O Grande Inverno da Rússia escrita por BadWolf


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Opa, bem-vindo!

Bom, como de costume, primeiramente vou postar alguns caps de uma só vez, e depois a gente só vai voltar a se ver no próximo fim de semana.
Bom, chega de atrapalhar a sua leitura.



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“Está se aproximando um vendaval do leste, Watson.”

“Não creio, Holmes. Faz muito calor.”

“Meu caro Watson! Você é o único ponto imutável em uma era de transformações. De qualquer maneira, prenuncia-se um vendaval vindo do Leste, um vendaval como nunca soprou sobre a Inglaterra. Será gélido e pungente, e muitos de nós poderemos perecer em sua rajada. Não obstante, é enviado por Deus, e quando houver passado, se erguerá à luz do sol uma Pátria mais pura, melhor e mais forte.”

(Seu Último Adeus)



São Petersburgo, Rússia. Meados de 1906.

Ilha Vassilievski


            Era uma tarde de ventania, um tanto nublada. O vento fazia o frescor e o cheiro de flores dos jardins das mansões da Ilha Vassilievski adentrarem ao automóvel, mas apesar da fragrância suave, o pesado cheiro do combustível ainda dominava o ambiente. Nem a maciez dos bancos de couro ajudava a esquecer desse cheiro enjoativo, mas naquela manhã em especial o cheiro de combustível estava consideravelmente mais forte. E de pensar que ela, que detestava cavalos, poderia sentir falta deles como meio de transporte, pensava Vera.

Vera Ivanov abanava-se com seu leque, numa vã tentativa de se livrar aquele ar sufocante de combustível. Por sorte, já estavam próximos da imponente, largamente majestosa, Mansão do Comandante Vassíli Golubev, seu cunhado, na Ilha Vassilievski. O homem, pensava Vera, que tivera a proeza de conseguir se casar com sua irmã mais velha, Olga Ivanov. Aturar a arrogância e petulância da mais velha das Ivanov era o bastante para fazê-lo merecer uma canonização ou uma medalha por bravura, pensava a moça.

            -Tem certeza de que quer fazer isto?

            Era seu noivo, Ernest Duncan, quem lhe arrancara do desgosto de pensar em Olga. Vera se limitou a sorrir para o jovem rapaz, que sorriu em troca. Ela não pôde deixar de pensar, naquele momento, o quão sortuda ela tinha sido, por diferente das moças de sua idade e posição social, ter conseguido um casamento arranjado com um homem tão doce e bem-apessoado como ele, que além de ser gentil, lhe destinava um futuro promissor e sem preocupações, graças às indústrias que ele possuía na Índia. Tinha alguns defeitos, é claro, e a hesitação era um deles, mas nada que ela não pudesse lidar. Ao menos, seu casamento arranjado com Ernest foi algo bom que seu pai, o Duque Ivanov, lhe deixou. A certeza de um horizonte confortável.

            -Tenho, Ernest. Eu preciso ir até o fim com isso.

            -Mas meu bem... Essa mulher... Eu sei que ela é sua irmã, mas há algo de... Maléfico nela. Você não concorda?

            Vera precisava dar o braço a torcer. De todas as suas irmãs, Olga fora aquela que mais herdara o gênio do pai. E a predisposição a fazer maldades estava em seu sangue. Ela se lembrava das malvadezas que a menina, desde cedo, gostava de fazer com os gatos e cães que ganhava de sua mãe, que em menos de uma semana amanheciam mortos, com marcas de torturas e feridas pelo corpo. Quando sabia das notícias, o pai delas, o Duque Ivanov, sempre minimizava. Os criados da casa temiam Olga, diziam que havia maldade e crueldade em seus olhos, não a inocência de uma criança.

Para não dizer daquela menina eu frequentava a casa dos Ivanov – como era mesmo o nome dela? Ruth? Esther? Enfim, um nome judaico qualquer – que, sendo menor que Olga, vivia a sofrer de empurrões, puxões de cabelo e bonecas degoladas, maldades estas que já existiam desde antes da descoberta de que a família Katz era completamente judia. “Olga tem faro para problemas, assim como eu”, exaltara o pai delas, quando ouviu da menina Olga que ela sempre desconfiara da menina e do irmão dela, David – ou seria Jacob? Vera jamais foi boa em guardar nomes. “Não sei o que Dmitri tanto vê nela”, certa vez ouviu Olga reclamar da menina. Claro. Ciúmes de irmã. Embora Dmitri não fosse um filho oficial do Duque Ivanov, ele sempre frequentara a casa e tratava suas irmãs com carinho.

—Meu pai costumava me contar que nosso ancestral, o Barão Ivanov, era um homem veterano de guerra, assim como gerações de nossa família. Sua fama chegou aos ouvidos do Czar, à época Ivan, o Terrível, que o encontrou em um festejo no Palácio. Sabe o quê o Czar disse ao meu ancestral? “Todo Ivanov carrega um pouco do Diabo em si.”

—Deus Pai, Todo-Poderoso. – proferiu Ernest, fazendo Vera rir do medo de seu noivo. – Assim você me faz ter medo de me casar com você.

—Não seja tolo. Foi apenas um comentário.

—Mas você concorda quanto à sua irmã, não?

—Ernest... – pedia Vera, em vão.

—Você há de concordar que há, pelo menos, um dedo de Olga por trás dessas mortes “repentinas” de suas irmãs, não?

Vera suspirou.

—Elizaveta morreu de pneumonia. Ela padecia disso antes do papai morrer.

—Só Elizaveta. E quanto à Veronica? E Ekaterina? E Vanya? Hein? Nem mesmo aquela pobre da sua irmã freira escapou! Como era mesmo o nome da finada? Ah, Anya.

—Anya foi morta por Veronica, e Verônica foi morta por Olga. É simplesmente como funciona a cadeia alimentar, querido.

Ernest parecia repugnado.

—Cadeia alimentar, que horror... Reduzir sua família a uma horda de animais. Mas, e quanto à Vanya? Oh, Céus... Não me diga que você...? – disse o rapaz, tampando a boca em horror. Vera riu do pasmo dele.

—Eu não tive escolha. Descobri que ela estava planejando me matar. Só o que fiz foi me defender.

Ernest negativou com a cabeça.

—Tenho um mau pressentimento. Algo me diz que não deveríamos estar aqui. Não depois de tantas mortes acontecendo em sua família, por causa da herança do seu pai. Você deveria ouvir meu conselho, sabe? Abrir parte dessa herança amaldiçoada...

O semblante de Vera se fechou.

—Jamais abrirei mão, Ernest. É meu direito de nascença.

—Essa sua sede por dinheiro vai acabar te matando, Vera. Eu já te disse, eu tenho dinheiro o bastante para dar a nós dois uma vida de reis na Índia... Podemos ir embora desse maldito país, fugir para longe dessa louca da sua irmã...

—Uma Ivanov jamais foge, Ernest. Você sabia disso, quando pediu a minha mão ao meu pai. Veja, chegamos.

O automóvel parou, notou Vera Ivanov. Decerto chegaram ao destino. Ao descer do automóvel e gentilmente dar a mão à Vera Ivanov para permitir sua saída, Ernest parou para observar a imponente mansão onde morava Olga eo Comandante Vassíli. De fato, um sujeito de posses, talvez até mais do que ele.

—Ainda acho este encontro uma loucura.

—Sua covardia me enoja, Ernest. Dificilmente meu pai aprovaria um casamento a um homem incapaz de honrar suas calças.

—Olha como fala de mim, Vera. Mais respeito.

Ignorando a ameaça vazia de seu noivo, Vera caminhou por entre os jardins verdejantes da imponente residência de Olga, sua irmã. Era tradição que a filha mais velha detivesse o melhor casamento, e no fundo, Vera sentia inveja da irmã por isso. Não só pela riqueza e status conferidos pelo Comandante, mas também porque, em termos de virilidade, Vassíli deixava o jovem e vacilante Ernest comendo poeira com sua forma larga e musculosa que muito lembrava seu pai. Era extremamente complicado para Vera entender a sede de poder de Olga pela herança, quando já havia um futuro e tanto garantido, além de um bom marido.

O mordomo os recebeu, e logo o casal foi direcionado à Sala de Visitas da Mansão, um local repleto de livros, estátuas de mármore e quadros valiosos, com uma varanda que dava vista para toda a propriedade. Sentada em uma cadeira, aparentemente ocupada com um livro – Vera sabia que aquilo era só mais uma máscara da irmã, pois Olga sempre detestara livros –, estava Olga, enquanto seu marido, o Comandante Vassíli, ocupava-se em encher um copo de uísque genuinamente escocês com gelo.

—Oh, Vera! Fico mui feliz em vê-la, minha irmã. – disse Olga, abandonando o livro e correndo para abraçar a irmã. Ambas trocaram beijos distantes e frios.

—Eu também fico feliz em vê-la. Especialmente, feliz em vê-la com vida. – assinalou Vera com sarcasmo, fazendo Ernest quase adentrar em uma crise repentina de tosse. Olga ignorou o rompante do rapaz.

—Pois é, parece que a tragédia está a assolar a nossa família. Mês passado, atacaram nossa pobre irmãzinha Natasha! Pobre infeliz, sofrer tal destino, acabar nas mãos daquela gentalha nojenta e acabar queimada junto ao marido e os filhos... Sequer teve direito a um velório decente.

—Velório? Então pôde comparecer ao velório da família dela? – perguntou Vera, com interesse.

—Infelizmente não. Fui aconselhada por Vassíli a não ir. Desde o “Domingo Sangrento”, nós, a nobreza eleita por Deus, sofremos com represálias. Ir até lá, ainda que para prestar-lhe últimas homenagens, poderia chamar muita atenção. Desde então, tenho evitado aparições em público, e você deveria fazer o mesmo, diminuindo sua ida a bailes e banquetes.

Vera riu. – Ernest precisa de tais ocasiões para se enturmar com potenciais investidores, e também enraizar laços de negócios. Meu dever é acompanha-lo.

—Oh, Ernest! Perdoe-me por não ter te cumprimentado antes, eu sequer pude nota-lo. – disse Olga, com claro sarcasmo. – Como andam os negócios com os noruegueses? Soube que eles estavam um tanto furiosos com seu recente investimento em ferro da Sibéria...

Ernest pareceu surpreso.

—Oh. A senhora realmente me impressiona, Mrs. Golubev. Bom, estas... Er... Estes são problemas do mundo dos negócios. À vezes, a concorrência não entende que nem todos podem sair ganhando.

—É verdade. Para que haja um vencedor, alguém tem que perder. – disse Olga, recebendo uma taça de licor do marido e tomando um gole. – Servidos?

Ernest pareceu congelado. Ao notar a reação amedrontada do rapaz, Olga pôs-se a rir.

—Não se preocupe, não está envenenado.

Antes que o rapaz pudesse reagir, Vera se antecipou.

—Na verdade, teremos de recusar porque estamos de saída.

—Já, minha irmã?

—Sim. Ernest tem assuntos a tratar. Apenas quis vê-la, verificar se está tudo bem.

—Mas é uma pena, minha cara irmã, terminar esta conversa tão repentinamente. De qualquer modo, foi muito bom vê-la.

Após uma fria despedida, Olga puxou Vera para um inesperado abraço.

—Espero vê-la novamente. – disse próximo ao seu ouvido, libertando-a em seguida. Após alguns minutos, Olga caminhou para sua sacada, estando lado a lado de seu marido, Vassíli, que segurava um copo de uísque. Ao vê-lo fazer tal coisa, ela retirou com pouca gentileza o copo de sua mão, o colocando sobre a sacada.

—Você prometeu que iria parar de beber durante o dia.

O homem permaneceu em silêncio, com seus olhos fixos no horizonte.

—Ainda acho que você está chamando muita atenção, minha cara. – disse o militar, após dar um forte suspirou.

—Eu não tenho escolha. Preciso do dinheiro de meu pai. Nós precisamos do dinheiro do meu pai. Nada disso estaria acontecendo se você não vivesse o tempo todo bêbado e não saísse de casas de pôquer praticamente sem as calças. – ela disse, com rispidez. Ele suspirou, com culpa.

—Eu jamais pedi que você se transformasse em uma assassina por minha causa, Olga. Por Deus, matar suas irmãs...!

—Eu não vou me tornar uma pobretona! Não vou! – disse Olga, com determinação, tomando o copo e o lançando contra uma parede. Vassíli franziu o cenho.

—Ao menos, as mortes pararam. Só restou Vera agora. Teremos metade da herança de seu pai, dinheiro o bastante para uma vida inteira de luxo, conforto e... OH, MEU DEUS!

Vassíli exclamou quando notou o carro que conduzia Vera e Ernest explodir no horizonte. Arfando em horror, o militar voltou seus olhos para Olga, sua esposa, que trazia em seu semblante extrema satisfação.

—Sempre gostei de fogos de artifício. – foi apenas o que disse a, agora, única herdeira do Duque Ivanov, antes de se retirar daquela sacada.


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Notas finais do capítulo

EEEEITA!!!

Pois é, parece que a maldade do Duque Ivanov é genética!!!

Recapitulando: o nosso Duque malvadeza morreu, deixou uma fortuna daquelas e as filhas estão literalmente se matando para ficar com a Herança. Isso sim é que eu chamo de uma herança disputada... Como podem imaginar, isso irá, cedo ou tarde, impactar na vida de nossos protagonistas. Já conseguem imaginar como??

Bom, pode correndo clicar para o próximo cap. E não esquece do review!



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