Capitu escrita por tata-chan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688051/chapter/1

"Você não gosta de mim, não é?" - ela está deitada na minha cama. Esparramada é uma palavra mais próxima de sua posição. Seus cachos castanhos estavam esparramados pelo meu travesseiro e seus joelhos dobrados. A alça de seu vestido amarelo estava levemente caída e do meu lugar na escrivaninha ao lado da cama eu tinha uma bela visão de sua pele morena levemente brilhante pelo suor resultante do dia quente. Seus olhos estavam fechados e suas mãos estavam acima da cabeça, brincando com os próprios cabelos. Sua expressão era levemente contrariada.

Ao invés de responder, continuo com meu olhar fixo no livro e no caderno a minha frente. Nós crescemos juntos, claro. Eu tinha menos de nove anos quando sua família se mudou para o apartamento da frente. Nós dois passamos muito tempo sozinhos e sua personalidade espontânea fez com que desde o começo ela encontrasse o caminho para meu apartamento, meu quarto e minha cama. Ela sempre era a animada, extrovertida. Em pouco tempo se tornou popular na escola, amada por todos, cheia de amigos. Desde quando era uma garotinha banguela com o cabelo bagunçado. Eu sempre fui mais calmo, mais... Retraído. Praticamente não tinha amigos além dela e mesmo com ela, quase não falava. Era quieto e sombrio. Só tinha olhos para meus livros e meus estudos.

Ela olha para cima e se espreguiça como um gato. Era impossível não prestar atenção em seu corpo, não com aquele vestido amarelo... Ela nem fazia ideia.

"Você me odeia. Você me detesta. Você me abomina. Você me despreza." - Hoje ela estava dramática. Às vezes acontecia. Às vezes ela se irritava com minha personalidade plana e comum. Às vezes ela interpretava meu silêncio como desinteresse. Ela nem desconfiava.

"Eu nunca disse que te desprezo." - Ajeito meus óculos e olho para ela ao responder. Ela se vira e olha para mim sorrindo, com o corpo apoiado pelos cotovelos. A alça permanecia caída e ela não tinha se dado o trabalho de colocar um sutiã naquele dia quente. Eu via mais ali do que deveria. Seu corpo era esbelto e bem formado, curvilíneo. Perfeita...

"É mesmo? Podemos ver essa lista em ordem decrescente?" - Volto meus olhos para meus livros e continuo a escrever.

"Não seja idiota. Se eu abominasse você, não suportaria nem ficar no mesmo quarto." - Minha mão não para de escrever e meus olhos tentam a todo custo ficar longe da covinha de seu sorriso. Ela se deita novamente de costas e dobra as pernas, cruzando uma acima da outra, o que fez com que seu vestido amarelo subisse ainda mais. Sinto uma gota de suor escorrer do topo da minha cabeça e descer pela minha espinha. Tento me concentrar nas contas à minha frente. O vestibular estava próximo, eu tinha mais com o que me preocupar. Mas ela tinha que aparecer com aquele maldito vestido amarelo. Não pela primeira vez eu fantasio em arrancá-lo.

"O que mais?" - Seu tom é risonho e seus olhos continuam fechados. Ela tinha tanto prazer assim em me provocar?

"Você é dramática demais. Não acho que eu tenha um dia odiado ou detestado alguém, não realmente. São palavras muito fortes." - Olho para ela e não consigo fazer com que meu olhar seja mais inocente. Às vezes parecia que sua pele morena só me fazia parecer mais pálido. Seu corpo curvilíneo só me fazia mais magro e desengonçado. Sua figura pequena me fazia parecer mais alto e estranho. Seus olhos inteligentes me tornavam mais míope. Era uma sorte que no momento eles estivessem fechados. Ela tinha olhos de feiticeira. Às vezes, em minha mente, eu a chamava de Capitu. Aos treze anos eu li Dom Casmurro e apenas aos quinze entendi o que ele queria dizer com os olhos de cigana. Foi mais ou menos na mesma época em que parei de encarar seus olhos negros. Eu sempre, sempre me perdia ali.

"Então talvez você apenas não se importe." - Tão inteligente e ao mesmo tempo tão ingênua. Tão sedutora e ao mesmo tempo tão inocente. Ela realmente não fazia ideia.

"É uma forma de pensar."

"Eu tenho a impressão de que você não se importa com nada, nem com ninguém. Não realmente." - Suas sobrancelhas estão franzidas, mas seus olhos permanecem fechados. Retiro meus óculos e aperto a ponte de meu nariz. Eu era uma pessoa contida, sempre. Eu era controlado. Mas até pra mim existiam limites.

Talvez fosse o calor, ou talvez - o que me parecia mais verdadeiro - fosse o vestido amarelo. Ela não se mexe mesmo quando apoio meu joelho na cama. Meu joelho nu roça o dela e agradeço por estar de bermuda. Apoio minhas mãos ao redor de sua cabeça, uma de minhas pernas está entre as suas e a outra do lado, na beira da cama. Ela abre os olhos e me encara. Sua surpresa é leve, como se ela nunca imaginasse que isso poderia dar certo. Paro de me apoiar com as mãos e passo a usar os antebraços, assim, meu nariz encosta no seu. Me perco novamente em seus olhos.

"Você não gosta de mim." - Seus olhos me encaram e eu me lembro de Bentinho, preso na mesma armadilha que eu. Não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia. Ah ela sabia, com certeza sabia de cada sentimento que me causava. Ela fazia de propósito.

"Não, não gosto." - Deslizo meu nariz pelo seu e beijo seu rosto. Ela fecha os olhos e espera. Beijo o outro lado de sua face e então seu queixo. O toque de meus lábios nos seus quase não é sentido. Com uma das minhas mãos, seguro as suas e então acaricio seus cabelos. Cheiro sua nuca. Toco seus braços e entrelaço meus dedos nos seus. Era como se o momento durasse uma vida e tinha medo que a magia pudesse acabar a qualquer momento. O beijo agora era mais tangível. Beijo seus lábios e logo lambo pedindo acesso. Eles se entreabrem e eu mordo seu lábio inferior.

"Não gosta, é?" - Ela sorri marota e ergue uma sobrancelha. Limites. Limites eram necessários. Os meus já tinham explodidos. Meu beijo dessa vez foi completo. Minha língua encontrou a sua e senti o gosto de sua boca. Parecia cliché, mas ela tinha gosto de canela. Ela me corresponde e aproveita o momento de distração em que solto suas mãos para levar as suas aos meus cabelos. As minhas, por sua vez, encontram sua cintura e ela morde meu lábio. Abaixo mais meu corpo que encosta no seu e por um momento estou entre suas pernas. Ela toca minhas costas. Tudo de propósito. Me pergunto se era apenas tédio. Se seria interessante pra ela provocar o garoto nerd. De alguma forma, sei que não. Interrompo o beijo e colo minha testa na sua. Suas bochechas estão vermelhas e ela respira pesado. A essa distância eu consigo vê-la, mesmo sem os óculos. Ela sorri.

"Eu também não gosto de você." - Ela sorri e me deito de costas ao seu lado. Ela segura a minha mão e apoia a cabeça em meu ombro. Eu acaricio sua mão. Fecho meus próprios olhos e relaxo.

"Você sabe, sou bem egoísta." - Ouço seu riso e ela aproxima mais seu corpo do meu.

"Sei disso. Mas eu esperei por muito tempo." - Viro meu corpo e seguro o seu em meus braços magros. Ela apenas retribui o abraço e esconde o rosto na curva de meu pescoço.

"Não vou dividir você com ninguém."

"O mesmo aqui. Vai parar de estudar um pouco?" - Sua voz é preguiçosa e eu acabo por relaxar.

"Só um pouco."

"Ei, se você não gosta de mim...?" - Estou quase dormindo quando ela pergunta.

"Sim?"

 "Me ama?" - Não posso deixar de rir.

"Talvez um dia eu te conte." Ela me belisca antes de relaxar novamente e então o senhor dos sonhos despeja sua areia mágica em meus olhos me levando para sua terra, junto a minha Capitu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Capitu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.