Capítulo 20 - Mundo do Castor

    - Por favor! - dizia uma vozinha meiga, delicada e cheia de dengo.

    - Não dá...já disse que não dá

    - Mas é uma chance única! - argumentava Stephany, a dona da voz, para Dona Joana, que ouvia os lamentos da menina enquanto colocava a roupa no varal.

    - Não dá, menina! Já falei que tô cheia de coisas pra fazer hoje!

    - Aaahh!! Que chato! - ela lamenta - De que adianta ganhar esses ingressos para o Mundo do Castor se não tenho um responsável para me levar?

    Mundo do Castor, apenas para situar o leitor nessa conversa, é um parque de diversões que foi inaugurado na cidade. O motivo do nome...bem, todos os brinquedos tinham forma de castor. Não era nenhuma Disney World, mas parecia um local divertido.

    - Não dá para ser amanhã?

    - Não! Esses ingressos só são válidos para hoje...a menos que a senhora queira pagar amanhã

    - Hmm..tô dura...não tem nenhum coleguinha da sua sala para ir com você?

    - Só duas pessoas ganharam ingresso...e o outro menino é só o cara mais babaca da escola inteira!

    - Isso é jeito de falar do seu colega, Stephany?

    - Mas é sério! Ele baba, tia Joana!

    - Desculpa, mas hoje não dá mesmo...tô cheia de coisas pra fazer
   
    - Droga! - bufa a menina de cabelo quase-cor-de-abóbora, ficando de biquinho. Que azar! Justo quando ela finalmente ganha alguma coisa?

    - Gente! Chegamos! - era a voz de Thiago. Mas ele não devia estar trabalhando no sábado?

    - Ué? Thiago? Você não devia estar trabalhando no sábado?
   
    - Dever, devia - diz Mariana que também estava entrando em casa, junto com Renata - Mas o tio Natan decidiu fechar hoje por motivos pessoais. Batemos a cara na porta

    - Motivos pessoais? - pergunta Dona Joana, enquanto levantava a cesta de roupas

    - A gente também não entendeu direito - responde Renata, coçando a cabeça - Mas pelo menos viemos para casa, né?

    - Isso é ótimo! - diz Stephany, super-hiper animada, quase matando o trio de garçons do Quiosque Twin de susto.

    - Eu, heim? O que deu nessa menina? - pergunta Thiago, realmente com medo.

    - Quer dizer que pelo menos um de vocês vai poder me levar para o Mundo do Castor hoje!

    - Mundo do que? - pergunta Mariana

    - É um novo parque de diversões que vai inaugurar hoje! - diz a menina animadamente - Eu ganhei ingressos grátis na escola! Posso ir desde que tenha um responsável comigo!

    - Responsável, é? - pergunta Renata

    - É...alguém com mais de 18 anos para fingir que está comigo. Só isso

    - Uau! Mundo do Castor! Parece legal! - comenta Thiago

    - Legal, então você leva a Stephany, Thiago! - diz Mariana, colocando a mão no ombro dele.

    - Que? Eu?

    - É lógico! De nós três você é o que deve mais gostar de parques! Aposto!

    - Bem, eu gosto e...

    - Claro que gosta! - continua Mari - Você não contou pra gente que até já colaborou nesses eventos de mangá? Diversão é com você mesmo!

    - Mas..

    - Vai ser bom, Thiago! - diz Renata - Você e a Stephany não passam muito tempo juntos, né?

    "Querer ir no parque eu quero, mas...ir com a Stephany? Não é bem a minha ideia de programa ideal...", pensa o rapaz.

    - Vamos, Thiago! Por favor, por favor, por favor, por favor, por favor, por favor.. - implorava a pestinha

    "Tudo bem, tudo bem! Ela vai se divertir nos brinquedos e...não vai ter tempo de me encher o saco...acho que vai ficar tudo bem", ele pensa.

    - Tá ok, Stephany! - enfim responde o garoto - Vamos nessa!

    - Aeeeehhhh!!! Sabia! Você é o meu virgem de 18 anos preferido!!! - diz ela, abraçando e dando um enorme beijo no rosto do garoto.

    "Urgh! Que molhado...mas tudo bem, vai ser divertido", pensa Thiago.

    "Boa sorte", pensam Dona Joana e as gêmeas.

    Mais tarde, no mesmo dia, os dois já estavam na fila do parque. Quando dizemos fila, queremos dizer algo grande, bem grande mesmo.

    - Isso vai demorar um pouquinho, não? - pergunta Thiago.

    - Ou talvez não... - diz a garota, tentando observar alguma coisa ao longe - Ah! Ali!

    - O que tem?
       
    A garota puxa Thiago para um molequinho de óculos e com uma cara de bobo. Ele estava bem mais na frente na fila.

    - Alex!! - diz Stephany, com a maior intimidade - Valeu por guardar o lugar enquanto a gente foi ao banheiro!

    O pessoal atrás estava se perguntando se aquela menina estava ali antes e tal. Thiago estava super sem-graça e o pai do tal Alex parecia estar distraído vendo alguma coisa

    - Hã? Stephany...você - dizia o menininho. Esse é o outro que também ganhou convite. Óculos largos, aparelho na boca e sim, babava um pouquinho

    - Oh, olá. É uma amiguinha sua, filho? - pergunta o pai do garoto

    - Bem, ela - Alex tenta responder.

    - Amigona! Fala aí! - diz ela, abraçando o pobre e inocente rapaz. Thiago não podia fazer muita coisa a respeito. Muito provavelmente o moleque iria apanhar de Stephany se dissesse qualquer coisa ao contrário. Por alguma razão, Thiago entendia muito bem o garoto.

      Graças ao contato de Stephany, a dupla logo entra no parque. Os dois não sabiam onde ir primeiro. Mas Stephany logo se decide.

    - Que tal ali? Só para começar

    Ela aponta para um brinquedo estranho...era um tipo de pula-pula gigante, ou talvez uma pipoqueira gigante em forma de castor. Não parecia ser dos mais emocionantes, mas Thiago segue com a garota ali. Bastava entrar e o negócio começava a pular freneticamente. Era como um colchão de ar gigantesco e qualquer queda era amortecida. Quando o brinquedo começa a pular, Thiago mal conseguia se equilibrar, mas em um momento valeu a pena. Em uma das quedas, uma garota cai bem em cima dele...e, para melhorar ainda mais a situação, o peito dela era bem avantajado.

    - Ai, desculpa! - diz a menina.

    - N-N-Não foi nada - diz Thiago, mal podendo disfarçar a animação do acontecimento. Quando a brincadeira acaba, Thiago ainda estava com aquela cena na lembrança.

     - Você gostou bastante, né Thiago?

     - Bem...foi legal

     - Dá pra ver pela sua calça! - ela diz, sem um pingo de constrangimento.

     - Q-QUE?! - diz Thiago, vermelho feito pimentão - Não sei do que você tá falando...err...você não quer...um...um balão! Isso! Balões são legais! - diz Thiago apontando para o vendedor de balões.

     - Hmm..tem coisas mais legais para fazer com balões

     - Hã?

     Nisso, uma criancinha aparece toda feliz segurando o balão e Stephany, simplesmente tirando uma caneta esferográfica no bolso, estoura o brinquedo da criança na maior cara-de-pau. Claro que o molequinho sai chorando

     - Hahahua! Não falei? - diz ela, sadicamente.

     - Stephany! Isso é coisa que se faça? Dá aqui essa caneta! - bronqueia Thiago, tomando a caneta da mão de Stephany.

     - Ah...mas...

     - Nada de mas! Você foi longe demais, mocinha! Eu, como seu responsável, não posso permitir essas coisas!

     - Então tá

     Nisso, o menininho já tinha chamado o pai dele para tirar satisfação. O que não era um bom sinal...

     - Buahuahuah! - ele chorava, apontando para Stephany e Thiago - Estouraram meu balão, pai!

     Como o pai do garoto vê Thiago com a caneta na mão assim que chega, ele não podia chegar a outra conclusão.

     - Ora, seu...você não tem vergonha de estourar o balão de uma criança?

     - Mas eu não fiz nada e...

     - Epa, epa..tô te reconhecendo...não foi você que colocou o pé na frente do meu filho para ele tropeçar lá na rodoviária há algum tempo atrás? (*)

      - Ai, cassetada! - diz Thiago, já lembrando da situação.

     - Que vergonha, Thiago.. - diz Stephany, cinicamente.

     - Agora você não escapa! Vem cá!

    - Droga!

    O garoto não tem outra escolha a não ser sair correndo. Por sorte, ele é rápido e consegue se safar dessa, entrando numa vielinha e se escondendo numa lata de lixo (lata em forma de castor). Quando vê que a barra tá limpa, ele sai (mesmo se melecando todo com restos de embalagem de picolé)

    - Urgh...que droga - diz Thiago - Essa Stephany não pode ficar um minuto sem aprontar uma? Falando nisso..cadê ela? Stephany? Stephany?

    Mas...ele se perdeu dela. E vocês sabem o que isso significa, não é?
   
    "Não! Isso não! Stephany está solta nesse parque de diversões? Não!! Preciso encontrá-la! O quanto antes!!!", ele pensa, "Afinal...eu sou responsável por ela...", ele continuava pensando, enquanto corria em busca da menina, "E se eu não encontrá-la logo...", ele continuava pensando, "AS PESSOAS DESSE PARQUE ESTÃO CORRENDO UM GRANDE PERIGO!!!"

(*) = ver capítulo 01