O Livro de Eileen escrita por MundodaLua


Capítulo 4
De Volta ao Bunker


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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— Isso não faz o menor sentido. Eu sempre fui eu. - Ela pontuou as palavras apontando o dedo indicador para o próprio rosto, consternada – Embora isso já tenha passado pela minha cabeça, cada vez que eu penso sobre o assunto, mais absurdo ele parece. Quero dizer, como eu posso ser algum tipo de ser milenar se eu lembro da minha infância, da minha adolescência. Eu tenho pais, uma irmã... - Sua voz foi se alterando, e Sam achou que ela começaria a chorar, mas ela não o fez.

— Nós já vimos coisas bem mais estranhas, acredite.– Dean disse, começando a sentir algo parecido com pena pela garota – Mas o que nós queremos saber é, o que você espera que nós façamos?

— Descobrir por que esse livro falou comigo, e por que eu consigo entendê-lo, em primeiro lugar. Segundo, dependendo do que nós descobrirmos, eu quero que vocês me ajudem a me livrar dele.

— É justo. - Dean fez menção de pegar o livro, mas se deteve, como se o próprio volume o advertisse de não tocá-lo, e a garota, parecendo perceber a hesitação do rapaz, pegou o objeto em mãos e o estendeu até ele.

— Ele não morde. - Disse num sorriso nervoso— Não morde ainda. - Terminou fazendo um gesto para que ele pegasse o livro.

Dean o abriu, e nas primeiras páginas, assim como em todo o resto só achou figuras borradas que ele não conseguia nem acreditar serem letras, eram mais parecidos com desenhos manchados por água. Ele e Sam ficaram algum tempo em silêncio apenas observando e foleando, tentando encontrar algum símbolo mais nítido, algo pelo que começar, mas a cada página virada estavam apenas começando a fazer a cabeça de Dean doer.

— O que você está fazendo em um lugar desses? - Dean perguntou sem tirar os olhos do livro.

— Vagando por ai, tentando chegar o mais próximo de vocês que eu conseguisse. Esses últimos meses não tem sido muito fáceis, eu prefiro ir em estabelecimentos sem muito movimento, assim se acontecer alguma coisa estranha, a plateia é menor.

— Qual sua idade? - Dean continuou, ainda com o cenho franzido olhando em direção as páginas.

— Eu fiz 21 mês passado. - Disse, recebendo um olhar de pura surpresa - É eu sei, quer a minha identidade?

— Não, é só que...

— Eu pareço uma garota de 12 anos? Tem suas vantagens se quer saber, até hoje eu posso andar em parques de diversão sem parecer maluca, ou fingir que eu me perdi dos meus pais em bares e ganhar refrigerante de graça. - Sorriu, recebendo o sorriso dos dois em troca – Acharam alguma coisa útil?

— É difícil dizer, nós teríamos que voltar e pesquisar na biblioteca dos homens das letras. - Sam devolveu o livro para Eileen.

— Vocês não vão conseguir levar ele, vai acabar voltando pra mim. E eu já tentei bater foto, elas saem ininteligíveis, como se eu tivesse batido a foto enquanto corria.

— Só se... - Sam começou, olhando para o irmão, que já começava a negar com a cabeça - Vamos lá Dean, ela precisa de ajuda.

— No que você pensou? - Eileen perguntou.

Antes que Sam pudesse responder, Dean o puxou pelo braço, se afastando alguns metros:

— Você quer levar ela pro bunker? - Tentou sussurrar, mas não foi bem-sucedido.

— Por que não? Se ela for mesmo o que a história que ela contou sugere, ela pode nos ajudar em relação a Amara, você não acha? - Dean pareceu ponderar por alguns segundos, ele não gostava de levar estranhos para o bunker.

— O.K, mas se acontecer alguma coisa, isso foi 100% sua culpa. - Apontou para o rosto dele de forma incisiva, vendo Sam revirar os olhos.

Voltaram até a mesa e se sentaram novamente, observando os olhos de coruja de Eileen brilharem na expectativa do que eles estavam para dizer. Dean tinha ressalvas a respeito daquela decisão, mas não poderia negar que Sam tinha sua parcela de razão, talvez ela realmente pudesse vir a ajudá-los.

— Nós queremos saber se você não pode passar algum tempo conosco, onde nós moramos. - Sam começou. Inicialmente Eileen não esboçou nenhuma reação como se estivesse em choque, mas logo puderam observar novamente sua mais completa expressão de alívio.

— Isso seria ótimo, desde que tudo isso começou a acontecer, eu venho passado só com o dinheiro do meu ultimo salário. Eu tinha avisado para meus amigos que eu não dividiria mais o apartamento com eles e só peguei minhas coisas e saí, sem um plano formado. Eu estou vivendo em motéis e faz alguns dias que eu venho comendo só barrinhas de cereais. Passar um tempo com vocês me ajudaria muito a acertar tudo, principalmente em relação a faculdade. - Enquanto falava, ela pegou o livro novamente e o abraçou sem parecer consciente do que fazia.

— Certo, pegue as suas coisas e nós já vamos. - Os irmãos se levantaram, seguidos da garota, que ainda abraçava o livro, e abandonara a expressão de alívio por uma de preocupação. E assim que eles chegaram a porta do impala, ela disse:

— Eu nem mesmo perguntei, eu provavelmente vou ser algum incomodo pra vocês certo? Quando vocês conversaram longe de mim eu pude ver, tem mais coisas com a qual vocês dois têm que se preocupar.

— É, nós temos, mas isso não quer dizer que nós não vamos te ajudar, O.K? - Sam observou ela acenar lentamente que sim.

—----

O silêncio imperou nos primeiros minutos da viagem, o único som era o do rádio tocando “Landslide”, deixando o ambiente melancólico, pouco propício para conversar, e todos pareciam concordar com isso. Nenhuma palavra foi dita até a música estar quase no fim, e enquanto Stevie Nicks terminava de dizer a última palavra da canção, Eileen começou:

— Desde quando vocês fazem isso? - A pergunta teve como intenção maior suprir o silêncio, que começara a trazer a tona a tensão e a tristeza da situação de ambas as partes no carro.

— Desde sempre. - Dean respondeu, olhando para ela pelo retrovisor, Eileen por sua vez estampou uma expressão de surpresa.

— Com "sempre" você quer dizer que fazem isso desde criança?

— Basicamente.

— Bem, pelo menos vocês tiveram uma vida emocionante. - Soltou, entristecida.

— Acredite em mim. - Sam começou – Emocionante não é a palavra que eu usaria pra descrever.

— Eu vejo um discurso de “você não ia querer essa vida” estampado no seu rosto. - Eileen encarou Dean pelo espelho.

— E não iria mesmo.

— Bem, parece que eu não tenho muita escolha agora, não é mesmo?

— Nós vamos descobrir o que está acontecendo, pode ficar tranquila. - Sam se virou, para olhá-la – E depois nós vamos te ajudar a achar uma saída. - Eileen disse um obrigada, sorrindo, e o carro caiu novamente em um silêncio sepulcral.

Assim que chegaram, a garota parecia positivamente surpresa com o que estava vendo, e os irmãos puderam pela primeira vez, sentir orgulho do próprio lar. Eileen trouxera apenas uma pequena mala com algumas mudas de roupa, e o livro que trazia junto ao peito. Dean notou que, quando Eileen tirava sua atenção da capa aveludada e verde, começava a acariciá-la, e por alguma razão, o Winchester mais velho achava aquilo muito perturbador.

Quando finalmente entraram no bunker, a menina ficou mais do que espantada – Esse lugar é enorme – Disse descendo as escadas de ferro com rapidez – Isso é tão legal, parece um daqueles fortes da segunda guerra que a gente vê em filmes. - Passou pelo arco que levava até a biblioteca e parou, os olhos se abrindo ainda mais – Meu Deus, olha quantos livros têm aqui! Eu posso ver? - Virou-se para trás, pedindo permissão aos irmãos que acabavam de soltar as bolsas que haviam levado, com as armas e tudo mais.

— Claro, vá em frente. - Disse Sam, divertindo-se com o novo entusiasmo que se apossara da menina.

Ela foi até as estantes, Dean comentou que eles iriam até a cozinha, e ela apenas concordou com a cabeça, perdida em meio aos livros. Os irmãos tiveram então, um tempo para conversar, longe dos ouvidos de Eileen.

— O que você acha? - Dean perguntou, indo até a geladeira e puxando uma garrafa de cerveja.

— Acho que ela está com medo. Pensa bem, esse livro pode estar falando com ela e deixando que ela leia, por que ela é, sei lá, algum tipo de sensitiva, médium, o que seria plausível, uma vez que aquela história sugere que o livro tem muito poder mágico. Ou – E nesse momento o tom dele se tornou sério – Ou ela pode ser o elementar antigo da história, que por alguma razão esqueceu quem era. Nesse caso, se ela começar a se lembrar, é melhor que ela faça isso com a nossa supervisão, do que a solta, correndo o risco de ficar sob a tutela de algum monstro.

— É um bom argumento. - Dean disse, tomando o primeiro gole amargo – Mas nós não podemos desviar do assunto principal aqui. Lucifer ainda está com Cas e nós não sabemos o que fazer com a Escuridão.

— Eu sei, Dean, mas é exatamente por isso que nós podemos ajudar a Eileen, enquanto a gente não tiver ideia do que fazer, não adianta fazer nada.

A expressão de Dean se tornou uma carranca resignada, ele não podia discordar, e ele tinha que admitir, ele meio que gostara de Eileen., ela parecia o tipo esquisito que acabaria se dando bem com Sam, ele próprio e principalmente Cas, por alguma razão ele tinha certeza que os dois acabariam se entendendo. A lembrança do amigo o fez carranquear ainda mais.

— Hei – Eileen apareceu na porta da cozinha, com alguns livros no colo – Vocês se importam se eu ficar com esses pra ler? - A menina tinha um tom gentil na voz, e em nenhum momento fez menção de entrar propriamente na cozinha.

— Eles são sobre o que? - Dean perguntou.

— Todos em que eu bati o olho, consegui ler o título, e o título era alguma coisa sobre criaturas mágicas, basicamente. Mas eu achei melhor pedir antes de só sair abrindo e lendo os livros.

— Nenhum falou com você? - Dean gracejou, vendo a menina rir e negar com a cabeça – Já é um bom começo. Traz os livros aqui, vamos dar uma olhada. - Ela finalmente entrou, trazendo o total de cinco livros, todos com aspecto antigo e já muito amarelados.- Vamos ver o que nós conseguimos encontrar.


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Notas finais do capítulo

Landslide é uma música do Fleetwood Mac caso alguém queira procurar. Se gostou me deixe saber :D



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