Pra que mudar? escrita por Manusinha Mayara


Capítulo 5
Capítulo 4: Sozinhos


Notas iniciais do capítulo

Oii pessoal,

Muitas reviravoltas estão por vir!
Espero que gostem!



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Minha primeira semana passou sem muitos acontecimentos interessantes. Roberta havia se tornado uma excelente amiga, Diego estava tentando se tornar também, mas não consigo confiar no irmão da minha inimiga.

Quando finalmente chegou a sexta, eu estava tranquila. Minto muito bem e disse que iria a festa no dormitório dos garotos para todos, somente Roberta sabia onde eu estaria. Quando o sinal tocou, indicando o término da aula, comecei a guardar lentamente meus materiais, esperando que todos se retirassem.

— Vamos? – Gustavo perguntou. Antes que eu sequer respondesse ele já estava caminhando para o fundo das salas ao invés de ir para porta. Ele abriu a porta de um armário antigo ao canto, e para minha surpresa era uma porta. Vendo minha cara de espanto, ele explicou.

— Castelos tem passagem secretas e outras coisas legais. Meu avô decidiu manter tudo isso quando fundou o colégio e por ter sido criado aqui, conheço tudo. – Gustavo estendeu a mão para mim.

Limitei a jogar a mochila nas costas, passar pela porta e ignora-lo ali parado. Ele riu levemente, abaixou a mão e me acompanhou. Estávamos caminhando por um longo corredor, com fotos de Gustavo e sua família, fiquei curiosa por ver fotos de seus avós, pai, primos, mas nenhuma foto da sua mãe.

— Por aqui. – ele disse virando a esquerda. Começamos a subir uma escada enorme, no final dela tive uma visão inacreditável. Estávamos no alto de uma das torres, com uma visão incrível do horizonte a nossa frente. Havia ali um sofá, mesa, cadeiras, uma tv, videogame e até um computador.

— O que é isso tudo? – pergunto incrédula, me jogando no sofá.

— Meu esconderijo particular. – Gustavo responde, abrindo um pequeno frigobar e tirando dois refrigerantes. Ele estende um para mim e eu seguro. Ele pega dois pacotes enormes de Doritos e joga um pra mim. Em seguida liga TV e começa a procurar algo para assistir.

Lembro-me perfeitamente de como Lucas me descreverá Gustavo a tempos atrás.

“Não diria que somos amigos, somos colegas. Gustavo é legal, mas muito fechado, não tem confiança em ninguém. Nem sei dizer se ele gosta de mim ou se somente me tolera assim como os outros.”

— Tem algo para me perguntar, ou fica encarando as pessoas assim naturalmente? – Gustavo pergunta irônico.

— Estava pensando no que o Lucas me dizia sobre você. – respondi sincera. Ao ouvir esse nome, Gustavo parou de encarar a TV e passou a me encarar.

— O que ele dizia? – perguntou-me baixinho.

— Que não tinha certeza se vocês eram amigos ou se você apenas o tolerava. –respondi. Gustavo abaixou a cabeça e deu um suspiro profundo. Me arrependi de ter contado.

— Não sou bom em demostrar, mas eu gostava do Lucas. Foi o amigo mais parecido comigo que já tive. Apesar de morarmos distantes, sempre mantínhamos contato pela internet e acampávamos com os amigos dele. – Gustavo disse e me encarou.

— Entendo.

— Como se sente? Sem ele quero dizer? – Gustavo perguntou.

— Bom, eu e Lucas erámos amigos.  Confundimos amizade com amor por muito tempo. No fim decidimos continuar juntos pelo desejo e pela companhia. – respondi sinceramente. Nunca havia dito aquilo a ninguém e me surpreendi de ter dito justamente para Gustavo.

O encarei por um segundo, esperando ver uma reação de espanto, mas ele se virou para tv e começou a mudar de canais de novo.

— Ele havia me contado isso. – Gustavo disse depois de um breve momento. Tinha contado? Isso era para ser um segredo!

— Por que? – pergunto.

— Ele estava preocupado com você. Disse que depois do divórcio dos seus pais, você estava levando sua rebeldia ao extremo. – ele e eu rimos levemente com isso. – Você sempre foi a melhor amiga dele, por um tempo até senti inveja. – Gustavo termina e me pega de surpresa com essa revelação.

Ficamos em silêncio, enquanto comemos e assistimos o filme Tomorrowland. Uma vontade de chorar tentava subir por minha garganta em forma de soluços, eu tentava me conter desesperadamente. Prometi a mim mesma não chorar na frente dos outros, mas involuntariamente lágrimas começam a descer por meu rosto.

Gustavo sem ao menos me olhar, parece perceber meu estado de ânimo, aproxima-se de mim e coloca um de seus braços envolta de minha cintura, me puxando para perto. Deito minha cabeça em seu ombro e deixo as lágrimas descerem. Ficamos sentados ali, lado a lado, sem dizer nada por um longo tempo.

— Eu o matei. – digo baixinho.

— Não diga isso, foi um acidente. – Gustavo me repreende.

— Ele não queria dirigir, estávamos bêbados demais, mas ele ficou com medo de me deixar dirigir sozinha, por isso insistiu em me levar. Eu disse que pegar um táxi seria coisa de medrosos. – digo e mais lágrimas escorrem por meu rosto. Sinto o braço de Gustavo se apertar em minha cintura.

— Todos erramos.

Ficamos ali, e pela primeira vez desde o acidente me sinto aliviada por ter dito isso a alguém. Todos me culpavam pelo que aconteceu e estavam certos, mas eu nunca havia admitido em voz alta.

O que esse garoto faz comigo? Porque disse tudo isso a ele? Devo estar enlouquecendo.

Sinto a respiração de Gustavo bem próxima. Ele beija o topo da minha cabeça levemente. Ele me deixa calma e pela primeira vez desde que cheguei ali, me sinto tranquila.

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Quando abro meus olhos estou deitada no sofá com um cobertor envolto em mim. Não vejo Gustavo por ali, mas parece que estamos bem no meio da madrugada. Levanto-me devagar, espreguiçando-me.

O vento frio faz com que eu me arrepie toda. Uma tosse baixa me ao meu lado me assusta. Deitado no chão, ao lado do sofá está Gustavo. Fiquei admirada com a delicadeza dele. Poderia ter ido embora para seu quarto, mas preferiu ficar aqui comigo. Toco seu rosto levemente, é macio e quente. Ele se aconchega ao meu toque e depois de alguns segundos abre os olhos. Nos encaramos.

— Que horas são? – ele pergunta.

— Não sei. – Respondo afastando minha mão do seu rosto. Nos levantamos devagar. Gustavo pega seu celular.

— Quatro da manhã. Acho que perdemos sua festa. – ele diz sorrindo ironicamente.

— Você não parece triste com isso! – digo sorrindo pra ele.

— Nem você! – Gustavo diz se aproximando. Novamente nos encaramos, ele está tão próximo que sinto sua respiração em meu rosto. Mordo meus lábios, tentando conter o desejo que sinto por esse garoto que acabo de conhecer.

Ele coloca suas mãos em minha cintura e se aproxima mais, devagar ele vai se aproximando. Meu coração acelerado, mas minha mente me prega uma peça, o rosto que vejo é o de Lucas. A imagem é como um balde de água fria e me afasto delicadamente de Gustavo.

Ele me olha confuso, mas não faz tenta forçar a barra.

— Vou te levar até seu quarto. – ele diz e começa a caminhar.

Acho que ainda é muito cedo para recomeçar no amor.

—--------------------------------------------------------

Como era sábado, decidi enrolar na cama até tarde. Mesmo com Ana fazendo um barulho irritante com o secador logo cedo. Roberta estava fazendo os trabalhos escolares desde de cedo e tenho certeza que estava esperando Ana sair para me encher de perguntas.

Quando percebo que a ridícula está prestes a deixar o quarto, me levanto e corro para tomar um banho, na intenção de evitar o interrogatório. Aproveito a água quente e fico pensando o que se pode fazer para se divertir nesta prisão nos fins de semana.

Quando saio do banheiro, Roberta não está ali. Visto uma calça jeans e uma camiseta branca. Saio em busca do almoço, estou com muita fome e já perdi o café da manhã há muito tempo. O refeitório está vazio, a maioria dos alunos tem permissão para passar o final de semana com suas famílias.

Sirvo-me de comida e como Roberta também não está ali, sento-me sozinha. Algum tempo depois Diego se aproxima com sua bandeja do almoço e pergunta:

— Posso te fazer companhia?

— Sim. – respondo constrangida, dei o bolo nele ontem.

— Deu pra trás ontem é? – ele perguntou quase que de imediato.

— Sim, desculpe. – respondo.

— Não tem problema, não foi uma ideia tão boa afinal. –ele diz.

— Por que? –pergunto de repente curiosa.

— Seu amiguinho contou para o paizinho dele e ele acabou com a festa logo no início. –Diego responde.

— Quem? – pergunto me fingindo de desentendida.

— Gustavo, avisou o diretor. –ele afirmou.

— Como sabe que foi ele? –pergunto me sentindo ofendida. Gustavo parecia confiável para mim.

— O diretor mesmo nos disse. Roberta acha que você também sabia, acha que você nos traiu. –fico chocada com isso. Mas claro que ela ia pensar isso, ela chegou no quarto e eu não estava, então no meio da madrugada chego com Gustavo. Droga!

— Mas eu não sabia de nada. Não sabia que o Gustavo era assim. –Digo em minha defesa.

— Acredito em você, esse cara é bom em enganar as pessoas. Toma cuidado. – Diego diz, levantando-se e indo embora.

Levanto-me também e começo a procurar Roberta como uma louca. Olho na biblioteca, nas salas, nas quadras, no gramado; mas não consigo encontra-la em lugar algum. Decido voltar para o meu quarto e assim que entro fico arrependida. Ana está ali, escrevendo algo em seu notebook.

— Você viu a Roberta? –pergunto relutante a garota.

— Ela foi passar o final de semana com os avós. – Ana responde sem nem sequer me olhar. – Deixou aquilo ali para você. –ela complementa, apontando para o envelope em cima da minha cama.

Corro e abro depressa o envelope. Roberta havia escrito:

“Oi Alexia,

Tive que ir ficar com meus avós no final de semana. O diretor acabou com a festa ontem e disse que Gustavo havia avisado ele.

Eu não acreditei muito, mas porque o diretor mentiria? Não sei se você sabia ou não, mas quero que saiba que não estou chateada com você. Quando eu chegar sei que você vai me explicar tudo.

Mas tome cuidado com todos, principalmente com a Ana, ela está muito irritada com você. Confesso ter ficado brava na hora, mas depois pensei melhor e acho que você não seria capaz de fazer este tipo de coisa.

Nos vemos amanhã!”

Continuo a me concentrar no papel e percebo que Ana está me observando. Tento parecer irritada, como se Roberta tivesse me ofendido. Ana continua a digitar furiosamente em seu notebook com um sorriso irônico em seus lábios.

Essa cobra está armando alguma coisa, afinal o que será?


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Notas finais do capítulo

O que estão achando?
Por favor não me deixem no escuro!
Bjos



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