Emergency Signal escrita por Ku Hye Sun


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ;)



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POV Jan Di

Ele tinha cheiro de chuva, grama e hortelã, uma mistura fascinante que, mesmo depois desse tempo todo, não o havia abandonado. Afundei meu rosto ainda mais no ombro de Ji Hoo, tentando acalmar meus nervos descontrolados com sua aparição repentina.

Os braços de Ji Hoo se fecharam ao meu redor da mesma maneira ávida. Naquele momento eu soube que a saudade era recíproca e, isso, foi o suficiente para me fazer derramar mais umas boas lágrimas.

Um limpar de garganta nos trouxe de volta a realidade. Soltei Ji Hoo rápido demais, sabendo que minhas bochechas, que há tempos não coravam, agora estavam num tom escarlate extremamente forte.

Ji Hoo me encarou e, percebendo meu desconforto, sorriu em solidariedade.

—Vocês voltaram._comentei estupefata.

—É claro que voltamos. Acha mesmo que eu conseguiria mantê-lo por tanto tempo afastado de você?!_ralhou o vovô, me fazendo corar ainda mais.

Ji Hoo, estranhamente, parecia relaxado de uma forma que poucas vezes ficava, sinal de que estivera se acostumando com o jeito despreocupado do vovô nos últimos meses, algo que enchia meu coração de felicidade.

—Qual o motivo da volta?_perguntou Ga Eul, auxiliando o vovô a sentar em uma das mesas, enquanto Ki Bang se apressava para a cozinha, tão desesperado em cozinhar algo extremamente bom que chegava a ser cômico.

Encarei Ji Hoo sorrindo e, pela primeira vez em meses, percebi quanta falta sua presença me fizera esse tempo todo. Estar com Ji Hoo era confortável e calmo, era como retirar toda e qualquer carga negativa que se agrupava em meu corpo e minha alma e jogar fora apenas ao vê-lo. Era algo milagroso.

—Me responda a verdade: por quê voltaram? Vovô está com problemas? A saúde dele corre risco?_vi o sorriso de Ji Hoo se alargar e chegar até seus olhos, enquanto experimentava a sensação de meu interrogatório apressado.

—Ele está bem e eu também. Apenas foi outra coisa._respondeu sério, seus olhos, antes tão sombrios, mais leves do que uma folha de outono.

—Algo importante? Posso ajudar?_a ansiedade impregnava cada palavra em minha voz. Estar com o vovô e com Ji Hoo era como um bálsamo para mim, logo, se eles tinham problemas, eu me sentia na obrigação de interferir a favor.

Ji Hoo, ainda sério, avançou dois passos, tão perto quanto eu nunca me lembrara de ele ter chegado.

—Um sinal de emergência me trouxe até aqui, apenas._explicou sucinto, dando de ombros.

—Emergência?_perguntei confusa.

Ji Hoo deixou um leve sorriso se esboçar em seu rosto.

—Sim. Você deveria saber desse sinal, Jan Di. Se não me falha a memória eu era o responsável por correr ao menor sinal de incêndio.

Foi então que eu entendi.

Meus olhos automaticamente marejaram à lembrança. Ji Hoo, mesmo depois de tanto tempo, ainda se sentia na obrigação de ser meu guardiã, anjo protetor e escudo. Meu coração se apertou de agradecimento, enquanto eu via o rosto de Ji Hoo tornar-se sério novamente.

—Não vou abandoná-la de novo, Jan Di. Dessa vez é pra valer.

Ignorando todas as regras que eu mesma havia imposto a mim, eu me senti relaxar ao som daquelas palavras. O esquecimento por parte de Jun Pyo e do abandono dos demais garotos ainda doíam, sempre doeriam, mas Ji Hoo era diferente. Ele tinha essa aura única que não conseguia deixar de se preocupar com os outros. E, para minha felicidade mais do que plena, ele voltara por mim. Por estar preocupado comigo. Eu, a garota atrapalhada e escandalosa que fracassara um ano inteiro nas seletivas de faculdade. Ji Hoo voltara porque, mais do que um anjo, ele era um amigo fiel, incapaz de ignorar a dor alheia.

As palavras que saíram da minha boca em seguida em nada expressavam minha gratidão eterna, mas faziam um bom trabalho assim mesmo:

—Obrigada por me salvar do fogo. Obrigada.

Os olhos de Ji Hoo refletiam meu próprio sentimento de agradecimento, tão verídico quanto o ar que respirávamos naquele instante.

A voz do vovô foi a única coisa capaz de perfurar nossa pequena bolha pessoal.

—Hey, Jan Di! Que história é essa de citar meu inestimável nome em vão?! Sua garota desmiolada!

Sorri com o tom rabugento do vovô, compartilhando de uma risada conspiratória com Ji Hoo.

Avancei para a mesa onde o vovô já batia a bengala inconformado, mas não deixei de ouvir as palavras que flutuaram da boca de Ji Hoo até meus ouvidos.

“É bom estar em casa”.

 

POV Ji Hoo

—Como assim você está estudando medicina? Por que escondeu essa informação nas nossas cartas?_perguntou uma Jan Di perplexa, o tom histérico de antes agora dera lugar a uma frustração leve, produzida por uma voz ainda mais calma.

Ela havia mudado em muitos aspectos. Mais não foi uma mudança ruim. Pelo contrário. Jan Di havia amadurecido de um jeito que eu mal acreditava ser possível. Era uma metamorfose e tanto, até sua postura estava mais centralizada, como se a idade adulta fosse seu número adequado de manequim.

—Eu não queria incitar sua raiva. Meus motivos são bastante viáveis._me defendi rindo.

—Incitar minha raiva? Eu nunca ficaria com raiva por isso, sunbae. Pelo muito contrário, achei que sabia disso._retorquiu com um brilho maligno nos olhos.

—Ele sabia. Só está fazendo tipo. Se quer saber a verdade...ele me implorou para não contar pra você com medo de mais uma enxurrada de lágrimas. E, considerando seu pequeno drama hoje, eu diria que ele tinha toda a razão._falou o vovô, arrancando risadas de todos, inclusive de Jan Di.

—Eu apenas estou numa idade sensível. É difícil para uma mulher perceber que está ficando velha._esclareceu de forma cômica.

Não percebi que estava encarando fixamente Jan Di até notar Ga Eul sorrindo para mim, parecendo notar meu fascínio visível pela nova Jan Di e seu jeito natural de lidar com as coisas.

Desviei o olhar um pouco constrangido, mas, ainda assim, correndo vez ou outra para ela de novo. Era um vício automático. Incapaz de me fazer parar.

—Mas então..._limpei a garganta, na tentativa de organizar as ideias_quer dizer que estudaremos no mesmo local, não é?!

Jan Di sorriu em resposta. Ela parecia iluminada em todos os aspectos. Tão viva quanto o próprio sol que nasce sob as montanhas e se põe ao anoitecer.

—Isso é bom. Quem sabe assim você consegue colocar algum juízo na cabeça dessa menina!_brandou vovô, recebendo um olhar mortalmente hilariante de Jan Di.

—Vovô! Eu mudei, não sou a mesma cabeça de vento de antes._defendeu-se Jan Di, recebendo um olhar significativo de Ki Bang e Ga Eul.

—Diz isso a garota que reprovou em medicina por um ano._contra atacou a amiga, fazendo Jan Di escancarar a boca em falso choque.

—Eu deveria saber que a senhora jogaria isso na minha cara algum dia._disse repreendendo-a, mas seu tom era leve e brincalhão. Uma repreendida entre colegas, superficial demais para ser levado a sério.

—De qualquer forma...o importante é que agora você vai seguir seu sonho. O resto é resto._interrompeu o vovô de forma alegre, seu sorriso deixando claro o quão orgulhoso estava de Jan Di.

—Obrigada, vovô._a voz dela tornara-se aveludada com o passar dos meses, tão fascinante quanto uma orquestra.

—Isso merece uma comemoração!_interveio Ga Eul.

—Eu concordo!_auxiliou Ki Bang.

—Nem pensar, Ki Bang. Essa comemoração se restringe apenas às meninas. Vocês estão fora.

—Como se eu quisesse comemorar uma coisa tão banal assim._bufou o vovô, fingindo indiferença.

—Posso saber qual comemoração?_perguntei interessado, percebendo a troca de olhares suspeita entre as duas.

—Ga Eul está a tempos tentando me arrastar para uma balada nova aqui perto. Parece que agora ela conseguiu o motivo que tanto queria para fazer desse pedido realidade._explicou Jan Di sorrindo desconfortável.

—Você gostava de festas._lembrei.

A face de Jan Di assumiu um tom rubro, ao passo que Ga Eul inventou uma desculpa qualquer e saiu da mesa.

Estreitei os olhos na direção de Jan Di, sentindo que algo estava escapando naquela cena. Uma informação bastante importante.

—O que vocês estão escondendo, hein?_me vi questionando de forma autoritária.

O rosto de Jan Di, naquele ponto, parecia um vulcão prestes a entrar em erupção.

—Está bastante claro, Ji Hoo. É uma boate de shows._interveio vovô com naturalidade, como se aquilo fosse normal.

—Shows?!_perguntei pasmo, enquanto entendia o principal.

—Sim! Shows só para mulheres. Quão lento você se tornou que eu não notei, Ji Hoo?!_grunhiu o vovô se levantando e indo até o balcão reclamar da comida de Ki Bang com uma naturalidade impressionante, como se não estivesse nada espantado com o rumo da conversa.

—Shows só para mulheres?_perguntei curvado sob a mesa, mal me dando conta do tom inconformado de minha voz.

Jan Di começou a se abanar com as próprias mãos, numa clara intenção de desviar o assunto.

Minhas mãos atravessaram a mesa e se fecharam sobre as dela, prendendo-as e ordenando atenção exclusiva.

—Você enlouqueceu?! Isso não é um lugar para vocês irem! Esquece. Eu não vou deixar._avisei, o tom ciumento se transformando em algo que eu jamais imaginara.

Eu poderia ter continuado listando centenas de motivos para arrastá-la para casa a mínima menção de ir naquele tipo de lugar, mas algo no rosto de Jan Di foi o suficiente para me paralisar por segundos.

Percebi, tardiamente, que ela encarava nossas mãos entrelaçadas de forma carinhosa e, ao mesmo tempo, surpresa. Provavelmente deveria estar se perguntando como Ji Hoo, sempre tão isolado, fechado e antiquado se transformara em uma pessoa que não se apavorava com um simples contato de mãos.

Mas, a realidade, é que a adrenalina começou a correr de forma descompassada pelo meu corpo quando, enfim, notei que segurava-lhe as mãos com firmeza e carinho. Um momento bastante íntimo para nós que, até então, sempre estivemos sob a sombra de Jun Pyo.

Os olhos de Jan Di se voltaram para os meus devagar. Duas pequenas esferas negras maltratadas pela dor de um coração partido, mas que pareciam ansiar por um novo recomeço.

A dúvida era saber se era cedo demais para ofecer-lhe meu coração.


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Notas finais do capítulo

Bjs :)



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