Estamos Bem Sem Você escrita por Eponine


Capítulo 7
Capítulo 07




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688688/chapter/7

Ron olhou ao redor, desconfortável.

Ele não gostava de festas, comemorações, homenagens, premiações... No começo era divertido, mas conforme se passaram alguns anos, aquilo tornou-se monótono e uma obrigação. Prestigiar a vitória alheia lhe trazia uma azia incurável. Talvez realmente fosse invejoso como Hermione lhe dissera uma vez em uma briga. E ele sabe que é. Nunca desejaria o mal de seu melhor amigo, mas seu corpo parece gritar uma negação gritante e sufocante ao vê-lo brilhar no palco, sendo o centro das atenções.

Não suportava as premiações de Hermione.

Seus amigos petulantes, citando filósofos e historiadores que ele nunca ouviu falar, com seus óculos estranhos e cachecóis arrogantes. Odiava todos eles, e os odiava mais ainda por não entender o que falavam. O pior, sem dúvida, era Draco.

Amaldiçoou por anos a pessoa que decidiu que o escritório de Hermione seria ao lado do de Draco no Ministério da Magia. Mal levou-se um ano para que se tornassem inseparáveis, sempre saindo para jantar, compartilhando experiências paternas e maternas, indo a palestras e debates, conseguindo até mesmo manter na mídia a suspeita de que tinham um caso. Ron conseguia se lembrar o quão doloroso era ver fotos de sua esposa jantando com o homem que mais odeia na face da terra em restaurantes milionários.

Não conseguia confiar em Hermione, ele sentia uma necessidade de posse que era insuportável, queria guardá-la para si de uma forma que ninguém seria capaz de tocá-la ou vê-la sem sua permissão. Olhou sua ex esposa, rodeada de homens e mulheres falantes, conversando sobre algo que ele provavelmente nunca entenderia. A presença de Hermione estava trazendo a tona toda a pior parte de si que ele conseguira abafar e quase matar com sua ausência.

Virou as costas para a cena, indo para o segundo ambiente, onde Harry provavelmente estava prestes a ser homenageado. Continuou com as mãos nos bolsos de seu smoking, observando o local. Não notara a presença de Astoria Malfoy ao seu lado, sempre silenciosa. Não conseguiu segurar seus olhos, impressionado com o deslumbrante vestido prateado que definia seu corpo perfeito. Observou ela tomar seu Martini lentamente, com os olhos semicerrados. Ela tinha uma malícia envenenada que o incomodava profundamente.

— Muito rude a sua saída do aniversário de Scorpius – disse ela, dócil.

— Desculpe? – Ron olhou-a, pronto para entrar na defensiva. Ela mirou seus olhos verdes no rosto do homem, sorrindo levemente.

— Mas eu te entendo... É preciso manter as raízes. – ela terminou o Martini, ainda observando o local. Ronald sentiu seu corpo esquentar, sentindo uma mistura de constrangimento e raiva. Ela o olhou, ainda sorrindo. – Certo?

— Seja clara, senhora Malfoy. – retrucou, com a voz baixa. Fechou as mãos nos bolsos da calça. Astoria virou-se completamente para ele, o analisando.

— Eu quis dizer que a sua raça não muda nem mesmo com alguns galeões na conta. – sorriu ela. O rosto do homem ruivo pareceu endurecer em segundos. – Não pense que eu gosto do namoro do meu filho com a sua filha, muito pelo contrário...

Um fotografo aproximou-se e Astoria parecia pronta para a foto, segurando delicadamente sua taça vazia com uma mão, e o braço de Ronald com a outra. Ele, desconfortável, assentiu para o fotografo que quase o cegou com a disparada de flashes seguidos na direção dos dois. O homem sorriu e afastou-se para fotografar outras pessoas. A mulher loura virou-se para ele novamente, dessa vez com uma expressão tão fria e maldosa que o assustou.

— Não se atreva a aparecer novamente na minha casa, senhor Weasley. Os boatos de que eu não gosto da classe média não são falsos. – sussurrou ela, tão próxima que poderiam se beijar caso não sentissem um asco quase tocante um pelo outro. Astoria foi embora sem olhá-lo nos olhos e Ron tomou o ar para si, parecendo flutuar no tempo. O rosto das pessoas ao redor eram borrões e não conseguia distinguir as vozes. Começou a andar em direção da varanda no fim do salão lotado, abrindo as portas como se fossem a porta de um buraco em que se trancaria. Respirou o ar puro da noite estrelada, desejando mais do que nunca ir para casa, mesmo que fosse para ser ignorado por seus filhos, mofar no sofá, pensando em como conciliar os três cursos extra curriculares de Rose.

Apoiou-se na base da cerca da varanda, contando os meses para se livrar de tudo aquilo novamente.

— Eu sempre me esqueço que você não suporta essas festas. – riu uma mulher no canto da varanda. Ronald olhou para trás, assustado, acalmando-se ao ver que era apenas Ginny. Ela aproximou-se do irmão, acariciando suas costas. Ele olhou para o gramado, extremamente distante. Cobriu o rosto, sentindo uma exaustão digna de alguém que carregara entulhos nas costas.

— Odeio essas coisas, eu odeio essas pessoas, eu odeio tudo isso. – Ele procurou seus cigarros. – Eu não sei como vocês conseguem aguentar... – Ronald acendeu seu cigarro, aproximando-se de sua irmã. – Eles sabem, Ginny. Eles sabem que não pertencemos a essa... Elite nojenta. E eles sem vão se lembrar disso. De onde viemos.

— Ronald...

— Não, tudo bem para você que é casada com Harry, mas eu e os outros sempre seremos lembrados.

— Lembrados do que? – a mulher ruiva irritou-se, fazendo suas rugas de expressão ficarem mais fortes. – Do quanto nossos pais se matavam para nos sustentar? Dos sacrifícios que eles fizeram para que tivéssemos o que comer e o que vestir? Eu não preciso que me lembrem disso porque eu me lembro e agradeço todos os dias. É por eles que estou aqui.

— Não distorça o que eu disse! – ele tragou o cigarro violentamente, afastando-se dela. Ginny riu com escárnio, desviando o olhar ao apertar sua cintura.

— Você quer saber por que ninguém suporta ficar perto de você? –  continuou fitando o horizonte, ignorando a presença de Ginevra. – Porque você tem esse complexo de inferioridade que... Céus, nem mesmo o dinheiro que você tanto queria conseguiu curar. Nem mesmo tendo nos braços a mulher mais famosa do mundo bruxo conseguiu curar. Nem mesmo a família mais bonita, a casa mais extravagante no bairro mais rico.

Ele observou suas mãos trêmulas e a forma como cigarro parecia queimar-se mais rápido enquanto as palavras de Ginny pareciam cacos de vidro o atravessando.

— Enquanto você não entender que é pequeno e indigno como você pensa que é, nada vai mudar. E tudo vai continuar parecendo grande e inalcançável demais para você. – ela deu um tapa no cigarro de Ronald, chamando atenção do mesmo, alterado. Ela o olhou, séria. – Pare de se fazer de coitado.

Virou-se novamente para a paisagem, ignorando a irmã até que ela fosse embora, batendo a porta de vidro. Olhou para seu anelar esquerdo, parecendo sentir a aliança inexistente. Suas mãos quase atravessaram a base da cerca tamanha a força que fizera contra elas. Sua mente parecia perder o controle por segundos e ele sentia a impulsividade bater de forma latente em seu corpo.

Entrou no salão novamente, indo até o bar.

Ficou atrás do homem grisalho, sentindo a mesma emoção de quando pegara o carro voador de seu pai e foi até a casa de Harry para resgatá-lo. Entretanto, quando finalmente chegara sua vez de ser atendido, uma paz quase tocante caiu sobre ele como chuva.

— Um uísque. Com gelo, por favor. – o barman assentiu, pegando um copo. Olhou todas aquelas bebidas atrás dele, hipnotizado. O homem colocou o copo em cima do balcão e Ronald olhou, aterrorizado e fascinado. Pensou que naqueles segundos algo, nem que fosse um meteoro, apareceria e o impediria. Pegou o copo e saiu de perto do bar, sentindo o alívio de algo que retornou ao seu local de origem.

...

— Deus, foi incrível! – riu Hermione, entrando na casa. Ron trancou a porta, sorrindo. – Fazia tanto tempo que eu não via Fitzgerald que eu quase chorei! Eu te disse que ele está prestes a lançar um livro sobre a Guerra?

— Não... Você não me disse. – Hermione tirou seu casaco e jogou na poltrona, estranhando o olhar de Ronald. Ele parecia muito relaxado. O homem deixou as chaves na mesinha ao lado da porta e aproximou-se da mulher, ainda a analisando carinhosamente. – Você está linda hoje a noite.

— Obrigada. – Hermione começou a se desesperar internamente. Ele estava na zona de perigo, próximo demais de sua ex esposa. Atreveu tocar sua cintura, sem deixar de olhá-la nos olhos. A mulher estava tão atordoada com a atitude que não conseguia se mover e nem falar. Arrepiou-se quando ele moveu sua mão, também a tocando com a outra, agora quase abraçados. Sentiu uma incapacidade quase dolorosa. Quando ele tocou seu rosto, Hermione tentou se afastar, mas Ronald nunca a deixava sair facilmente. Ela iria morrer se o deixasse ir em frente.

— Não! – implorou ela em um sussurro. O pavor no rosto dela assustou Ronald. Ambos se olharam, devastados. Era quase como se lembrar de quando você quebrou algo que gostava muito.

 

Chet Baker - I Get Along Without You Very Well

 

Ele afastou-se, amedrontado. Escondeu suas mãos como se nelas estivessem o sangue de um assassinato. Hermione protegeu seu torso, abalada. Quis chorar ao notar o pavor que Hermione sentia dele.

— Me desculpe... Eu não sei o que me deu...

Hermione, ainda confusa, apenas virou-se lentamente, como se carregasse a casa nas costas, e subiu as escadas em direção de seu quarto. Ronald cobriu o rosto, devastado. Durante ao divórcio, pensou estar correndo para a liberdade, mas ali estava ele: Preso, encarcerado para sempre. Cumpriria sua sentença preso a uma nostalgia de algo que nunca poderia ter novamente.

Sua pena era a solidão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sei que demorei, mas eu não estava com o famoso bloqueio criativo.

Espero que ainda estejam aí...

Beijos! ;)