— Então eu estava lá, e ai...

— EI, POTTER! – James virou-se bruscamente no corredor, com as sobrancelhas unidas. Uma garota de 1,82 marchava em direção dele com mais duas amigas atrás, como guarda costas. Ela tinha um ar másculo e sexy que fez Sirius suspirar. Ele tinha uma queda inegável pela maior bully de Hogwarts. Nem mesmo James tinha coragem de mexer com ela, na verdade, ninguém tinha. Todos eram bem cautelosos quando o assunto era Marlene McKinnon.

Ela mirou seus olhos azuis no garoto, visivelmente furiosa, cruzando os braços.

— Fiquei sabendo que você andou enchendo Lily de novo, seu playboyzinho. – disse ela, séria. Sirius estava tentando chamar atenção da garota de todas as formas possíveis, mas ela sequer piscava para James. O garoto estava suando frio quando tirou os óculos e limpou o rosto ligeiramente, nervoso. Peter virava o rosto bruscamente de um para o outro, ansioso, roendo as unhas. Mas Remus também estava paralisado de medo de Marlene.

— E-Eu só... Eu só disse bom dia...

— Bom dia? O seu bom dia é demorado demais para o meu gosto. – ela aproximou-se mais ainda, encostando seus braços cruzados no peito de James, os dois tinham a mesma altura. Eles estavam tão próximos que James conseguia ver cada sarda em seu rosto irritado e Marlene tinha uma visão completa de cada gotícula se formando no rosto do garoto. – Você esqueceu o meu aviso?

— N-Não.

— Pois eu acho que esqueceu. – sussurrou ela. – Essa é a sua última chance, Potter, se eu ficar sabendo de mais um deslize, eu quebro a sua cara. Entendeu?

James percebeu a concentração de pessoas ao redor dele e engoliu seco. Ele estava sendo ameaçado por uma garota? Mais uma vez? Ele tinha uma reputação para honrar, não podia deixar aquilo acontecer, até porque ela não podia bater nele da mesma forma que batia nos outros meninos, ele podia mostrar que tem classe, diferente dela.

— E-eu não entendi. Não devo nada a você, meu assunto com é com Lily apenas. – O mundo pareceu parar. Sirius tomou ar de forma sonora, tapando a boca com a mão, chocado. As garotas atrás de Marlene pareciam não entender direito o que estava acontecendo, mas o olhar de Marlene só se intensificou enquanto ela quase encostava seu nariz no dele.

— Você mexeu com a pessoa errada, seu patrício. Eu te encontro debaixo da arquibancada, sexta, as oito. É melhor você aparecer, se não, eu vou te buscar. – Marlene virou-se para ir embora com suas amigas e a multidão se dispersou, barulhenta. James Potter virou-se lentamente, trêmulo. Sirius estava rindo da cara dele desde que Marlene partira, Remus não conseguia parar de manear a cabeça negativamente e Peter batia seu punho esquerdo na palma direita freneticamente, indicando o quão ferrado ele estava.

— Eu cometi um grande erro. – sussurrou James, em pânico.

— E eu estou com um tesão imensurável! Obrigada por me proporcionar esse momento! – gargalhou Sirius, apertando o ombro do amigo.

Terça

— Cara, vai ser o melhor dia da minha vida. – sorriu Sirius, deitado no sofá da Sala Comunal. James virou o rosto bruscamente para o amigo, chocado.

— Qual o seu problema? Eu vou levar uma surra!

— Por isso mesmo. Vai ser a garota mais gata desse Castelo te dando uma surra, não tem imagem mais bonita que essa. Eu poderia fazer um quadro renascentista com isso! – retrucou Sirius, ainda completando suas palavras cruzadas. James caminhou pela Sala, visivelmente desesperado. Pensou até mesmo em roubar um vira-tempo e desfazer a grande merda que ele fizera.

— Talvez se você pedir desculpas... – opinou Remus.

— Não, isso é suicídio social. Não vamos esquecer do Machinho. Ele pediu desculpas e Marlene e a gangue dela zoam ele até hoje. Na verdade, eu nem sei mais o nome dele. No RG deve estar Machinho também. – Peter mordeu seu alcaçuz. – Acredite, James, você não quer ser chamado de Machinho 2.

— Alguém sobreviveu a uma luta? – indagou James. Os garotos se entreolharam.

— Olha, uma coisa é certa, você vai apanhar até a morte. O máximo que você pode fazer é tentar segurá-la e proteger-se. – ponderou Peter.

— Mas qual o seu problema? Por que você não abaixou a cabeça como todos fazem? – questionou Remus, ainda chocado com a atitude burra do amigo. James sentou-se de costas para a lareira.

— Porque não! Uma garota não pode me dizer o que fazer! – Sirius gargalhou.

— Cara, você merece tanto apanhar. – riu ele.

— Sirius, você está do meu lado ou não? – esganiçou James, irritado. Sirius girou os olhos e jogou seu jornal longe, sentando-se no sofá.

— Por que você tem tanta cisma com a McKinnon? Por que ela é uma garota que defende as amigas dela de caras idiotas como você? É isso? Cara, se fode. – Sirius levantou-se, espreguiçando os braços. – Você foi otário, e merece uns chutes na bunda.

— Eu não fui otário, como eu posso conquistar alguém se nem posso chegar perto da pessoa?

— A questão é que a Evans não quer nada com você, caralho! – especificou Sirius. – Puta merda, ela fala isso há seis anos, você é retardado? Experimenta deixar ela em paz, porque acredite, de boca fechada, você é bem mais interessante.

James engoliu a grosseria, magoado. Remus e Peter se entreolharam, risonhos.

— Por que você está sendo tão ruim comigo? – indagou James.

— Eu sempre fui ruim com você. – murmurou Sirius, mexendo no material dos outros perto da escrivaninha. O quadro se abriu e Sirius sorriu para a garota que passou por ele. Marlene McKinnon analisou a sala, silenciosa, deu um olhar mortal para James e subiu as escadas para o dormitório. Sirius mordeu o lábio. – Cara, que mulher.

Quarta

— Cara, você tá tão fodido. – riu Sirius, pegando mais um pedaço de torta no almoço. Ele dizia aquilo toda vez que via Marlene. James estava começando a ficar mais irritado com o melhor amigo do que com a garota que ia enfrentar na sexta.

— Pensei que fossemos irmãos. – murmurou James, chateado com as atitudes do amigo. Desviou olhar, mastigando sua carne. O Black girou os olhos, largando os talheres.

— Ok, eu te ajudo. – o garoto passou as mãos nos cachos antes de colocar os cotovelos sobre a mesa, fitando o amigo. James arrumou-se no banco, atento, feliz por finalmente receber ajuda. – No que você estava pensando em fazer?

— Eu pensei em pagá-la. – Sirius uniu as sobrancelhas, olhando o amigo como se ele fosse burro.

— Cara, você já pensou no por que te chamam de Patrício? – questionou ele, ainda não acreditando no que James dissera. – Guarde sua carteira, Tony Stark. Use esse cérebro que você deixa de enfeite.

— Ok, qual sua grande ideia então? – retrucou James, irritado.

— Bem, se eu fosse você, claro que em um mundo hipotético porque eu nunca seria burro como você é, eu pediria desculpas a Evans.

— Pedir desculpas a Evans? O que ela tem a ver com isso?

— Tudo, sua anta. Você pedindo desculpas a ela, faria com que ela conversasse com Marlene e talvez, com a graça de Merlin, você não seria chutado na bunda na sexta. Ou, eu expulsaria a McKinnon do time. Mas é claro que a decisão mais inteligente a se fazer é...

— Expulsá-la do time, claro! Como não pensei nisso antes? – James levantou-se de supetão, estufando o peito, balançando a cabeça para tirar suas madeixas do rosto. Sirius fechou os olhos lentamente, desistindo de seu cargo de melhor amigo.

Após as duas aulas de DCAT, James reuniu seus materiais rapidamente e seguiu Marlene, que saia da sala risonha com suas amigas. Ela era a melhor batedora que o time já tivera em tempos, claro que James não queria se livrar dela, iria apenas blefar até ela cair de joelhos, implorando para ficar no time. Então tudo estaria resolvido.

— Ei, McKinnon. – chamou James, respirando fundo. A garota virou-se, atenta. – Posso falar com você?

— O que você quer? – questionou ela, aproximando-se.

— Bem, já que nós estamos tendo essas divergências, eu pensei e... – Os Marotos observavam o amigo de longe. Sirius cobria o rosto, parecendo ter medo de olhar. – Bem, você está fora do time.

— O quê? – a voz dela falhou. James aumentou seus olhos, esperando que ela não notasse o blefe.

— Você está fora do time da Grifinória.

— Você não pode fazer isso. – ela parecia desesperada. – Esse time é minha entrada para o Holyhead Harpies, Potter!

— Que pena, eu sou o Capitão, eu decido. – disse James, dando de ombros. Marlene desviou o olhar, abalada. E então, o olhou, mortalmente furiosa, aproximou-se perigosamente.

— Eu estava pensando em cancelar nossa briga pelo bem do time, mas já que eu estou fora... A força que eu ia usar para rebater os balaços vai ser para quebrar esse seu nariz de Patricio. – ela virou-se, dando um grito de raiva, empurrando quem estava no seu caminho. James cobriu a boca com a mão, assistindo sua vida passar por seus olhos.

— Eu cometi um grande erro. – sussurrou para si mesmo. Seus amigos se aproximaram, trôpegos.

— Cara, por que você fez isso, enlouqueceu? – indagou Remus.

— Eu... Eu não sei! Sirius me disse para fazer! – apontou James, apavorado.

— Não era pra você expulsá-la do time, seu imbecil, era para pedir desculpas para a Evans! Sinceramente, como você tira tantas notas boas? – questionou Sirius.

— Por que você não me impediu? Eu estou duplamente fodido! – James limpou o suor em sua testa, apavorado, enquanto Sirius sorria para o nada, feliz em não ser James.

Quinta

— No frio eu sinto muita dor no maxilar. – revelou Tobias Hardbeck. – Foi onde ela bateu mais. Tudo começou no dia que eu pedi para ficar com ela, no Cabeça de Javali. Eu tentei iniciar uma conversa, ela disse que não tinha interesse... Mas você sabe né, quando uma garota diz não, é porque ela quer dizer sim.

Sirius uniu as sobrancelhas, não acreditando no que estava ouvindo. Mas James apenas disse: “né?”, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e que ninguém estava conseguindo entender. Ele estava conversando com todos os garotos que apanharam de Marlene McKinnon, tentando pegar dicas.

— Eu ri porque as pernas dela são cabeludas. – revelou um garoto indiano.

— Talvez eu tenha passado a mão na bunda de Emmeline Vance? As duas me bateram. Foi um impulso, quando eu vi, já tinha acontecido. – após todos os relatos, James ainda não compreendia o motivo de estar marcado para morte como todos aqueles garotos. Eles apanharam por seus instintos masculinos? Eles são homens, o que ela esperava deles?

James jogou mais um caroço de sua tangerina longe no gramado quando avistou Lílian Evans andando na beira do lago, rindo de alguma passagem do livro que estava lendo. Levantou-se as pressas e foi atrás da garota, limpando a boca.

— Ei, Evans. – chamou, tentando chamar sua atenção. Ela notou sua presença e suspirou, visivelmente incomodada, começou a andar mais rápido.  Aquilo deixou o garoto atormentado. Não queria que Lílian sentisse medo dele. James sentiu-se mal. Não queria ser um incomodo para Lily, ele sabia que era insistente, mas ele não conhecia outro jeito de se aproximar das garotas. – Eu... Eu queria pedir desculpas.

— Olha, isso não vai fazer Marlene....

— Eu sei que não. Mas eu errei com você de inicio. Me desculpa. – Lílian suspirou, fechando seu livro, analisando o garoto. – Eu não queria ter te ofendido, eu só entendi isso agora. Me desculpa mesmo.

— Você tem que entender que as garotas não têm obrigação de ficar com você. E quando alguém fala não, é não. – reforçou ela, olhando-o como se fosse uma criança de cinco anos.

— Perdão. – Lílian assentiu, aceitando as desculpas, indo embora em seguida. James respirou fundo. Estava pronto para apanhar de Marlene... Sirius estava certo, ele fez por merecer, agora teria que pagar. Voltou para o Castelo, quase correndo para o dormitório.

Sexta

James notou o quão cheio estava o chiqueirinho abaixo da arquibancada de longe. Os Marotos andavam do lado do amigo, como um apoio, mas o Potter estava pronto. Chegou no local e a barulheira diminuiu um pouco, Marlene parecia estar ouvindo algo de Lílian, que conversava com ela pacificamente enquanto a loura ouvia, de braços cruzados.

A McKinnon notou a presença do Potter e deu um último olhada em Lílian, tirando sua jaqueta de couro, fazendo Sirius apertar o ombro de James, animado. Ela amarrou suas longas madeixas louras em um rabo de cavalo e aproximou-se flexionando os dedos.

— Antes de começar... – gaguejou James. – Eu queria pedir desculpas por ter sido um imbecil. Eu já me desculpe com Lily e... Você tem o seu bastão de volta, é injusto com o time te expulsar.

Marlene olhou o Potter, surpresa. Pareceu repensar suas atitudes por alguns segundos e então sorriu, colocando as mãos na cintura. James ficou assustado com a quantidade de garotas ao redor dela.

You Think You’re a Man – The Vaseline

— Isso é ótimo... – sorriu ela. – Machinho Patricio.

James uniu as sobrancelhas.

— Mas você ainda merece uns tabefes. – ela flexionou as mãos mais uma vez e a última coisa que James viu fora Marlene dar espaço para depositar um soco certeiro em seu nariz.