Butterfly escrita por Lady


Capítulo 4
04 - Palácio Incandescente.


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos, sinto que os fiz esperar muito por esse capítulo, então, sinto muito mesmo.
Eu planejava posta-lo mais cedo, contudo tive alguns problemas quanto a outras fanfics, então espero que me perdoem.
Sem mais delongas, boa leitura.



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Butterfly

 

Arco I

Caminhos Distantes

 

04 – Palácio Incandescente.

 

Heisei

 Soul Socity

 

Sou eu quem vai ouvir você quando o mundo não puder te entender.

— Hyourimaru –

 

Algumas pessoas nascem destinadas a grandeza, e outras se tornam grandes por seus próprios esforços, isso Toushirou sabia, mas tal filosofia não podia se aplicar a outras questões, somente a necessidade absoluta de lutar por algo. O albino nunca havia pensado em se tornar um Shinigami quando vivia em Rukongai, Hinamori era quem batalhava por isso na Academia de Artes Espirituais; e apesar de tudo, mesmo sem que o albino soubesse, seu destino havia sido transformado de uma maneira que nem o próprio rapaz sabia e fora a ele disponibilizado somente um par de caminhos a se seguir, caminhos estes que num futuro distante se cruzavam e mesclavam e, no fim, tornavam-se um; então, não há realmente nenhum propósito em lutar contra seu próprio destino, ou lutar por um futuro diferente, e sentindo isso apenas fazia com que a frustração do jovem Capitão se tornasse cada vez maior.

— Isso não é justo. – resmungara o albino com um suspiro pesado, as costas apoiada contra as escamas grossas de gelo da grande entidade que habitava seu Mundo Interior. – É tão injusto que chega a ser frustrante, eu não quero ver isso, não quero esse passado. – concluirá, inclinando a cabeça para trás a fim de fitar a imensidão congelaste do céu que havia sob sua cabeça. Não se recordava da vida humana que havia tido há muitos séculos atrás, todavia sentia que aquelas memórias estavam longe de ser aquelas de sua última vida, parecia de um tempo ainda mais distante.

Um ronco baixo escapou do peito da grande fera, as asas flexionaram-se momentaneamente antes de tornarem a repousar dobradas contra o grande corpo congelado; Hyourimaru bufou antes de baixar a cabeça e apoia-la contra o chão congelado.

— Não existe justiça no fluxo da vida, garoto. – murmurara a voz cavernosa, baixo mais ainda audível. – Infelizmente isso é algo que se aplica a todos, mesmo nós, Zampakutous, não estamos isentos das garras do destino.

O albino suspirou antes de fechar os olhos, e diante de tal ato uma figura brilhara em sua mente; de cabelos negros longos, belos olhos de ônix e um sorriso pequeno e fácil nos lábios, ela nunca havia sido tão bela quanto naquele momento, mesmo com sua aparência juvenil ela ainda possuía uma beleza surpreendente e, ele tinha certeza, em sua vida adulta ela certamente seria uma destruidora de corações.

A mulher dos seus sonhos, das suas lembranças, do passado que ele não desejava; Karin, a mesma Karin que habitava o mundo humano e também a filha de seu ex-Capitão, uma das irmãs mais jovens de Kurosaki Ichigo, e seu atual tormento pessoal. A imagem dela estava se tornando presente em sua vida de uma forma aterrorizante, fora por isso – e muito mais – que se afastara dela há anos, mesmo depois do beijo que trocaram, mesmo depois de sentir-se amado.

Toushirou sabia que não podia ficar, não por ela ser humana, por estar viva e ter um grande futuro pela frente, não, não era por nenhuma dessas pequenas coisas, era por causa das lembranças. A pessoa pela qual ele havia se apaixonado era a Karin das suas memórias, a moça que carregara muitos sobrenomes e a mesma aparência e nome, mas que apesar de tudo sempre tivera a personalidade doce e gentil; e a Kurosaki, apesar da aparência e do nome, não era a pessoa que ele conhecia em suas lembranças. Kurosaki Karin era destemida e uma guerreira, ela era como um furacão que causava desordem por onde passava e destacava-se brilhantemente no meio de uma multidão, ela era o fogo que derretia o gelo do coração de Toushirou e isso o assustava, por que em seu intimo ele estava acostumado à moça ingênua e gentil e não àquela pessoa tão... única. Fora comparando-as que ele notou isso; e fora comparando-as que ele tomou repugnância de si próprio, por que o albino amava ambas, mas aquela que estava a seu alcance o assustava demasiadamente.

Suspirou reabrindo os olhos e fixando as orbes cor de jade nas próprias mãos pálidas. Abandonara seu Mundo Interior quando um movimento fez-se presente próximo a si e de canto de olho identificou Hinamori o observando por detrás de uma grande arvore de Sakura que havia no jardim de sua residência.

Tornou a fechar os olhos, ela não percebera que ele havia concluído sua meditação e o Capitão não pretendia deixar a Tenente tomar consciência disso, afinal, há muito não se sentia mais confortável na presença da mesma, e tudo graças a devoção sem limites desta por ninguém menos que Aizen.

 

(...)

 

Heisei

Soul Socity

 

Eu não te amo apenas pelo que você é, mas pelo que eu sou quando estou com você.

— Kurosaki Ichigo –

 

Ergueu o olhar para o céu, o azul nunca esteve tão belo quanto naquele dia, isso Ichigo poderia afirmar com toda certeza do mundo, e apesar de tudo mesmo aquela beleza parecia fazer seu peito doer menos. Estava feliz por ter encontrado Yuzu, a precoce morte da mesma fora um choque, mas agora podia tê-la mais próxima novamente, da mesma forma quando a tinha quando era vivo; seu problema no momento – e não apenas seu – era sua outra irmã.

Karin não se encontrava mais em Karakura, de acordo com Yuzu, fora para Tokyo e não queria nenhum contato com a família; o porquê disso era um completo mistério que mesmo a gêmea não pode desvendar. E com um suspiro o ruivo baixou o olhar deparando-se com a figura de sua noiva caminhando em sua direção. Rukia parecia imponente usando o Haori branco destacando as vestes negras, o cabelo curto chanel dava-lhe a aparência de uma boneca delicada – mas Ichigo sabia muito bem que ela estava longe de ser uma boneca delicada.

Cruzou os braços antes de soltar um suspiro silencioso, tudo sob o olhar precupado da noiva.

— Está pensando sobre a Karin? – indagou-a, mas sabia que era exatamente o que o ruivo estava fazendo momento atrás.

— Sim. – admitiu-o de testa franzida. – Alguns dias atrás você a viu, certo? – a Kuchiki acenou em afirmação para aquilo, isso antes de recostar-se contra o tronco da arvore e apoiar a cabeça sobre o ombro do homem ao seu lado. – Como ela está? – e a pergunta veio banhada de preocupação, diferente de toda euforia que esbanjara quando Renji havia lhe informado que encontrara a Kurosaki morena vários dias antes.

— Apesar de tudo, ela esta bem. – informou-a, simples. – Eu entendo suas preocupações, mas Karin não é qualquer pessoa, ela é uma Kurosaki também. – sorriu-a, cutucando o ruivo e arrancando uma risada baixa do mesmo diante da afirmação. – Não se preocupe tanto com isso. – pediu-a. – Preocupe-se mais com a pilha de papel que esta na sua mesa. – divertiu-se a morena diante do pavor que se apossara da face do futuro marido.

Quem diria que Kurosaki Ichigo iria preferir enfrentar dezenas de milhares de Hollows sozinho a ter de que assinar e classificar algumas documentações. E vendo as lamentações do Capitão ao seu lado, tudo que Rukia pode fazer foi sentir pena do Tenente da 9° Divisão.

 

(...)

 

Heisei, 21 de Abril de 2016

Tokyo, Japão

 

O bem que você me fez nunca foi real.

— Kurosaki Karin –

 

Suspirou, recostando-se na porta do armário fechado. Estava em seus horário de descanso, e mal soube como pode aguentar esperar até aquele momento.

— Kah-chan. – chamou sua colega, uma jovem de cabelos dourados curtos e rosto arredondado de boneca. – Se você for fumar faça-o lá fora, sabe como a gerente fica de mau humor por causa da fumaça. – reclamou-a com um bico, já seguindo para a porta.

— Hai, hai. – fora tudo o que dissera antes de seguir para a porta dos fundos.

Tomou uma respiração profunda enquanto apoiava-se a soleira da porta entreaberta; o cigarro preso entre os dedos magros a pouco havia começado a queimar, mas a fumaça do mesmo já se espalhava, levada pela brisa. Tragou mais uma vez o cigarro sentindo o prazer apossar-se de seu corpo antes de diluir-se junto a fumaça que expelira. Em poucos minutos jogara a ponta que sobrara no chão.

Logo a chamariam para continuar seu turno.

Suspirou, retornando para o interior do estabelecimento. Os armários alinhando a esquerda lhe lembravam bastante de sua época como estudante em Karakura, mas deixou o pensamento de lado enquanto seguia para o ultimo, onde seu nome indicava que este pertencia a si. Guardou o que restara do maço de cigarros e checou a hora para saber quanto tempo havia passado.

Seis minutos. Piscou, notando que ainda lhe restavam vinte e quatro minutos para fazer absolutamente nada. Frustrada, sentou-se no único banco ali disponível e ficou a divagar sobre o que tinha de fazer ainda naquele dia.

Ainda tinha algumas horas de serviço antes de ir para casa, talvez saísse para jantar, afinal, o único trabalho da universidade que tinha pendente era para o mês seguinte, então tinha tempo, e o restante dos trabalhos já foram todos feitos; as provas seriam na semana seguinte, então poderia estudar mais para o fim da noite.

— Hm... – o sussurro rouco de sua garganta mal fizera barulho no cômodo vazio. Passou o olhar pelo quarto, sentindo-se um tanto solitária ali, e logo seu olhar decaiu sobre o calendário que havia na parede mais ao fundo; o dia seguinte estava marcado de vermelho, sua cor, a cor que indicava seus dias de folga. Tornou a suspirar. – O que eu faço amanha?  - indagou-se no silencio, dando de ombros para a única alternativa que lhe havia sobrado. – Estudar.

Bufou, soltando uma risada seca logo em seguida. Alguns anos atrás sequer se imaginaria naquela situação tendo como única diversão o estudo.

— Yuzu estaria me zoando se pudesse me ouvir agora. – comentou baixinho, o sorriso que puxara-se em seus lábios melados de gloss fora um dos mais raros de ser vistos em sua pessoa; era um sorriso distante e melancólico, cheio de uma saudade que talvez nunca pudesse sanar ou desaparecer, e apesar de tudo a Kurosaki não se arrependia da decisão que havia tomado, fora para melhor, dissera e repetira para si mesma varias e varias vezes.

Fora algo egoísta, mas fora o melhor, com certeza, talvez não o melhor para os outros, mas o era para si, tinha que ser; por que se isso não a fizesse algum bem, talvez não houvesse nada mais que pudesse o fazer. Karin cansara de esperar e de acreditar. Fora tola e não queria mais continuar sendo. Não queria sentar e ser uma boa menina esperando ansiosamente que o albino retornasse por si, para si, por que em algum canto de si uma voz lhe repetira por varias vezes que ela estava se iludindo, e em dado momento a Kurosaki acreditou e baseada nessa crença, despediu-se da vidinha ridícula que tivera naquela cidade pequena.

Ao chegar em Tokyo tudo era novo, a cidade grande era algo inimaginável e as pessoas eram completamente surpreendentes, a diversidade lhe fizera esquecer que tinha um coração partido e, por dias a morena sequer se lembrava de quem havia sido Hitsugaya Toushirou, mas a dor voltara em algum momento pela madrugada e as lembranças se repetiam em pesadelos; as poucas vezes que Renji surgiu fora para nublar seus pensamentos por aquele assunto passado e a morena ficava mais do que agradecida com o ruivo, ele se tornara alguém importante para si, um amigo insubstituível.

— Kha-chan. – chamou a mesma loira de antes. – Já deu o seu tempo. – sorriu-a, vendo a confusão que se apossara na expressão tão calma da Kurosaki.

Piscou duas vezes antes das palavras chegarem a si.

— Oh, obrigado por avisar. – sorriu-a. – Eu estava perdida em pensamento e mal notei o passar do tempo. – riu a morena, disfarçando o latejar do coração e da mente.

— Sempre feliz em ajudar. – a voz infantil riu antes de retornar ao trabalho.

A Kurosaki ergueu-se do banco, parando apenas frente ao espelho para averiguar se havia qualquer irregularidade em seu uniforme e ao vê-lo em perfeita ordem sorriu antes de seguir para atender aos clientes que chegavam.

A pratica leva a perfeição e seu sorriso falso já havia congelado em sua face há muito tempo.

 

(...)

 

Meiji, 09 de Janeiro de 1884

Quioto, Japão

 

A distância sempre me impedia de estar perto dela, de tocá-la, de senti-la... Mas nunca me impediu de amá-la.

— Suzuki Toushirou –

 

Esgueirou-se sobre as telhas avermelhadas do telhado evitando ao máximo fazer qualquer som que chamasse a atenção para si naquela noite fria. A brisa gelada balançava seus cabelos numa dança congelante, mas mesmo o inverno impediria de estar ali, vendo-a, apreciando a beleza de uma mulher inalcançável para si. E então a viu erguer o olhar, as orbes de um negro liquido eram tão inocente que Toushirou sentiu nojo de si mesmo por ter tirado tantas vidas no decorrer dos anos.

Engoliu em seco, umedecendo os lábios quase rachados devido ao frio e ao êxtase por contemplar tamanha beleza divina em apenas uma jovem mulher. Logo a brisa bateu fazendo os fios negros do cabelo da princesa remexerem-se, dançarem, uma melodia única e sensual, muda, mas que, ao mesmo tempo, lhe seduzia sem piedade; os panos que cobriam o corpo esbelto eram um pecado que encobriam a pele de porcelana. Viu os lábios de boneca tremerem mediante o frio e então, sem notar sua presença espreitando-lhe, Karin tornou a adentrar em seu aposento particular, fechando as portas da varando rapidamente a fim de manter o frio longe.

Dando as costas para o local que a pouco observava e deitando-se sobre as telhas avermelhadas, o albino permitiu-se um novo fôlego; com as mãos sobre o coração pulsante e afoito o Suzuki permitiu-se tomar consciência de que a vermelhidão em sua face não era apenas devido ao frio – ele era bastante resistente ao frio afinal.

Já havia se encontrado com diversas mulheres, dormido com algumas, cortejado outras, e até chegara a envolver-se intimamente com algumas beldades no decorrer de suas varias viagens; entretanto nenhuma chegara aos pés daquela moça a pouco vista, nenhuma lhe havia tirado o fôlego nem feito seu coração tão descompassado. E em meio ao desnorteio o homem permitiu-se indagar baixinho:

— O que é essa mulher?

 

(...)

 

Heisei, 07 de Outubro de 2017

Tokyo, Japão

 

Eu sei que posso parar a dor se desejar que ela vá embora...

— Kurosaki Karin –

 

Sentou bruscamente sobre o colchão macio, podia sentir o suor escorrer pela lateral de sua face e mais outras gotas acumuladas sobre sua testa, os lábios vincados denunciava o desgosto diante do pesadelo a pouco tido, entretanto o suspiro de alívio que cruzara seus lábios segundos depois entregava o fato de que não podia se recordar do que quer que tenha vindo a lhe assombrar a mente.

Secou as gotas acumuladas em sua testa com a manga do pijama, isso antes de desenrolar-se de seu lençol e se erguer, já seguindo em passos silenciosos em direção a cozinha; um copo d’água certamente lhe faria bem.

Com o copo entre as mãos pequenas a morena permitiu-se recostar-se no balcão de sua cozinha, pensamente diversos lhe atacavam impiedosamente, entretanto nenhum deles com qualquer ligação para com o pesado que lhe despertara aquela madrugada, pelo contrario, todo e cada um era voltado para sua família.

Fazia um ano e alguns meses que partira de Karakura, e pouco tempo após sua partida sua irmã mais nova sofrera um acidente e falecera – ao menos ela tinha o irmão e o pai mais próximos de si, deduzia a morena – e fora para a Soul Socity. Com uma respiração profunda a garota podia, facilmente, deduzir que deveria estar a se sentir só, era a ultima Kurosaki viva afinal, entretanto seu dom – que por muitas vezes é uma benção e tantas outras uma maldição – não lhe permitia sentir-se assim. No decorrer daquele ano turbulento e moça de cabelos negros afogara-se nos estudos e trabalho, vez ou outra recebia alguma visita de Renji e/ou Rukia acompanhada de Ichigo, mas o casal tinha muito menos tempo livre em comparação ao Tenente ruivo, eram Capitães afinal.

Rukia era agora, oficialmente, sua irmã mais velha, meses atrás havia se casado, definitivamente, com Ichigo e agora levavam uma vida pacifica – ou tão pacifica quanto se pode ter diante do local em que viviam e do trabalho que exerciam – na Soul Socity.

Finalizando com um ultimo gole, depositou o copo sobre o balcão não tardando em seguir de volta para seu quarto, precisava voltar a dormir, mesmo que fosse sábado já e suas aulas limitassem-se somente ao período da manha – na verdade era apenas uma aula, mas era a mais chata ao ver a morena – Karin ainda teria trabalho no período da tarde e a noite prometera de sair com uma amiga para uma boate que inaugurara recentemente.

Suspirou, tornando a se acomodar sobre o colchão, agora, frio; puxou os lençóis a fim de aquecer-se e, fechando os olhos, rezou para que desta vez não houvesse quaisquer pesadelos para lhe despertar.

No passar de singelos minutos sua respiração tornou-se tranquila e antes de a morena notasse já estava envolta no mundo dos sonhos.

O primeiro pensamento que teve – onde quer que estivesse – era de que estava, possivelmente, no inferno, ou em algum lugar muito parecido mediante o calor infernal que estava a sentir. Engolindo em seco abriu os olhos para contemplar um grande trono exageradamente dourado metros a sua frente e observando os arredores por ver que as grandes colunas de sustentação eram esculpidas do mesmo dourado ouro do chamativo trono. Havia tapeçarias que enfeitavam as paredes todas retratando imagens de grandes feras draconianas de diversos tamanhos e cores, algumas estampando uma fúria semi-igual, outras em poses belíssimas abrindo suas grandes asas e rugindo furiosamente aos céus; algumas se encontravam em cenários de guerra ou exibiam-se sobre uma presa qualquer que teve o azar de cruzar consigo; mas nenhuma era, certamente, tão bela quanto aquela que podia-se ser vista por detrás do trono dourado. Hipnotizantes olhos de ouro destacavam as escamas cor de fogo, a fera erguia-se sobre as patas traseiras enquanto as dianteiras exibiam orgulhosamente as garras que facilmente estraçalhariam a carne humana, a barriga de um tom mais claro continha algumas cicatrizes, mas, em vista, apenas realçavam a beleza e o poder da fera; o pescoço alongado exibia uma cicatriz esbranquiçada que descia para as costas onde os dois pares de asas alongavam-se numa beleza exuberantemente única, sob a cabeça da fera três pares de chifres alongavam-se para trás junto aos ouvidos que esticavam a face feroz da criatura dando-lhe mais e mais imponência; um conjunto de escamas pontiagudas podiam ser vistas nas caldas duplas da fera, estas que se tornavam mais e mais perigosas e intimidantes quando aproximavam-se do fim dos membros e nas pontas, orgulhosas, crepitantes e perigosas chamas brilhavam e chamavam a atenção para seu tom dourado ouro.

Enfeitiçada pela imagem, que mal exibia uma parte do poder de tal entidade, a morena não notara a aproximação silenciosa de uma figura alta e intimidante pelas suas costas. Em passos calmos o homem se aproximou, parando somente quando estava ao lado a garota, esta que se encontrava sentada sob uma tapeçaria que, ia da entrada ate o trono, ao fim de seu grande salão. O silencio fez-se presente, ela não lhe notara e ele não queria chamar sua atenção, pelo contrário, sentia-se até constrangido por vê-la fitar aquela imagem tão antiga de si, mas seu constrangimento facilmente era encoberto por suas feições neutras.

— O que achas? – indagou após minutos de silencio e de perceber que ainda não havia sido notado, diante disso não sabia se deveria sentir-se ofendido ou lisonjeado por sua antiga imagem chamar tanto a atenção da garota deslumbrada e imóvel.

— Magnífico. – o sussurro escapara dos lábios da Kurosaki automaticamente, entretanto, quando se voltara para a figura que somente naquele momento notava ao seu lado e erguera o olhar para poder vislumbrar a face de seu acompanhante a magnificência que sentira pela imagem na tapeçaria estava longe do deslumbre que sentira ao avistar tamanha beleza.

Sentiu-se boba mediante a imponência exibida por aquele homem de trajes tão ricos e imperiais que combinavam perfeitamente com a aura nobre que este exalava. Engoliu em seco quando as orbes cor de ouro afiadas se encontraram com seus olhos de ônix e, naquele reles segundo, o mundo pareceu sucumbir diante de uma força de proporções esmagadoras. O homem não fizera menção de sair de seu lugar quando lhe oferecera a mão para pôr-se de pé; tal ato fora aceito de forma automática, como se muitas vezes houvesse sido feito por si, apesar de que o tremor de seus dedos denunciava o nervosismo perante a situação e a seriedade do homem – quebrada por nada menos que um singelo pequeno levantar dos lábios finos – chegara a lhe constranger, e fora nesse instante que tomara consciência da própria vestimenta. Os fios negros longos estavam soltos, livres de qualquer kanzashi, seu haneri era dourado como os olhos da criatura na tapeçaria que antes contemplou e o obi sobre o mesmo era de uma negritude profunda onde singelas faíscas vermelho-douradas destacavam-se belamente, o obi negro era sobreposto pelo obijime vermelho sangue, por fim utilizava um par de tabis brancos que pouco se destacavam mesmo diante do zori negro que calçava.

Julgou-se estar vestida como um membro da realeza, e o desconforto que não sentiu por tal julgamento lhe deixou desnorteada quase como se já houvesse sido acostumada a aquele tipo de vestimenta.

Quando voltara seus olhos para o homem ao seu lado este ainda permanecia a lhe fitar e, ainda mais, ainda lhe segurava a mão entre seus dedos longos de pele áspera, contudo o calor que exalava de sua pele aquietava seu coração descontrolado que se enchia com uma confiança que Karin jurou a muito ter perdido pelas outras pessoas – bom, talvez exceto por Renji, mas o ruivo era uma exceção que a Kurosaki morena tinha para muitas coisas. Viu-o erguer sua mão e beijar as costas das mesmas lhe arrancando um rubor que se igualava aos cabelos cor de sangue longos enfeitados por algumas penas douradas e negras; pensou em pronunciar-se, contudo, limitou-se ao silencio diante daquela situação, devolvendo o ato daquela majestosa persona com apenas um sorriso, sorriso este que iluminara os olhos de ouro liquido.

— É um prazer, enfim, conhecê-la querida. – anunciara-o, a voz profunda ecoando pelo grande salão com uma infinidade apaixonante e a morena jurava que, se fosse uma qualquer, teria caído ali mesmo de amores por tamanha elegância e cordialidade, misturadas a uma beleza de para o coração. – E é um prazer ainda maior estar aqui, onde o fogo nunca se extingue o... – as palavras se tornaram cada vez mais baixas e distantes enquanto a escuridão a engolia, a próxima coisa que a morena sabia era que estava a fitar o teto de seu quarto abafado sentindo um calor desumano cercar-lhe, mas, em vista de que isso deveria estar lhe incomodando, tudo o que Karin pode fazer era sorrir nostálgica, como se o sonhos houvesse sido, não um sonho, mas uma lembrança de um tempo distante, de um amigo querido que há muito tempo não via.

Sentando-se sobre o colchão onde os lençóis molhados de suor embolavam-se contra seu corpo úmido, a Kurosaki levou uma das mãos ao peito, questionando-se no silencio escuro do aposento o nome do ruivo.

 

(...)

 

Edo, 09 de Janeiro de 1684

Ilha de Kyuushu - Nagasaki, Japão

 

No fundo a gente sempre sabe quem vale a pena.

— Hitsugaya Yue –

 

Abaixou a cabeça escondendo a face entre os joelhos ralados e doloridos, não suportava aquelas zombarias a respeito do seu nome, que culpa ele tinha se havia nascido com cabelos cor de neve?

— Ei! – ignorou o chamado distante, tal como os passos apressados que se tornavam mais e mais próximos de si. Certamente era alguém vindo zombar de si mai uma vez. – Ei... – o chamado fora mais próximo e suave, contudo o menino não identificara a voz, sabia que era a voz de uma mulher mais velha e, erguendo o olhar, pode deparar-se com grandes olhos negros e cabelos que muito se pareciam com uma cascata de puras trevas. – Esta tudo bem? – ela for gentil com as palavras enquanto ajoelhava-se para ver os ferimentos das mãos, joelhos e algumas marcas que agora mostravam-se nas bochechas rosadas e molhadas pelo choro.

— Eu estou bem. – fora rude, mesmo não querendo o ser, e viu-a rir para sua hostilidade. O albino tinha certeza de que ela era uns bons anos mais velha que a si, então por que se dar ao trabalho de vir ali chegar sua saude?

— Estou vendo. – ironizou, não tardando em oferecer a mão para a criança desconfiada. – Sou Kuro Karin, venho de Hirado. – informou-a.

— Hitsugaya. – murmurou-o.

— Hitsugaya? – ergueu a sobrancelha para o único nome informado.

O albino bufou, cruzando os braços.

— Hitsugaya Yue. – resmungou, virando a face para não ver a moça zombar de si, como todos faziam quando ouviam seu nome.

— É um belo nome. – e a morena quase se preocupou quando o pescoço da criança estalou diante de virada tão brusca para lhe fitar de olhos arregalados.

— Não... Não é estranho eu ter esse nome? – remexeu-se desconfortável enquanto seguia ao lado da garota em direção a cidade.

— Não. – respondeu-a, simples. – É bonito o nome, e combina com você. – alegou. – Yue, como a lua que nos abençoa todas as noites. – e com isso ela sorriu para o menino, vendo os olhos verdes do mesmo brilhar como esmeraldas raras. – Com tal nome, você deve estar destinado a grandes coisas no futuro. – e tais palavras foram o suficiente para que o jovem e pequeno coração infantil do albino descompassasse enquanto seu rosto ganhava um tom avermelhado de constrangimento.

Ninguém nunca havia lhe dito coisas daquele tipo.

— Então... Um dia eu vou me tornar alguém importante!? – Karin não sabia se aquilo havia sido uma pergunta ou não, mas ainda sim acenara para as palavras ditas; e num movimento rápido a criança pusera-se em sua frente, este sendo alguns centímetros mais baixo, contudo ainda fizera a morena cessar seus passos para fita-lo curiosa. – Quando isso acontecer eu quero que você seja minha esposa!

A Kuro surpreendera-se pelo pedido enérgico, arregalando os olhos levemente por alguns segundos antes de relaxar.

— Bem, por que não? – sorriu-a novamente, aproximando-se da criança e bagunçando-lhe os fios albinos. – Estarei esperando pelo nosso casamento, então, Yue-kun. – e com isso ela seguiu caminho deixando a criança estupefata, paralisada, surpresa e com o coração aos saltos; isso é claro, antes do mesmo despertar do torpor e correr para alcançar aquela que um dia seria sua esposa, pelo menos era isso que desejava, e era para alcançar tal objetivo que o menino treinaria incansavelmente.


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Notas finais do capítulo

Kanzashi - são as presilhas de cabelo, normalmente são aquelas com flores de sakura penduradas e etc.
Haneri - é a vestimenta interna do kimono, normalmente só é possível ver algumas dobras delas a partir da área do pescoço.
Kimono - vestimenta superior cheia de detalhes.
Obi - cinta.
Obijime - uma cinta mais filha, como uma tira, sobreposta ao obi
Tabi - são as meias.
Zori - são as sandálias de madeira.

Espero que o capitulo tenha ficado do agrado de todos, sinto pela demora quanto ao mesmo, eu estava um pouco atrapalhada com outros capítulos de outras historias, então, eu acredito que ja cheguei a dizer, eu posso vir a demorar um pouco quanto aos capítulos, mas de forma alguma penso em abandonar a historia, é minha primeira long da categoria e gostaria de ir ate o final com ela.
Obrigado a todos que comentaram no capítulo anterior, espero que comentem nesse também ♥.
Beijos, Lady.



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