Durante a semana, a rotina era totalmente diferente. Richard e Alysha acordavam cedo para trabalhar, Richard era presidente de uma multinacional e Alysha era jornalista. Eu tive que correr muito para me trocar, parecia que não era tempo o bastante, eu escutava Alysha apressar Aaron e o mesmo descer as escadas enquanto eu tentava arrumar meu cabelo desesperadamente e por fim deixando-o encaracolado sobre meus ombros mesmo.

Corri desesperada para fora de casa, derrubando minha mochila ao tentar fechar a porta. Me deparei com Aaron rindo da minha cara. Achei estranho que ele estivesse me esperando, me larga sozinha de madrugada numa construção abandonada, mas me espera pra andar dois quarteirões, vai entender.

“Você tá aí?”

“Não, não, sou a melhor alucinação da sua vida.” Ele revirou os olhos. Eu heim. Menino estranho.

Por mais que estivesse frio o dia estava lindo. O cheiro úmido da natureza e os pássaros cantando faziam o caminho para o Colégio agradável. Aaron caminhava ao meu lado em silêncio, era engraçado, apesar de todo o ódio que eu sentia por ele, naquele momento nós estávamos bem, aproveitando o silêncio sem nenhuma perturbação; mas ele andava rápido demais… Minha asma ameaçou atacar, eu estava ofegante só que não queria pegar minha bombinha de ar na bolsa, estava com vergonha que Aaron usasse isso como mais uma forma de me atingir. Graças a Deus ele teve um pouco de bom senso e diminuiu o passo.

Anna Lee, Jason e Leo estavam parados na porta, conversando e rindo, me fez bem encontrá-los facilmente, até Aaron abrir a boca.

‘’Olha aí, sua amiga já está ali te esperando, pede ajuda para ela.’’ olhei como se não estivesse entendendo nada. Parece que alguém aqui tinha mestrado em fuçar na vida alheia, não é mesmo?

“C-como assim?”

“Não se faz de trouxa, eu tenho ela no Face, vi que já se conhecem. Só, olha bem, talvez certas pessoas não sejam tão legais assim.”

“É, olha para você.” ele era folgado demais, a situação estava começando a ficar insustentável. Cumprimentei Anna Lee, e Aaron estava pronto para passar reto, quando Leo entrou em sua frente.

“Vá à merda, Leonard.” aparentemente, Aaron não tinha problemas só comigo. Ele chocou seu ombro bruscamente com o de Leo e saiu andando. Os três trocaram olhares e eu não quis nem saber o porquê.

“Primeiro dia, então?” Anna Lee começou a andar ao meu lado.
    “Pois é, estou completamente perdida.”

“Todos nós aqui já ficamos, Vic.” Leo comentou. “Eu posso ajudar você.”

“Eu ficaria super feliz de ajudar, mas Jason e eu temos que ir para o prédio dois e isso demora um pouquinho…” 

“Pois é, aula de cálculo.” Jason franziu o cenho. “Mas nos vemos depois.” Estranhei com todos sendo tão legais comigo, Aaron me deixara desconfiada de tudo o tempo todo.

Leo me acompanhou até a secretaria, me ajudou com a grade de matérias e mostrou também as salas e meu armário. Nós teríamos a primeira aula de gramática juntos, foi bom começar com alguém que eu conhecia.

“Então, qual é entre você e o Aaron?”

“Ah, briga de infância, sabe como é… O Aaron é meio orgulhoso.” ele disse enquanto atravessávamos o corredor. “Nada demais.”

“Nada demais?”

“Não, besteira. Você gosta de gramática, então?” ele mudou de assunto.

“Sim, exatas não é lá minha praia. Gosto de línguas.” entramos em um assunto de gostos e gostos e Leo era bem interessante, ele era magro alto, cabelos loiros e olhos pretos profundos, ele mantinha um bom humor constante. Era aparente que gostava de conversar, mas estava na cara que essa conversinha de nada demais era mentira, era óbvio que tinha alguma intriga entre eles que Leo não queria que eu soubesse. Nunca me importei demais com essas coisas, acreditava que as pessoas tinham segredos que não eram feitos para escaparem por aí, eu entendia isso.    

Durante a troca de aula, Leo mostrou o caminho para a minha aula seguinte; história. Despediu-se de mim, afirmou ter aula de biologia. A aula de história era difícil de entender, o vocabulário estava praticamente impossível. Saí da sala irritada, história era uma das minhas matérias prediletas e eu não conseguia entender.

“E aí, lindinha.” Derek parou ao meu lado enquanto eu bebia água.

“Oi, Derek.”

“O que você está fazendo aqui? Você tem aula agora, não tem?”

“Tenho, mas eu não estava conseguindo entender direito a professora de história então saí para dar uma volta.”

“História? Pra que você faz essa aula?”

“Acho legal, sabe?” o Derek só me surpreendia na superficialidade.

“Eu estou em aula de educação física. Estamos todos jogando basquete, você pode vir comigo se quiser.”

“Ah, por mim tudo bem. Isso não vai dar problema?”

“Nada, não existem problemas.” ele sorriu. “Vamos.” seguiu em frente pelo corredor e eu fui atrás.

O ginásio era enorme, arquibancadas infinitas, ficava numa construção separada. Derek sentou-se comigo na arquibancada em um lugar longe do professor. Conversou comigo sobre seu dia e perguntou se nos veríamos novamente na sexta, eu assenti mesmo sabendo que não iria para aquela construção abandonada nunca mais na minha vida.  

“Você não deveria estar jogando também?” perguntei.

“Deveria, mas ficar aqui com você é mais legal.” aquele sorriso sapeca aproximou-se de mim, olhei para frente rápido fingindo não perceber a tentativa de flerte.

“Pessoal, vocês tem mais vinte minutos de aula! Eu preciso resolver um problema com outros professores.” a professora gritou para os alunos que jogavam basquete. “ Depois disso estão liberados para ir!”

“Olha só, que sorte.” quebrei o gelo. “Vocês vão sair mais cedo hoje.”

“Ela faz isso quase toda a aula, boatos que ela tem um caso com o professor de biologia, ele também sai mais cedo das aulas.” ele ria sozinho das coisas que falava. Eu me perguntava se Derek não ficava rouco ou com dor de garganta, fala sério, eu nunca conheci alguém que falava tanto assim. Comecei a me distrair com o jogo de basquete, percebi que Derek, Aaron e Jason estavam na mesma turma. a voz de Derek agora parecia uma música de fundo daqueles restaurantes. O jogo começou a prender minha atenção, até que Aaron pegou a bola, quicou algumas vezes e jogou-a forte acertando em cheio o nariz de Jason que caiu de imediato.

“Meu Deus, Derek!”

“O que, o que houve?”

“Aaron, acertou o rosto do Jason.” eu me levantei preocupada.

“Ah, que susto. Achei que fosse alguma coisa importante.” ele riu e tentou continuar a falar. Eu lancei um olhar de reprovação e desci correndo a arquibancada.

Quando me aproximei de Jason, seu nariz sangrava e seus olhos estavam cheios de lágrimas, alguém ja providenciara uma toalha para ele.

Você está bem?” eu ajoelhei do lado dele que assentiu com a cabeça. “Vem comigo, deixe-me ajudar você.” peguei Jason pelo braço levando-o para um banco próximo, nas extremidades da quadra.

“Obrigada, vic… Aí.”

“Não se preocupe, vou arranjar gelo pra você.”

“Vou arranjar gelo pra você.” alguém me imitou logo atrás de mim. Aaron estava todo suado rindo da situação que ele mesmo provocara. “Defensora dos oprimidos.”

“Você tem problema?”

“Ah, tenho vários, você e esse otário aí com certeza fazem parte da minha lista.”

“Olha o que você fez!” eu gritei com Aaron.

“Para de ser dramática. E de se meter onde não é chamada também.”

“Dramática? Você machucou uma pessoa, machucou feio e ainda por cima está rindo disso. Você é muito escroto mesmo.” foi então que eu percebi que todos que ainda estavam na quadra assistiam minha briga. Me virei para Jason, que ensopava a toalha de sangue.

“Você é muito folgada mesmo, ele não é seu amigo, garota.” ignorei Aaron que se virou para todos que estavam olhando. “ E vocês? Não tem nada melhor pra fazer não?”

"Vem comigo, vou com você para a enfermaria.” falei para Jason. As pessoas que estavam na quadra saíram depois da ameaça que receberam. Quando Jason levantou-se Aaron empurrou-o novamente fazendo com que o mesmo caísse sentado no banco.

“Fica longe dela, seu animal.” ele rugiu.

“Fica você longe de mim!” eu empurrei Aaron entrando no meio dos dois. Ele me olhou feio e balançou a cabeça, como se precisasse voltar ao normal.

“Tanto faz.” ele disse dando as costas e andando rápido para longe de mim.

Da enfermaria, Jason teve que ir para o hospital, seu nariz estava provavelmente quebrado. Eu estava parada no portão do Colégio esperando o retardado mental aparecer para ir finalmente para casa. Meu dia estava uma bosta, além de não entender nada de história, minha cabeça não processava o acontecimento na quadra, por que Aaron faria aquilo com alguém? Será que ele tinha um temperamento instável ou algum problema de agressividade, sei lá? Ver Aaron passar na minha frente abraçado com a namoradinha dele cortou meu monólogo.

“Ei!” chamei. “Aaron!”

“O que você quer agora?” os dois olharam para mim. Melany levantou uma sobrancelha, nojenta.

“A gente não vai para casa?” perguntei.

“Não sei para onde você vai, mas eu não vou para casa.” ele disse, ela riu.

“Ah, claro. eu deveria ter imaginado isso.”

“Eu espero que você tenha decorado o caminho.” ele falou.

“Ah, lógico que eu decorei, tenho memória fotográfica, você não sabia?” eu mal tinha falado com ele e já estava querendo socar a cara daquele imbecil.

“Por quê você não pede para os seus amigos?”

“Vic, ele vai para a minha casa agora. Você está gastando nosso tempo.” Melany falou, quem  ela era para me chamar de vic?

“Olha aqui, Melody…” eu sabia seu nome, mas precisava ver aquela carinha de falso anjo desaparecer.

“Meu nome é Melany.” deu certo.

“Claro que é, mas eu não estava falando com você.” eu podia jurar que vi um sorriso brotar nos lábios de Aaron, por um segundo.

“Eu acompanho você.” Leo intrometeu-se na conversa, encostando no meu ombro. Agradeci por tê-lo feito.

“Isso só pode ser brincadeira. Olha aqui, você não vai acompanhar ninguém, tá ouvindo?” Aaron falou.

“Amor, vamos embora.” Melany puxou Aaron pelo braço. “Deixa ele.” ela sussurrou algo em seu ouvido que fez com que rapidamente mudasse de ideia sobre discutir com Leo, naquele momento.

“Não pense que vou me esquecer disso.” Aaron falou enquanto se afastava de nós.