Fim do Mundo – Interativa escrita por Sohma


Capítulo 28
Capítulo Extra – 06


Notas iniciais do capítulo

Quero me desculpar pelo atraso desse capítulo, acontece que estou nas últimas semanas da faculdade antes das – tão esperadas – férias de meio de ano. Tive muitas provas e seminários para apresentar, então me mantive ocupado durante algum tempo.
E caso seja da curiosidade de vocês (que eu acredito que não seja, mas eu quero falar mesmo assim) eu estudo história da arte! :D

Enfim,
boa leitura!



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Aeroporto Internacional de Kansai – Japão

Camilo – POV

Eu não sei que horas eram, mas com certeza deveria ser de madrugada. Eu estava sem sono algum e não preguei os olhos desde o dia anterior.

Eu estava aflito.

Minha mente analisava todas as informações que Jacqueline me contou ontem. Eu não podia acreditar. Tanto que, eu não havia contado à ninguém.

Ainda...

Eu precisava fumar. Mas meus charutos haviam acabado, e ninguém nesse aeroporto tem um cigarro. Nem mesmo nas lojas, aqui a venda de produtos como cigarro e bebidas é absolutamente proibido.

Respirei fundo.

Mas, do que adiantaria eu saber a origem dessa "doença" agora? Estamos presos no meio do pacífico. E se o governo americano mandou explodir as bombas P.E.M. o mundo todo deveria estar sem luz alguma. Isso ainda me incomoda... Qual foi o verdadeiro motivo do falecido presidente americano ter ativado o código 6-6-6D? Deixar o mundo sem aparelhos eletrônicos não iria nos salvar "deles".

Respirei fundo outra vez.

Um cigarro nunca me fez tanta falta. E acho que pelo sono eu devo estar ouvindo coisas, parece que estou escutando uma hélice...

Espera!

Eu estou ouvindo uma hélice!

Ergui meu corpo num único movimento e corri até o lado de fora do aeroporto, vários snipers que faziam a ronda noturna estavam em pé. Meus olhos foram cegados por uma luz que focou sobre meu corpo.

Um helicóptero estava diante de mim. Não qualquer helicóptero. Um AH-64, um modelo governamental americano. É claro! Alguns modelos militares foram construídos com dispositivos anti-P.E.M. Como não me lembrei disso antes?

O helicóptero começou a baixar. O som de suas hélices ficava cada vez mais alto, o silêncio de antes foi quebrado por diversas vozes. Várias pessoas estavam se aglomerando do lado de fora, aguardando o helicóptero descer.

Meus olhos miravam o céu, e eu encontrava cada vez mais helicópteros. Eles começaram a aterrissar e vários soldados americanos desciam dos mesmos. O uniforme era muito parecido com o meu, exceto que nos dele a cor era de um verde musgo e tinha um pequeno medalhão dourado com a bandeira americana.

O silêncio imperou novamente, assim eu consegui analisar, eram exatamente 8 helicópteros em todo o aeroporto flutuante.

— Mas que merda é essa? – virei meu corpo, apenas para encontrar meu general chefe com uma cara indignada. Um dos soldados se aproximou de nós e retirou o capacete, revelando seu rosto negro, os lábios eram grossos, os cabelos eram raspados e os olhos eram tão escuros que mau podia se ver à íris.

— Comandante da SAT General Jordan Mcallister? – ele levantou o braço até a cabeça num gesto de continência ao general, este apenas assentiu com a cabeça. O homem negro desfez a pose e guiou seu olhar para mim. Me analisando. – Eu sou comandante do exército governamental, Hans Golden. Estou aqui para levá-los até a base do F.B.I.

Levantei as sobrancelhas, num gesto de confusão. George e Derrick começaram a se aproximar de mim. Vi de canto de olho que a expressão de George era de raiva, seu cenho estava franzido, enquanto Derick nos mostrava uma mirada confusa.

— Por quê agora? Depois de quase uma semana vocês resolveram agir? – Jordan gritava, demonstrando toda sua fúria. E eu compartilhava o mesmo sentimento, se eles tinham helicópteros porque não vieram nos resgatar antes? Teriam nos poupados de diversas fatalidades.

— Apenas agora tivemos a liberação do novo presidente para resgatar os líderes mundiais deste aeroporto. – Hans falou calmo, sua voz era tão impassível que me irritava. Jordan cruzou os braços diante ao peito, como se não tivesse acreditado nessa explicação fajuta.

— Porquê nos levar para a base do F.B.I.? – desta vez foi Derrick que se pronunciou.

— Alguns cientistas mundiais que ainda estão vivos foram mandados para lá, para que possam criar uma cura para essa "doença". – Hans mantinha uma postura muito séria, isso me fez crer que ele deveria ser um agente muito competente. – E precisamos da ajuda de todos os líderes mundiais para descobrir a origem desse vírus, assim, poderíamos achar uma cura mais rápido.

— Então sinto lhe informar, você veio em vão. – general Jordan descruzou os braços e desferiu um olhar sério para Hans. – Eu mesmo tentei arrancar alguma informação deles, mas não consegui nada, e quem dirá que você conseguirá?

— Não estou duvidando da sua capacidade, senhor general. Mas acredito que eu tenha mais chances de conseguir uma resposta num outro local sem ser esse. – confesso que senti uma dor aguda quando ele respondeu dessa maneira fria, foi um belo de um tapa na cara. Desviei meu olhar para Jason e o mesmo parecia ponderar. Mas eu tinha que me pronunciar.

— Não quero ir para os Estados Unidos, preciso voltar ao Brasil. – falei alto dando um passo, me aproximando do rosto de Hans. Pela primeira vez nesse tempo, vi que a expressão dele parou de ser impassível e ele se sobressaltou.

— Senhor...?

— Camilo! Camilo Hope Campovilla!

— Senhor Campovilla... – ele pronunciou meu sobrenome devagar. – Sinto muito, mas as ordens são restritas para que todos os sobreviventes do aeroporto de Kansai sejam mandados para o QG do F.B.I.

— Então eu me recuso a ir. – respondi num tom de voz que demonstrava toda a minha indignação. Eu dei longos anos de minha vida para o governo americano, perdi muitas coisas por causa disso, e eles nem poderiam fazer esse favor por mim?

— As ordens são exatas, todos os sobreviventes devem ir. Sem excessões! – eu estava me segurando para não dar um belo soco no rosto de Hans.

— Camilo... – Derrick tocou em meu ombro, me fazendo desviar o olhar para ele. – Precisamos ir, você é uma parte importante, se não fosse você, não teríamos nenhum conhecimento sobre os últimos incidentes. – eu mantinha um olhar de raiva, mesmo Derrick fazendo me sentir importante, eu queria voltar ao Brasil, procurar minha filha e quem sabe... reencontrá-lo.

— Senhor Campovilla. – a voz de Hans pareceu mais suave, meus olhos voltaram a encarar o homem negro na minha frente. – Se acharmos alguma resposta, eu mesmo lhe mandarei ao Brasil. Por que mais tarde também pretendia ir para lá. – me surpreendi.

— O que você pretende fazer no Brasil?

— Procurar alguém. – a resposta de Hans me soou vaga. Mas eu acabei aceitando a proposta de ser levado para os Estados Unidos. Assim, eu acredito, que eu poderia contar o que Jacqueline me disse sem maiores problemas. Pessoas mais inteligentes que eu conseguiriam descobrir uma cura para isso, e quem sabe, fazer com que esse "fim" se torne um "começo".

~~~

Teatro Municipal de São Paulo – Centro

Heero – POV

Eu estava sentado sobre um leve cobertor, e a pequena garota estava deitada ao meu lado, ela dormia pesadamente. Descobri depois de muita insistência que ela se chama Alice G. Silveira, ela não quis me contar qual sobrenome era o "G.", mas eu não pretendia pedir mais informações. Ela estava muito assustada. Também descobri que sua mãe foi mordida por um "deles" até chegar ao teatro, trancou a filha aqui dentro e ficou do lado de fora, eu imagino o quanto Alice se sentiu sozinha até eu chegar. Quando lhe entreguei um pacote de bolacha que eu tinha na mochila ela devorou sozinha, deveria estar morrendo de fome.

E por falar em comida...

Meu estoque está acabando. Eu precisava sair daqui para achar mais suprimentos. Eu sei que tem um mercado não muito longe, se não me engano fica a vinte minutos, entretanto, na atual situação, eu levaria cerca de metade de um dia para concluir um trajeto de vinte minutos. Mas eu precisava me arriscar. Morrer de fome num momento desses é a pior morte que eu poderia ter.

Levantei do chão, pegando o pé-de-cabra sobre o piano. Eu não tinha nenhuma outra arma, mas se eu consegui chegar até aqui apenas com um pé-de-cabra, eu poderia ir e voltar do mercado sem maiores problemas.

Esvaziei uma das mochilas que eu tinha, assim eu teria espaço para enchê-la com os suprimentos. A arrumei sobre minhas costas e desci os pequenos degraus do palco.

— Aonde você vai? – uma voz chorosa me fez congelar. Virei o rosto e encontrei Alice sentada sobre os calcanhares.

— Preciso buscar comida. – soltei um sorriso em direção a ela.

— Não vai... Por favor... Não me deixa sozinha. – sua voz era manhosa, e eu percebi que ao redor de seus olhos, pequenas lágrimas já se formavam. Soltei um suspiro, e subi, até ficar de frente para ela.

— Eu prometo que vou voltar! Eu não vou te deixar sozinha! – levantei meu braço e estiquei o dedo mindinho para ela. Percebi que eu seu rosto um pequeno sorriso se formou, ela esticou o mindinho, cruzando com o meu.

— Foi uma promessa de mindinho, você não pode desfazê-la! – ela sorriu abertamente, um sorriso infantil, que fez uma onda de calor subir pelo meu corpo, me reconfortando. Eu tinha um motivo para voltar.

Arrumei a mochila sobre meus ombros e comecei a andar para fora do auditório.

~~~

Claire – POV

Eu estava presa nesse mercado há dias. A minha sorte é que nenhum desses demônios consegue entrar aqui, e também, eu tinha suprimentos para me manter viva durante umas boas semanas. A comida congelada já havia estragado e um cheiro de podridão tomava conta do ambiente, mas eu não podia me arriscar a sair. Eu não tinha munição o suficiente para enfrentar uma horda.

Olhei discretamente para a porta de vidro, parecia ser final de tarde, quem sabe 15h, quase 16h. Voltei a me sentar no chão, atrás do pequeno balcão, onde já foi o caixa.

Eu saí de casa com uma única intenção, encontrá-lo. Tinha muita coisa que eu precisava contar para ele. Remexi na bolsa que estava do meu lado e retirei de lá de dentro um papel amassado, eu já sabia de cór todas as palavras daquela carta, e era justamente ela que eu precisava mostrar para ele. Uma coisa eu tenho certeza: ele está vivo! Alguém que sobreviveu aquela vida antes desse mundo se tornar esse inferno poderia sobreviver a situação atual.

O barulho do vidro se quebrando fez meu corpo travar. Prendi minha respiração e delicadamente peguei a pistola que estava na minha bolsa. Alguém havia invadido esse lugar, mas não era um desses demônios. Eles gemem alto a vogal "u" ou "a", e essa pessoa, estava fazendo o possível pra ficar quieta, para não atrair a atenção de ninguém.

Olhei para cima e vi um espelho redondo, me dando uma leve visão do mercado, eu vi uma pessoa de costas para ele, era um homem. Ele era alto, a pele era branca e os cabelos pretos estavam bagunçados, como se não conhecesse o pente há dias.

Ele estava remexendo nas prateleiras, pegando alguns alimentos. Merda! Ele ia me deixar sem nada para sobreviver, eu não vou permitir isso.

Me esgueirei pelos pequenos corredores, para que ele não notasse minha presença. Vi que ele estava no corredor das guloseimas, pegando algumas bolachas e salgadinhos. Ergui minha 9mm e apontei em sua direção.

— Acha mesmo que me roubaria assim? – falei alto, fazendo com que ele se assustasse e deixando cair alguns pacotes de bolacha no chão. Consegui observá-lo, ele tinha um rosto retangular, os olhos eram castanhos escuros. Ele empunhava na mão direita um pé-de-cabra, que estava coberto de sangue.

— Calma! – ele levantou as mãos, num gesto que demonstrava obviamente que ele não queria lutar. – Por favor, não quero machucá-la! Só quero levar algumas coisas para ajudar uma criança...

— Cala a boca! – gritei alto, interrompendo essa história fajuta. – Acha mesmo que eu vou acreditar nisso? Você vai roubar tudo que tem aqui e me deixar sem nada!

— Se acalme. – ele abaixou o corpo, colocando o pé-de-cabra no chão, assim como a mochila. – Eu não quero lutar. Eu estou me abrigando no teatro municipal, não tem nenhum desses monstros lá. Estou apenas eu e uma menininha. Vim aqui pegar comida para que possamos sobreviver por mais algumas semanas.

Ele não inventaria uma história tão boa em alguns segundos, então devia ser verdade. E pensando bem, seria melhor ir com ele e me abrigar num lugar com uma segurança mais reforçada, aqui qualquer um desses demônios entraria facilmente. Soltei um suspiro resignado e abaixei a arma.

— Quem é você? – perguntei olhando diretamente em seus olhos.

— Me chamo Heero. Heero Hope Cuiamá! – ele respondeu se abaixando e pegando novamente a mochila. – E você?

— Claire. Claire Miller. – coloquei as mãos na cintura.

Heero acabou me convencendo de ajudá-lo à pegar todos os alimentos possíveis, também pegamos algumas velas e pilhas (já que eu tinha uma lanterna na bolsa, e parece que produtos a pilha ainda funcionam). Pegamos garrafas de água e diversas bebidas também. Por enquanto me manter segura em um lugar parecia ser mais coerente, depois eu iria procurá-lo, eu não posso morrer antes de contar a verdade para ele.


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