A Metade Que Nunca Irei Conhecer escrita por TaniNoru


Capítulo 12
Confissões


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela imensa demora, mas estou com cada vez menos tempo para escrever. Esperando minhas saudosas férias chegarem para poder ter um pouquinho de tempo. Me desculpem e apreciem o capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/687691/chapter/12

Fomos até a área do cinema para escolhermos um bom filme para assistir. Lá estava eu, fingindo que não tinha medo de filme de terror esperando que ele escolhesse algum do gênero, mas ocorreu o contrário. Em cartaz estava um filme de romance sobre dois jovens que não se conheciam, mas se encontraram por acaso em uma estação de trem e ficaram amigos. Não sei mais sobre o filme, pois não assisti até agora. Ele vem em minha direção e pergunta
– Quer assistir o quê, Misa? - Segurando um catálogo onde estavam as seções e os nomes dos filmes. Pego o papel e aponto para o filme de romance, mas ele reage contrariando meu pedido - Esse aqui é bem melhor, não acha? - Pergunta, apontando para um filme de comédia, gênero que eu detesto bastante.
– Não quero esse! Esse filme é chato! - Ele se assusta
– Eh? Pensava que você gostava de comédia, Misa! - Em fração de segundos, me desligo por completo da voz de Hiro e minha atenção se volta para uma pessoa que passou do meu lado, mas que eu não havia prestado atenção. Viro-me tentando encontrar a pessoa, mas ela não estava mais lá. Sinto a impressão que havia parado para me observar. Acho que foi só impressão minha mesmo. Depois de um longo debate, decidimos ir ver o filme romântico. Eu amo ir ao cinema, porém, com excessão da Jô eu sempre costumo vir sozinha. Essa foi a primeira vez que venho com alguém sem ser da família. É uma sensação um tanto estranha. O filme é bem interessante e para meu espanto, em nenhum momento Hiro tentou me agarrar ou algo do tipo. Ele ficou atento ao filme, enquanto dividia sua pipoca comigo. Admito que ele ganhou pontos por isso. A seção chega ao fim e saímos da sala bem tristes com o final que em resumo, eles não terminaram juntos. Foi bem longo, então já havia até anoitecido e não queria ficar muito tarde na rua. Explico para Hiro que precisava ir embora cedo para evitar problemas e tal.
– Puxa, não quer um sorvete antes ou algo assim? Queria ficar mais um pouco com você - Ele faz uma cara tão triste que é impossível negar algo assim
– Eu também quero. Vou ficar só um pouquinho, tá? E aceito o sorvete se você pagar, claro - Ele sorri e brinca
– Lembre-se que é você a única que trabalha entre nós dois, okay? - Começo a rir e dou um tapinha no seu ombro concordando. Caminhamos até a sorveteria e lá ficamos por um tempo jogando conversa fora. Hiro me conta um pouco sobre sua família
– Meus pais vivem trabalhando muito, então quase não os vejo. Tenho uma irmã mais nova que se mudou para o Japão tem algum tempo para trabalhar, então fico em casa com meu gatinho - Diz ele sorrindo, enquanto punhava uma porção do sorvete de passas ao rum e depois de digerir, pergunta para mim
– E você? Conta um pouco da sua família, se não for incômodo - Balanço a cabeça e rio
– Não tem incômodo não! Bem, meu pai sumiu do mapa faz um bom tempo, enquanto minha mãe trabalha até a exaustão sem tempo de dar atenção para os filhos, sabe? - Ele segue atento ao meu relato. Me sinto bem em falar, pois parte de mim confia muito nele e preciso desabafar com alguém. Deito minha cabeça na mesa e suspiro. Fico cansada só de pensar nessas coisas. Carinhosamente, ele põe sua mão em meu cabelo e alisando com zelo. Solto um sorriso sem querer, pois estou amando o jeito que ele acaricia meu cabelo que me deixa um pouquinho sonolenta inclusive. Ele se aproxima do meu ouvido e pergunta
– Já está meio tarde, não é? Quer que eu te leve pra casa - Eu aceno com a cabeça e dou um grunhido negando
– Quero ficar mais um pouco com você - Escondo o rosto por trás do cabelo para que não veja o rubor nele,mas consigo enxergar um sorriso fofo vindo do Hiro quando eu digo isso. Ele remove sua mão da minha cabeça e se levanta dizendo
– Vou ligar para meu pai avisando que vou demorar. Já volto, okay? - Ainda escondendo o rosto eu faço um som afirmativo. Quando percebo que ele não estava mais por aqui, levanto minha cabeça e ponho minha mão sobre ela para sentir o calor de Hiro que ainda se habitava em meus cabelos. Olho no espelho e percebo que estou fazendo uma cara bem idiota e tento esconder a felicidade. Distraída usando o celular, não percebo alguém se aproximando para falar comigo.
– Está se divertindo bastante, senhorita boba alegre - Diz o cretino
– Kayo?! Que mania de aparecer sempre do nada! O que está fazendo aqui?
– Estou trabalhando em uma lanchonete aqui perto. Era meu intervalo, aproveitei pra andar por aí e acabei te vendo - Fico surpresa ao saber do trampo dele
– Você não me contou que estava trabalhando!
– Comecei faz poucos dias, sabe? - Ele pausa a fala pra pegar um pouco do meu milk shake - Está em um encontro com a Hina? - Pergunta em tom debochado
– Não, babaca! Estou com o Hiro e daqui a pouco ele deve estar voltando - Ele sorri e bagunça meu cabelo, me deixando mais irritada ainda - Para com isso, cara! - Exclamo, mas no fundo não estou me importando tanto, pois sei que esse é o jeito dele de demonstrar afeto por mim. Me levanto e faço o mesmo com ele, passando as mãos em seu cabelo deixando todo bagunçado. Começamos a rir como idiotas no meio do shopping até que o segurança nos adverte a não fazer barulho.
– O casal pode tentar se controlar um pouco? - Diz. Acenamos e pedimos desculpas, depois voltamos a rir em silêncio. Kayo me encobre com seu braço direito enquanto tentava não cair de tanto rir. Estou tão distraída que não percebo Hiro parado em nossa frente encarando Kayo. Ao perceber, ele retira o seu braço encima do meu ombro e se aproxima do Hiro. Ele aproveita para provoca-lo
– Vai me dizer que ficou com ciúmes, senhor Hiro? - Esnoba Kayo, enquanto ajeita a franja. Ele apenas sorri como sempre e responde artisticamente
– Eu poderia aproveitar o pouco tempo que tenho sentindo ciúmes de alguém , para poder roubar o coração desse alguém para a vida toda. Não há razão de eu sentir ciúmes por algo que não é meu - Eu fiquei bem constrangida e espantada com o jeito que ele repondeu a provocação de Kayo que apenas ri e termina
– Saiba que eu sou um ladrão e tanto - Ele se vira para mim e se despede - Até qualquer dia, Misa - Eu dou um leve pulo até sua direção e lhe cedo um abraço
– Te vejo na escola, tá? - Seus olhos ameaçaram lacrimejar, mas ele se recompõe e responde, enquanto esconde o rosto me abraçando
– Sim. Nos veremos lá - Soltando dos meus braços, segue seu caminho até sumir da minha visão. Hiro se aproxima e estende a mão para mim me chamando para caminharmos um pouco antes de ir embora
– Vamos? - Seguro sua mão entrelaçando meus dedos nos seus e andamos até uma cafeteria. No caminho, Hiro decide desabafar
– Sabe aquela menina de mais cedo? A que estava com sua amiga - Aceno e pergunto
– O que tem ela? - Seu olhar parece distante agora
– É minha amiga de infância - Fico surpreendida - Ela sempre gostou de mim, mas nunca retribui seus sentimentos. Na verdade, seu irmão havia adoecido e seus pais estavam viajando, então cuidei dela, mesmo sendo apenas dois anos mais velho. Ela acabou nutrindo um sentimento por mim que se arrasta até hoje - Eu me solto do aconchego de sua mão e decido dar minha opinião
– A culpa é toda sua! Porque não deu um fim nas esperanças dela de vez? Aposto que ficou mimando ela esse tempo todo e agora não sabe mais como fazer para encerrar essa história! - Ele suspira e prossegue a história
– Sabe o time de basquete do colégio? - Não sabia onde ele queria chegar
– O que ele tem haver? - Ele sorri e prossegue
– Ano passado nosso colégio jogou contra outro de uma região um tanto distante daqui. No meio do jogo, houve uma briga violenta entre os dois times que resultou em ferimentos gravíssimos no capitão do time do nosso colégio.
– Aonde você quer chegar? Está mudando de assunto?
– Aquele garoto que você estava olhando mais cedo... Ele estava no time do colégio adversário e foi ele mesmo que iniciou todo o tumulto no jogo - Estou atônita e não sei como reagir. Ele havia percebido que eu estava observando ele, mas isso nem se compara com o que vem a seguir. Agora eu sei de onde conheço esse garoto! Eu vi ele deitado em um campo abandonado coberto por sangue. Meus olhos estavam fixos nele, mas acabei fugindo com medo de que fosse um bêbado ou coisa pior. Meus pensamentos estão perdidos agora, mas consigo me compor para perguntar uma última coisa
– O que isso tem haver com a sua amiga de infância? - Ele põe as mãos em meus ombros e continua falando
– O capitão do time era o irmão dela. Ele tinha sérias complicações devido sua doença que se agravava com o tempo e devido as sequelas das agressões que ele sofreu neste dia, sua situação piorou bastante - Suas mãos estão trêmulas e sua voz começa a embargar - Desde aquele dia, ele está em coma inerte. Todos os dias correndo risco de vida. Eu me pergunto como alguém como aquele cara consegue dormir a noite tranquilamente, sabendo que alguém está em coma por sua causa! - Ele está quase esmagando meus ombros e impulsivamente o empurro, mas desculpo-me logo em seguida
– Desculpa, não foi por mal! Se acalme um pouco, Hiro! - Ele suspira e aparentemente para de tremer. Tento descobrir mais sobre essa história
– Qual foi a razão dessa briga no meio do jogo? - Ele olha para mim sorrindo, enquanto estava com a mão em frente ao rosto
– Também queria saber. O time de basquete foi proibido de tocar no assunto, mas eu ouvi dizer que esse garoto foi expulso do time e proibido de jogar basquete em qualquer colégio ou faculdade, o que quer que seja - No fundo, fiquei com pena dele. Talvez o basquete seja sua paixão e isso foi retirado dele, mas não significa que ele deveria sair impune. Esse assunto me deixou cansada e sem clima pro encontro então sugiro
– Vamos embora? Estou exausta e já está tarde - Ele sorri e concorda
– Tem razão - Saímos do shopping e fomos até a estação juntos. Nos despedimos, pois cada um pegará um trem diferente. Ele me abraça e beija meu rosto de forma desengonçada depois segue seu caminho sem olhar para trás. Tenho a impressão que essa história do garoto do basquete estragou o clima do encontro, mas opto por não pensar muito nisso. Sento-me no banquinho que fica na plataforma esperando o trem chegar. Aproveito para ouvir um pouco de música e tentar amenizar meus pensamentos. O trem chega e me encosto na porta e fecho meus olhos pensando em tudo que aconteceu hoje. Enfim chego em casa e posso dormir. Os dias vão se passando e Kayo simplesmente deixa de comparecer as aulas, mesmo após sua suspensão ter acabado. Minhas "amigas" parecem preocupadas, mas era mais porque corriam o risco dele ter arranjado uma namorada e dar um belo pé na bunda das piruas. Mais um dia de aula termina e me preparo para ir ao emprego. Como de costume, lá estava Hiro me esperando na saída para irmos até o ponto de ônibus juntos. Era de se admirar o nível de respeito que ele tinha por mim, como por exemplo o fato dele nunca ter tentando me agarrar em público, coisa que Kayo sempre costuma, ou melhor, costumava fazer com suas presas "indefesas" do primeiro ano. Com o tempo se tornou cada vez mais natural conversar com Hiro, o que antes era bem problemático pois não tinha o que falar com ele. Fomos descobrindo varias coisas em comum e essa era a pauta principal das nossas conversas. O tempo passava muito rápido do lado dele que nem havia percebido que havíamos chegado no ponto. Nos despedimos com um abraço tímido e entro no ônibus. Após um dia exaustivo no emprego, chego em casa e pela primeira vez em anos vejo minha mãe em casa naquele horário. Ela estava entretida lendo seu jornal virtual pelo tablet que nem percebeu minha presença, diferente da pequena Jô que vem berrando em minha direção desconcentrando a leitura da mãe
– Boa noite, Mi! Como foi no emprego? - Pergunta animada, com a boca cheia de biscoito.
– Não é bonito falar de boca cheia, sabia? - Reprimo ela, depois respondo - Foi tranquilo hoje. E como foi sua escola? - É só eu perguntar isso que ela não para mais de falar. Enquanto isso, nossa mãe parecia mais imóvel que a mobília da casa. Quando estou me preparando para ir até meu quarto, ela me chama
– Uma menina ligou mais cedo te procurando. Uma tal de Rena - Diz enquanto tomava um gole de café com uma feição amargurada.
– Hina? - Corrigo, enquanto desço as escadas
– Algo assim - Responde indiferente - Disse que precisava falar com você e tal e que quando você chegasse era pra ligar de volta - Aceno com a cabeça agradecendo pelo recado, pego meu celular e vou até meu quarto. Respiro fundo enquanto discava os números do seu telefone e fico apreensiva enquanto chamava até que alguém atende
– Alô? - Pela voz, só podia ser ela
– Hina! Minha mãe disse que você ligou pra casa e tudo! O que houve? - Ela fica calada por alguns segundos e depois responde
– Pode se encontrar comigo na praça agora?
– Claro! Estou indo pra lá - Vou com a roupa do corpo mesmo, que no caso era o uniforme do colégio e saio correndo até lá. Ao chegar no parque, avisto ela sentada em um banco observando umas crianças brincando no balanço. Estava com um lindo vestido florido e com sua tradicional tiara no cabelo. Me aproximo cautelosamente até que ela me avista e anda em minha direção. Me observa por alguns minutos depois decide falar
– Quer caminhar um pouco? - Sugere com uma voz triste
– Ah, claro... - Andamos em silêncio até o fim do parque onde havia uma pequena fonte e algumas pessoas em volta fotografando. Ela se aproxima até a fonte onde tinha umas crianças brincando e acaricia uma delas enquanto sorria. Sem entender muito bem, vou até sua direção quando ela começa a falar coisas sem sentido
– Criancinhas nunca deveriam pensar em desperdiçar a vida. Nunca deveriam sofrer ou pensar em ficar grandes para viver a sua maneira. Mal elas sabem que quando adultos nos tornamos mais estúpidos e inexpressivos. Por isso gosto de crianças - Dizia enquanto estava agachada alisando uma boneca que estava jogada no chão. Sento-me na mureta da fonte para escutar melhor o que ela dizia, enquanto ainda tento assimilar suas palavras. Tudo que consigo falar é
– O que você quer dizer? - Ela coloca a boneca delicadamente na mureta e se senta ao meu lado, cruzando as pernas. Olhando de outro parâmetro, Hina era uma mulher e tanto. Exalava uma aura de uma verdadeira dama de alta classe. Estou me sentindo um pano de chão do lado dela. Ela põe suas mãos em apoio à sua pequena bolsa em seu colo e prossegue
– Me diz a verdade, Misa. Você alguma vez já pensou em desistir?
– Do quê?
– De viver. Já pensou? - Fico atônita, pois já estou imaginando o rumo dessa conversa. Acabo respondendo com outra pergunta
– Você já? - Ela abaixa a cebeça e sorri
– Acho que alguém neste mundo seria muito hipócrita em dizer que não - Permaneço calada enquanto ela continuava falando - Antes de vim para cá, encontrei com um garoto que me fez essa pergunta. Ele disse que pensava em desistir todos os dias e não era porque achava sua vida ruim, mas sim pelo fato de estar cansado. Cansado de todos os dias passar pela mesma coisa. Eu sei como ele se sente, pois também estou cansada - Pego a boneca e começo a falar
– Pensando por esse lado, acho que o seeh humano seria muito mais acomodado. Querendo largar a vida por cansaço é tão estúpido - Ela se levanta e caminha um pouco quando se vira em minha direção - Tem razão, mas na verdade pedi pra que vinhesse até aqui para ouvir outra coisa - Suspiro e pergunto
– Sobre o quê?
– Sobre nós. Não cheguei a esclarecer o que realmente sinto por você
– Então me diga o que você realmente sente - Ela segue andando, enquanto põe sua bolsa no ombro
– Eu te amo, Misa. O suficiente pra saber que você será mais feliz com o Hiro do que comigo, então estou desistindo. Porém, parte de mim sempre irá carregar este sentimento pela eternidade - Desvia seu olha triste do meu e vira-se de costas e termina - Esquece o que eu acabei de dizer - E foi-se andando até desaparecer da minha vista. Até quando ela pretende agir feito uma coitadinha? Fui embora para casa sem olhar para trás e durante a noite me arrependi amargamente por não ter dito nada pra ela depois daquilo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Metade Que Nunca Irei Conhecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.