"Nossa Aaron, que vida perfeita você tem!" Amigo, deixa eu falar uma coisa para você: você não vive a minha vida.

Acordei com a gritaria da minha mãe por chegar tarde em casa. Sou obrigado, a ir ao lugar que tem coisas velhas à mostra para pessoas chatas, vulgo museu, quem pensa me conhecer, acha que não gosto disso, na verdade eu amo história. Só não demonstro, porque as pessoas falam de mais. Tenho que aguentar o mala do Derek.... Aliás, só porque a mina é nova aqui fica em cima dela, que inferno. Depois, quando que penso que estarei de boa com "meus amigos", bebendo, eu consigo ter pelo menos um pouco de alegria momentânea, quem vai junto? É, a Victória! Parece que por mais que eu só queira paz, isso está tornando um objetivo inatingível.

Só me faltava essa, aturar a garota em casa, nos passeios em família, e também nas bebedeiras com meus amigos, aposto que ela nunca bebeu, sem contar que ela vai pra mesma porra de escola que eu, tonta. Implorei para que tivéssemos poucas aulas juntos.

Outra coisa que já estava  enchendo o saco era  Derek tagarelando com Victória, sinceramente, ela quase nem fala, qual era o motivo dele contar tanto assim da vida dele para uma estranha?  Comigo era a mesma coisa, Derek falava pelos cotovelos, me irritava, mas ainda era o melhor amigo que eu tinha.

Finalmente, depois de andar por meia hora, chegamos a um prédio abandonado, tinha uma praça pequena atrás dele, eu e o pessoal sempre nos juntávamos ali, nunca passava uma alma viva para encher o meu saco.

Ao chegarmos a primeira que correu em minha direção foi Melany, a garota que sempre fodeu comigo gratuitamente, por status. Era bonita, loira, gostosinha, peitos, bundão, cabelos longos... A lista do que estraga essa garota era ainda maior, falante, grudenta, fútil, burra, ignorante, falsa. Por que eu ficava com ela? Porque ela era uma delícia na cama, a única hora que verdadeiramente calava a boca, porém já estava me cansando disso também.

“Amoooor!”  Melany me abraçou pelo pescoço e me beijou.

“Oi Melany.”

“Que ânimo!” ela falou irônica, torcendo a boca. “Derek e…?” cumprimentou os dois e parou em Victória por não saber seu nome.

“Essa é a nova irmãzinha do Aaron, Victória!”  inconveniente, era sem dúvida a palavra que definia o Derek.

“Prazer fofa! Sou Melany, a namorada do Aaron.” namorada? ridícula, Melany além de inconveniente conseguia ser ridícula.

Victória apenas sorriu, falsamente.

“O prazer é todo meu.”

“Claro que é.” Melany sorriu como um gato.  

“Chega vai, que amolação.” falei puxando Melany pela cintura.

O pessoal já tinha feito uma fogueira e comprado as bebidas, o que nos restou foi beber, conversar, se pegar e falar sobre a mais nova criatura do bando, Victória. A galera do futebol e as meninas aleatórias não paravam de conversar com ela, mexiam no seu cabelo e davam risada sem parar.

“Olha, o sotaque dela, é muito lindo” falou Anne, uma das garotas que normalmente saía com a gente.

“Obrigada?” Ficou corada com elogios e respondeu-os com uma pergunta. Qual era o problema dela?

“Realmente, não acha Aaron?” Melany olhou feio pra mim.

“O que?”

“O sotaque da Vic.” Por que ela falou irritada comigo?

“É estranho.” era realmente estranho, ela embolava um pouco, acredito que seja como quando eu tentava falar brasileiro… Português, saia estranho.

Uma coisa detestável é que não podia ficar na minha, eu não queria falar, queria ficar de boa, quieto aproveitando o momento, mas não, tínhamos que conversar, perturbar os outros.

“Estranho? O que meu sotaque tem de estranho?” Victória perguntou, pareceu meio ofendida.

“Você embola algumas palavras, as vezes sai meio aportuguesada, mas sei lá né, falta de prática.”

“Aham, é deve ser.”

O jeito como Melany estava apoiada no meu colo começou a incomodar, então me levantei e encostei numa árvore perto de todo mundo, não gostava do jeito que Melany ficava perto de mim, grudenta, não largava. Devia pensar que eu não sabia que ela só ficava assim por status, para ter a atenção dos outros, namorar um jogador de futebol, popular da escola é maneiro, queria ver ela namorar com um nerd jogador de xadrez.

Mas ela é gostosa, tá na minha, eu não queria um relacionamento sério e achava que ela também não, basicamente eu oferecia status e ela sexo, ela é fútil e eu hipócrita, porque criticava ela, mas ficava com ela do mesmo jeito.

O tempo passou e quem começou sóbrio, já não estava mais. Victória quase nem bebeu, diferente do Derek que estava falante e rindo facilmente, Victória apenas ria.

”Baby?” eu odeio quando ela chamava minha atenção assim.

“Que nojo, Melany, não me chama de baby. Isso é ridículo.”

“Vamos para casa?” ela falou me abraçando.

“Mas já tá tarde.”  falei olhando a hora no celular.

“Dorme lá em casa, não tem ninguém.”  ela sussurrou no pé do meu ouvido.

“Eu vou arrumar a maior encrenca com meus pais.”  

“Você inventa algo, vamos vai. Faz tempo que a gente não passa a noite juntos.”

“Que seja vai. Vamos logo!”

Melany e eu saímos abraçados, até eu ouvir a voz de Victória.

“Ei! E eu, volto sozinha?”

“Sei lá, se vira. Você quis vir, não quis?”

“Aaron, eu não sei o caminho!”

“Derek te leva.”

“Sério? Olha o estado dele, acha que ele vai me deixar em casa? É mais fácil eu deixar ele na dele.” a voz irritada dela era música para os meus ouvidos.

“Faz o que quiser.” falei dando os ombros e ouvindo Melany rir do meu lado. “Não fui eu que te arrastou para cá! Isso é entre você e ele.”

Terminei de falar e abracei a cintura de Melany, pegamos o rumo para sua casa. Aproveitei, porque sabia que amanhã seria conturbado.