"No seu corpo é que eu encontro, depois do amor o descanso e essa paz infinita;

No seu corpo, minhas mãos se deslizam e se firmam numa curva mais bonita;

No seu corpo o meu momento é mais perfeito e eu sinto no seu peito o meu coração bater; E no meio deste abraço é que eu me amasso e me entrego pra você..."

Connor                 (madrugada de sábado para domingo)

Sentado na varanda de nosso apartamento, observo o horizonte refletindo sobre tudo que acontecerá desde a sexta a noite até ontem.

A descoberta de uma irmã, fruto de uma traição de meu pai, reabriu feridas antigas que julgava já terem fechado completamente.

Não que o fato dele ter traido minha mãe fosse algo novo. Não era. Pelo menos para mim. Mais de uma vez flagrara os dois discutindo por conta disso. E esse era só mais um dos muitos motivos que tenho para ter raiva de meu pai.

Não o odeio. Mas tinho muita raiva dele! Raiva por tudo que ele fez minha mãe sofrer, por tudo que representa,por seu egoismo extremo ,por sua doentia sede de dinheiro e poder, porque nunca tentou,em momento algum, mudar, tornar-se uma pessoa melhor!

Vi muitos iguais a ele, homens e mulheres, nos lugares por onde passei com o grupo MSF, ao redor do mundo. Pequenos e egoístas ditadores que davam mais valor ao poder, ao ter, do que a vidas humanas. Sheiks e principes do petroléo que se achavam superiores e intocáveis! Em muitos momentos me sentia enojado principalmente por lembrar que um dia, por muito pouco, não me tornei um igual, mais um como eles. A morte de Alan salvou minha vida de várias maneiras pois me fez enxergar o que não queria ver até então: apesar de criticá-lo, estava sempre recorrendo e fazendo o que meu pai queria. Como naquela maldita noite na delagacia, quando o deixei lá, sozinho, e aceitei de bom grado a facilidade que o dinheiro de meu pai proporcionou-me, comprando minha saída, impune, da delegacia. Ainda hoje sinto vontade de vomitar, enojado comigo mesmo pelo que fiz a meu amigo. O pior de tudo foi não ter tido tempo, não apenas de me desculpar com ele,mas ajudá-lo.

Fecho os olhos sentindo, antes mesmo que falasse ou me tocasse, a presença de Sarah.

—Connor? Está tudo bem?- pergunta, envolvendo meu pescoço com os braços, beijando-o.

—Está sim--minto, segurando sua mão, trazendo-a para minha frente, fazendo com que sente em meu colo, seu sorriso doce acariciando minha alma.

—Não é um bom mentiroso, sabia disso?--comenta, beijando-me de leve.

Suspiro junto a sua boca, deslizando as mãos por seu corpo....

"...E continua a viagem no meio desta paisagem onde tudo me fascina;  E me deixo ser levado por um caminho encantado que a natureza me ensina....."

—No que estava pensando?--quer saber, desenhando o contorno de meu rosto com o dedo, detendo-se em meus lábios, pressionando-os com o polegar.

Abro a boca, mordendo-o, de leve, arrancando um suspiro de seus lábios,pouco antes de tomá-los com os meus em um beijo exigente e angustiado, que cesso ao sentir o gosto de sangue em minha boca.

—Desculpe--Sarah pede e percebo que são os meus e não os dela que sagram. Sorrio, deitando a cabeça em seu ombro, sentindo a pele de seu pescoço vibrar com seu riso--Pensou que havia machucado minha boca?---pergunta e confirmo, balancando a cabeça--Acho que nós dois andamos meios exagerados nos últimos tempos! Precisamos pegar mais leve ou quaquer dia alguém vai nos denunciar por violência doméstica! -brinca,me fazendo sorrir.

—Verdade. E até já sei quem faria isto. Nossa querida e dedicada vizinha senhora Spencer!--digo, causando-lhe mais riso-- Afinal, ela sabe mais da vida da maioria dos moradores do que os próprios moradores do prédio.

—Eu te avisei, quando escolheu o meu e não os seu apartamento para morarmos!-relembra, tocando a ponta de meu nariz com o dedo, ficando séria após alguns minutos-- O que houve? Teve algum pesadelo de novo?--pergunta e nego.

—Não. Nada de pesadelos --asseguro- Só lembranças. Não muito agradáveis, mas só lembranças--digo, fechando meus olhos, recebendo seus carinhos...

"....E embora eu já conheça bem os seus caminhos,me envolvo e sou tragado pelos seus carinhos; E só me encontro se perco no seu corpo...."

—Queria tanto poder ter ajudar mais! --declara, segurando meu rosto entre suas mãos--Aliviar seu cansaço, tirar essa ruguinha de preocupação --beija um ponto em minha testa, descendo em um caminho de pequenos beijos até chegar em minha boca.

Nos beijamos longa e demoradamente, saboreando o contato de nossos lábios. nossas línguas dançando no mesmo ritmo calmo, explorando, sorvendo o gosto um do outro, mantendo nossos rostos colados depois de cessado o contato dos lábios.

—Já me ajuda,meu amor.--declaro, acariciando seu rosto -- Cada vez que me recebe com seu sorriso, em seus braços , em seu corpo...Cada pequeno grande momento que me tranquiliza, me acalma com seus beijos e carinhos...Cada vez que tem paciência para suportar minhas crises, curar minhas feridas,quando respeita meu silêncio,me sustenta e ergue quando ameaço cair...Em cada um desses momentos está me ajudando...Está me salvando, me tornando uma pessoa melhor, me fazendo o homem mais feliz no mundo inteiro!!--asseguro, olhando dentro de seus lindos olhos castanhos---Um dia, prometo, vai saber de tudo que me atormenta. Tudo que ainda me atormenta..Só te peço pra continuar tendo paciência comigo!!.

—Sempre-- garante--Sempre vou ter porque te amo! Muito-diz, beijando meu rosto--Muito, muito, muito,muito...-repete, cobrindo todo meu rosto de beijos.

—Amo você Sarah Rodes!--declaro, apertando sua cintura--Você é minha luz, meu conforto,minha amiga, minha amante, meu descanso, minha força....Me deu os dois maiores presentes que alguém pode receber: nossa filha e seu amor!-- exclamo, voltando a tomar seus lábios em um beijo tranquilo, permanecendo sentados,abraçados, comtemplando o nascer de um novo dia....

"..E embora eu já conheça bem os seus caminhos,

Me envolvo e sou tragado pelos seus carinhos

E só me encontro se me perco

No seu corpo..."

Seu Corpo

Roberto Carlos