Muitos dizem que era apenas um gato preto de olhos verdes brilhantes, mas eu sabia, ele era uma assombração que vivia se escondendo nas sombras e se movimentando pelos telhados para que ninguém o visse e se assustasse com seu verdadeiro eu. Mas em um telhado especial ele sabia que poderia se abrigar da chuva, uma casa com uma pequena sacada no segundo andar onde sua moradora, sua dona, o receberia de braços abertos, sem ter medo de sua alma escura.

  Escorregou pela porta da sacada em direção do calor do cômodo mal iluminado, fechando rapidamente a porta para que não molhasse o chão, a chuva podia ser fina mas o vento era forte, e ele não queria que sua princesa tivesse mais trabalho por sua causa.

  -Ola gatinho - Disse Marinette ainda virada de costas, estava rabiscando alguns esboços de vestidos, chapéus e até um cachecol sobre a luz de uma luminária,  que além da luz da rua, era a única iluminação no quarto.

  -Ola my princess, espero que não se importe de eu passar por aqui enquanto essa chuva não para  - Disse ele todo encharcado,  parece que já havia pego chuva antes mesmo de chegar em seu abrigo. Quando estava para se sentar na cama.

  -Ei espere! - Disse Marinette fazendo-o parar antes mesmo de se sentar. -Você está todo molhado. - Ela passou por ele, indo em direção ao armário encostado da parede, abrindo-o e pegando uma toalha branca que tinha bordado em rosa "Marinette Dupain-Cheng" - Aqui use isto, não queremos que pegue um resfriado não é mesmo? - Entregou-lhe a toalha já desdobrada.

  -Muito obrigado princesa - Disse-lhe pegando a toalha e ao mesmo tempo segurando sua mão e beijando as costas da mesma. - Ela corou um pouco mas logo virou-se para que ele não percebesse.

  Mari sentou-se na cama e o observou,viu seu cabelo dourado molhado e pingando em sua testa fazendo com que uma gota se tornasse um rio em sua máscara. Atrás de si havia uma bela vista, a chuva caia de leve, o vento já parara, as plantas se deliciavam com o choro do céu e os insetos se escondiam nas brechas da parede, enquanto um certo gato se aconchegava em seu quarto. Terminado de se secar Chat sentou-se ao lado de Marinette, era tão bom poder saber que alguém sempre estaria de portas abertas para um intruso, apenas ela e sua dona Ladybug tinham esse carinho por ele, talvez  porque as duas eram gentis com qualquer um, isso o deixava com um pouco de ciúmes,  porque essa atenção não era inteiramente dele, isso era estranho amava Ladybug mas estava começando a sentir algo por Marinette, a menina que mal falava com ele e era tão natural com Chat Noir.  Percebeu que á estava encarando, ao mesmo tempo que ela percebeu aqueles olhos verdes a observando.

  -O que está olhando gatinho? - Disse ela virando-se à ele.

  -Só pensando em algo muito maluco - Ele riu de si mesmo um pouco mais alto do que queria.

  -Agora fale, quero rir também - Disse se ajeitando na cama, de um jeito que ficou sentada em cima das pernas e de rente à ele.

  -Eu só estava pensando que você e Ladybug são parecidas, quero dizer, as duas são bondosas com os outros, e são as únicas que eu posso confiar - Ele continuou olhando a paisagem, ainda bem se não veria a cara de pavor de Marinette, ele não podia ter descobrido podia? Era melhor tentar tirar o foco dele disso agora.

  -Então...O que você gosta tanto em Ladybug? -(Espero que ele não tenha percebido que estou mudando de assunto).

  -Ela... ela é incrível, tão corajosa, determinada, e... e na primeira vez que nós nos conhecemos, ela disse que era desastrada, que não conseguiria, mas no final ela continuou, e veja agora, é a maior heroína de Paris. - Ele parou por um momento, estava meio corado, deve ter falado de mais. - E você princess, gosta de alguém?

  -Hum...bem..eu..é..sim eu gosto de alguém. - Agora Marinette estava totalmente corada, parecia estar de máscara, nunca contara a ninguém além de Alya sobre seu amor por Adrien.

  - Então me conte, para que eu possa saber se ele é bom o bastante para você. - Disse sorrindo, mas lá no fundo estava falando a verdade.

  -Bem você deve conhecer ele, o-o nome dele é Adrien. - Falou e ficou agora toda vermelha, definitivamente não daria para esconder isso.

  - Hó sim sim, é aquele modelinho né, um monte de garotas gostam dele, é um grande rival.- (Nossa isso é surpreendente Marinette gosta de mim!Isso explica ela ficar tão estranha perto de mim) - Então por que  você gosta dele?

  -Bem, na verdade quando eu conheci ele, eu o odiava, achava que ele era igual a Chloe, por causa de um mal entendido mas...- Mari se ajeitou na cama assim sentando novamente de frente a paisagem. - Não devemos julgar os outros sem conhecer, então eu descobri o quão gentil ele é e também solitário, só que eu sou uma idiota e nunca consigo falar com ele direito.AAARRRGH - Marinette se jogou na cama e tentou se esconder em baixo do travesseiro, ela parecia uma criança com vergonha de algo. Tão Bonitinho.

   Depois disso surgiu um silêncio, não do tipo constrangedor como deveria ser, mas um silêncio calmo, como se os dois estivessem refletindo, eles se amavam e não sabiam disso, eles eram o casal guiado pelo fio vermelho, uma metade de uma alma, um complemento.  Marinette ama Adrian que ama Ladybug que volta para Adrian que é Chat Noir  que ama Lady sem saber que ela é Marinette, como o amor é confuso. Destinados um ao outro confidentes em várias vidas colegas de dia e companheiros à noite, separados apenas por uma máscara, por uma assombração.

   Marinette continuava deitada de costas para Chat, que a tanto tempo já não falava que ela achara que tivesse ido embora, mas com um súbito movimento Chat a abraça ainda deitada e encosta a sua cabeça no ombro de Marinette de forma que ela consegue sentir o seu hálito quente bater em sua orelha.

  -Obrigado - Diz Chat em um baixo sussurro, parecia estar segurando o choro.

  -P-pelo que? - (O merda ele esta muito perto,sorry Adrian).

  -Só por ser você, por me aturar me escutar e me entender tão bem. - (desculpe m'lady), ele se levantou não antes de depositar um leve beijo na orelha dela,nada muito sedutor, era mais como um presente de agradecimento. - Acho que é hora de voltar a escuridão.

   Fazendo isso se levantou, a chuva já havia parado, a sacada estava molhada com poças de chuva, ele abriu a porta e foi ao para-peito, e lá estava ele pendurado,o gatinho de rua que vem e vai só para ter um pouco de atenção. Mas hoje ele ganhou mais do que apenas atenção, ganhou algo para pensar e para valorizar, Marinette gostava dele, e não só por ser um modelo! Por ser quem ele era, puro e verdadeiro.

  -Bom até logo princesa - Disse isso e saiu pulando de telhado em telhado.

  -Até logo.. - Disse Marinette em um sussurro que já havia levantado para ir fechar a porta.

  E o gato voltou as ruas, o gato preto do azar que naquela noite havia tirado a sorte grande, quem sabe ele não cruzou com uma joaninha no seu caminho e volta ao beco escuro e frio do coração da cidade de onde ele viera? Essa pergunta pode nunca ser respondida, e o futuro nunca ser desvendado, mas as marcas do passado assombrarão por toda a eternidade aquela pequena sacada no segundo andar de uma casa, onde morava a dona de um certo gato preto.