhor cara de Matt Smith. – Fale o que precisa dizer.
— Muito bem. – Apesar dos olhos prateados (e de ter seis anos) aquela garota parecia Clara Oswald. Ela deu um sorrisinho com o canto da boca. Covinhas apareceram. – Você corre risco de vida.
Eu murchei. Ela parecia tão alegre ao dizer isso que me deu calafrios. Ela levantou um dedo e fez um círculo na superfície da água, fazendo-a ondular levemente. Toda a água se tornou uma espécie de tela. Até as gotas que caíam da bacia e os pequenos córregos que vertiam delas continham pequenas imagens em seu interior.
Todas elas piscavam como um vídeo em loop. O vídeo mostrava um lugar destruído e escuro. E, num círculo de luz dourada, uma alabarda de ouro flutuava, com alguém agarrado a seu cabo. Ambos caíam rumo ao esquecimento.
Senti-me atraído pela imagem. Cheguei mais perto. Apertei os olhos. O rosto do sujeito estava encoberto. Mais perto. Era jovem. Suas roupas rasgadas e queimadas, seu cabelo em chamas.
Mais perto.
Uma pequena mão agarrou meu pulso. Meu rosto estava a milímetros da superfície da água. O fascínio pala imagem se dissolveu.
— O futuro é para poucos. – havia urgência em sua voz. Futuro? Pensei. Aquele cara era eu?
— Tenho que ceder a palavra a alguém que quer falar com você. – Gisele parecia triste.
A minha visão periférica captou um movimento sutil. Nuvens escuras se adensavam. Eu olhei naquela direção. Só se via a mesma névoa esbranquiçada de sempre.
— Bem devagar... – A voz de Gisele vinha de muito longe. – Com o canto do olho.
Olhei novamente para o mesmo lugar. O mundo se dissolvia em camadas, lentamente se tornando uma nuvem de trevas. O pânico apertou minha garganta.
— Pergunte a James como viajar por mim. Como viajar De verdade. Ele vai entender.
A escuridão dissolvia a bacia, a garota, tudo.
— Você ainda não está preparado para enfrenta-lo. – Gisele sussurrou. Seu rosto explodiu em uma luz azul como brilho de mil supernovas.
— Não tenho como segurá-lo por muito tempo! – Ela falava sozinha. – Mas ainda posso...
A imagem da garotinha envolta em luz duplicou, triplicou, e começou a girar. As nuvens negras pontilhadas de relâmpagos vermelhos cercaram o halo de luz, tentando forçar a entrada. Gisele gritou.
— As palavras! QUO VADIS?
— Per... Mare... Per terram... – Eu não consegui terminar a frase. Tentei abrir a boca, mas não saía som algum. Eu esquecera como falar. A luz de Gisele piscou. Por um segundo, ficamos na mais completa escuridão. Naquele segundo, um pequeno sussurro veio do fundo da minha mente.
A luz só torna as sombras mais densas.
O brilho de Gisele voltou, depois fraquejou. Ela deu de ombros.
— Vai ter que ser do jeito difícil. – Ela respirou fundo.
Então o grito soou. Começou baixo, mas logo estava tão alto que não sei se podia ser medido em decibéis.
— AAAAAAAACORDE!!!
Me vi deitado de bruços, a grama molhada na minha bochecha, a lua e a garoa caindo sobre mim. Por um segundo, pensei estar de volta ao pântano da bacia de pedra.
Mas então notei a calçada. Olhei para cima. Um sobrado azul seminovo me encarou de volta.
Eu estava em casa.


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