O Andarilho escrita por netobtu


Capítulo 15
Capítulo 15




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            O cão havia fugido ao ver a agitação. Como bem pode-se ver, é um cão muito esperto, ou com o instinto muito aguçado, pois frente a um perigo (que não se sabe se ele pode perceber), correu, na busca de se salvar. Ele havia assistido à prisão do Homem de longe, deitado embaixo de um banco, quietinho. Sua fuga havia sido magistral, ninguém o percebera. Também, que é que se pode fazer com um cão? Não havia motivos para prendê-lo também, era só um cachorro comum, não falava, não pensava, nele só existiam instintos, como dizem os cientistas e aqueles que estudam os cachorros.

            Passada toda aquela coisa humana à qual o cão provavelmente não entendia suas complicações, ele saiu de lá e foi procurar o Homem, farejando aqui e ali. Passou por vários destes seres, que chamaremos de guardas, e nenhum se preocupou com o cão, e nem este com aqueles (neste momento aparentemente o cão estava agindo feito um espião).

            Entrou em um prédio, conforme indicava o cheiro do Homem, que ia ficando cada vez mais forte e próximo. Passou por corredores escuros, subiu escadas empoeiradas e viu uma série de ratos e baratas, coisas que provavelmente um ser humano qualquer (o Homem, por exemplo) gritaria e já alarmaria toda uma cavalaria (não que houvesse uma) no seu encalço. O rabo do cachorro já ia balançando cada vez mais rápido conforme se aproximava da sala onde estavam seu dono e o malabarista.

            A porta encontrava-se aberta e, para confirmar um grande clichê, havia um guarda com as pernas sobre a mesa e o capuz preto jogado na cara, de onde saía grandes roncos. O cão entrou e viu o Homem atrás das grades que formavam sua cela. Seu semblante era de um homem derrotado, sem nenhuma perspectiva, como alguém que chamasse a morte, pois a vida era pesada demais para ele.

            O cachorro correu e se aproximou, pulando, da grade, o que fez o Homem sorrir e parar de se preocupar tanto com o cão, afinal ali estava, na sua frente, seu fiel companheiro, aquele que salvara sua vida.

            - É o cão, é o cão! - anunciou o Homem num sussurro para o malabarista, que estava deitado no chão empoeirado.

            - Que bom! - respondeu o malabarista, sem nem olhar para fora.

            Como o malabarista não media muito os riscos daquele lugar, ele falou um tanto alto aquelas palavras, o que fez o guarda acordar, quase caindo da cadeira. Ele se levantou, as vistas embaçadas e doloridas devido à mudança brusca de escuro para a claridade e viu ali o cão e o Homem próximos à grade, este dentro e aquele fora.

            - Que é que está acontecendo aí? - gritou o guarda, procurando exercer sua autoridade. Aliás, estranho como alguém que se julga uma autoridade tenta exercer isto através da mudança de tom de voz, neste caso parecendo até mesmo estar avesso à situação, pois não requeria gritos nem berros, visto que o lugar estava silencioso até demais.

            Não houve resposta por parte do Homem, que se recolheu ao fundo da cela. O cão, por outro lado, não saiu do seu lugar e começou a rosnar para o guarda, que agora estava de pé se aproximando da cela, meio tonto por causa do sono. Ergueu um cassetete contra o cão, que rosnava cada vez mais e se preparou para desferir o primeiro golpe, mas seu adversário foi mais rápido e pulou no braço dele, abocanhando-o e fazendo-o gritar (não com tanta autoridade quanto antes) de dor, encostando-se, de costas, na grade.

            Subitamente, o malabarista se levantou, puxando de sua cintura uma de suas facas e deu largos passos em direção à grade. Conforme ele andava com a faca empunhada, dela ouviam-se gritos e lamentações, como sempre e um vento cortante passou a existir na cela. O guarda nem notou, pois em uma fração muito pequena de tempo depois, ele já estava no chão, formando uma grande poça de sangue em sua volta, já que agora havia um grande rasgo nas suas costas, perfuradas pela faca do malabarista.

            O guarda se contorcia no chão, tentava gritar e nada saía. Teve um dos pulmões perfurados com o corte. O malabarista ajoelhou-se próximo à grade e puxou do corpo próximo as chaves para abrir a cela, logo em seguida jogou-as ao Homem, que estava sentado encostado na parede, horrorizado.

            - Que foi? - perguntou o malabarista.

            - Você... você matou o guarda! Como pôde? - perguntou o Homem, os olhos esbugalhados.

            - Eu pude porque tenho a faca, oras. Se não tivesse a faca, provavelmente tentaria enforc... - e foi interrompido.

            - Eu esqueci que com você a conversa não flui de modo decente. - fez-se raiva na expressão do Homem e ele por um tempo esqueceu que o malabarista havia cometido um assassinato.

            O Homem, então, pegou a chave e abriu a cela, onde o cão rapidamente adentrou e fez festa para seu dono e companheiro. O malabarista não os esperou e já saiu daquele lugar, aparentemente não gostava muito de ficar fechado. Logo depois vieram o Homem e o cão.

            - E agora, que fazemos? - perguntou o malabarista ao Homem.

            - Temos de fugir desta cidade horrível, que nos recebeu com esta agressividade toda sem necessidade.

            - Então é melhor irmos andando, você não acha?

            O Homem nem respondeu e já foi andando, deixando para trás o corpo do guarda, agora já paralisado pelo seu estado de morto. O Homem agora se sentia renovado, liberto. Por um momento, breve, mas ainda assim um momento, sentiu-se livre e sem preocupações, ele só não correu porque ouviu um barulho vindo mais à frente, na curva do corredor escuro.

            Acenderam-se as luzes e sombras se projetaram na parede logo à frente e barulhos de passos foram ouvidos. Com medo do que pudesse ser, o Homem voltou para a sala onde havia a cela e o guarda morto, e foi seguido pelo malabarista e pelo cão.


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