Hellfire Club escrita por Kali, Kali


Capítulo 2
Chapter 2 — Help Me




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 A mulher segurou seu braço ferido contra o corpo. "Maldita graça", ela praguejou, enquanto usava de suas chamas negras para amenizar a dor queimante que subia por seu membro superior. A pele curou-se em poucos segundos, e a queimação lentamente reduzia-se ao zero, enquanto ela pousava a adaga de ônix na mesa de seu breve esconderijo. Era um apartamento no centro da cidade, que fora fácil de conseguir depois de alguns pescoços quebrados.  

Fora coincidência demais Castiel atender ao pedido de socorro de Elijah. E ainda havia a questão do amuleto. Como um professor como aquele conseguira tal objeto? Era muito suspeito, mas Laurel não se importava. Precisaria ter muito mais cuidado com as vítimas que iria escolher dali em diante. O amuleto que Solomon carregava era um pequeno círculo dourado, com três pontas afiadas saltando do mesmo no sentido horário. Era um amuleto chamado Halo, conhecido principalmente no Purgatório. Aquilo fizera Laurel ficar ainda mais intrigada do que já estava. Ela esperava que aquele anjo em especial nunca saísse de sua prisão, ou ele seria um problema. Órion sabia ser um anjo muito impertinente quando queria. O demônio ainda podia sentir o frisbee abençoado, também chamado de Halo, do ser angelical queimando uma boa parte de sua forma verdadeira.  

Ela ainda se abrigava em Cobb Island, visto que não conhecia tantos lugares para poder "visitar", e que sentia a presença de Castiel próxima de si, o que a deixava em alerta. Claro, ela era tão, talvez até mais, poderosa quanto o anjo, mas não estava totalmente recuperada da pequena batalha, e da própria fuga do inferno. Laurel passaria um longo tempo presa àquela casca, Eveline era realmente forte, resistente o suficiente para segurar sua forma dentro daquela carne. Sem falar em todos os benefícios que a beleza e sensualidade da moça poderiam lhe trazer. O demônio caminhou até o quarto do outro lado do apartamento e entrou no mesmo, abrindo o armário em sua frente com um sorriso estampado no rosto. O local onde estava pertencia a uma jovem qualquer e seu noivo, ambos amantes das roupas de couro. Laurel escolheu um par de roupas, botas pretas do mesmo material, fechou as portas e virou-se para rapidamente observar o quarto em que se encontrava.  

Havia uma cama grande no centro do cômodo, com edredons azuis e quase uma infinidade de travesseiros. Uma cômoda preta com uma pequena pilha de livros e alguns porta-retratos, além de um abajur branco. A pequena escrivaninha estava limpa, com um computador desligado ao lado de um porta-lápis. O chão era de madeira escura, e apenas mudava no banheiro, virando azulejos brancos. Um criado mudo vermelho estava ao lado da cama, com mais um abajur, e um porta retrato onde uma mulher loura, a possível dona da casa, e um homem moreno, seu possível noivo, estavam sorrindo alegremente para a foto enquanto mostravam seus dedos anelares para a câmera, onde duas alianças douradas se encontravam. No fundo, a Torre Eiffel iluminava o cenário da fotografia. Dois quadros abstratos estendiam-se em cima da cabeceira da cama, dando um contraste perfeito para com a parede violeta escura. Encarou aquele cômodo sem expressão, apesar dos olhos castanhos bonitos estarem franzidos por nenhum motivo aparente.  

Os livros na prateleira logo acima da cama variavam de Star Wars Batman até MacBeth The Heart is A Lonely Hunter. Haviam também revistas sobre arte, além de alguns portfólios com cópias de pinturas famosas. Os CD's que estavam ali eram de rock/pop e apenas um de música clássica, o que fez a mente da moça viajar pelos novos estilos musicais que deveriam ter nascido após sua ida para o poço. A longínquos anos atrás, haviam apenas instrumentos de aparência esquisita os quais ela nunca quis saber o nome. Laurel suspirou, dando de ombros, e seguiu até o banheiro do cômodo, despindo suas roupas ainda imundas de terra e entrando debaixo do chuveiro.  

Ela girou o registro, deixando a água quente entrar em contato com sua pele e acalmar os músculos tensos que a atormentavam graças à luta. Dedilhou seus cabelos, desembaraçando-os superficialmente, e passou as unhas compridas contra sua pele, a fim de limpá-la. Esfregou os braços e pernas com uma escova, e passou a ponta dos dedos com leveza em algumas estranhas cicatrizes que haviam espalhadas pelo seu corpo. A marca de quatro garras em seu braço chamou sua atenção, e ela a tocou, vendo alguns flashes brilharem diante dos seus olhos castanhos. Eveline havia se cortado numa trilha, segundo as imagens distorcidas da memória que surgiam diante de si. Laurel deu de ombros, alisando a pele morena com a espuma de seus cabelos. Era tão bom sentir as gotas de água caindo em si, era a primeira vez em séculos que repetia aquele processo, e a cada ano que se passava, parecia ficar ainda melhor.  

O banho fora longo, mas definitivamente a fizera se sentir melhor. Era revigorante, e cada célula do seu corpo concordava com seu pensamento. Enrolada numa toalha felpuda, com os cabelos compridos ainda soltos e molhados, deixando um rastro de gotas cristalinas pelo chão de madeira, o demônio retornou ao quarto, observando o par de roupas que deixara separado em cima da cama. Todo o modelo resumia-se ao preto. A blusa era fina, uma tira estreita era separada da mesma, logo acima dos seios, de forma que destacasse os mesmos. Uma calça jeans skinny escura, que marcava a silhueta de seu corpo delineado e saudável. As botas de couro cobriam seus pés, e a jaqueta preta da mesma cor cobria-lhe os braços finos. Laurel encaixou um pequeno cordão com uma corrente de ouro em seu pescoço, onde, com um estalo de dedos, o Halo de Órion, agora moldado em ônix, surgiu. Ela admitia que a forma da peça era bonita, afinal.  

Caminhou de volta à sala do apartamento, onde os corpos dos donos do local se encontravam, um em cima do outro, no canto do ambiente. Sentou-se no sofá branco e apoiou os pés na pequena mesa de centro, com um sorriso. Pescou o telefone que havia ali, e decidiu adotá-lo como seu, já que sua antiga dona não voltaria a usá-lo. Ao ligar a televisão, decepcionou-se com o ridículo programa de "caça fantasmas" que o canal ousava passar. "Se eles soubessem...", ela pensou consigo mesma, imaginando no quão descrentes os humanos daquela época haviam se tornado. Rolou os olhos, apertando qualquer outro botão para encontrar outro canal.  

Mas o que acontecera fora num segundo. Num momento, o espaço ao seu lado estava vazio. No outro, o ser mais asqueroso que poderia existir passava um dos braços por seus ombros e a segurava com a mão com firmeza. Os olhos da morena imediatamente tornaram-se negros, tais quais as veias, e suas chamas rapidamente se acenderam.  

— Lúcifer. 

— Olá, cara Laurel.  

Ele estava o mesmo desde a última vez que o vira, apesar de sua casca ser diferente. Uma barba levemente aparada crescia em seu rosto, unindo-se ao cabelo dourado pela lateral de suas bochechas. Os olhos eram azuis, num tom mais escuros do que os de Castiel, e expressavam luxúria e maldade. Um sorriso cruel estava preso nos lábios um tanto finos do homem, e os dedos esguios retiraram a jaqueta do ombro da moça, alisando a pele morena por debaixo da mesma. A mulher rosnou, apesar de não conseguir se mover. Como ele havia conseguido sair da jaula novamente? Teria seguido os passos de Laurel? Refeito cada ação que ela fizera para poder escapar? Ela não sabia, e algo em seu peito — talvez a vozinha reprimida de Eveline — dizia claramente que ela não iria gostar de saber. Segundo Alastair, um dos únicos demônios estúpidos o suficiente para ir até suas correntes, Lúcifer queria torná-la sua esposa desde a primeira vez que havia a visto. Ela nunca havia dado ouvidos àquela informação tão sem sentido e sem cabimento. Mas agora... 

As dúvidas e até mesmo o horror a consumiam.  

— O que você faz aqui? — Laurel perguntou devagar, remexendo-o o suficiente para tirar a mão do homem de seu ombro e levantar-se num pulo, cerrando os punhos — Como você conseguiu sair da jaula? 

— Sweetheart, você não lendo o jornal do inferno ultimamente, andou? — Lúcifer sacudiu a mão em casualidade, com um sorriso pendente em seus lábios — Essa é minha segunda escapada. Sabe, caso você volte a escapar de lá novamente, por favor, seja cuidadosa e cubra seus rastros. Fora fácil sair do poço depois de deixar minha Jaula.  

— O que é que você quer comigo, seu verme? — ela cuspiu as palavras com tanto ódio, que o sentimento quase tornou-se palpável. 

Laurel não sabia explicar, mas sentia um rancor tão grande pelo ser à sua frente que seria capaz de matá-lo com suas próprias mãos. Ela sabia, fundo em seu âmago, que toda aquela ira vinha do passado, o tempo antes das correntes, o qual ela não conseguia se recordar. Parecia ser uma época nevoada, e sua mente parecia não ter capacidade para espantar a fumaça que envolviam suas lembranças. Na verdade, Laurel não sabia qual era o motivo para ter ficado presa naquelas correntes, pois sua cabeça parecia se recusar a lhe contar

— Ora, não fique tão irritada, por mais que seja tão excitante. — a risada do homem ecoou pelo apartamento vazio — Eu tenho uma proposta a lhe fazer.  

Ele se ergueu do sofá branco, pegando a mão da moça e depositando um beijo leve contra os nós de seus dedos. Mais uma vez, Laurel sentiu-se paralisada, e já não sabia dizer se era obra de Lúcifer, ou do próprio receio que tomava conta de seu peito. Ele deslizou os dedos esguios pelo seu rosto, e desceu os lábios em direção ao pescoço descoberto da mesma, deixando leves beijos nenhum pouco castos em sua pele aquecida pela fúria ardente que queimava na boca de seu estômago. Lúcifer sorriu contra seu pescoço.  

— Quero que você, Laurel, — ele lentamente pronunciou as palavras, sussurrando-as numa mistura de sensualidade e soberania que realmente tentaram a mulher, mesmo que por brevíssimos segundos — se torne a rainha do novo mundo. Minha rainha

Aquela expressão fora o suficiente para fazê-la acordar. Conseguindo se livrar daquela paralisia, Laurel virou-se na direção do homem, acertando uma joelhada entre suas pernas. Quando o mesmo caiu, chutou-lhe o rosto repetidamente antes de ter sua garganta prensada contra a parede, recebendo o jato de sangue em seu rosto, vindo diretamente da boca do homem. Tentava respirar, e Lúcifer sorria conforme sua face ganhava a cor arroxeada pela falta de ar. Ela o chutou novamente, conseguindo afastá-lo o suficiente para recuperar o ar que lhe havia sido roubado. O demônio deixou que seus olhos escurecessem, e sentiu a fúria subir por suas veias ao redor dos olhos. Ela partiu para cima, conjurando a adaga de ônix que havia deixado em cima da mesa. Entretanto, Lúcifer era rápido. Enquanto Laurel tentava cortá-lo, ele acertou um chute contra sua barriga, lançando-a para o outro lado da sala. Sem deixá-la levantar, ele a segurou pelo pescoço e arrancou a faca de suas mãos, cravando a lâmina em seu peito, extremamente próxima do coração de Eveline. A mulher gritou de dor e acertou um soco contra o maxilar do homem, forte o suficiente para lançá-lo do outro lado do cômodo. Ela caiu de joelhos, sua visão embaçada pela dor, as mãos envolvidas no cabo da adaga, pressionando-a para que se mantivesse no lugar. Ergueu os olhos fracos até Lúcifer, que tinha um sorriso vitorioso no rosto e os braços cruzados sobre o peito, com um pequeno filete de sangue escorrendo de seus lábios. 

Você será minha, Laurel. Custe o que custar. 

Aquela fora a última frase que ela pôde ouvir antes de se teletransportar para longe da cidade de Cobb Island.  

{…}

Castiel passou os dedos pelos cabelos escuros, enquanto os cotovelos estavam apoiados contra os joelhos e seus olhos encaravam um ponto vazio no quarto do motel em que estava. Dean e Sam ainda vasculhavam a cidade de Rock Point atrás do espírito vingativo que vinha matando maridos infiéis, mas o anjo tinha clara consciência que o assunto "Laurel" ainda perturbava a cabeça dos dois irmãos. O que ele faria a respeito? Como ele poderia controlá-la?  

E se fosse verdade, como ele e os Winchester parariam Lúcifer novamente? 

Sua mente dava voltas com tantas perguntas. Era doloroso para ele ter de vê-la novamente, e aguentar suas palavras de ódio e amargura, enquanto ele sabia que todos aqueles sentimentos, em parte, eram originados por culpa sua. Castiel ainda conseguia ouvir os gritos de socorro e de dor que partiam da boca da mesma, conseguia sentir os dedos finos da moça segurando seus braços, e principalmente, conseguia ver os olhos, naquela época azuis como o céu de uma tarde de verão, implorando-o em sincronia com seus lábios para que ele a tirasse dali e a levasse de volta à sua casa. Levaram séculos até o anjo superar tudo aquilo. 

Ou pelo menos, fingir que havia superado.  

"Me ajude, por favor, por favor não me deixe aqui, por favor, você sabe que a culpa não foi minha, Castiel, por favor!", ele sacudiu a cabeça, tentando esquecer as falas sôfregas daquele dia tão fatídico. "Eu pensei que fosse meu irmão! Você disse que sempre estaria aqui por mim! Você me traiu, Castiel, você me traiu!"

— Pare com isso. — ele resmungou, ralhando consigo mesmo. Odiava ter todas aquelas memórias atormentando sua cabeça — Pare.  

Levou apenas um segundo. Onde, antes, havia o vazio que ele encarava, agora tinha uma poça de sangue negra, onde Laurel e sua casca Eveline estavam ajoelhadas. A adaga que ela usara para atacar o anjo estava cravada com profundidade em seu peito, na altura do coração, os olhos negros mal se mantinham abertos, e ela estava acabada. Castiel apressou-se em ajudá-la, segurando-a em seu colo com cuidado e pressionando-a contra seu peito, pouco se importando com o fato do sangue manchar seu sobretudo. 

— C-Castiel... — sua voz era realmente fraca — M-me ajude... 

"Me ajude, Castiel!"


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