Um Sussurro nas Trevas escrita por Will, kveronezi


Capítulo 13
A Teoria




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Foi uma longa semana de beijos, abraços e sorrisos. Vinicius sentia-se completo com Luana. A colegial, apesar de suas flutuações de boa vontade, enfeitiçou completamente o Mastigos com seu charme e amor. Luana fez com que Vinicius ficasse loucamente apaixonado por ela sem usar magia ou qualquer dom sobrenatural. Sua conquista foi por meio de seu charme e beleza.

Na mesma semana, Saulo apareceu na porta da casa de Vinicius, na terça feira, e ofereceu aos pais do garoto um curso de "catecismo"todas as tardes a partir daquele dia. Ele ficaria responsável pelo custeio de transporte e alimentação do garoto. Roberto e Janice adoraram a idéia, visto que a cabeça de Vinicius ficaria longe dos problemas da família por mais tempo e aceitaram.

As aulas começam naquela mesma tarde. Vinicius foi para a igreja ainda com o uniforme da escola. Saulo o levou a antessala e, lá se iniciou o aprendizado de Vinicius. Numa lousa velha e riscada, Saulo começou a desenhar símbolos estranhos. A princípio Vinicius cogitou o fato dele estar um pouco velho e gaga. Mas por fim, depois dos símbolos estarem desenhados na lousa, ele compreendeu. Eram treze símbolos ao total.

— Reconhece algum desses símbolos, garoto?

Vinicius olhou para a marca no pulso, gravada em sua pele desde sua visita ao Pandemônio. Dois dos símbolos eram parecidos, mas nenhum igual.

— Não -Vinicius analisou os símbolos novamente para ter certeza.- Nunca vi.

— São as treze runas atlantes que representam as treze práticas da magia.- Saulo acendeu uma vela e voltou para perto do quadro negro.- Cada uma das treze práticas representa a interação do mato com o arcano. Isso é universal, independente do arcano a ser usado.

Apesar dos conceitos serem praticamente alienígenas ao garoto, ele sentia como se tudo aquilo entrasse facilmente em sua memória, era quase como se o conhecimento já estivesse ali, esperando para ser Desperto.

— Conhecer, Impelir, Desvelar, Reger, Velar, Resguardar, Tecer, Rasgar, Aperfeiçoar, Padronizar, Desfiar, e por fim as duas práticas mais poderosas e perigosas: Criar e Destruir. -Vinicius reconheceu todas enquanto seus nomes eram falados- A mais básica das práticas é a de Impelir. Quero que faça isso com chama da vela.

— Eu vou tentar.

Vinicius se esforçou, uma gota de suor desceu sua testa, mas nada aconteceu com o fogo... Seria um longo aprendizado.

*

Quarta-feira

— Sabe por que falhou ontem? -Vinicius assentiu com a cabeça- Você sabe o que exatamente forma um feitiço?

— A minha vontade? -seu tom era repleto de incerteza.

— Não só ela. Tudo começa bem aqui.-Ele apontou para o lóbulo de sua cabeça. - O Imago é o principal ingrediente de um feitiço. É como você enxerga a realidade superna sobrepondo a realidade Decaída. Se não fizer isso direito, qualquer feitiço está fadado a falhar. Vontade e Imago, mas ainda falta alguma coisa. O conhecimento. Você precisa entender os fenômenos do arcano para manipula-los com precisão. Tente.

Vinicius novamente se esforçou, impondo toda a sua vontade sobre o fogo. Na sua mente, uma imagem se formava daquela mesma chama tomando uma forma ligeiramente diferente. O fogo se mexeu, o garoto se encheu de esperanças, mas Saulo acabou com sua alegria.

— Não foi você, foi o vento. Vamos, outra vez!

O menino tentava. Deu tudo de si, mas nada surgiu efeito.

*

Quinta-feira

— O que é o fogo?

— O processo de oxidação ultra rápido de algum material. -lembrou de sua aula de química.

— E o que o causa?

— Altas temperaturas ou reações químicas. -ele ficou empolgado em saber que as questões de sua prova de química valeu para algo a mais.

Saulo parou atrás do garoto, que parecia fazer um esforço tremendo no simples ato de encarar a chama daquela vela que já estava pela metade. Entre ele e a vela, dois livros abertos: química e física, primeiro ano.

— E como se controla o fogo?

Silêncio

— Eu acho que está quase lá, garoto. Vamos repassar o capítulo 8: fogo.

Sexta-feira

Vinicius estava a beira de desistir. Já havia lido, relido tudo aquilo umas cem vezes, mas nada parecia surtir algum efeito. Foi quando a chama se moveu. Foi sutil, rápido, mas foi ele!
Saulo sorriu, por mais básico que fosse aquilo, não eram todos que conseguiam aprender um arcano do zero em menos de uma semana. Aquele garoto prometia.

Um tapinha nas costas encheu Vinicius de felicidade. Ele desconcentrou-se novamente, a chama moveu-se de novo e estourou numa chuva de faíscas, derrubando um Vinicius assustado da cadeirae chamuscado seu rosto. Saulo riu.

— Lembra que eu te disse que não podemos dar nosso verdadeiro nome sem responsabilidade, garoto? Pois bem, já achei oseu nome umbratico. Faísca.

O garoto levantou bravo com a chacota, mas percebeu que era sério.

—De qualquer forma... Eu consegui, não é?

— Claro, conseguiu. Mas precisa treinar mais. São muitas as práticas e você começou a entender apenas uma delas.

Sábado

Naquele dia, um pouco mais tarde, foi diferente. Como não haveriam aulas na escola, Saulo e Vinicius concordaram em seguir com o aprendizado pela manhã ao sábado.

Saulo desenhou uma nova runa na lousa. Antes que ele explicasse, Vinicius respondeu de imediato seu significado: era a runa Paradoxo.

— Exatamente... Já sabe o que é isso?

—Acho que não sabia... Até ver a runa. Mas já aconteceu comigo.

— Então sabe bem o que é um paradoxo. O que sentiu quando causou o paradoxo!?

— Parecia que tinha alguma coisa me rasgando de dentro pra fora.

— Você foi esperto. Conteve o paradoxo. Se não fizesse isso, as consequências acabariam sendo catastróficas. Você poderia até trazer alguma coisa do abismo para o mundo Decaído

— Abismo? -Vinicius percebia que não era algo bom.

— É o espaço nulo que separa os mundos Decaído e Superno. O Reino do paradoxo. Onde vivem os Acamoth, seres obscuros que procuram brechas para conseguir entrar no mundo Decaído. Um paradoxo é a porta perfeita. Deve ser cuidadoso, por que quanto mais vulgar for o teu feitiço, maior a chance de causar um paradoxo.

Amedrontado, Vinicius prometeu para si mesmo que redobraria os cuidados daqui para frente. Não queria sentir aquilo a vez...

*

Mais tarde do mesmo dia de sábado, Vinicius percebeu como o seu tutor era bom com desenhos. Na lousa, ele traçava a silhueta de uma cidade com estruturas abobadais e torres pontiagudas.

— E foi aqui que começou-se o legado da magia, Faísca. -Vinicius franziu o cenho com a alcunha, que pelo visto veio para ficar.- Atlântida. A cidade da magia. Isso foi há muito tempo. Em uma época em que o abismo não existia. Era fácil acessar os Reinos Supernos através da escada de prata. A sua queda venho quando a Hubris tomou conta de alguns magos e cegos pelo poder, eles subiram ao Superno, expulsaram os Velhos Deuses de lá e destruíram a escada de prata. Isso causou a queda de Atlântida e essa afastamento entre o mundo Superno e o Decaído criou o abismo, que causa os paradoxos. -houve uma pausa, então ele continuou.- Alguns dizem que cada paradoxo aumenta o abismo e afasta mais os mundos. Fica cada vez mais raro de algum adormecido despertar.

As palavras de Saulo pareciam cada vez mais distantes. Elas o levavam para longe, muito mais longe do que qualquer máquina feita pelo homem.

Ele atravessava o tempo. Estava caído, um ferimento enorme atravessava o abdome. Ao seu redor, pilares azuis e dourados desmoronavam. A loura frente trazia uma espada numa mão e um livro na outra. Foi traído. Com um sorriso sádico, a mulher rasgou o próprio espaço com a espada.

— É o fim, Zevran. Tudo acaba aqui.-Ela adentrou o portal, e tudo escureceu. Era o fim...

— Faísca? Você está prestando atenção?
Assim como o arrancou da realidade, foi a voz de Saulo quem o trouxe de volta.
—Desculpa, estou prestando atenção sim.
—Sei... Como eu dizia, ao longo da história a magia foi tratada de diferentes formas...

Domingo
Foi um dia tranquilo. Roberto encheu-se de orgulho quando Vinicius saiu dizendo que iria se encontrar com uma amiga. Como ele falou para a filha quando ela foi se encontrar com o primeiro namoradinho (exceto pelo tom ligeiramente mais enciumado), fez questão que trouxesse a garota para um jantar num futuro próximo.
Para quebrar o ritmo da estação, o domingo foi ensolarado e morno.
Vinicius chegou no endereço indicado por Luana. Acabou num prédio abandonado do bairro. Aprimeira coisa que veio a cabeça é que garota estava Armando uma emboscada para sequestra-lo e vender seus órgãos. Abandonou a ideia mesmo momento quando viu Luana descer a rua carregando algumas sacolas de compra. Ele se prontificou em ajudá-la, a cumprimentou com um sorriso bobo e um selinho enquanto tomava as sacolas dela. Reparou mais no corpo da moça, em como era diferente fora do uniforme da escola... Ganhava um novo charme de shorts curtos, regatas e chinelos de dedo. Uma graciosidade natural.
—Oi, amor... -Vinicius disse sorridente. Luana forçou um sorrisinho, apesar de não achar exatamente legal a forma como o menino se apegou rápido por ela
—Oi, Vinnie querido. Comprei umas coisinhas no mercado pra comermos. Não é sempre que temos visitas.
—Você mora mesmo nesse prédio ou me passou um endereço errado?
—Moro aqui. O lugar é feio por fora mas uma graça por dentro... E não paga aluguel.
Eles subiram pelas escadarias até o quarto e penúltimo andar. As paredes eram todas pixadas e aonde um dia havia vidro, agora era só uma armação vazia.
Entraram no apartamento dela. Comparar a área comum ao apartamento de Luana era como comparar o céu e o inferno. O interior era limpo, bem mantido e aconchegante.
—Licença.. - O garoto pediu enquanto entrava deixando o tênis pra fora. Estava com vergonha. O que falaria aos pais dela? Eram muitas perguntas, estava começando a ficar nervoso.- Sua casa é linda... Seus pais... Estão?
—Não, eu moro sozinha... - As palavras de Luana causaram um certo espanto em Vinicius. -Quer dizer... Eu e a Rosetta.
—É uma cachorrinha ou uma gatinha? -Perguntou procurando o mascote.
—Sou eu. Aqui em baixo moço!
O sangu de Vinicius gelou quando olhou para baixo e viu aquilo. A merda do prédio velho era mal assombrado ou coisa assim?
Rosetta era uma bonequinha de pano. Tinha uns 20 centímetros de altura. A “pele” era amarela, usava um vestido e um chapéu rosa e tinha um gigantesco sorriso no rosto... E de alguma forma, aquilo tinha vida. Para piorar, era exatamente igual ima boneca que sua irmã tinha é adorava e que sempre lhe causou um certo desconforto.
—O que foi?- Rosetta perguntou brava. - nunca viu não, é?
—Não... Ao menos não andando e falando...
Luana riu.
—Não é nada assombrado se é isso o que está pensando, Vinnie. Ela é meu familiar. Um espírito Unido a mim... Não é linda?
—Claro... Limda...
Foi então que caiu a ficha de Vinicius. Ele esqueceu da boneca endemoniada e de tudo mais. Estava a sós com Luana. Os dois em um apartamento... Será que...?
A colegial ia preparando alguns sanduíches de presunto e queijo, logo percebeu Vinicius olhando cada movimento seu, hipnotizado por suas curvas. Sorriu para ele.
—O que tanto olha Vinnie? Fico tão diferente assim sem o uniforme?
Ele só meneou a cabeça, ela se aproximou rebolando os quadris mais do que de costume, tinha um gostinho especial por provocar os hormônios do menino.
—Vem comer... -Ela disse com um sorriso lascivo, o garoto corou e ela terminou a frase. - O sanduíches, Vinnie...
Segunda-feira
—Ótimo, Faísca. Está começando a pegar o jeito. Quero que pratique bastante, amanhã não teremos aula.
—Não? - Vinicius não tirava os olhos da chama da vela que ganhava novas formas e mudava de direção a cada movimento de sua mão. -por que?
—Vamos trocar a aula por uma excursão de campo.
—Excursão? Aonde vamos?
—Digamos que... Vamos visitar um velho amigo.


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