Capítulo 68 - Mal-entendido...para variar

 Kate volta com uma porção de tempurá para César que os morde imediatamente. Parecia estar com fome, ou então a depressão o deixava faminto.

- Err..você sabe que isso está bem quente, né? - fala Kate. Bem, ele não tinha pensando nisso ao começar a abanar a boca. Kate corre e pega uma garrafa de água na geladeira para ele.

- Aff..aff...obrigado - ele responde - É que minha situação me deixa nervoso

- Percebi. Afinal de contar, o que te aflige tanto

- Problemas no coração

- Oh, isso é sério. Devia procurar um cardiologista. Se soubesse, nem teria trazido uma comida tão frita e...

- Não, não é desse tipo de coração que estou falando. Quero dizer...problemas de amor

- Oh, amor. É um problema que assola a todos, né?

- Você já esteve apaixonada, não?

- Algumas vezes, mas nunca deu certo. Trabalhar sempre me ajudou a esquecer

- Entendo... o meu problema é que ainda não posso esquecer...antes de saber a resposta

- Resposta? Que resposta?

- Se ela gosta de mim ou não

- Entendo. Então você é do tipo que não consegue se declarar

- Mais ou menos...já fui mais tímido, mas acontece que realmente não consigo em declarar por razões alheias à minha vontade

- Parece problemático. Mas você acha que pode dar certo?

- Aí que está...talvez dê certo, mas talvez não dê por conta de outro problema

- Que problema?

- A outra...

- Outra?

- Esse é meu problema!

- Mas afinal qual é o seu problema?

- Exatamente o fato de ter uma outra. Existem...existem duas garotas de que gosto

- Duas? Então...então..

- Não é um problema?

- Então você é um galinha? Que horror!

 Pena que ela fala isso um pouco alto e alguns pedestres que andavam próximo ao quiosque estranham. César se encolhe de vergonha e pede para a japinha fazer silêncio.

- Shhh! Não é isso! Eu...eu não quero ficar com as duas...mas acontece que não consigo me decidir por nenhuma delas...é como...é como se amasse as duas do mesmo jeito

- Então você quer ficar com as duas.

- Não. Mas acontece que não sei qual delas escolher. 

- Se você vivesse num país que apoiasse a poligamia isso seria mais fácil

- Você deve estar me achando louco, não é?

- Imagina. Coisas desse tipo não costumam acontecer muito por aqui. Até que é divertido

- Divertido? Mas é um problema sério!

- Para mim parece engraçado

- Não vejo graça nenhuma

- Espera aí

- O que foi?

- Tem tempurá no seu rosto...não, não é aí...peraí..eu já tiro

 Mas justamente na hora que Kate pega o guardanapo para tirar a sujeira do rosto de César, Raquel chega. Ela faz uma cara de estranhamento.

- César?

- Ah, Raquel! Você por aqui?! Nossa

- Eu trabalho aqui, lembra? Só fui fazer umas compras que a Katia pediu - ela sorri. César também ri e entrega seu livro para ela.

- Tome. O livro que eu prometi

- Ah, obrigada.

- Quer que eu leve as coisas lá para dentro? - pergunta Kate.

- Não. Imagina. Deixa que eu levo. Hehe! - ela dá uma risadinha estranha. César queria falar com ela mais uma vez, mas ela entra rápido na cozinha.

- Até que veio mais rápido dessa vez - repara Katia, enquanto cortava pepinos em uma velocidade espantosa - Está melhorando como empregada...com um pouco mais de treino talvez já possa subir de nível

- Obrigada. Hihi

- O que foi? Viu alguma coisa engraçada?

- Nada demais...mas acho que a Kate está passando um momento delicado.

- Minha irmã? O que quer dizer?

- Vi ela conversando com um amigo meu, o César, e os dois pareciam estar se dando muito bem. Deu pra sentir o clima

- Clima?

- É...talvez a gente tenha um novo casal chegando, hih

- Ah...não mesmo!

- Como assim? Não quer quer sua irmã namore?

- Não antes de testar se ele é bom o suficiente para ela!

- O quê?

Enquanto isso, Kate e César continuavam a conversar na mesa. Mas César parecia cada vez mais pessimista.

- Talvez seja melhor desistir das duas...acho que não sou bom o suficiente para nenhuma delas

- Calma, calma...também não é assim...você só precisa refletir mais sobre isso

- Mais do que venho refletindo?

- Refletir nunca é demais - diz Kate, segurando na mão de César em tom de amizade. Pena que nessa hora, Katia aparece com uma espada colada no pescoço do rapaz.

- Então...é você que está flertando com a minha irmã, não é?

- O..o quê? - diz César, sentindo que todo o tempurá que comera já tinha passado por todo o processo de digestão só naquele segundo.

- Não se faça de desentendido! Não é qualquer um que pode entrar para nossa família...se quer mesmo sair com ela, vai ter que provar ser bom o suficiente para isso! Levante-se e lute

- Não..não posso..

- Não pode? E pretende sair com ela sem a minha aprovação? Sou a mais velha e tenho a obrigação de zelar por ela

- Onee-san...o que está fazendo? - Kate tenta impedir.

- Zelando pelo seu futuro, Kate

- Err...ela é sempre assim? - diz Raquel, se aproximando devagar de Kate, ao ver a confusão que começou.

- Bem, digamos que ela sempre foi rigorosa com meus pretendentes - explica Kate - Mas porque está fazendo isso com o César?

- Ué? Vocês não estavam?

- A gente não estava o quê?

- Você sabe...aquilo...o clima e tudo...

- Oh, não. César e eu apenas estávamos conversando. Ele já tem planos para outras..quer dizer, outra pessoa

- O quê? Então você não estava assediando a minha irmã?

- Assediando é uma palavra bem forte, não acha? - diz o rapaz, ainda com aquela lâmina bem perto do pescoço.

- Assediar? O que você disse para ela, Raquel? - pergunta Kate.

- Eu não disse nada disso..ela que entendeu errado

- Bom. Se é assim...acho que posso mantê-lo vivo...mas estou de olho em você, viu garoto? - termina a irmã mais velha, enquanto recolhia sua espada - Além disso, ainda tenho contas a acertar com aquele seu amigo. Eu lembro muito bem de você naquela noite

- Então tá - César sussurra, ainda temendo pelo seu pescoço.

- Sendo assim...voltem ao trabalho. Logo, logo, o quiosque enche

- Sim, senhora! - dizem as duas em uníssono. César ainda estava meio congelado. Kate sorri.

- Desculpe...a minha irmã leva as coisas muito a sério - diz Kate - De qualquer forma, boa sorte nos seus objetivos...como compensação, essa porção de tempurá fica por conta da casa.

- Desculpe a confusão, César. A gente se vê na facul. Até

- A- Até - gagueja o garoto, ainda com dificuldade para sair dali. Aquelas duas, Kate e Raquel, eram mesmo bem parecidas em personalidade, não é? Mas César não estava pensando muito nisso naquela hora...na verdade, o que ele precisava mesmo...era de uma calça limpa. "Por que isso acontece comigo? Por queee?", pensa o pobre coitado. Mais uma confusão para a coleção dessa turma...