Just Like Before escrita por Lyria


Capítulo 1
Capítulo Único




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— Vamos, Nick! — disse Maya com um largo sorriso — Vai ser incrível, você vai ver!

— É, disso eu não duvido... — respondeu Phoenix, sem ânimo.

Ele havia sido arrastado pela médium até o cinema, onde havia acabado de estrear o filme do Steel Samurai. A fila dos ingressos era composta principalmente por crianças, e Phoenix teve a sensação de que estava se destacando mais do que gostaria. Bem, ao menos Maya parecia animada.

Eles entraram na sala, carregando um balde grande de pipoca e dois refrigerantes. Encontraram um bom lugar, e esperaram o filme começar.

Cerca de duas horas depois, os créditos começaram a subir, enquanto a conhecida música tema do herói tocava ao fundo. Maya começou instantaneamente a tagarelar de maneira alegre e empolgada sobre as cenas do filme, imitando os ataques enquanto fazia “Bangs” e “Pows” com a boca. Phoenix ria baixo daquela animação toda, quando, de repente, Maya teve sua atenção tomada por outra coisa.

— Ei, Nick... — disse ela, apontando para uma das fileiras mais à frente — Aquele não é o Edgeworth?

Ao ouvir aquele nome, Phoenix olhou imediatamente para a direção apontada, e surpreendeu-se ao constatar que, sim, aquele era Edgeworth.

Como se tivesse sentido os olhares sobre si, Edgeworth olhou para trás no instante seguinte, e quando seus olhos se encontraram com o de Phoenix, o promotor fez uma cara que parecia a de alguém que acabou de engolir algo amargo e espinhento. Phoenix acenou em resposta.

Eles deixaram a sala do cinema juntos, e a empolgação de Maya parecia ter triplicado.

— Eu não sabia que você gostava do Steel Samurai! — disse ela — Uau... Isso te deixou umas dez vezes... Não, cem vezes mais legal!

Edgeworth parecia sem graça com aqueles comentários. Ele tentou dizer que não gostava do personagem, e que estava lá só para passar o tempo, mas como os ingressos haviam todos sido vendidos antecipadamente, ninguém ali acreditou.

— Não é algo de que um promotor deveria se orgulhar. — disse ele em tom baixo.

— Mas é claro que é! — insistiu Maya — O Steel Samurai é o melhor!

Phoenix se contentou em deixá-los discutir por todo o percurso até o carro de Edgeworth, que insistiu em dar-lhes uma carona até o escritório. Phoenix levou Maya — que adormecera no caminho — até o sofá, tirando seus sapatos e cobrindo-a. Em seguida, ele foi à porta, encontrando Edgeworth parado ali, olhando em sua direção com ar distraído.

— Acho que ela gastou toda a energia imitando o Steel Samurai. — comentou ele.

— Aparentemente...

Edgeworth sorriu de leve e, por um momento, Phoenix se perdeu naquela expressão. Planejava se despedir do promotor e agradecer pela carona, mas por algum motivo, essas palavras se perderam em sua garganta e o que saiu foi algo completamente diferente.

— Quer sair para jantar? — sugeriu o advogado, espantado com própria pergunta — Quero dizer, como agradecimento pela carona, é claro.

Miles olhou para o outro por algum tempo, a expressão ligeiramente surpresa. Em seguida, porém, a expressão foi substituída por uma que mais parecia desapontamento.

— Tenho alguns assuntos para resolver com o detetive Gumshoe ainda hoje. — disse ele.

— Ah... Sei...

Phoenix se arrependeu de ter perguntado. É claro que, ao contrário dele, Edgeworth tinha trabalho para fazer. E mesmo que não tivesse, dois caras saindo para jantar juntos era...

— Mas terei tempo livre amanhã à noite.

Aquela frase fez Phoenix encarar o outro com os olhos ligeiramente arregalados, o que fez Edgeworth voltar a parecer sem graça, como quando o encontraram no cinema.

— Quero dizer, — tentou corrigir o promotor, olhando para o lado — se estiver tudo bem para você, e...

— Está! — respondeu Phoenix, estapeando-se mentalmente por parecer tão empolgado com aquilo. Ele tossiu, tentando parecer mais casual — Amanhã está ótimo para mim.

— Ah, que bom. — respondeu Edgeworth — Então, te encontro aqui às sete?

— Sim, às sete.

Houve um breve momento constrangedor para Phoenix, em que seus olhos se encontraram com os de Edgeworth por um instante a mais do que deveriam, mas, por sorte, o promotor pareceu não notar nada estranho naquilo. Ele se despediu e, ao fechar a porta, Phoenix precisou se conter para não gritar com a empolgação. Esperou ouvir o carro de Edgeworth se distanciar, contou até dez, correu até onde Maya estava, e só então gritou a plenos pulmões.

— NÓS TEMOS UM ENCONTRO!

A menina acordou com um grito agudo, parecendo completamente perdida, fazendo os movimentos do Steel Samurai com os braços, errando por pouco a cabeça de Phoenix.

— Nick! — disse ela de maneira irritada ao se dar conta de que o pterodátilo gigante de seu sonho era apenas seu velho amigo — Não grite desse jeito! Você quase me...

— Eu tenho um encontro! — repetiu ele em tom mais baixo, mas não menos empolgado.

— O que...? — Maya arregalou os olhos ao ouvir aquilo — Com quem?

— Com o promotor sexy. — respondeu Phoenix.

Maya o encarou por alguns instantes, abobada, e então gritou, balançando as mãos no ar com a empolgação. Phoenix fez o mesmo, até que ambos estivessem parecendo dois lunáticos, conversando por gritos e gestos exagerados. Eles só pararam quando ligaram do escritório ao lado pedindo para que, por gentileza, os dois calassem suas bocas.

~*~

Às seis e meia, Phoenix foi da empolgação ao completo desespero. E se seu dinheiro só fosse o suficiente para duas tigelas de ramen? E se Edgeworth não aparecesse? E se ele fizesse alguma besteira e estragasse tudo?

— Calma, Nick! — disse Maya, ajudando a arrumar a gravata do outro — Você está me deixando nervosa também!

— Mas e se eu derrubar minha bebida nele? — perguntou Phoenix em pânico — E se ele preferir ir jantar com o Gumshoe do que comigo?

— O Gumshoe só come macarrão instantâneo. — lembrou Maya.

— Mas e se o macarrão instantâneo dele for melhor do que...

— NICK!

Maya deu um chute na canela do advogado, que soltou um ganido como resposta.

— Pare de se preocupar tanto, ou a sua cabeça vai explodir! — disse ela.

Phoenix ficou em silêncio, mas sua expressão desolada deixava claro que os pensamentos ainda flutuavam por sua mente. Maya cogitou enforcá-lo com a gravata, mas desistiu da ideia.

— Ele aceitou sair com você, não aceitou? — disse ela — Então para de agir feito um idiota e se controla, ou quer que o Edgeworth te veja com essa cara ridícula?

Touché. As palavras de Maya, apesar de nada afáveis, ajudaram Phoenix a se recompor um pouco. Sim, Edgeworth havia sugerido que se encontrassem hoje... Se não quisesse vê-lo, teria apenas negado o seu convite — de uma maneira brutal e impiedosa, como só o promotor seria capaz. É, aquilo fazia sentido...

Phoenix respirou fundo, conseguindo se acalmar. Bem a tempo, porque segundos depois eles ouviram o som de um carro se aproximando. Maya espiou pela janela, abrindo um largo sorriso em seguida.

— É ele! — disse a médium.

Por um instante, Phoenix achou que suas pernas não se moveriam, mas Maya cuidou disso ao empurrá-lo em direção à porta, fazendo com que ele quase tropeçasse nos próprios pés.

— Você consegue, Nick! — disse ela em tom animado — E tenta não morrer no caminho!

— Vou tentar! — respondeu ele, criando coragem para finalmente deixar o escritório.

Maya observou pela janela Phoenix e Miles se cumprimentarem, e então, adentrarem o carro. Sorriu, torcendo pelo companheiro e dizendo a si mesma que, se tudo desse certo, faria Phoenix lhe pagar um hambúrguer no dia seguinte.

~*~

Phoenix e Miles decidiram juntos a qual restaurante iriam — para a sorte de Phoenix, Edgeworth não escolheu nada muito extravagante, e ele seria capaz de pagar —, e depois conversaram brevemente sobre o trabalho. Phoenix estava fazendo um trabalho invejável escondendo seu nervosismo, e se continuasse naquele ritmo, tudo daria certo.

Chegaram ao restaurante poucos minutos depois. Fizeram seus pedidos e, enquanto esperavam, começaram a conversar. Primeiro, falaram sobre o trabalho, depois sobre seus respectivos parceiros, e então, por algum motivo, o assunto se voltou para Larry Butz e, como consequência, aos dias que os três passaram juntos em suas infâncias.

— ... E depois, ele ainda agiu como se fosse o herói do dia... — riu Phoenix — Não é a toa que dizem: “quando algo fede, geralmente é o Butz”.

Edgeworth riu baixo, e Phoenix sentiu uma pontada de afeto ao ver aquela rara expressão. Quis esticar o braço e tocar o rosto do outro, só para ter certeza de que não estava imaginando coisas, mas por sorte, a comida chegou naquele momento, e ele foi tirado de seu transe.

— Parece que ele não mudou nada desde aquela época. — comentou Miles de repente.

— É, também acho que não. — concordou Phoenix — Se mudou, só ficou mais problemático.

Edgeworth observou Phoenix em silêncio por algum tempo, algo que fez o advogado se sentir um pouco sem jeito. Ele sabia que era normal pessoas olharem umas para as outras, mas quando a pessoa em questão é aquela por quem você está apaixonado há anos, é um pouco difícil lidar com a situação.

— Eu pensei que você tinha mudado bastante no começo. — disse Phoenix, mais para tentar disfarçar o nervosismo — Mas depois percebi que, na verdade, não está tão diferente assim. Bem mais sério, eu admito, mas ainda é o mesmo Edgeworth que todos nós amamos.

Aquilo devia ser um comentário descontraído, mas fez Phoenix ter vontade de se esconder embaixo da mesa e nunca mais sair dali. Ele olhou para o promotor e teve a impressão de que seu rosto havia adquirido um tom mais avermelhado — mas talvez isso fosse coisa da sua cabeça.

— Obrigado. — disse Edgeworth, sem olhar diretamente para Phoenix.

— Não precisa agradecer. — disse Phoenix, forçando uma risada — Eu só disse a verdade.

Miles olhou para o outro pelo canto dos olhos e exibiu um discreto sorriso.

— Pensando desta forma, você também não mudou nada, Wright. — disse.

Phoenix quase quis interpretar errado aquela frase, mas seu instinto de auto-preservação o impediu. Havia um limite para o quanto ter esperanças era saudável, e ultrapassar esse limite logo no primeiro encontro parecia péssimo para o seu coração. Por sorte, logo seus pedidos chegaram, desviando a atenção de ambos do assunto anterior.

Eles comeram sem pressa, conversando sobre coisas sem importância. Era divertido conversar com o promotor sobre coisas que não tinham ligação com o trabalho de ambos, mas frequentemente Phoenix se via divagando, prestando atenção demais nos lábios do outro, ou nas sutis mudanças em sua expressão. Quando terminaram e pagaram a conta, eles voltaram para o carro de Miles. Havia começado a chover forte algum tempo antes, e como Edgeworth era um motorista responsável e Phoenix se agarrava a qualquer chance de passar mais tempo ao seu lado, os dois decidiram esperar um pouco no estacionamento. Eles conversaram por longos minutos, até que, de alguma maneira, o assunto chegou ao tema “romance”.

— Eu tive uma namorada por algum tempo... — disse Phoenix — Mas no fim, descobri que ela planejava me matar desde o começo. Sabe, acho que não tenho muita sorte nesse assunto...

— Na verdade, eu também não. — respondeu Edgeworth — Não que eu tenha muito interesse, ou tempo para essas coisas... Acho que sou o tipo de pessoa que nasceu para ficar solteiro.

Ouch! Phoenix sentiu sua fadinha da esperança perder as asas... Pensou em mudar de assunto, mas, na última hora, algo pareceu se apossar dele e, antes que pudesse se impedir, já havia voltado a falar.

— É estranho dizer isso depois de tanto tempo... — disse — Mas, quando éramos pequenos, eu tinha uma queda considerável por você. Sabe como é, né? Amores de criança e tudo mais...

Phoenix riu, sem graça. Será que tinha sido uma péssima ideia dizer aquilo? Ele queria tocar naquele assunto, queria saber qual seria a reação de Edgeworth ao ouvir sua tola confissão, mas agora que as palavras haviam deixado seus lábios, teve medo do promotor ficar com raiva, ou nojo, ou qualquer outra coisa negativa que, Phoenix sabia, ele tinha total direito de sentir naquela situação.

Mas Edgeworth não reagiu da maneira como Phoenix imaginara, limitando-se a baixar os olhos para o volante do carro, parecendo pensativo.

— Eu também. — disse.

Phoenix travou ao ouvir aquelas palavras. Miles, no entanto, não esperou uma resposta, completando em voz baixa:

— A diferença é que não passou com o tempo.

Ele não olhou para Phoenix ao dizer isso, e o advogado o encarou, os olhos arregalados e a boca ligeiramente aberta. Chegou a pensar que aquilo tinha sido uma piada cruel, mas bastava olhar para o rosto de Miles para saber que ele estava sendo sincero. Phoenix, de repente, sentiu uma súbita euforia dentro de si, e precisou se controlar para manter a pose de “homem maduro”.

— Comigo também não. — disso.

Edgeworth olhou para Phoenix, e havia um pouco de irritação em seus olhos.

— Não seja tolo, Wright. —disse o promotor — Isso não pode ser verdade.

Phoenix não se sentiu surpreso com a incredulidade de Miles. Aquela situação havia ficado bem surreal de um minuto para o outro.

— Eu... — o advogado tentou encontrar as palavras certas — Eu admito que, por um tempo, eu achei que tivesse superado isso. — ele pensou no tempo que havia passado com Dahlia, mas sacudiu a cabeça, preferindo esquecer o resultado desastroso daquele breve namoro — Mas quando te encontrei de novo, foi como se... Como se o tempo nunca tivesse passado. Eu queria estar perto de você de novo, como antes, e... — ele suspirou baixo — Quando dei por mim, você era tudo em que eu pensava.

Edgeworth o observou por um longo tempo, o cenho franzido, como se estivesse tentando decifrar as palavras de Phoenix. Ele desviou o olhar, mordendo o interior do lábio de um jeito ansioso.

— Mentiroso... — murmurou, mas já não soava tão incrédulo.

— É verdade. — insistiu Phoenix — Você sempre foi importante pra mim. Foi graças a você que eu me tornei o que sou hoje, eu... — Phoenix se perdeu em meio às próprias palavras, rindo baixo e enrubescendo um pouco por isso — Droga, isso está começando a ficar meio constrangedor...

Edgeworth voltou a olhar para ele, um pouco apreensivo.

— Então... Você não está mentindo? — perguntou.

— Você sabe que não. — disse Phoenix.

A expressão de Edgeworth foi tomada por alívio, e Phoenix permitiu-se sorrir diante daquilo. Ele levou sua mão à do promotor, e Edgeworth a segurou. Ficaram em silêncio por alguns segundos, olhando para os dedos entrelaçados, e depois, para os olhos um do outro.

Phoenix havia imaginado aquela cena de mil maneiras diferentes: eles caminhando à beira da praia, em um parque sob as estrelas. Talvez houvesse uma orquestra tocando ao fundo, holofotes, fogos de artifício, ou milhares de pétalas de flores caindo ao redor...

Mas a realidade foi diferente de tudo que ele havia imaginado.

Quando seus lábios se tocaram, não havia paixão ardente, desejo desesperado, ou o som de saxofones tocando ao fundo... Era doce, simples e melhor do que ele poderia ter pensado, como se ambos tivessem esperado um longo tempo por aquele único momento...

Como se aquele simples gesto fosse capaz de conectá-los por toda uma vida.

Como se eles fossem duas crianças novamente, se apaixonando pela primeira vez.


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Notas finais do capítulo

E, depois disso, a Maya teve o seu hambúrguer.
Espero que tenham gostado!