Twin Beach escrita por Metal_Will
Capítulo 36 – Entre, senhor diretor.
Naquela quarta-feira, Thiago e Mariana voltavam tranquilamente de mais um dia de faculdade (e em um dos raros dias onde podiam chegar cedo em casa, já que o quiosque não abria às quartas). E, como bons universitários, era esperado que mantivessem uma conversa condizente com sua posição acadêmica atual.
-Não, Thiago, ainda não ouvi ilariê da Xuxa em espanhol... - dizia Mariana, enquanto Thiago corria todas as faixas do seu mp4.
-Meu, você tem que ouvir, muito bom! - ele dizia, extremamente animado. Mas, a animação dele não dura muito assim que chega em casa e recebe um tiro de batata na cara.
-Funciona! - grita Stephany, super animada – Essa espingarda de batata funciona mesmo!
-Ai!- gemia Thiago, enquanto se levantava – Que diabo você tá fazendo, menina?
-Experiências, meu caro! - diz a menina, toda metida à estudiosa – Aprendi a fazer isso num vídeo de ciências que vi na internet. É só pegar uma batata, um cano e um êmbolo para fazer a pressão. Daí você espeta a batata com o tubo e aperta com o êmbolo para atirar. Legal, né?
-Não importa como faz. O problema é você ficar atirando isso na cara dos outros! Alguém poderia se machucar? Você já pensou nisso? - bronqueia Thiago.
Stephany pensa por alguns instantes e diz
-Hmm...não, nunca pensei. Mas que graça tem fazer uma espingarda de batata se não se pode atirar nos outros?
-Você não tem espírito científico, você tem espírito de porco mesmo, menina! Mariana, fale alguma coisa!
-Apesar de tudo ele tem razão, Stephany. Você precisa pensar mais nos outros
-Mas eu penso! - responde a garota, com voz meiga.
-Mesmo? - pergunta Mari.
-Claro! - diz a mocinha – Assim que vi o vídeo logo pensei em testar no Thiago!
-Ora, sua
Nisso, Raquel chega na sala de entrada, para buscar alguma coisa na cozinha.
-Opa. Já chegaram? - ela cumprimenta a dupla – O que está acontecendo de legal aí na sala?
-Stephany tentou me matar com uma batata
-Raquel! Raquel! Funciona mesmo! - diz a menininha, toda contente.
-Sério? Mostra aí de novo! - Raquel pede, inocentemente.
-Que? - Thiago esbugalha os olhos.
-Com todo o prazer! - diz Stephany,pegando outro pedaço de batata e colocando o êmbolo de madeira no tubo novamente.
-Ei, você não ouviu nada do que eu falei?
Mas dessa vez, Thiago se desvia e o tiro acaba atingindo seu Joaquim, que chegava da rua, trazendo o jornal. A batata cai bem na leitura do pobre ancião.
-Para de brincar com esse troço, menina! - bronqueia Thiago, tomando o cano da mão da garota – Vai acabar machucando alguém de verdade
-Tá, tá bom. Parei
Mas Thiago não deveria ter pego o brinquedinho dela naquela hora, afinal, a prova do crime agora estava nas mãos do pobre rapaz.
-Ei, você! - reclama seu Joaquim – O que pensa que está fazendo atirando nas pessoas?
-Hã? - estranha Thiago, se tocando na hora que seu Joaquim achava que a culpa era dele – Espere...eu não tenho nada a ver com isso
-Ah, é? E o que é essa espingarda de batata na sua mão? Já brinquei muito disso quando era menino. Acha que não conheceria uma de perto? Não tem respeito nem pelos mais velhos?
-Espere...não fui eu, foi a Stephany que
Mas seu Joaquim não queria ouvir a explicação de ninguém. Ele toma o cano das mãos de Thiago e bate na cabeça do coitado com toda a vontade. Seu Joaquim não levava desaforo para casa.
-E da próxima vez que tentar uma gracinha dessas...vou colocar esse cano num lugar que você não vai gostar nadinha. Abusado! - e o ancião vai para o quarto com seu jornalzinho. Thiago estava injuriado.
-Isso foi culpa sua! - diz ele para Stephany.
-Minha? Foi você que tomou da minha mão..
Raquel e Mariana assistem tudo passivamente. A ruivinha de óculos não resiste em comentar.
-Eles se dão muito bem, né?
-Mais do que você imagina...quer tomar alguma coisa? - diz Mariana, já totalmente acostumada com as brigas de Thiago e Stephany.
Enquanto Thiago reclamava e Stephany não mostrava nenhum sinal de remorso por suas travessuras, alguém toca a campanhia,
-Eu atendo! - diz dona Joana, também completamente indiferente às discussões daqueles dois. Ela limpava as mãos no guardanapo e vê um homem meio gordo, careca, mas bem vestido de terno e gravata. Ele estava acompanhado de um garotinho que tinha mais ou menos a idade de Stephany.
-Boa tarde, senhora – cumprimenta o homem – É aqui que mora Stephany Gratsky Costa?
-Ela mesma...o senhor seria?
-Sou Conrado Fonseca, diretor da escola dela
Dona Joana pede que ele entre. O homem pede licença, justamente na hora que Thiago e Stephany brigavam pela posse da tal espingarda de batata.
-Vai, me dá isso! É perigoso demais para ficar nas suas mãos! - Thiago puxava para seu lado.
-Mas é meu! Deu muito trabalho fazer esse êmbolo!
É uma pena que ela escape das mãos dos dois e vá bater justo na cara do pobre diretor que acabara de chegar.
-Ops! Foi mal! - se desculpa Stephany.
-É tudo que tem a dizer? - bronqueia Thiago – Sabia que isso acabaria machucando alguém!
-A culpa é sua por ficar tentando roubar minha espingarda de batata
-O senhor está bem? - pergunta Thiago.
-Sim, sim, estou – ele ainda tentava se recompor do cano de plástico que levara na cabeça.
-Ótimo – diz o garoto que acompanhava o diretor – Agora podemos esclarecer as coisas, não é, pai
-Ah, é você, Léo! - cumprimenta Stephany com um sorriso.
-Você é muito cara de pau, sua...sua...vigarista! - reclama o garoto.
-Vigarista? - estranha Thiago.
-Não tenho a menor ideia do que ele está falando – a menina se defende.
-Você é responsável por essa garota? - o diretor pergunta a Thiago.
-Não,mas eu sei quem é – ele responde prontamente e grita para seu Joaquim – Seu Joaquim! Tem alguém aqui querendo falar com o senhor!
Mas ninguém responde
-É a soneca da tarde dele – responde dona Joana, trazendo umas torradinhas com café para as visitas – Ele não vai acordar tão cedo
-Tsc – reclama Thiago – Tudo bem, pode deixar o recado comigo...o que essa garota mau caráter de olho junto aprontou para o senhor..senhor..
-Conrado Fonseca. Sou diretor da escola dela
-Diretor? - repete Thiago, lembrando do quanto temia essa figura nos seus tempos de colégio (foi difícil escapar do castigo da mãe quando as fotos pornográficas que ele e os amigos trocavam juntos foram descobertas).
-Err...tudo bem, senhor diretor, o que ela fez?
-Não foi bem comigo...foi com o meu filho
-O que tem o seu filho? - diz Thiago, vendo um garoto meio gordinho com uma expressão furiosa no rosto.
-Stephany vendeu um item no mínimo estranho para ele...
O diretor entrega nas mãos do rapaz e ele quase tem um treco ao ver uma história em quadrinhos erótica e ele parecia conhecer aquilo.
-Mas isso aqui..
-É um absurdo, não? Como pode uma criança andar com esse tipo de coisa na escola?
-Essa garota me trapaceou! - diz o filho do diretor – Ela me devia uma grana e perguntou se podia pagar com algo que eu iria gostar. Eu, inocente, achei que fosse algo bom mesmo e ela me entrega essa coisa!
-Ah, vai dizer que não gostou – provoca Stephany.
-Como vou gostar de uma coisa pecaminosa dessas!
-Somos de uma família protestante. Espero que entenda
“Que vexame!”, pensa Thiago, “E além do mais...Isso aqui é meu! Stephany anda mexendo nas minhas coisas de novo! Eu até reconheço essa marca de chocolate na página 33, bem na hora que a heroína é feita refém dos alienígenas de tentáculos que começam a arrancar toda a roupa dela com áci...ei, não é hora de pensar nisso”
-O senhor está bem? - pergunta o diretor.
-S-Sim, mas...Stephany! Por que você fez isso?
-Bom, você disse que estava querendo vender suas revistas, então pensei que poderia usar uma sua e pagar depois. Tava sem grana para devolver pra ele
-O que? Então o senhor que dá esse mau exemplo para a garota?
-Hã? Não! Espere! É um mau entendido! Eu nunca deixei ela mexer com esse tipo de coisa!
-Expor menores de idade a esse tipo de material é imoral e ilegal, não sabia?
-Já disse que não tenho culpa nisso! - Thiago tentava se explicar, mas a situação estava complicada.
-Calma, calma, diretor – diz Stephany – Ele está certo. Fui eu quem pegou das coisas dele. Mas a gente pode resolver isso fácil
-Fácil? - pergunta o diretor
-Raquel! - grita Stephany
-Hã? O que foi? - chega a garota, enquanto terminava de rir de alguma coisa que estava conversando com Mariana.
-Pode me emprestar dez reais?
-Para que?
-Só para saldar uma dívida. Depois eu pago
-T-Tudo bem
Pouco tempo depois, ela paga o filho do diretor com os dez reais, tudo, claro, sem a menor cerimônia.
-Pronto, seu mão de vaca. Taí seu dinheiro!
-Era isso mesmo que você me devia
-Espere...como educador e bom cristão não posso permitir uma imoralidade dessas! Sua atitude que foi absurda e...
-Desencana, já falei que a culpa é minha – diz Stephany sorrindo e falando com uma voz angelical.
-Não caia nessa, pai – diz o filho dele, apontando para a garota. Ela vai tentar te enrolar.
-O que? - Stephany se levanta, injuriada – Eu aqui, tentando salvar a sua pele e é assim que você me agradece?
-D-Do que está falando?
-Senhor diretor! - diz a garota – O seu filho não é tão santinho quanto diz que é
-Como assim? - o diretor começa a olhar para o menino, que se sente incomodado – Do que ela está falando, Leonardo?
-Eu vou provar – diz Stephany, tirando um gravador da mochila. Ela liga o aparelho e logo pode-se reconhecer a voz do garoto.
-E então? - dizia Leonardo, no gravador – Trouxe a grana?
-Ainda não – diz Stephany, com uma voz frágil – Mas juro que vou arranjar até o fim do mês
-Até o fim do mês? Vou cobrar juros, ouviu?
-Mas...se eu não arranjar?
-Hmmm...vou pensar no seu caso...aah...já sei
-O que? - diz a garota, ainda com voz frágil.
-Ouvi dizer que o rapaz que mora com você tem umas revistas interessantes
-Hã?
-Traga uma delas para mim que eu perdoo sua dívida
-Mas...ele nunca vai me dar aquilo e...isso é coisa de pedir para uma garota?
-Se vira....ou então me dá o dinheiro. Com juros! Hehehe!
-E foi isso que aconteceu – conclui Stephany, suspirando e se fazendo de vítima.
-É...é mentira, pai. Como pode acreditar nisso?
-Vamos ter uma conversa muito séria em casa, meu rapaz! - diz o diretor – Algo que você já devia saber sobre pureza e bons pensamentos. Desculpem o incômodo. E você deve desculpas para a Stephany
-Tudo bem...está desculpado – diz a garota, com um sorriso meigo – Afinal, todos devemos perdoar!
-Desculpas? Mas eu..
-Viu só? - diz o diretor – Ela é tão boa que estava disposta a levar a culpa só para te proteger!
-Que? Mas...
-Chega! Vai ficar de castigo por...ainda vou decidir por quanto tempo! Mais uma vez, desculpem o incômodo! - repete o diretor, que vai embora envergonhado.
-O que aconteceu aqui? - pergunta Raquel, totalmente deslocada.
-Ah, nada demais. Só um mal entendido – explica Stephany, já saindo do sofá, quando Thiago a pega pela camiseta.
-Não tão rápido, mocinha! - ele diz – O que você fez com aquele gravador?
-Tenho culpa que a voz do Leonardo... - diz ela -...seja tão fácil de imitar? - ela continua, fazendo a voz do garoto – Ando treinando imitar vozes!
-Sua...você é a encarnação do mal, menina!
-Obrigada – ela responde, cinicamente – E agora? Sobrou um pouco de suco...tô com sede
-O que aconteceu? - agora é Mariana que chega na sala sem saber de nada – O que a Stephany aprontou? Falsificou a assinatura da mãe da colega de novo?
-Se não fosse isso, ela nunca teria ido para a melhor excursão da vida dela – se defende a menina, lá da cozinha, pegando o suco.
-É melhor nem saber, Mari..ai,ai – diz Thiago, pegando sua revista e até esquecendo que as meninas estavam ali.
-Thiago....o que você anda mostrando por aí? Que revista é essa?
-Hã? Ai, droga! Stephany...sua...
Mas ela não ouve...ou será que fingiu que não ouviu? É...certas coisas nunca mudarão...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Stephany...a típica personagem que nunca se dá mal! XD
E, não, a mãe dela não tem essa profissão que você pensou
PS: Procure coisas como canhÃo de batata ou arma de batata na net para entender do que ela estava falando.. (embora o de Stephany tenha sido bem mais simples, apenas com pedaços de batata e não com uma batata inteira)