Olhava contemplando o belo céu azulado lípido, os edifícios ao fundo, as pessoas na rua apressadas, os automóveis correndo pela estrada, os prédios do colégio entrando em minha visão ao mudar a cabeça um pouco mais para a frente e os alunos animados na quadra abaixo com seus gritos ecoando por todo lado, observava o cenário pela janela, parecia perfeito mas faltava algo para estar completo, o frio delicioso que me faria enfiar minhas mãos nos bolsos do casaco e apertar mais o cachecol em torno de meu pescoço. Bufei, estava uma ensolarada e tediosa tarde.

  —Caíque! –Me virei ao ouvir a voz grave do professor me chamar. A turma me olhava estupefata e boquiabertos. Hipocrisia acharem que só por que sou o melhor aluno da sala sou uma máquina de estudos e não iria me concentrar na paisagem lá fora que estava mais interessante.

  — O que foi? –Retruquei a contra gosto demorando nas palavras.

  — Preste atenção em minha aula ou acha que sabe tudo?! –Ergui minha sombrancelha o desafiando. Notei seus olhos espreitarem aceitando meu desafio. Como não veio resposta a seguir, entendi que ele esperava eu começar, então aproveitei o conteúdo fresco em minha mente que tinha estudado a noite.

  —Física teórica mais especificadamente teoria das cordas. –Seu rosto estava impassível. Alguns folheavam o caderno para procurar a matéria, tolos, só iriam ver este assunto daqui dois anos. –Pois bem professor, como você sabe a teoria das cordas é relevante para a ciência pois ela tenta englobar duas das maiores teorias existentes: a relatividade de Einstein com o padrão atômico. Então por que motivo a teoria não pode ser provada e por que o multiverso é utilizado nesta teoria? –Ele acompanhava minha pergunta ainda com a mesma expressão mas notei seus lábios crisparem.

  — A teoria não tem embasamento por que não se tem um instrumento que consiga medir. –Folheava seu livro certamente procurando sobre a matéria.

  — A complexibilidade da teoria da relatividade de Einstein ajuda a confirmar que pode ter o multiverso pois o universo é como um tecido que sofre alterações pelas ondas gravitacionais que se estudadas mais profundamente talvez em um futuro próximo  ajude a comprovar a teoria mas por outro lado a das cordas anula o postulado de Einstein que diz que o campo gravitacional funciona com exatamente a mesma força para todas as formas de matéria e energia, ou seja, a teoria das cordas anularia o postulado que ela se baseia sendo paradoxal em tese. –O mesmo me encarava atônito, fechando seu livro e o depositando na mesa.

  — Se retire! –Me encarou com os olhos brilhando em raiva. Puxei a mochila de cima da carteira colocando meus fones no ouvido e o encarando sorrindo maliciosamente enquanto turma o vaiava. Escutei o bater da porta e a discussão que teve com eles, não iria ficar ali parado no corredor e muito menos iria para a diretoria, fui até meu armário organizar e guardar minha bolsa. Ao ouvir vozes no outro corredor segurei mais firmemente no móvel respirando devagar.

  — E aí Etan, que bela enterrada cara! Recuaram tudo aqueles perdedores. Ual. –Era os jogadores de basquete do time da escola.

  — Só quero ver a derrota deles na final! –O líder se pronunciou com sua voz alterada que me fez arrepiar todos os pelos existentes em meu corpo. Oh céus, nunca vi ninguém ficar tão perfeito em um uniforme de jogo. Como desejava ser aquelas gotinhas de suor escorrendo por sua face e percorrendo o corpo, mordi o lábio apertando meu piercing, voltei a realidade, fechei a porta e tranquei-o seguindo o trajeto que eles seguiram até o vestiário, só de pensar fico quente.

  Etan sempre fora excepcional, todos os anos em que estive aqui nunca o vi ser substituído, ele conquistou seu patamar com sua especialidade, quando completar a maioridade será contratado para algum time da NBA, como eu sei? Óbvio, esta escola é um ninho de fofoqueiras e putas mas admito que nosso time é bem estruturado graças a ele nossa bancada de troféus é admirável e as líderes de torcidas também são notáveis.

Interrompi meus pensamentos para reiniciar a música pois havia chegado ao fim da playlist e pude ouvir a agitação dos meninos se retirando já banhados e trocados, entrei no banheiro que ficava perto para me esconder e aproveitei para me olhar no espelho repassando meu plano na mente, não teria erro mas se desse certo eu teria dois resultados: um satisfatório e o outro desgostoso. Se desse errado teria apenas um resultado: aflição porém eu já estava preparado e em campo para jogar e não iria desistir enquanto não sentisse aqueles lábios salientes.

Após ouvir o silêncio deixado pelos alunos, saí e o mesmo trancava o vestiário, não me notando seguiu para o ginásio guardar os materiais, o segui no encalço silenciado sorrindo ao ouvir sua linda voz cantarolar algum hino de time de basquete, esperei o entrar e como não fechou a porta me vi convidado a acompanha-lo, mesmo de tarde a sala era escura e como o próprio conhecia o local nem se importou em acender a luz, fiquei agradecido, eu sei que é loucura e estava me arriscando mas teria que tentar afinal não teria muitas chances e pelo que sei dos rumores seu aniversário esta próximo e estamos no fim do ano, queria algo memorável fora a formatura!

Andei com cuidado para não tropeçar em nada, o avistei dobrando o uniforme, respirei fundo desligando a música, precisava me concentrar.

Contei até três com o coração acelerado e quando se virou para ir buscar as bolas no outro lado, cheguei o emprensando no armário com minha força que era quase nula em comparação com a dele, o senti ficar tenso mas logo capturei os desejados lábios, um misto de sensações se apossou de mim enquanto o saboreava, ele estava relutante mas logo, até mesmo antes que imaginei, fui retribuído podendo degusta-lo completamente.

Seu gosto doce inebriante me preenchia vorazmente, nossas línguas se tocando no meio da luta se conhecendo, não tive problemas para doma-lo, sua cavidade tão abrigável parecia a moradia certa para mim, aprofundou o beijo mordendo meus lábios puxando o piercing como eu, gemi não conseguindo me controlar, ondas de prazer me percorriam intensamente me fazendo soltar suspiros entorpecidos.

Conforme nos explorávamos ardemente o desejo me consumia eletrizando meu corpo com as descargas de excitação mas fiquei aliviado em ele ter correspondido, imaginava que imediatamente fosse partir para a violência, será que ele também sente algo por mim?! Sorrisos inevitáveis invadiram minha expressão mas se transformaram em medo. E agora?! Após nosso beijo? Como seria? Inúmeras perguntas que foram possuídos pela necessidade do ar que me faltava e que me fora cortado da melhor maneira possível, encerrei o beijo.

Um erro, um mísero erro, o pior que cometi pois vi sua formosa mão em forma de punho vindo em minha direção, senti sua abundante força em contato com meu rosto e em seguidamente a dor dilacerante de nariz quebrado e os respingos de sangue ao meu redor, seus olhos esverdeados e enfim a escuridão amansada de um desmaio.