Arqueio as sobrancelhas e sinto um calor tomar conta do meu corpo.
–Lara...- Kyle começa a falar em tom de alerta mas ela o interrompe.
–Não vem com Lara pra cima de mim. - ela torna a olhar para mim. - Não acredito que trouxe ela pra sua cama. Foi por isso que vocês dois sumiram então. Bem que Matt falou.
–Olha, você e o Matthew já estão me dando nos nervos... - Kyle fala.
–Ah vai se foder, seu idiota. Fica aí com ela então. - Lara olha para mim e sorri. Seus olhos estão cheios de ódio. -Querida, você se prepara para ser jogada fora. Não vai ser diferente com você. E eu vou voltar, porque ele sempre volta pra mim. - ela torna a olhar para Kyle que coloca as mãos em suas têmporas. - Como foi com ela, Kyle? Aposto que ela não faz melhor do que eu. - Lara se aproxima dele e segura suas mãos. - Ninguém te chupa melhor do que eu. - ela olha para mim.
Estou com vontade de desaparecer dali. Minha cara está pegando fogo e sinto muito nojo ao vê-la dizendo essas coisas.
–Você sabe disso, Kyle. - ela se vira para ele e puxa sua boca para a dela.
Meus olhos se arregalam e eu levanto-me da banqueta. Não posso ver mais nada disso. A vida está rindo da minha cara de novo.
–Lara, Lara para! - Kyle diz e a empurra, não com força, apenas o suficiente para afastá-la. - Chega! Vai embora.
Vejo Kyle segurar o cotovelo de Lara, que só agora reparo que está vestindo o mesmo vestido preto da noite passada. Ele a leva até a porta e eu decido simplesmente sair dali.

Dentro do quarto, com a porta fechada, consigo ouvir a voz de Lara dizendo coisas como "idiota", "perdedor" e "virgem Maria". A vontade de sair do quarto e dar uns puxões de cabelo nela não me abandona nem um segundo. Já coloquei a calça jeans e estou segurando o cropped pronta para colocá-lo.
A porta do quarto se abre e Kyle vem até mim e pega o cropped da minha mão. Olho para ele com as sobrancelhas unidas e ele diz:
–Você não vai embora agora. Por favor, Alice. Aquela... Aquela... - ele respira fundo tentando se acalmar. - Lara é uma... - ele se senta no sofá de couro e respira fundo mais uma vez.
Não falo nada e fico olhando para o pôster do Nirvana colado na parede a minha frente.
–Você pode olhar pra mim, por favor?
Olho para ele. Meus braços estão cruzados. Kyle está transtornado. Seu peito nú sobe e desce por conta da respiração irregular e ele se levanta do sofá e segura minhas duas mãos nas dele.
–Olha, não acredita em nada do que ela disse...
Arqueio as sobrancelhas e dou risada.
–Está brincando, não é? Kyle, eu não sou burra. Bom, não tanto quanto parece. Eu ouvi vocês lá na fraternidade, sei que vocês já dormiram juntos um bilhão de vezes... - dou de ombros. - Você mesmo me contou. Olha, - balanço a cabeça negativamente. - está tudo bem. Está mesmo. Obrigada por ter me trazido até aqui ontem e, obrigada pelo café da manhã. Mas eu acho melhor eu ir.
Ando em direção a porta do quarto e Kyle entra na minha frente.
–Não, não vou deixar você ir.
Respiro fundo.
–Kyle, por favor...
Sou interrompida com um trovão alto. Já posso ouvir a chuva forte começando a cair e ganhando intensidade em segundos.
–Não, você não vai embora agora. Olha essa chuva! E outra coisa, você tem que me ouvir.
Vou até a beira da cama e me sento com as penas cruzadas como índio. Estou tentando não perder a calma.
–Fala. - dou de ombros.
Ele olha para mim e anda de um lado para o outro passando a mão pelo cabelo. Fico esperando ele começar a falar, contudo ele não fala nada.
Balanço a cabeça e me levanto da cama.
–Tchau Kyle.
Abro a porta do quarto.
–Você não pode ir, estou com a sua blusa e com seus sapatos.
Atravesso a sala, exausta daquela situação toda e abro a porta do apartamento. Olho para ele parado no meio da sala segurando meu cropped. Dou de ombros e forço um sorriso.
–E eu estou com a sua.
Saio e bato a porta atrás de mim.
***
Quando estou no saguão de entrada do prédio, vejo que a chuva está muito mais forte do que eu pensava e está ventando. Percebo também que infelizmente, não posso ir para casa sem minha bolsa. Eu a deixei no apartamento de Kyle junto com meus sapatos e minha blusa.
Respiro fundo e volto para a escadinha estreita ao lado do elevador para me sentar. Apoio meus cotovelos em meus joelhos e pressiono minhas têmporas com os dedos. Fecho os olhos e fico ouvindo o barulho ensurdecedor da chuva caindo, seguido de trovões altos e assustadores. Apesar de ser de manhã, o céu está escuro e muito cinzento.
Por que essas coisas têm que acontecer? Estou louca para ir embora mas não quero voltar para o apartamento de Kyle e encará-lo novamente. Me sinto a pessoa mais infeliz do mundo.
Ouço passos descendo a escada e rezo para que não seja ele. Por favor, por favor, por favor!
Mais uma vez, a vida faz questão de rir da minha cara e Kyle se coloca a minha frente. Olho para cima e vejo ele olhando para o meu rosto atentamente. Ele vestiu uma regata preta, mas está descalço.
–Sobe, por favor.
Olho para o lado e vejo o porteiro de idade usando um boné nos olhando com os braços para trás. Kyle segue meu olhar e insiste com a voz baixa em meio aquele barulho alto da chuva.
–Por favor.
Respiro fundo e me levanto segurando no corrimão.
Kyle está subindo as escadas na minha frente e em silêncio. Não sei ao certo quantos lances de escada temos que subir; não contei quantos eu desci. A cada degrau que subo, me sinto mais e mais desanimada.
Kyle para de repente no último degrau e olha para mim ao seu lado e segura meu rosto com as duas mãos. Sinto seus lábios pressionarem os meus com intensidade e ele me pressiona contra a parede com seu corpo. Minhas mãos se apoiam em seus braços e retribuo seu beijo.