Priscila Meneses.

Sabe o coração?

Pode está completamente enganado

E o tal príncipe encantado

Pode ser o garoto errado

Cantava esse refrão de forma lenta e triste, em um belo violão de cor rosa claro, que minha mãe havia me dado no meu último aniversário. De repente, parei de tocar e foquei meus olhos em um porta-retrato na mesinha do centro da sala — que tinha uma foto da banda — Eu e a Manuela com o cotovelo apoiados nos ombros de Joaquim, Júlia e André um do lado do outro e Felipe no meio, segurando seu instrumento, com um belo sorriso.

— Que saudades... — Falei, colocando o violão ao meu lado e escorando minha cabeça no sofá. — O que foi que eu fiz...

Deitei a cabeça pelo lado. Meu cabelo estava preso a um rabo de cavalo, coloquei ele para o lado e enrolei alguns fios com os dedos, olhando para cima, quando ouço alguns passos, mas não me mexo.

— Priscila! — Era o meu avô. Virei para o lado, fitando-o. — Achei que você ia junto com a banda visitar a família daquela sua colega de banda, a Isabela! Que tem uma irmã gêmea... — Ele já estava se enrolando todo.

— Não, vô. É um momento deles.

— Se é um momento deles, o que a banda está fazendo no Vilarejo, menos você?!

— Por que eles sabiam o tempo inteiro dessa história de gêmeas, e as ajudaram. Eu não sabia, e tratei a Manuela muito mal, eu fiz muito mal para ela. Eu impedi ela de ser feliz, vô.

— Como?!

— Eu aproveitei o namoro falso com o Joaquim.Eu gostava... Eu gosto muito do Joaquim, mas aproveitei o namoro para provocar a Manuela, quando ela passava por tudo isso.

— Mas você não sabia de nada, para que se sentir culpada?

— Se eu soubesse... Ah, vô! Cansei desse papo, vou sair um pouquinho, daqui a pouco eu volto, tá?

— Tudo bem, mas leve o celular! Não demore, por favor.

Assenti com a cabeça e saí, talvez sem rumo, mas pelas proximidades de casa. Sentei em um banco de uma parada de ônibus, olhei para os lados... Eu estava sozinha ali. Deu um pouco de medo, mas logo fui tomada pelos meus pensamentos e memórias.

FLASHBACK ON.

O ensaio tinha acabado, Isabela já estava ao lado do Joaquim outra vez. Que garota chata! A fuzilei com o olhar, e vermelha de tanta raiva, saí da sala de estúdio. Só consegui ver a Regina saindo da frente assustada, e chamando Isabela para ir embora.

Entrei no banheiro e me olhei no espelho, lavei o rosto e o sequei. Respirei fundo, e entrei na sala de ensaio novamente, pude ver o resto da banda reunindo em uma rodinha, e eles paravam de falar assim que me viam, então, desta vez, fiquei ao lado da porta que estava entreaberta.

— A Manuela te falou alguma coisa? — André fez a pergunta a Joaquim.

— Não...

— A Manu está tão estranha ultimamente... — Disse Felipe.

Quem é Manuela?

Era a pergunta que martelava na minha cabeça, enquanto escutava a conversa deles. Foi aí que abri a porta e encarei os quatro, que já tinham desfeito a rodinha e me olhado assustados:

— Quem é Manuela?! — Perguntei, colocando minhas mãos na cintura. — Não vão me falar?

— Priscila... — Joaquim coçou a nunca e segurou o gorro com as mãos. — Nós não podemos te falar, me desculpa.

— Não Joaquim. Eu não te desculpo! Por que raios vocês ficam de segredinhos? Eu faço parte da banda também! — Todos se entreolharam, e Joaquim balançou a cabeça para cima e para baixo.

— Tudo bem, a gente conta.

— Hm.

— A Manuela que nós estávamos falando... É a Isabela que você conhece. — Disse Joaquim.

Han?

— Olha, é meio difícil de explicar assim... Mas a Isabela tem uma irmã gêmea, que é a Manuela, que está cantando aqui na banda.

— E por que a Manuela está se passando pela Isabela? Joaquim, explica isso direito...

— A Manuela foi sequestrada pela Regina, que está obrigando ela a cantar como se fosse a Isabela, entende? A mãe da Manuela, nem a família dela sabe que ela tem uma irmã gêmea.

— A Regina?!

— É! A Regina! — Ele se aproximou de mim e pressionou meu braço levemente. — Só que ninguém. NINGUÉM pode saber da nossa conversa, me entendeu?

— Mas...

— Olha Priscila, a Manuela corre muito perigo. Sei que você pensa que tem uma rivalidade com ela, mas já deu! A gente pode contar com você... Ou vai entregar todos nós para a Regina? — Indagou Júlia.

— Não se preocupem. Não vou contar nada para ela! — Eles sorriram e respiraram aliviados.

FLASHBACK OFF.

Ouvi alguém tocar em meus ombros,então levantei assustada. Mas era uma mulher com uma criança pequena, de aproximadamente uns três anos. Ela sorriu, e me encarou.

— Menina, você sabe o ônibus que vai para o...

— Não, eu não sei!

— Mas eu nem disse qual o ônibus.

— Mesmo assim, eu não sei! — Peguei meu celular e vi a hora. — Tchau!

No caminho de volta para casa, parei na sombra de uma árvore e recuperei o fôlego, pois estava muito cansada depois de correr.

— A Manuela não quer nem olhar na minha cara, a Isabela então... O que eu faço agora?! — Disse pouco animada. — Só indo nesse tal de Vilarejo dos Sonhos mesmo...