Capítulo 02 - Bem-vindo a sua nova casa, Sr. Thiago!

    Thiago ainda estava em êxtase ao se deparar com tanta felicidade. Sua vida estava realmente abençoada. Morar no mesmo teto que duas irmãs gêmeas lindas era maravilhoso demais para ele.

    - Err...Thiago? Oi? - pergunta Renata, estalando os dedos na frente dele

    - Qual é a dele, heim? - pergunta Mariana, já meio impaciente com o rapaz

    - Hã? Ah..ah...desculpem! Estava meio distraído! Hehe! Mas, nossa...vocês são parecidas mesmo, né? - diz ele, saindo do transe

    - Nem tanto. Mas e aí? Não te roubaram mais nada, não é? - pergunta Mariana, mais para fazer uma média do que por preocupação.

    - Ah, não, não. Agora eu me viro muito bem. Hehe

    - E...o que você está fazendo aqui? Com essa... - ela olha para o chão, bem ao lado dele - ....mala?

    - Parece que ele é o novo morador da casa, Mari!

    - Ah! Então é você?

    - S-Sim. Sou eu, sim. Prazer. Meu nome é Thiago

    - Mariana - ela responde, com um olhar indiferente. Ela dá um beijinho de cumprimento por pura educação, um sorrisinho amarelo e volta a falar com Renata.

    - Você lembrou de comprar fermento?

    - Claro

    - Beleza. Não dá pra fazer bolo sem fermento, né?

    - E você? Já resolveu tudo que tinha para resolver? - pergunta a irmã, deixando as compras em cima da mesa

    - Nada...ainda tenho vários pepinos

    Thiago se sentia meio perdido na conversa das duas, mas não demorou muito para perceber que eram diferentes no jeito, embora fosse completamente idênticas na aparência. Renata parecia mais tímida e reservada, mesmo assim, bastante gentil e paciente. Já Mariana parecia mais bravona, mas também parecia mais desinibida. Aliás, vendo pelas roupas leves, Thiago adoraria que elas fossem ainda mais desinibidas. Ele observava o movimento das duas, dando uma olhadinha ali, uma disfarçadinha lá, mas reparando bem nos traços das moças.

    - Fica à vontade. Não quer alguma coisa? Água? - pergunta Renata

    - Ah, sim. Aceito um pouco de água - ele responde, sentando-se no sofá da sala. A sala de visitas era logo na entrada da casa, levando para cozinha, banheiro e alguns quartos. Tinha outra escada que devia levar para outros quartos. Não era uma casa muito grande, mas nem muito pequena. Tinha um pequeno jardim do lado de fora com algumas plantinhas, umas cadeiras de descanso na entrada e a lavanderia nos fundos. Thiago também percebeu um gato andando por ali. Pelo tamanho da casa daria para morar umas seis pessoas talvez. Thiago, em especial, fica feliz de saber que pelo menos duas de suas companheiras de pensão eram de ótima qualidade. Pelo menos do ponto de vista dele.

     - O seu Joaquim não está? É com ele que eu tinha que falar. - diz Thiago, tomando com gosto a água que Renata trouxe (sem deixar escapar uma rápida espiadinha no decote dela)

     - Ah! Tá sim! Já vou chamar! Seu Joaquim! Seu Joaquiiim!!

     Não demora muito para um senhor meio careca (com poucos cabelos brancos na parte de trás da cabeça), bigode branco e um nariz de batata chegar na sala.

     - O que foi, menina? Tava limpando aquela bagunça de sótão! - bronqueia ele.

     - Sótão? Mas a gente não tem sótão, seu Joaquim!

     - Tá me contrariando menina? Eu moro aqui há cinquenta anos! Você acha que eu não vou saber se tem um sótão aqui ou não?

     - Tudo bem, tudo bem...não tá mais aqui quem falou! - diz a loirinha, não querendo contrariar e armar mais confusão - O Thiago está aqui para falar com o senhor

     - Thiago? Que Thiago?

     - Fui eu que falei com o senhor agora a pouco. Lembra que o senhor até me deu o endereço e tal - diz Thiago, se apresentando.

     - Ah...falei?

     - Sim. Sou o novo hóspede

     - Novo hóspede...novo hóspede... - ele tenta se lembrar - Ah, é! Ia chegar um novo hóspede esses dias! É verdade!

     - Viu?

     - E como é que é seu nome mesmo?

       Thiago demora alguns segundos para responder, mas responde. Acho que ele teria que se acostumar com isso. Ele olha para Renata que responde com um balançar de ombros. Mesmo assim, seu Joaquim continua.

      -Tá bom..Thiago, né? Conseguiu achar fácil o lugar?

      - Bem, eu me perdi um pouco...o senhor disse Rua das Pitangueiras ao invés de Rua das Laranjeiras

      - Eu falei isso? Tá louco, menino! Eu moro aqui há cinquenta anos! Você acha que eu iria errar o endereço da minha própria casa?

      - Bem, eu não quis ofender, mas

      - Esquece. O importante é que você chegou. Mas e aí? Vai ficar quanto tempo?

      - Bem...pretendo terminar minha faculdade aqui

      - Faculdade? Você disse faculdade?

      - Isso. Achei que tivesse comentado isso quando telefonei pedindo informação sobre a pensão

      - Ah, você ligou?    

      - Liguei

      - Não...é que a Mariana também vai começar na faculdade esse ano, não é?

      - É sim - responde Renata - Não é, Ma? Na Universidade de Marinário

      - É! - diz Mariana, chegando da cozinha comendo uma mexerica - Começo daqui a duas semanas

      - Sério? Então a gente também vai estudar no mesmo lugar

      - Parece que sim...eu até ia comentar isso com você aquela hora, mas nem achei que iríamos nos encontrar de novo

      - Será? Qual é o seu curso?

      - Engenharia

      - Engenharia? Também? - diz Thiago, já todo feliz

      - Engenharia Química...e você era o que mesmo?

      - Engenharia Elétrica

      - Hmm...mas acho que a gente se encontra nas aulas de núcleo comum do primeiro ano

      - Talvez

      - Que coincidência legal, né? - observa Renata - Pelo menos vocês já tem alguém conhecido para conversar, né?

      - Renata, Renata.. - diz Mariana, balançando a cabeça - Não pense que a Universidade é igual ao colégio. Lá as coisas são diferentes. O ambiente é outro, a integração é outra. Você sabe

      - Acho que sim

      Thiago começa a ter outro pensamento. Então...ele e Mariana estariam na mesma universidade? E nas mesmas aulas? (pelo menos no primeiro ano). Chegar já conhecido de uma gata dessas já deve impor algum respeito, não é? Pelo menos era o que ele achava. Nunca tinha sido muito popular no colégio. Era sua chance de mostrar que era um cara dos bons na faculdade. É. As coisas estavam indo cada vez melhor.

       - É. Acho que vocês vão se dar bem..

       - Tomara. Hehe. Da minha parte... - diz Thiago que, na tentativa de colocar o copo na mesa, acaba tropeçando e derrubando um restinho de água na camiseta de Mariana.

       - Ops. Desculpa

       - Ai. Cuidado - ela reclama - Você não tomou nada? Olha quanta água tinha
       Bem, a camiseta de Mariana era clarinha, clara o suficiente para Thiago dar uma conferida na cor do sutiã dela. É. Era rosa, rosa clarinho. O problema é que ele acabou olhando demais

        - O que foi? Tá com uma cara de tonto de novo?

        - Hã? Não, não! Não foi nada

        - Hahahuhaa. Vocês se dão bem mesmo! - comenta seu Joaquim - Acho que você já conheceu as duas, não é? Renata Raposo e Mariana Raposo. São as filhas de um grande amigo meu

        - É...a gente já..se apresentou.

        - Relaxa, Ma! Eu já pego um pano  

         - Não precisa, já, já seca. Só toma mais cuidado, viu, ô, Thiago, né? - reclama Mariana

        - Desculpa. Desculpa mesmo

        - Ei, que bagunça é essa, heim? - diz uma voz nova, dessa vez parecia uma mulher, só que mais acabada e mais mal-ajeitada que as gêmeas. Mas, se desse uma arrumada, até que ficaria bonita. Devia ter por volta de seus trinta anos.

        - Ah! Fabíola!

        Fabíola não era um dos nomes preferidos de Thiago. Mesmo assim, a mulher desce as escadas, com a mão na cabeça. Era morena e não muito alta (mais ou menos do tamanho das gêmeas). Vestia uma camiseta sem manga, shorts e estava descalça. Seu cabelo estava totalmente bagunçado, como se tivesse acabado de acordar naquela hora.

         - Não acredito! Acordando agora? - reprova seu Joaquim

         - Hã? Tá tão tarde assim?

         - Já é quase hora do almoço! - reclama o dono da pensão

         - Ah, não tô com fome! - responde a moça.

         - Tudo bem com você? - pergunta Renata

         - Tudo, meu anjo. Tudo. E você? Quem é? - ela pergunta para Thiago. A ressaca da moça era evidente.

         - T-Thiago Correios...você tá bem mesmo?

         - É claro que tô! Só preciso...tomar água e...um sal de frutas também

         Mas ela acaba tropeçando nos próprios pés e cai praticamente em cima de Thiago. Ele consegue segurá-la (e também perceber que ela estava sem sutiã). Thiago não consegue disfarçar o olhar, mas tenta se livrar da situação o quanto antes.

          - E-Ei...você tá bem mesmo?

          - Tô, tô...é claro que tô...deixa eu tomar minha água..ai,ai

          A moça vai direto para a cozinha. Mariana chega em Thiago e cochica alguma coisa

          - Não parece...mas ela é médica

          Thiago arregala os olhos e fala com espanto

           - QUE?

           - Shhh! - reprova Mariana com o dedo na boca - Ela bebe demais, só que, por incrível que pareça, é uma médica respeitada

           - Cê tá brincando - diz Thiago, com despeito. Bom, dizem que a primeira impressão é a que fica. - Como ela..?

           - Bem, ela não dá muitos plantões...

           - Sei

          Nisso, chega uma outra moradora da pensão. Dessa vez era uma mulher bem mais velha que a Fabíola. Era negra, grande e forte. Devia ter por volta de seus cinquenta e poucos anos. Ela cumprimenta todo mundo com um olhar sorridente, inclusive Thiago.

            - Opa. Você deve ser o novo morador, né? Como é que vai, meu querido? - diz ela, em um jeito bonachão e simpático.

            - B-Bem - diz ele, meio sem-jeito.

            - É isso aí! Será que agora essas meninas desencalham, seu Joaquim? - diz a mulher, olhando para as gêmeas

            - Ai, Dona Joana! Isso é coisa que se diga? - diz Mariana, vermelhinha igual a irmã.

            - Porque não? Vocês são tão novos?

            - Tem mais, Joana - complementa seu Joaquim - Ele vai estudar na mesma faculdade da Mariana

            - Ah! Então vocês já estão bem próximos! É isso aí! É assim que tem que ser!

            Thiago olha para Mariana sem jeito, que simplesmente olha para o outro lado, indiferente. Será que ela não foi com a cara dele? Estranho...

            - Bom, mas chega de papo que eu ainda tenho um monte de coisa pra fazer! Renatinha, comprou o que eu pedi?

            - Comprei sim

            - Então, passa pra cá minha querida! Já vou arrumar a cozinha e ajeitar a janta!

            - Janta? Mas ainda são três da tarde - repara Mariana

            - É. Mas quanto mais cedo, melhor. Lembra que o seu Joaquim dorme com as galinhas!

            - Que? Eu não durmo com galinha nenhuma, não, ô! - diz o velho senhor, já sentado no sofá, sentado, mas cochilando.

            - Ixi, tadinho. Já tá com sono, né? Ô, Fabíola minha filha. Tá de ressaca de novo? - diz a simpática senhora enquanto Fabíola voltava da cozinha.

            - Ressaca, não. Só um pouco de indisposição

            - Sei..tô sabendo. Bom, libera a cozinha que eu vou usar agora

            - Isso me lembra que eu ainda não almocei - diz Thiago, morrendo de fome

            - Por que não falou logo? Tem comida do almoço aí ainda...sobrou um pouco da torta de berinjela, não sobrou?

            Ao ouvir a palavra berinjela, Fabíola acaba vomitando bem em cima do tênis de Thiago. Tudo bem que era um tênis novo, mas isso acontece.

            - Ai... - diz a pobre doutora de ressaca - Desculpa, gente. Desculpa mesmo. É que eu detesto berinjela. Eu já limpo isso aí..ai, ai

            - Bom...é melhor eu trocar de roupa antes, né? - diz Thiago, ainda com sorriso e bom humor no rosto.