Twin Beach escrita por Metal_Will


Capítulo 18
Capítulo 18




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/68823/chapter/18

Capítulo 18 - Chega o Dia da Revanche!

             Thiago caminhava tranquilamente de volta para casa, em mais uma quarta-feira de folga,  após uma rápida ida à padaria para buscar alguns pãezinhos. Ao chegar à Pensão vê uma estranha figura parada diante da porta. Parecia um senhor, com certeza com mais de 50 anos, barba ruiva, várias blusas de frio (mesmo estando calor) e um tipo de chapeu de inverno, daqueles que protegem as orelhas. O que um cara desse tipo estava fazendo em pleno país tropical? Thiago julgou ser um doido qualquer e já ia passando ignorando totalmente o homem, quando, o que ele mais temia, acontece.

         - Ei, você - chama o figura
   
        "Saco! Ele vai falar alguma coisa!", pensa Thiago, sem a menor vontade de ouvir conversa de bêbado.

        - Sim? - responde o garoto, ainda tentando ser cordial.
   
        - Você mora nessa pensão?

        - Pensão do Joaquim? Sim, moro. Por que?

        Nisso, o velho ruivo agarra o pobre garoto pela camiseta (ele quase deixa os pãezinhos cáirem). Parecia bastante nervoso. O que Thiago fez para ele?

         - Diga, o velho Joaquim ainda mora aí?
   
        - O-O senhor conhece o tio Joaquim? - pergunta Thiago, gaguejando e  já morrendo de medo (Thiago é um pouco medroso...caso alguém ainda não tenha percebido).

        - Se o conheço? Aquele Joaquim tem uma dívida imensa comigo!

        - D-Dívida?!
   
        - Depois de tantos anos...finalmente ganhei a confiança que precisava para enfrentar aquele velho ranzinza de novo! É agora ou nunca! - dizia o velho barbudo. Nada que ele dizia parecia fazer sentido para Thiago. Não parecia estar bêbado nem nada (pelo menos não tinha bafo de cachaça), mas estava dizendo coisas aleatórias e sem muita clareza. Thiago queria se livrar dele o quanto antes.

        - B-Bem...o senhor pode tocar a campanhia e descobrir...

        - Era o que eu planejava fazer agora - diz o velho, soltando Thiago.

        "Então por que precisava amassar minha roupa desse jeito?", pensa Thiago, "Quem diabos é esse viking? Dívida com o seu Joaquim? Ele poderia...espero que não esteja aqui para fazer nenhuma loucura!"

        - E então? - ele pergunta para Thiago

        - Então o que?

        - Não vai abrir o portão?

        - Mas o senhor não ia tocar a campanhia?

        - Não é assim que se faz uma entrada triunfal! Abra o portão e, logo em seguida, eu entro!

        Entrada triunfal? Que tipo de maluco era aquele cara? Seja como for...Thiago abre o portão e o tal velho chega com tudo, praticamente dando uma voadora no pobre Thiago, que se espatifa no chão (embora tenha conseguido salvar todos os pãezinhos)

        - JOAQUIM!!! JOAQUIM, seu desgraçado!!! Eu sei que você está aí!!! - gritava o velho barbudo em alta voz.

        - Oxi, o que é que tá havendo aqui? - pergunta dona Joana, que dá as caras na porta, intrigada com todo aquele barulho.

        - Oh, por favor, senhora. O velho Joaquim ainda mora nessa casa, não mora? - pergunta o velho, dessa vez em um tom bem mais educado.

        "Ora...então com mulher ele é educado...", pensa Thiago, achando toda aquela situação a maior bizarrice que já presenciou.

        - Talvez - responde dona Joana - Quem gostaria de falar com ele...

        - A pessoa que ele traiçoeiramente apunhalou pelas costas! - diz o homem com firmeza. O que tinha acontecido afinal?

        - O que está havendo aqui? Ouvi alguém dizer meu nome? - diz seu Joaquim, saindo pela porta da frente já com uma cara fechada.

        - Finalmente eu te encontrei, seu velho trapaceiro! - diz o barbudo, voltando a ter uma expressão furiosa.

        - Você é?
       
        - Não se faça de desentendido! Você lembra muito bem de mim...José Bacamarte!!!

        - O que?! José Bacamarte?! - repete seu Joaquim, com uma expressão assustada no rosto. Evidentemente, ele conhecia a figura.

        - Em carne, osso e barba! - completa o tal Bacamarte. Quem seria esse cara?

        - O que houve, vovô? - pergunta Stephany, chegando ali animada para ver que tipo de confusão estava para acontecer.

        - Não se aproxime muito, netinha....esse cara é perigoso

        - Nossa, que barulheira é essa? - pergunta Mariana, que também chega na porta da frente, intrigada com a confusão.

        - Quem é? Algum amigo do tio Joaquim? - pergunta Renata, também curiosa. Naquela altura, todo mundo que estava presente na casa estava querendo saber quem era o figura.

        - Tomem cuidado, pessoal! Esse homem não está em sã consciência!

        - Como ousa? Nunca estive tão lúcido! Eu...eu vim aqui para pegar o que é meu de direito!

        - O que é seu de direito? Que história é essa, seu Joaquim? - pergunta Mariana, achando que o dono da pensão tinha alguma culpa no cartório.

        - Eu não sei do que esse desclassificado está falando... - responde o velho proprietário.

        - É claro que sabe! Essa casa que hoje é a pensão que leva injustamente o seu nome...deveria SER MINHA!!
       
        - O QUE?! - todos gritam.

        Alguns instantes depois, eles pareciam ter esfriado a cabeça. E seu Bacamarte, agora saboreando um cafézinho com bolachas, parecia estar disposto a explicar tudo.

        - Por favor, seu Bacamarte...já que o tio Joaquim não parece estar querendo colaborar muito...pode nos dizer o que aconteceu afinal? Quem sabe nós não podemos chegar num acordo - diz Mariana, como sempre assumindo o papel da única pessoa séria daquele lugar e tomando as rédeas da situação

        - Tudo aconteceu há alguns anos atrás...quando eu e esse velho tratante trabalhávamos na mesma fábrica de relógios

        "Alguns anos?", pensa Thiago, com uma cara irônica.

        - Na verdade, estávamos juntando dinheiro para abrirmos um negócio em sociedade...a família de Joaquim era menor e ele conseguiu juntar dinheiro depressa

        - E? - pergunta Stephany, no maior tom de intimidade.

        - Mas esse velho muquirana ainda dizia não estar pronto para abrir negócio nenhum...então eu comecei a trabalhar e ganhar mais...até um dia que, finalmente, consegui comprar essa casa e estava decidido a abrir meu restaurante

        - Restaurante, é? Parece gostoso - comenta Renata

        - Só que.. - continua Bacamarte - Esse desgraçado do Joaquim...apareceu querendo tomar parte da sociedade. Eu achei que ele já tivesse desistido disso e tudo. Sem contar que já estava com outro sócio...eu recusei, não seria viável ter mais um sócio, mas o maldito foi mais traiçoeiro

        Todos estavam esperando para ouvir o resto da história.

        - Ele pegou todo o dinheiro que juntou e comprou a parte do meu outro sócio! Não bastasse isso...era tão muquirana que não demorou muito para querer comprar parte da minha sociedade e assumir o controle do restaurante!

        Todos olham para seu Joaquim. Ele foi mesmo assim tão ganancioso?

        - Mas o pior não foi isso...o pior foi quando ele fez aquela proposta...aquela maldita proposta...

* Flashback do seu Bacamarte *

        - Bacamarte, meu velho...eu tenho uma proposta legal para você
       
        - Que proposta? - responde o barbudo, enquanto arrumava algumas coisas da cozinha

        - Eu tenho alguns investimentos por aí e....já juntei uma boa grana. Não tá a fim de me vender o restaurante?

        - Que? E deixar o restaurante nas suas mãos? Mas eu lutei tanto para conseguir minha parte...

        - É um bom negócio. Estou disposto a pagar bem

        - Mas...você sabe que o meu sonho é abrir um restaurante escandinavo de luxo! Quero trazer o melhor da culinária norueguesa..você sabe...é a terra da minha mãe!

        - Eu sei, mas com esse dinheiro você vai ter um bom capital inicial para começar qualquer negócio...acontece que estou muito interessado nesse imóvel

        - Interessado? Mas você não pode comprar outro e..

        - Mas a localização dessa casa é perfeita para o que eu quero! Eu já tenho os contatos e investidores! Por favor, me venda...

        - Não, não. Sem negociação, Joaquim

        - Bacamarte, Bacamarte...você é mesmo duro na queda, não é? Tudo bem...se é assim! Vamos decidir isso como homens!

        - Como assim?
       
        - Vamos decidir isso no xadrez!

        - Xadrez?

        - Sempre jogamos, não jogamos? E, se não me engano, você tem uma margem de vitórias maior que do que eu. Só que agora vamos jogar apostando essa casa!

        - O QUE?! Apostar meu restaurante?

        - Se eu perder...te entrego todo o meu dinheiro e vou começar do zero, de novo. Tudo. Todos os meus investimentos. Até trago a papelada para você conferir!

        - Você tá louco

        - O que foi? Tá com medinho, é? Có, có, có - diz Joaquim, imitando uma galinha.

        - Grrrr!!!! Que seja! Vou ganhar de você mais uma vez!

        - Mas o senhor perdeu, não é? - pergunta Renata, com um sorriso discreto.

        - Sim! Justo naquela vez, eu perdi!

        Bacamarte começa a chorar. Thiago fica com pena dele. Era mesmo uma situação chata.

        - Puxa, vovô! Como o senhor pode? - diz Stephany

        "Você não tem nenhum moral para falar isso, sua mercenáriazinha!", pensa Thiago, "Acho que agora sei quem essa menina puxou..."

        - Do que está reclamando? Foi uma partida justa, não foi?

        - Foi, mas...mas....caramba, você sabia que era o meu sonho, não sabia?

        - Diga, Bacamarte...o que você faz da vida agora? - pergunta Joaquim.

        O velho se acalma e responde

        - Bem, eu realmente consegui abrir uma filial de restaurante escandinavo...

        - Viu? No fim das contas, você realizou seu sonho! Por que se importar com o passado? - diz o proprietário da pensão, dando um tapinha nas costas dele - Por outro lado, olhe para mim...as coisas não deram muito certo comigo...

        - Bem..olhando agora, é verdade!

        - Como assim? O vovô não comprou essa casa para fazer uma pensão? - pergunta Stephany.

        - CLaro que não! - responde Bacamarte - Ele estava investindo numa cabaré! Ia aproveitar o turismo da cidade para lucrar em cima de shows de striptease!

        Seu Joaquim dá uma tossidinha

        - Tio Joaquim! - exclama Renata, espantada - O passado do senhor te condena, heim?

        - Então...a gente mora num lugar onde já...aaaaaai, que horror! - exclama Mariana

        - Calma, calma...isso só durou alguns anos...eu planejei as coisas mal e logo a casa faliu. Daí só me restou abrir uma pensão

        Thiago ouvia isso em transe. "Cabaré? Striptease?", ele pensava, "Então...nessa mesma sala poderia ter várias garotas dançando e...tirando a roupa e..."

        - MAS ISSO NÃO MUDA O PASSADO!!! - grita Bacamarte, ainda mais furioso - Graças a você, fui obrigado a adiar meu sonho em muitos anos! Agora que eu finalmente consegui abrir uma filial do meu restaurante aqui, em Marinário, poderei realizar minha vingança!

        - Vingança? Como assim? - pergunta Joaquim.

        - Joaquim! Eu te desafio para outro jogo de xadrez! Valendo a mesma coisa
       
        - A mesma coisa?

        - Sim! Vamos apostar essa casa de novo! Se eu perder...você pode ficar com toda a minha rede de restaurantes

        Todos se assustam. Joaquim vê cifrãos em seus olhos.

        - Eu aceito!

        - Hã?! Seu Joaquim? O senhor endoidou, é? - exclama dona Joana.

        - Relaxa, Joana! Eu já ganhei dele uma vez e posso ganhar de novo..hehe

        - Veremos

        "Caraca...como a situação chegou nesse ponto?", pensa Thiago, ainda segurando o saco de pão desde aquela hora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua no próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Twin Beach" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.