“Just touch my cheek before you leave me

then slowly turn away from me”

— Juice Newton

—

Vocês estavam abraçados de conchinha. Você conseguia sentir a respiração — tranquila e ritmada — dele em seu pescoço. Todavia, sentia também que não era ali, abraçado com você, que ele queria estar.

Permitiu-se aproveitar mais um pouco o calor do corpo dele, aconchegando-se mais naqueles braços que te seguravam frouxamente enquanto se lembrava da noite que passaram juntos.

Ele estava com você e não estava ao mesmo tempo.

(quando ele te tocava ou beijava, você o sentia distante. quando ele adormeceu, você ouviu um “kenma” sussurrado. o corpo dele estava ali, mas a mente e coração não saíram da casa ao lado)

Você sabia dos sentimentos dele por Kenma — percebera pelos olhares que ele sempre direcionava para o levantador do Nekoma —, todavia teve a brilhante ideia de propor que começassem a sair sem compromisso.

 "Como sou estúpido!" você pensava enquanto se virava para vê-lo. "Até onde vai a sua estupidez, Tsukishima Kei?"

(ele nunca mentiu. nunca negou que amava outro. nunca deu a você esperanças, até mesmo tinha recusado sua proposta, mas você insistiu, dizendo que não faria mal a nenhuma das partes. no final, a culpa era sua)

Você, que nunca fazia nada desnecessário, que sempre agia com a razão, deixando suas emoções de lado — para que arriscar terminar sofrendo no final, não é mesmo? — tinha se deixado levar por um desejo idiota.

Olhou-o, sentindo seu peito doer um pouco. Ele dormia tranquilamente e tinha um pequeno sorriso no rosto. Você tocou-o no canto dos lábios com o polegar e sorriu triste.

(abre parênteses

Kuroo Tetsurou na visão de Tsukishima Kei

Ele é um pouco mais baixo do que você, mas o bloqueio dele é muito melhor. Isso te irrita, apesar de que, você entende que ele é mais experiente. Os olhos dele são apertados e parecem estar sempre analisando alguma coisa — mas só paravam para analisar você enquanto oponente do outro lado da rede, nada mais do que isso —, as íris são como íris felinas. Lindas, na sua opinião.

Ele tem um sorriso sarcástico e não perde a oportunidade de provocar alguém. É aquele tipo de pessoa que você poderia ter ficado mais feliz se não tivesse se aproximado tanto.

fecha parênteses)

 “O que está sonhando, Kuroo-san?” você queria perguntar mesmo que imaginasse já saber a resposta. “Por que será que ainda não falou ao Kozume-san que o ama? ” isso você realmente não sabia, até porque, o cabeça de pudim parecia corresponder.

(ou não. o levantador do nekoma era um mistério para você)

Passou a mão pela cabeleira negra dele, tentado a beijá-lo.

“Cadê o seu orgulho? ”

Levantou-se, deixando-o ainda dormindo para poder tomar um banho.

Não quis demorar no chuveiro. Você sentia que se ficasse ali por muito tempo, as lágrimas começariam a cair e, quando saiu, ele já tinha acordado. Deu de ombros enquanto ele seguia até você.

(você desejava que ele ainda estivesse dormindo; queria apenas deixar um bilhete avisando que não voltaria mais. não queria ter que falar com ele)

— Desculpa, Tsukki. — Ele tocou sua bochecha. — Não podemos mais continuar com isso. Nem deveríamos ter começado.

— Hm — você respondeu, acenando com a cabeça positivamente. Não imploraria para que ele ficasse com você.

Ele te levou até a porta.

(você não queria, conhecia muito bem o caminho até a saída, mas ele insistiu e você não conseguiu dizer não para aqueles olhos)

— Tsukki, não se engane, não sou eu quem você ama. O que você sente por mim não é amor.

E foi com essas palavras martelando em sua mente que você caminhou até a estação para poder pegar o próximo trem para Miyagi. Uma música, na qual você não prestava atenção, ecoava por seus ouvidos.

Se não era amor, por que seu peito doía tanto? Se não o amava, por que você se submeteu àquilo tudo?

A caminhada da estação até sua casa pareceu demorar mais do que o normal. Por que tinha que estar fazendo tanto calor? Você não gostava de estações quentes. Suspirou. 

(na minha opinião, naquele momento, você parecia não gostar de nada)

— Tsukkiii! — alguém te gritou quando já estava chegando em casa, arrancando-te dos seus pensamentos enfadonhos.

Yamaguchi corria em sua direção, sorrindo. Quando ele se aproximou, você se focou nas inúmeras sardas do rosto dele.

“Parecem mesmo uma constelação”

Você sorriu, e a tristeza pareceu desaparecer do seu peito.

“Não sou eu quem você ama”

— Talvez não seja mesmo, Kuroo-san.

Percebeu que Tadashi o olhava bastante confuso.

— Não é nada. Eu só sou um idiota. — Sorriu outra vez e segurou a mão de Yamaguchi. Ele corou um pouco, e você percebeu o quanto achava aquilo fofo e bonito.

No final, você não queria ser o anjo de Kuroo Tetsurou. Você só queria o seu próprio anjo.

Um anjo com a mais bela das constelações desenhada em sardas.

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Just call me angel of the morning, angel

— Juice Newton