Capítulo 26 - Conhecendo o coração

    Era um domingo tranquilo e sereno. O sol brilhava alegremente naquela manhã e César fazia uma típica caminhada pela cidade. Embora estivesse gostando de sua estadia em Marinário, da faculdade e das pessoas, um grande problema o atormentava: seu coração. Algum tipo de doença ou algo assim? Longe disso...não era uma doença (bem, algumas pessoas até podem achar que sim), mas sim aquilo que chamam de paixão. Estava claramente apaixonado. Mas isso era ruim? Sim, quando se está apaixonado por duas pessoas...e quando essas duas são irmãs gêmeas. "Mas ninguém pode se apaixonar por duas pessoas ao mesmo tempo", você me diz. Bem, vai dizer isso para ele.

    - Bom dia, meu jovem - diz uma voz simpática, enquanto César caminhava pelo centro da cidade.

    O rapaz olha para os lados e percebe que era com ele. A pessoa que o chama é uma velha senhora, com roupas longas e usando um tipo de véu. Estava sentada de frente a uma mesinha com uma bola-de-cristal e uma placa com as palavras "Madame Gilda"
    
    - Hã? A senhora falou comigo? - pergunta o rapaz, ainda não entendendo muito bem.

    - Sim. Parecia estar andando por aí com uma cara de dúvida.

    - Dúvida? Sim, sim, é isso mesmo...estou realmente com uma dúvida - diz César, prontamente.

    - Talvez eu possa ajudá-lo - diz a senhora, sorrindo - Madame Gilda, a seu dispor
    
    - M-Madame Gilda?

    - Sou vidente - ela continua, mais uma vez sorrindo - Minha missão na terra é aconselhar as pessoas com problemas com a ajuda dos espíritos

    - Hã? Bem....eu não acredito muito nessas coisas...

    - Entendo...os jovens de hoje são muito céticos...mas posso lhe dizer como vai a sua vida sem cobrar nada. Será que você vai acreditar um pouqunho em mim depois disso?

     - Não acho, mas... - ele suspira - Não tenho a nada perder, certo?

     - Certo

     César se senta na frente da vidente e ela começa a fazer alguns movimentos com a mão em cima da bola de cristal.
    
    - Deixe-me ver...você parece ser uma pessoa esforçada

    - Bem, eu estudo na Universidade daqui

    "Ótimo", pensa a vidente, "Já me deu uma ótima pista"

    - Oh, sim. Vejo claramente...é na Universidade de Marinário, não é? - continua Madame Gilda.

    - Isso. Isso mesmo. Como a senhora adivinhou? - diz César, entusiasmado.

    "É fácil de deduzir considerando que é a única Universidade daqui. Ou é isso ou é o seminário de padres perto da pracinha", pensa a vidente.

    - São os espíritos que contam isso na bola de cristal, meu jovem - responde a vidente, com uma voz mística.

    - Uau! Como eles são?

    - Pare! - bronqueia a vidente, quando César tenta olhar mais fundo na bola - Os espíritos não aparecem para qualquer um, apenas para quem tem uma grande afinidade com o mundo místico

    - Aah - entende o garoto. Madame Gilda continuava sua visão.

    - Parece estar pensando em sua vida amorosa também, não é? - pergunta a vidente, ainda fazendo movimentos com a mão.

    - Exatamente! A senhora é boa mesmo!

    "Um rapaz na idade dele sempre está pensando na vida amorosa", pensa a vidente, com um sorriso no rosto.

    - Não se impressione comigo. Impressione-se com os espíritos

    - Então os espíritos são bons mesmo...pois é, estou meio perdido com os meus sentimentos

    - Sério? Conte mais...pode desabafar

    - Bem...eu gosto de uma garota...mas, ao mesmo tempo, gosto de outra garota

    - Como isso é possível?

    - Bem...

    - Não fale! Os espíritos responderão! - diz a vidente, fazendo novamente os movimentos com as mãos.

    - E?

    - Sim...diz na bola...a garota que realmente tomará seu coração estará vestida de vermelho

    - Hã?
    
    - E pode estar mais próxima do que você imagina

    - Sério?

    - Os espíritos não brincam

    "A garota que realmente vai tomar o meu coração...estará vestida de vermelho", pensa o inocente rapaz, "Então talvez nem a Mariana e nem a Renata sejam as escolhidas pelo destino para mim. Será que tudo não passa de uma provação? De uma ilusão?"

    - Muito obrigado, Madame Gilda. Vou levar essa mensagem comigo! - agradece o rapaz, apertando a mão da senhora.

    - Bem, de nada, mas...eu disse que falar sobre sua vida seria grátis, mas falar sobre a garota do seu futuro vai te custar cinco reais.

    - Oh...tudo bem - César paga a moça e sai satisfeito.

    "É isso...tudo não passava de uma armadilha do meu coração. Os espíritos dizem que a garota que vai tomar meu coração estará vestindo vermelho. Certo. E pode estar mais perto do que eu imagino"

     Nisso, César esbarra com uma mulher gorda, cabelo bagunçado e com uma berruga enorme no nariz. E, o detalhe, vestia vermelho.

    - Ei, olha por onde anda, cara - resmunga a mal-humorada.

    - D-Desculpe - diz César, reparando também no mau-hálito dela.

    "Vestida de vermelho?", ele pensa, "Espere...isso...não pode ser verdade...ela?"

    César sente um arrepio. Não. Calma aí. Ela não seria a única garota de vermelho da cidade. Poderia ser qualquer outra. Ele continua andando, evitando ao máximo olhar para qualquer garota, até chegar ao quiosque da praia. O Quiosque Twin...claro que ele tinha que dar uma passada ali

     - B-Bom dia - diz César, pegando uma mesa e ainda com a imagem daquela moça de vermelho na cabeça.

     - César! Oi! - atende Renata, com um sorriso.
    
     - Hã? Ah, Renata! É você e...está usando vermelho... - responde César. Naquela altura, César saiba diferenciar uma gêmea da outra só pelo sorriso.

     - Sim. É o uniforme do trabalho, né?

     - N-Não acredito... - ele balbucia, também ficando vermelho.

     - O que foi?

     - Não...não é nada

     "Não acredito...então...então a garota do meu destino seria mesmo a Renata!", ele pensa, quase com lágrimas de alegria.

     - Renata, empresta a caneta - diz Mariana, que aparece ali do nada - Ah, oi César. Tudo bem?

     - Hã? Mariana?

     - Eu. Tudo bem?

     - Você também usa vermelho?

     - É. É o uniforme, né? - diz Mariana - Na verdade, eu e o Thiago cobrimos a Renata nos fins de semana, mas ele queria visitar a família dele esse fim de semana. Mas ele deve estar voltando hoje à tarde.

     - Entendo...

     "As duas usam vermelho. E agora? Isso não altera o meu destino...ainda estou preso às duas...às duas. E agora? O que os espíritos diriam e...", pensa o angustiado rapaz.

     - Tudo bem com ele? - pergunta Mariana.

     - Parece estar angustiado com alguma coisa, né? - diz Renata, dando de ombros.

     "Espere um pouco", pensa César, "Desde quando eu acredito em espíritos?"

    - Vai pedir alguma coisa, César? - diz Renata, sorrindo.

    É...parece que nosso amigo César ainda vai continuar nesse dilema por um tempo. Mas bem que ele podia ser mais crítico quanto aos conselhos que recebe. Falando cientificamente, videntes não são muito confiáveis. Todo mundo sabe disso. Quem cairia nessa conversa?

     - Ei, rapaz - chama Madame Gilda novamente. Dessa vez, também uma pessoa bem conhecida da gente.

     - Sim? - responde Thiago com um sorriso, indo para o banco da cidade após chegar de viagem.

     - Você parece ser uma pessoa esforçada...

     - Uau! É verdade! Estou estudando na Universidade de Marinário! Estou realmente me esforçando! - responde o rapaz, já se sentando na mesinha dela.

       É...deixa pra lá...