Eu estava encolhido em minha cama, lágrimas cortando minhas bochechas e soluços acabando com o silêncio do chalé de Hades. Tudo na minha vida estava um inferno; e não, isso não foi uma piadinha estúpida por eu ser filho do deus do submundo.

Minha vida estava um caos desde que os romanos e gregos se uniram no final da batalha contra Gaia. As missões pareciam ter triplicado e eu precisava de um grande tempo para raciocinar tudo o que acontecera nos últimos tempos. Metade do acampamento estava me considerando traidor por ter escondido a existência do acampamento Júpiter deles, entretanto, havia apenas uma pessoa que ficara ao meu lado. Will Solace.

O filho de Apolo sempre aparecia na minha porta com um sorriso radiante em seu rosto bonito e me levava para tomar café da manhã com ele, ignorando todas as minhas tentativas de manda-lo ir à merda. Nada contra o cara, na verdade, eu o considerava até bonito e simpático e da última vez que eu pensei assim de um rapaz, eu acabei com uma quedinha por Percy Jackson, que realmente não era a pessoa certa. Bem, pelo menos, Will costumava a aparecer...

Fechei meus olhos, tentando adormecer e sabendo que aquilo seria impossível. Meus pesadelos haviam aumentado gradativamente desde... Aquela noite.

A maioria dos meio-sangues estavam ao redor da fogueira e, como sempre, eu me encontrava sozinho, encolhido onde as chamas não iluminavam meu rosto, observando atentamente o jeito que todos pareciam felizes com aquele lugar e com suas vidas.

Até que Quíron apareceu.

Com um sorriso triste e a cabeça abaixada, ao lado de Sr. D – até mesmo o alcoólatra parecia abalado por alguma coisa. Eles se aproximaram e colocaram uma bandeira com uma Líra, uma coroa de louros na mesma no chão, com força.

O símbolo de Apolo.

Senti meu coração dar um salto e jurei que minhas pernas estremeceram ao ouvir as palavras do centauro:

— Como todos sabemos, Will Solace estava em uma missão. – não. Não. Não. Fechei meus olhos com força, já sentindo as lágrimas tomando-os. – E... Bem, Will Solace foi um bom campista e amigo para todos nós.

— O Will morreu?! – um filho de Ares gritou com a voz séria, porém, trêmula. Ah, sim. Era óbvio.

— Sim, senhor. – Sr. D. disse sério antes de fungar e murmurar. – Todos nós sentimos muito e...

— Calem a boca. – gritei irritado, cobrindo minha cabeça com meu capuz negro e correndo para o meu chalé, ouvindo todos sussurrando pelo meu surto.

Will estava morto, aquilo era a única coisa que importava.

Mas, as coisas não eram tão ruins quando a Lua cheia chegava. Pelo visto, Ártemis e Hades fizeram um acordo em que a toda Lua cheia, Will voltaria para mim e poderíamos conversar até o amanhecer.

Então esperei sua imagem aparecer e assim que Will – alto, loiro, forte e alegre Will – apareceu, eu corri em sua direção e o envolvi com meus braços, soluçando em seu peito.

— Calma, Nico, calma. – ele disse carinhosamente, tocando meus fios de cabelo negro. A noite e o dia se amando ali, quietos aos olhos do resto do mundo. – Eu estou aqui agora.

— Mas irá desaparecer em breve. – murmurei em um tom abobalhado apenas pelo seu toque. Merda, eu tinha que admitir, eu gostava dele. – Eu não quero que você desapareça. – solucei e Wil ficou calado. – Will, por que você aceitou aquela missão?

Separei-me o suficiente para poder ver seu rosto. Will estava soturno, encarando qualquer coisa menos ao meu rosto e meus olhos. Will costumava dizer que gostava de meus olhos, que eram o tom mais negro que ele já vira, isso era encantador. Will era encantador.

— Will...?

— Perdão. – sussurrou, voltando seus olhos para mim. Sorri de lado, melancolicamente. – Eu me perdi.

— Eu percebi. – murmurei manhosamente e voltando a abraça-lo.

— Nico? – me chamou e eu fiz um barulho nasal para avisá-lo que estava ouvindo. Ele me puxou para cima e foi até a cama comigo, onde se deitou ao meu lado e me deixou deitar em seu peito, ainda fazendo carinho em meu coro cabeludo. – Posso beijar você?

Balancei minha cabeça para cima e para baixo e ele se aproximou, deslizando seu lábio para tocar com o meu. Pensei que seus lábios seriam quentes, mas eram frios demais, como gelo. Beijo de um morto. Suspirei ao que Will se afastou de mim.

— Vamos dormir. – ele disse com doçura, me abraçando mais forte. Obedeci e me apertei ao seu corpo, não querendo que ele escapasse. Adormeci com o cheiro de Will impregnado em meu nariz.

Sonhei com o vazio, mas com aquele mesmo cheiro cítrico em mim. Ao abrir meus olhos e me sentar na cama, percebi que eu não apenas sonhei com o vazio, que eu estava sozinho e vazio por dentro. Will não estava mais comigo.

Suspirei e passei a mão pelo rosto. O sol brilhava lá fora e eu não sabia meu sentimento sobre isso. Ao olhar para o sol, eu me lembrava de Will e conseguia sorrir, mas depois, percebia que o maldito sol era o motivo dele ter me deixado mais uma vez.

Agora eu precisava esperar para a próxima Lua cheia.

Para meu próximo encontro com Will Solace.