Hellfire Club escrita por Kali, Kali


Capítulo 4
Chapter 4 — Renegade




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Laurel suspirou, enquanto segurava os ombros nas mãos e os puxava para baixo, numa tentativa de relaxar os músculos tensos. Não, ela não dormia, mas certamente se cansava. Não via a hora de recuperar totalmente seus poderes para finalmente acabar com Lúcifer e prendê-lo de volta em sua Jaula.   

Aquela madrugada estava silenciosa. Rock Point não era tão agitada quanto Cobb Island, mas a boate de tamanho mediano do outro lado da rua chamou a atenção da mulher, vendo homens saindo com mulheres que nem sequer sabiam o nome, apenas a procura de sexo barato. Parada do lado de fora do quarto dos Winchester, ela observava o local com os olhos de gavião, atenta a qualquer movimentação suspeita que viesse de lá de dentro. Night clubs eram lugares perfeitos para demônios se camuflarem, e agora com tudo o que estava acontecendo, Laurel tinha quase certeza de que haveriam espiões de Lúcifer vigiando o quarto diante do local. Ela passou as mãos pelos braços, espantando rapidamente o frio que se acumulava nos mesmos. Aquela sensação, em especial, era quase incontrolável para a mulher, visto os tantos séculos que passou no inferno. Ela puxou o casaco de couro da cintura e colocou-o sobre seus ombros, pousando uma das mãos dentro de seu bolso.

Um pequeno objeto fizera ruído ao roçar com a ponta de seus dedos finos, e curiosa, ela o puxou para fora, vendo um papelzinho dobrado em várias partes, meio desgastado pelo tempo. Não tinha certeza se aquele casaco ainda pertencia à Eveline, ou se seria da mulher do apartamento em que estava, mas com um dar de ombros, Laurel abriu o "embrulho" com uma das unhas, vendo rapidamente o mesmo se desmanchar e deixar a mostra aquilo que escondia. Era um desenho bonito, feito a lápis e sem coloração. O papel possuía a cor amarelada devido ao tempo, mas ainda era resistente o suficiente para não se rasgar. Os traços do lápis formavam o esboço do rosto de Eveline, com o rosto fechado e os olhos um tanto baixos. Usava um vestido antigo, e parecia estar atuando em uma peça qualquer como uma dama da alta sociedade, com um colar de pedra única em seu peito, e brincos chiques em suas orelhas. Não havia imagem de fundo, apenas a mulher e aquele vestido. No canto da imagem, o nome Adam M. está escrito numa assinatura, além da frase "nem mesmo os anjos se aproximariam da sua beleza". Ela rolou os olhos, enfiando o papel de volta ao bolso de qualquer forma, não importando-se com o fato de poder tê-lo amassado.

— Resolveu tirar a noite para me espionar agora, Cass?

O anjo, escorado na parede logo atrás da mesma, à alguns passos de distância, sorriu. Era bom saber que ela não parecia realmente furiosa com ele. Laurel se virou, pousando os cotovelos na pequena grade de madeira atrás de si e abrindo um sorriso limpo de qualquer intenção, enquanto seus olhos cor de café encaravam-no com forte intensidade. Era um tanto estranho, engraçado até, a forma como ela se portava diante dele. Sentia ódio, porém compaixão; irmandade, porém traição. Era uma bagunça de sentimentos que ela não sabia explicar. Obviamente, a palavra amor não existia em seu vocabulário, tal qual o sentimento, cujo o qual nunca havia o sentido. Mas compaixão, afeição... Isso ela podia reconhecer.

— Não estou te espiando. — ele explicou, sacudindo uma das mãos, em descaso — Eu só... Fico feliz que tenha saído do inferno.

— Mesmo? — Laurel estreitou os olhos escuros, onde uma centelha de raiva brilhava, os lábios tomando a forma de um sorriso desdenhoso e cruel — Pois me lembro bem de como pareceu eficiente na hora de me prender naquelas correntes.

— Você sabe que...

— Regras são regras. É, eu sei dessa baboseira. — ela interrompeu, rolando os olhos com desprezo enquanto levava os braços, antes apoiados na grade, em direção ao peito, cruzando os mesmos — Olha, me poupa desse discurso, ok? Você nunca vai saber ou entender o que eu passei, e a desculpa das regras jamais vai cobrir qualquer ação que eu tenha feito para sobreviver. Então, por hora, deixe esse assunto apodrecer no passado.

Laurel suspirou e se virou, descendo as escadas da varandinha com passos gatunos, pousando graciosamente no chão de concreto da rua. Após os breves segundos sem reação, Castiel piscou algumas vezes, sacudindo seu rosto com leveza e voltando a dirigir a voz para a mulher. Era claro como água que ele jamais a entenderia, o anjo nunca iria entender o que a fizera mudar tão drasticamente. Ele se sentia culpado por tudo aquilo, tivera a chance de mudar seu destino, mas mesmo assim dera as costas aos gritos de socorro da mesma. Foram longos séculos de sofrimento, e que não iriam acabar tão cedo.

— Onde você vai?

A mulher se virou e, ainda caminhando de costas, deu uma risada audível e deleitosa, os olhos totalmente negros, tal qual suas veias, e um sorriso de lado restritamente cruel em seus lábios. Laurel havia sucumbido ao mal de tal maneira, que parecia não ter mais volta. Mas Castiel sabia que ela tinha.

— Caçar, Cassy. — o anjo sentiu mais uma vez o peso da culpa em seus ombros ao ouvir o antiquado apelido que lhe fora dirigido, e o brilho da tristeza ecoou em seus olhos azuis. Ela virou-se na direção da balada novamente, ainda com o sorriso cruel nos lábios — Estou indo caçar.   

{...}

A mão veloz voou na direção do rosto da mulher, que gemeu irritada e ergueu os olhos em direção à sua torturadora. Os cabelos loiros estavam bagunçados, as bochechas vermelhas de tanto apanhar, os lábios claros sangrentos e as órbitas azuis inchadas. Seus braços estavam fortemente amarrados contra a cadeira de ferro, tais quais suas pernas, que se moviam inutilmente na tentativa de se libertar da pequena prisão. Laurel, em pé diante da mesma, tinha os braços cruzados e a expressão impassível em sua face.

— Você não vai conseguir nada de mim, Laurel. — a mulher riu em desdém, abrindo um sorriso de vitória para a outra a sua frente — Conhece uma coisa chamada... Lealdade?

— Por favor, Asriel. — ela riu, descruzando os braços e acertando outro tapa contra o rosto da loira possuída — Quem somos nós para falar de lealdade, hun? Somos a escória de todas as raças, não há confiança entre nós... Muito menos lealdade.

Asriel era um dos demônios mais incrivelmente persistentes e irritantes que Laurel tivera de lidar até agora. Todo aquele falatório de fidelidade era apenas uma falha tentativa de ludibriar a mulher e fazê-la pensar que Lúcifer não a espionava. E, por favor, ela era deveras mais esperta que qualquer um dos estúpidos lacaios do Diabo. Não cairia em um golpe tão podre quanto aquele. A morena apoiou o dedo indicador em seu queixo, enquanto o dedão o segurava por baixo. Estreitou os olhos escuros, examinando cada expressão que poderia nascer na face daquela loura. Uma memória rápida brilhou diante de suas órbitas e ela não pôde reprimir a risada irônica. "Eles querem atingir minha casca? Acham mesmo que isso vai interferir em alguma coisa?". A mulher diante de si era Jessica Young, uma estudante de engenharia civil que, por "coincidência", era melhor amiga de Eveline. A loira franziu o cenho, confusa, apesar da centelha de ódio brilhando fundo em seus olhos azuis.

— Do que está rindo?! — Asriel berrou, seus olhos negros exalando fúria e rancor.

— Vocês acham que atingir minha casca vai adiantar de alguma coisa? O quão tolo você é?

— Sua casca? — a mulher, antes cheia de cólera, agora ria nervosamente, temendo pela descoberta de seu plano. Asriel poderia ser teimoso e "leal", mas definitivamente estava longe de ser inteligente — Ninguém quer atingir a merda da sua casca, maldita!

Laurel respirou fundo, e girou seu pulso, fazendo Jessica voar da cadeira em que estava sentada diretamente para a parede, onde pode-se ouvir o rachar do concreto atrás de si e de alguns ossos da mesma. Os olhos da morena estavam totalmente negros e suas veias também escuras pulsavam, enquanto as chamas sombrias tremulavam suavemente nas quinas de suas órbitas. Ela estava furiosa, e era extremamente poderosa. Quem poderia saber o que um ser tão forte como ela seria capaz de fazer? Ela esticou os dedos, pressionando a garganta da loira de forma que seu rosto tomasse a cor púrpura em pouco mais de trinta segundos, e seus olhos, agora também negros, estavam esbugalhados. O demônio-mor aproximou seu rosto, unindo-os o suficiente para encostar seu nariz ao da outra, e rosnou devagar, a voz grave ecoando pela sala em que estavam. Asriel tentava engolir em seco, mas a cada segundo sua garganta era mais e mais apertada, a ponto de sua casca já ter sido morta por asfixia.

Você está me enfurecendo, Asriel. — ela cerrou os olhos, enquanto começava lentamente a fechar os dedos de sua mão, fazendo a loira engasgar-se com a fumaça negra que escapava de seus lábios claros — Então, poupe sua própria morte final e me diga onde posso encontrá-lo.

— E-eu... Não s-sei onde e-ele está! Eu j-juro.

Você jura? — a risada demoníaca ecoou pela sala, enquanto o corpo de Jessica começava a brilhar em uma cor dourada, indicando o início do óbito de Asriel — Eu sei que tens respostas, seu verme.

— E-e-eu tenho! — Young gemeu, cansada de lutar e fingir ser leal a Lúcifer. O aperto em sua garganta diminuiu o suficiente para que pudesse falar — Crowley saberá onde ele está. Ele é o rei do inferno, com certeza sabe de tudo! Eu juro.

Laurel sorriu, e com a mão ainda esticada, fechou seu punho com força, vendo a fumaça negra escapar dos lábios de Jessica e explodir num grito gutural de dor, enquanto brilhava em dourado e lançava o corpo de sua antiga casca contra a parede. Os olhos da morena voltaram a ser castanhos e ela limpou suas mãos, batendo as mesmas contra o casaco de couro, ouvindo o desenho de Eveline amassar ainda mais no mesmo.  

{…}

— Crowley, hun? — Dean franziu o cenho, de braços cruzados enquanto examinava rapidamente o corpo de Laurel, que agora não possuía mais a jaqueta de couro, sendo apenas marcado pela blusa preta colada em suas curvas — Já faz algum tempo que não nos vemos.

— Asriel me garantiu que ele sabe de algo. E pelo tom de urgência que me dizia, parecia ser algo importante. — a mulher deu de ombros — Ou talvez estivesse assustado demais porque ia morrer.

Castiel suspirou, batendo a ponta do dedo em seu queixo com leveza. Samuel, calado, fazia pesquisas quaisquer em seu computador enquanto Dean girava uma adaga em suas mãos. O Sol acabara de nascer, e Laurel sentia-se esgotada devido ao esforço da noite passada. Seu corpo humano exigia por descanso, mas ainda não poderia "dormir", tinha de saber o que fazer e como se preparar para arrancar informações de Crowley, se fosse necessário.

— Tem um galpão aqui perto, podemos chamá-lo ali. — Sam declarou, apertando o lábio inferior com leveza.

— De fato. Eu vou tomar um banho. — a mulher concordou em um aceno, e puxou o casaco da cama, caminhando em direção ao banheiro.

Laurel não reparou no desenho que voou suavemente em direção ao chão, movimento porém que não passou despercebido pelos olhos claros do Winchester mais velho. Quando ela finalmente entrou no banheiro, ele capturou o papel amarelado do chão e o examinou. O nome de Adam o fez engolir em seco e largar um tanto furioso o desenho em cima da mesa, enquanto o barulho do chuveiro rapidamente ecoava pelo quarto. A indecisão ainda tomava conta do peito de Dean, aliar-se à um demônio apenas fazia-o lembrar-se de Ruby e de como ela os enganara para trazer Lúcifer à Terra pela primeira vez. E se Laurel fizesse o mesmo? Como eles poderiam confiar na mesma? Ela não seria uma traidora, seria? "Então, acho que já podemos nos considerar parte de um grupo. Somos todos parte do comitê especial do Clube Hellfire." O loiro sacudiu a cabeça. Ela era a melhor arma que teriam contra o Demônio, e Dean queria confiar que ela seria capaz de derrotá-lo.


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