Twin Beach escrita por Metal_Will


Capítulo 22
Capítulo 22




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Capítulo 22 - Passeio no shopping

     Em uma dessas quartas de folga, Thiago resolve passear pelo centro da cidade, coisa que não tinha feito até então. Como pode? Quase dois meses morando naquela cidade e ainda não conhecia quase nada sobre ela? Sabia onde era a praia, a faculdade, mas nunca tinha visto outros locais, como o centro comercial e outras coisas. Seria legal comprar algum presentinho quando fosse visitar sua família, não é? Thiago morava com os pais e um tio solteirão desempregado que sempre dava a desculpa de estar procurando emprego, mas nunca arranjava. E o garoto sempre se arrepiava ao ouvir o quanto era parecido com o tio. Não, não. Solteirão, não. Desempregado até pode ser, a gente não sabe o destino, mas solteiro ele não queria. Por sorte, os pais de Thiago eram donos de uma fábrica de colchões (?) e tinham um rendimento razoável. Mesmo assim, Thiago sempre preferiu lutar pelo seu próprio lucro do que viver pedindo dinheiro a eles...mesmo que significasse ficar duro alguns meses. Ele só não queria ser chamado de playboy ou acabar como seu tio folgado.

    Passando pelas lojas, ele viu alguns locais com várias lembrancinhas. Camisetas, canecas, chaveiros com o nome de Marinário. "Marinário", pensava Thiago, "De onde tiraram o nome dessa cidade?"

    - Procurando alguma coisa? - diz uma voz conhecida.

    - Hã? - vira-se Thiago, assustado - Ah, é você...Renata

    - Oi
   
    Renata? Mas o que ela estava fazendo ali? Se Thiago soubesse que ela também iria para o centro, teria convidado...mas ela estava dormindo tão bem.

    - Você também veio para o centro hoje? Por que não falou...a gente podia ter ido junto - diz a loirinha.

    - É que...sua irmã falou que você estava dormindo tão bem

    - Ah, é que eu durmo até tarde mesmo

    - Estranho...você costuma ir se deitar cedo

    - É. Mas a cama é tão boa

    - A Mari veio com você?

    - Não. Ela tinha que estudar algumas coisas da iniciação dela

    É verdade. Mariana conseguiu se engatilhar num projeto de iniciação científica (*) com um dos professores da faculdade. Embora estivesse só no primeiro ano, o professor a convidou quando viu que ela era a primeira colocada no vestibular (a beleza dela também ajudava, mas Mariana preferia acreditar que era só, e somente só, pelo mérito dela)

    - É verdade...e você? Está fazendo o que por aqui?

    - Aproveitei a folga para ir ao mercado e levar algumas coisinhas. E você?

    - Bem, estou andando há uma hora e queria comprar alguma lembrancinha da cidade para minha família

    - Ah, tá - ela diz - É meio estranho alguém receber uma camiseta dizendo que esteve em Marinário. Essa cidade tem um nome feio que dói, né?

    - É verdade...queria saber de onde veio isso

    - Ah, isso - diz Renata, sorrindo - O fundador da cidade tinha um alto cargo na marinha e se chamava Mario de alguma coisa...juntando os dois nomes surgiu Marinário.

    - É isso mesmo?

    - Pior que é verdade. O prefeito insiste em contar essa história todo ano no aniversário da cidade

    - E quantos anos essa cidade tem?

    - Ah, não tem nem vinte anos. Antigamente ainda éramos pedaço de Santos (**)

    - Hmm...você é bem entendida na hístória da cidade, né?

    - Como eu disse, o prefeito fala disso todo ano. E o prefeito também nunca muda

    - Nunca muda?

    - Não. A verdade é que ninguém tem saco para concorrer, então, só uma pessoa acaba concorrendo à prefeitura

    - Só uma? Ninguém quer assumir a prefeitura?

    - Ah, o governo até que cuida direitinho daqui. Se você ver, a cidade é bem limpinha

    - Caramba...agora estou começando a entender melhor essa cidade

    - A gente acaba ouvindo bastante essas histórias quando namora com o filho do prefeito

    - Hã? Você já namorou o filho do prefeito?

    - Já. Foi um dos meus ex-namorados. Ele era bem legal, mas acabou terminando comigo - ela diz, com um sorriso inocente. É verdade. Thiago se lembra que Renata, embora mais gentil, era mais saidinha que Mariana para essas coisas.

     - Mas e aí? - pergunta a loirinha - Já decidiu o que vai levar?

    - Ainda não

    - Talvez no shopping da cidade tenha algo mais interessante

    - Essa cidade tem um shopping?

    - Claro. Aqui não é nenhum fim de mundo. Não é tão grande quanto os shoppings de Santos, mas é bem legal

    - Ah, se você puder me dizer onde é?

    - Imagina. Eu vou com você

    - Vai comigo?

    - Claro - ela diz com um sorriso - Minha roupa não está tão ruim assim, está?

    Renata usava uma camiseta rosa de alcinha, uma sainha preta e sandálias também rosa. Era uma roupa simples, mas bem bonitinha. Thiago apenas usava bermuda, tênis e camiseta preta. Roupas comuns.

    - Claro que não - diz Thiago.

    - Só preciso comprar um pouco de fermento antes

    - Fermento? De novo?

    - A Mari quer fazer uma receita nova de bolo
   
    - Vocês gostam bastante de cozinhar, né?
   
    - A Mari gosta mais do que eu. Mas eu quero aprender com ela...se um dia tiver que substituir o tio Natan na cozinha
   
    - É verdade...você pretende continuar no quiosque?
   
    - Claro. Tá tão tranquilo por lá

    De fato, Renata era uma pessoa sem o mínimo de ambição. Os dois passam no mercado, Renata pega só o fermento e passa no caixa.

    - Oi, Renata. Faz tempo, heim? - diz um cara de óculos com o uniforme do mercado, que estava olhando os preços

    - Oi, Matias! Faz um tempinho, né?

    - Vai levar o que hoje?

    - Hmm...só fermento

    - Fermento, é? Tá aqui...na mão

    - Obrigada

    - Aí, Cibele! - grita o cara para a moça do caixa - Põe no desconto para ela, tá

    - Ah, a Renata! Beleza

    O sistema do supermercado realmente tinha um botão de desconto para clientes especiais (ou algo assim) e Renata paga o fermento com cerca de 70% de desconto.

    - Obrigada

    - Volte sempre

    - Você é um amor! - diz a loirinha com voz doce

    O cara praticamente perde a voz. Ficou ali, parado, como se estivesse em transe. Renata e Thiago simplesmente saem.

    - O nome dele é Matias, é filho do dono do mercado e trabalha lá há algum tempinho. É um fofo, sempre me dá desconto quando compro dele. Por isso sempre que passo pelo centro gosto de comprar ali

    - É...ele parece gostar bastante de você

    - Não é? - diz Renata - Mas não queria dar o fora nele assim, na cara

    - Vai dizer que você também é a fim dele?

    - Não, não. Ele não é bem o meu tipo. É que... - ela diz, desviando o olhar, meio envergonhada.

    "Ela gosta de outra pessoa?", pensa Thiago, "Pensando bem...qual será o tipo dela?"

    - É que se eu der um fora direto nele...não vou mais ganhar desconto na loja! - termina a loirinha, e, pelo tom, ela realmente foi sincera nessa colocação. Thiago sente a gota escorrendo pelo rosto.

    "Então é isso?", ele pensa.

    - Bem, agora que já peguei o fermento. Podemos ir para o shopping, né?

    - Você veio até o centro só para ganhar fermento com desconto?

    - Na verdade, de vez em quando eu gosto de passear um pouquinho também.

    O ônibus cehga bem rápído. Ela dá sinal. O motorista para imediatamente.

    - R-Renata? Bom dia - cumprimenta o motorista.

    - Bom dia - diz ela - Faz tempo que não pego ônibus com o senhor, né?

    - É verdade. Precisa sair mais

    Ela passa pela catraca. O motorista, um coroa lá pelos quarenta anos, ainda dá uma olhadinha para a loira antes de dar a partida. Thiago percebe isso e, claro, também entende muito bem a posição do motorista. Renata parecia ser uma garota bem popular naquela região. O ônibus estava vazio, só com alguns marmanjos atrás, que também não puderam resistir em dar uma secada na garota.

    - Gata, heim? - comenta um deles, em voz baixa.

    - E o maluco com cara de trouxa do lado dela? Se for o namorado eu me mato - comenta outro, também em voz baixa.

    Thiago não podia ouvir muito bem, mas sabia que estavam falando dela. Eram moleques por volta dos 16 anos, colegial. Ah...ele se lembra bem dessa época...embora não tivesse mudado muito desde então. Em resumo, Thiago também entendia muito bem a posição dos moleques.

    Ao chegar no shopping, o garoto fica até impressionado. Era um prédio bem grande em comparação com o que estava imaginando. Com certeza, ele encontraria alguma lembrança para a família lá. Renata o puxa

    - Vem logo! Vamos aproveitar que tá vazio! - diz ela, puxando o garoto pela mão

    - T-Tá bom

    Os dois passeiam pelo shopping, com calma, olhando as vitrines com cuidado. Nisso, eles acabam passando próximos a um casal que, de cara, nenhum dos dois percebe quem era. Mas o garoto em questão reconhece Renata muito bem.

    "Hã? Renatinha?", pensa Júlio, abrindo os olhos enquanto beijava a boca da garota que estava com ele.

    - O que foi, Ju? - diz a ficante, com um olhar carinhoso.

    - Então...desculpa, foi bom enquanto durou, mas...não rola mais. Tchau!

    Júlio Lopes sai correndo, deixando a pobre garota pasma e, claro, arrasada. Mas Renata exercia uma atração bem mais forte no playboy.

    "Não acredito! Renatinha...andando sozinha com o Thiago no shopping?", ele pensa, enquanto seguia Thiago e Renata disfarçadamente. "Ah...Thiago, seu traíra!"


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Notas finais do capítulo



(*) Iniciação científica: processo comum em universidades públicas. Um estudante que esteja interessado em auxiliar um professor da universidade em sua área de pesquisa pode entrar em um programa de iniciação científica. Dependendo do caso, o governo pode oferecer bolsas de auxílio para o estudante se dedicar apenas a seus estudos.

(**) Vocês sabem que Marinário é uma cidade fictícia, não? Só para garantir...



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